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TEMPOS IDOS...

por Francisco Galego, em 25.10.15

Saí de Campo Maior, com treze anos de idade para proseguir os estudos no Liceu Nacional de Évora. Naquele tempo e com aquela idade senti-me desenraizado e isso não foi nada fácil de suportar.

Coube-nos um professor de Português que, talvez por ser muito jovem e inexperiente, tentou criar pontes afectivas com os elementos da turma. Incitou-nos a começarmos a ler o nosso compêndio, buscando textos de prosa ou de poesia, de que tivessemos gostado e que fossemos apresentando à turma para serem analisados.

Chegou a minha vez de ler o texto que escolhera. Tratava-se de uma poesia que me tocou muito por me encontrar tão afastado daqueles que mais atenção sempre me tinham dedicado: Os mais idosos da família. Eu tinha, ainda vivos, duas bisavós, duas avós e dois avôs.

Devo ter lido o poema com grande sentimento, pois, acabada a recitação que fizera, a turma muito aplaudiu e o professor foi pródigo no elogio que me dispensou.

Aconteceu que agora, ao fazer uma busca de outro assunto, descobri esse texto do qual, nem sequer conhecia o nome do autor. Ao lê-lo não pude deixar de perceber o abismo que vai da minha adolescência para o que pensa, vive e aprecia a juventude actual.

Como dizia Camões: “Mudam-se os tempos mudam-se as vontades. Todo o mundo é composto de mudança tomando sempre novas qualidades.”        

Trasncrevo o humilde poema, como prova disto que acabo de escrever:

 

CANÇÃO DA VELHICE

 

Corri o mundo; aprendi
O saber dos desenganos…
Só então compreendi
O quanto valem os anos.

Fui semeando ilusões
Da vida pelo caminho;
Quando voltei a colhê-las,
Achei-me pobre e sozinho.

Fez o tempo na minh’alma
Uma nova sementeira:
Semeou a experiência
Com mão segura e certeira.

Dizem que os livros encerram
Muita luz, muita lição;
Mas nenhuma como aquela
Que só os anos nos dão!

A vida é um livro aberto
Que toda a gente anda a ler;
Até a morte chegar
Sempre há muito que aprender.

A mocidade soletra,
Os homens lêem melhor.
Os velhos, esses já quase
Sabem o livro de cor.

Andei muito pela vida…
Agora vou descansar

À beira deste caminho
A ver os outros passar.

E a mocidade iludida,
A correr, passa por mim…
Se eu te dissesse o que sei
Já não corrias assim!

Armando César Côrtes-Rodrigues (1891 —1971), no livro, ”Em Louvor da Humildade”.

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publicado às 13:33


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