Copyright Info / Info Adicional
Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Saí de Campo Maior, com treze anos de idade para proseguir os estudos no Liceu Nacional de Évora. Naquele tempo e com aquela idade senti-me desenraizado e isso não foi nada fácil de suportar.
Coube-nos um professor de Português que, talvez por ser muito jovem e inexperiente, tentou criar pontes afectivas com os elementos da turma. Incitou-nos a começarmos a ler o nosso compêndio, buscando textos de prosa ou de poesia, de que tivessemos gostado e que fossemos apresentando à turma para serem analisados.
Chegou a minha vez de ler o texto que escolhera. Tratava-se de uma poesia que me tocou muito por me encontrar tão afastado daqueles que mais atenção sempre me tinham dedicado: Os mais idosos da família. Eu tinha, ainda vivos, duas bisavós, duas avós e dois avôs.
Devo ter lido o poema com grande sentimento, pois, acabada a recitação que fizera, a turma muito aplaudiu e o professor foi pródigo no elogio que me dispensou.
Aconteceu que agora, ao fazer uma busca de outro assunto, descobri esse texto do qual, nem sequer conhecia o nome do autor. Ao lê-lo não pude deixar de perceber o abismo que vai da minha adolescência para o que pensa, vive e aprecia a juventude actual.
Como dizia Camões: “Mudam-se os tempos mudam-se as vontades. Todo o mundo é composto de mudança tomando sempre novas qualidades.”
Trasncrevo o humilde poema, como prova disto que acabo de escrever:
CANÇÃO DA VELHICE
Corri o mundo; aprendi
O saber dos desenganos…
Só então compreendi
O quanto valem os anos.
Fui semeando ilusões
Da vida pelo caminho;
Quando voltei a colhê-las,
Achei-me pobre e sozinho.
Fez o tempo na minh’alma
Uma nova sementeira:
Semeou a experiência
Com mão segura e certeira.
Dizem que os livros encerram
Muita luz, muita lição;
Mas nenhuma como aquela
Que só os anos nos dão!
A vida é um livro aberto
Que toda a gente anda a ler;
Até a morte chegar
Sempre há muito que aprender.
A mocidade soletra,
Os homens lêem melhor.
Os velhos, esses já quase
Sabem o livro de cor.
Andei muito pela vida…
Agora vou descansar
À beira deste caminho
A ver os outros passar.
E a mocidade iludida,
A correr, passa por mim…
Se eu te dissesse o que sei
Já não corrias assim!
Armando César Côrtes-Rodrigues (1891 —1971), no livro, ”Em Louvor da Humildade”.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.