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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Os habitantes desta parte de Portugal que, por conveniências administrativas, constitui hoje a «Província do Alto Alentejo», foram, desde tempos remotos, muito dados às artes plásticas e industriais. Região onde a matéria-prima não escasseava – mármores e barros em especial - não admira que a abundância lhes despertasse inclinações e vontade de traduzirem objectivamente as suas idealizações e concepções estéticas, em ordem não só à recreação do espírito, mas também à utilização das suas criações na vida prática e doméstica.
Foram, sobretudo, os trabalhos de cerâmica que, entre o povo, mais se generalizaram, visto as argilas aluminosas[1] [figulinas[2] e margas[3]] estarem ao alcance de todos, serem de mais fácil exploração e servirem à feitura de objectos decorativos, que nos encantam pela beleza e harmonia das formas [estatuetas, imagens, jarras, azulejos, baixos relevos, etc.], assim como à confecção de artefactos de reconhecida utilidade prática em usos domésticos e industriais, tais como: bilhas, pichéis[4], azadas, potes, louça variada, telhas e tijolos.
Tudo leva a crer que o aperfeiçoamento da arte da olaria só começou nos primórdios do século XVII, assinalando-se depois esse aperfeiçoamento nas faianças e nos azulejos de Estremoz, nas cantarinhas de Nisa, nas bilhas de Viana, etc.
Há conhecimento de ter existido uma fábrica de cerâmica em Estremoz, a da Viúva Antunes, de que parece haver peças datadas de 1770, segundo nos diz Joaquim de Vasconcellos, em “A Cerâmica Portuguesa e a sua Aplicação Decorativa”. No Museu Municipal desta cidade podem ver-se algumas peças de perfeito vidrado e de interessante colorido que se atribuem àquela fábrica: pratos, travessas, terrinas, um gomil[5] e uma cantarinha, esta com a marca Viúva Antunes, não oferecendo, por isso dúvidas da sua proveniência.
Desta Fábrica podem ter saído os azulejos que se vêem nos lambriz[6] de alguns edifícios locais. Mas há quem pretenda ter existido outra fábrica pelo facto de se guardar no referido Museu um painel, provindo de uma fonte na horta junto à Ermida dos Mártires, no qual se representa «Nossa Senhora do Carmo a entregar o escapulário[7] a São Simão Stock, que foi o primeiro geral da Ordem dos Carmelitas», tendo inferiormente a legenda “Ecce Salutis”, a marca “Fabrica de Frei Luiz Pernarcho”, e datado 1779.
Ignoramos se existe algum documento que confirme esta suposição. Em nossa humilde opinião, o termo Fabrica, que se lê no painel, pode querer significar que o desenho, a traça, a pintura, se deve ao aludido padre, por quanto nos parece que a função de fabricante ou industrial era incompatível com o voto de humildade, de pobreza e de renúncia dos bens terrenos, que se exigia aos religiosos professos.
Também temos noticia de que já nas primeiras décadas do século XIV, se faziam pucarinhos e moringues de Estremoz[8], que iam à mesa da Rainha Santa Isabel, ganhando celebridade em terras de Espanha, Itália e França, onde as classes ricas pagavam por alto preço essas graciosas peças de cerâmica alentejana.
Nas primeiras centúrias da nossa nacionalidade a olaria circunscrevia-se ainda ao fabrico de louça grosseira, vasilhame, telhas e tijolos para a construção de habitações, fabrico que deve ter sido ensinado aos aborígenes pelos romanos e mais tarde pelos árabes, quando vieram estabelecer-se na Península Ibérica, como se deduz pelo grande número de objectos que tem sido encontrados nas escavações de diversas estações arqueológicas disseminadas pelos termos de Évora, Montemor, Estremoz, Vila Viçosa, Elvas, Marvão e outras terras de Alentejo, de que podem ver-se alguns exemplares nos museus regionais e da capital [temos visto: púcaros, candeias, e fragmentos de tijolos, etc.].
Há anos foi achado numa escavação nas proximidades do Monte de Santa Vitória, por detrás da quinta denominada da Rainha ou de São João, arredores de Campo Maior, um dollium[9] do período lusitano - romano, que oferecemos ao museu municipal de Elvas, exemplar muito bem conservado. Só conhecemos outro semelhante que existe no Museu Etnológico de Belém.
Estas vasilhas foram, talvez, as ascendentes genealógicas dos potes ou talhas mouriscas, que se vêem em todas as adegas do sul do país e cujo fabrico constitui uma indústria típica e secular da rica e linda vila fronteiriça de Campo Maior e da Aldeia do Mato, no concelho de Reguengos. Curiosas e características, as talhas alentejanas, de barro grosseiro, a que o tempo dá um tom escuro, chegam a ser de altura superior a de um homem normal e o seu bojo avantajado e monumental chega a conter mais de cem almudes, ou seja dois mil litros de precioso vinho. [Na adega do Sr. João Garcia Augusto, em Estremoz, existe uma com a capacidade de cento e treze almudes!].
Assim, impressionaram por tal forma o iminente escritor Júlio Dantas que, ao vê-las pela primeira vez numa sombria adega de Évora, lhe fizeram escrever numa das suas brilhantes crónicas para o «Comércio do Porto que “no jogo das sombras flutuantes da subterrânea adega, lhe deram a impressão de figuras mociças e ventrudas[10] de silenos[11] aguentando nos ombros uma pesada arquitrave».
O fabrico destas interessantes vasilhas não é privilégio da Aldeia do Mato, como supõe o ilustre académico, talvez por desconhecer que também se fazem em Campo Maior, que as exporta desde tempos longínquos para grande parte do Alentejo, e não só para esta província, como para algumas terras da Beira Baixa, do Ribatejo e até para a Estremadura Espanhola.
Velhas pois de séculos, diferenciam-se as de Campo Maior das de Aldeia do Mato pela euritmia[12] das primeiras que nos oferecem uma silhueta mais esbelta, sobretudo nos mais recentes modelos, a que o artífice, intuitivamente e sem conhecer a arte romana, vai imprimindo formas clássicas e elegantes que fazem lembrar as ânforas milenárias. Diferenciam - se também pelo facto das últimas ostentarem na garganta a data fabrico e as curiosas siglas dos desconhecidos artífices que as modelaram em suas mãos hábeis, enquanto que as que de Campo Maior exibem os nomes completos dos vários oleiros através dos quais, por tradição de família, se tem transmitido, através dos séculos, o uso desta profissão e que são: - os Centenos, os Pereiras, os Mouratos , e, quiçá, outros que desconhecemos. Dá-se também a circunstância das desta ultima localidade se fabricarem com maior capacidade do que as de Aldeia do Mato, devido à melhor qualidade dos seus barros, desconhecida pelos mestres aldeiamatenses.
E pena, realmente, que as de Campo Maior não tenham sido também datadas; e, para subsídio de investigações futuras e melhor documentação campomaiorense, lembrar aos nossos conterrâneos que é conveniente gravar nas talhas, além dos nomes, a data do fabrico [basta só o ano] e o nome da nossa histórica e progressiva vila, que foi agora alvo de uma grande honra: É que, na Exposição Internacional de Paris, do corrente ano, por iniciativa louvável do Secretariado da Propaganda de Portugal, Campo Maior mostrará aos muitos milhares de visitantes da Exposição – a par da graciosidade dos moringues e bonecos de Estremoz, dos caprichosos empedrados das cantarinhas de Nisa, e da elegância das bilhas de Viana - as formidáveis talhas saídas das suas oficinas, que deverão assombrar pela novidade e pelas suas descomunais proporções.
Foi este facto muito agradável ao nosso estranhado bairrismo, que nos sugeriu o singelo e despretensioso artiguelho que hoje damos à publicidade e que estamos prontos a rectificar se alguém aparecer a esclarecer-nos sobre as deficiências com que topamos na sua elaboração.
Texto publicado por João Ruivo em “Arquivo Transtagano”, Ano V, Nº 1 de 15 de Maio de 1938
[1] Dizem-se aluminosas por conterem alúmen, ou partículas que brilham
[2] Diz-se figulino o barro macio e fácil de amassar.
[3] As margas são argilas calcárias.
[4] O pichel é uma pequena vasilha ou cântaro para vinho.
[5] O gomil é um jarro para água, bojudo e de boca estreita.
[6] O lambril é a parte inferior de uma parede.
[7] Tiras de pano que os sacerdotes e outros religiosos usam sobre os hábitos.
[8] Refere-se aos tradicional barril de Estremoz e que em Espanha é chamado porrón.
[9] Vasilha grande onde os romanos guardavam o vinho.
[10] Figuras maciças e bojudas.
[11] Monstros gigantescos, metade homem e metade bodes.
[12] Harmonia, equilíbrio de proporções da diversas partes.
Feira d’Elvas, Feira d’Elvas,
Feira d’Elvas da cidade;
Quem me dera estar bailando,
No Senhor da Piedade.
Daqui p’ra cidade d’Elvas,
São três léguas, nada mais;
Ai que estrada tão comprida,
Tão seguida dos meus ais.
Daqui pr’a cidade d’Elvas,
Tudo é caminho chão;
Tudo são cravos e rosas,
Dispostos p’la minha mão.
Já Elvas não é cidade,
Nem vila lhe chamarão;
Já os Arcos d’Amoreira,
Deram consigo no chão
Belos Arcos d’Amoreira
Foram feitos sem ventura;
Por baixo estrada real,
Caminho pr’a sepultura
Também neste, como nos outros tipos de cantigas de “saias”, não podiam faltar as cantigas de escarnecer:
Eu hei-de ir à Feira d’Elvas,
No carro do João Vieira;
C’uma roda de toucinho
E outra roda de farinheira.
Caminho da Feira d’Elvas,
Fica o monte dos Judeus;
Se encontrares o meu rapaz,
Dá-lhe lá recados meus.
As festas do São Mateus,
São as festas da cidade;
Quem me dera andar bailando,
No Senhor da Piedade.
Já perdi o norte à terra,
No caminho da cidade;
Já nem sei p’ra onde fica,
O Senhor da Piedade.
Que o Senhor da Piedade,
Tenha por nós compaixão;
E nos dê por caridade,
Um ano farto de pão.
O Senhor da Piedade,
Tem vinte e quatro janelas;
Quem me dera ser pombinha,
Para pousar numa delas.
Ó Senhor da Piedade,
Na vossa capela o digo;
Já cá não venho outro ano,
Sem trazer o meu marido.
Ao Senhor da Piedade,
P’ro ano vou outra vez;
Quero ir agradecer-lhe,
O milagre que me fez.
Ao Senhor da Piedade,
Quero este ano lá ir;
Eu não lhe vou levar nada,
E nada lhe vou pedir.
Zanguei-me com meu amor,
Já se acabou a amizade;
À noite cantei melhor,
No Senhor da Piedade.
O Senhor da Piedade,
Não está em casa foi fora;
Foi visitar os enfermos,
Que estão na última hora.
O Senhor da Piedade,
Tem uma prenda de valia;
Uma fonte de repuxo,
Com pedra de cantaria.
No Senhor da Piedade,
Muita coisa lá se faz;
Uns arranjam rapariga,
Outras ficam sem rapaz.
A feira de São Mateus, atraindo gente de todo o Alto Alentejo, tornou-se ponto de encontro das populações que ali acorriam. Por esta razão, as “saias”, cantadas e dançadas por toda esta região no século XIX, tinham ali o seu ponto nuclear de trocas e de irradiação. Em cada terra iam-se preparando ao longo do ano as cantigas e as toadas ou modas que se iriam exibir no São Mateus. Em contrapartida, quando regressavam às suas terras, levavam consigo os sons e as palavras que tinham ouvido nos bailes da romaria.
O São Mateus tinha tal efeito mobilizador sobre as gentes de Campo Maior que mesmo os que a Elvas não se podiam deslocar, o celebravam com bailes e arruadas pelas ruas da vila, nos dias da sua celebração.
Se não fores ao São Mateus,
Havemos de combinar;
P’ra andarmos aqui na vila,
A noite toda a balhar.
Os campomaiorenses tornavam-se notados quer pelo número dos que acorriam à Feira do São Mateus, quer pela qualidade das suas intervenções nos bailes de roda em que se cantavam e dançavam as “saias”, como está documentado nas seguintes quadras:
Se eu for ao São Mateus,
Irei balhar c’o meu par;
Mulher que se sabe amada,
Está mais disposta a cantar.
Eu quero ir ao São Mateus,
Só para te ouvir cantar;
Não vou lá com outro fim,
Estou velho p’ra namorar.
As festas do São Mateus,
São as festas da cidade;
Quem me dera andar bailando,
No Senhor da Piedade.
Eu hei-de ir ao São Mateus,
P’ro ano se Deus quiser;
Este ano fui menina,
Pró ano volto mulher.
A Feira de São Mateus,
É feira de arraiais,
Eu não tenho rapariga,
Divirto-me com as dos mais.
Arraiais de São Mateus,
Vão ganhões e vão malteses;
Adeus, meu amor adeus,
Até d’hoje a doze meses.
São Mateus é romaria,
Como outra não há outra igual;
Fica à frente de todas,
Neste nosso Portugal.
Eu vou sempre ao São Mateus,
E nunca deixarei de ir;
Ainda que lá dos céus,
Estejam pedras a cair.
Meu bem vem cantar comigo.
Na Feira do São Mateus;
Cantigas de amor sentido,
São como preces aos céus.
Noutros tempos este grande acontecimento anual, dava lugar a um intenso convívio pois, os que vinham de fora, deslocavam-se em carroças ditas de canudo por serem cobertas por uma protecção de forma cilíndrica, formada por uma estrutura de cana, coberta de uma tela de pano encerado, que protegia os passageiros da chuva e do sol. Com essas carroças, autênticos antepassados das actuais tendas e roulottes, formava-se um vasto acampamento no qual permaneciam, em alegre convívio, pessoas das mais variadas proveniências, algumas por cerca de uma semana. Aí se cozinhava e comia, aí se dormia e aí se cantava e dançava, sobretudo nas madrugadas, pois os bailes só podiam funcionar bem depois quando se acalmava a barafunda da feira e se calava a algazarra dos tendeiros e das potentes aparelhagens sonoras dos circos e carrosséis.
O São Mateus de Elvas era até meados do século passado, uma das maiores festividades que os campomaiorenses celebravam. Poupava-se durante meses para se pode ir até à Fêra d’Elvas por volta de 20 de Setembro.
Só os mais pobres, por falta de recursos, e os que cumpriam resguardo por luto ou por doença, ficavam. As carroças partiam uns dias antes ajoujadas de gente, de galinhas, de cabazes de comidas e de doçarias confeccionadas para a ocasião. Quem mais depressa chegasse, melhor lugar podia escolher para acampar nos olivais em volta do parque em que estaria montada a feira.
Havia anos, principalmente os mais favoráveis para a agricultura e em que o clima em Setembro era ainda favorável, que Campo Maior quase se despovoava nos dias do São Mateus. Quem não podia ir de carroça, em caravana, ia a pé. Uma manta chegava para aconchego. Quanto ao resto, desde que houvesse dinheiro para a pinga e para o petisco, já se passava a contento.
Procuravam, os de cada terra, ficar juntos para melhor conviverem. Aliás, a feira era o pretexto para o que mais importava: o convívio que se ia gozar durante os dias que a feira durava. O São Mateus servia de pretexto para as parcas férias de que os menos ricos e os remediados podiam desfrutar.
Armados os acampamentos, gozava-se do descanso, da boa comida, da alegre convivência que a ocasião propiciava. De dia dormia-se muito e até tarde, por força de alguns excessos de bebida e porque as noites se prolongavam até de madrugada.
As noites eram para a maioria destes romeiros o melhor que a festa propiciava. Formavam-se grandes bailes de roda animados pelo cantar e dançar das “saias”. Havia disputas assanhadas, muitas vezes entre grupos de terras diferentes. Surgiam a “modas novas”. Quadras engenhosamente elaboradas ao longo do ano encontravam ali o terreiro adequado para a sua pública exibição.
Arranjavam-se e desfaziam-se namoros. De vez em quando, uma ou outra rixa ensombrava a convivência por razões de exacerbado bairrismo, por melindres, ou por imponderadas ofensas à honra ou à dignidade dos presentes.
Tempos houve em que cada povoação tinha as suas próprias festas e romarias. Mas, algumas delas, por motivos religiosos, ou pelo brilho das suas realizações, atraíam gente de outras terras, tornando-se famosas como locais de trocas, de diversão e de peregrinação.
No Alto Alentejo, sobressaía entre todas a Feira de São Mateus, em Elvas. A Feira de São Mateus remonta ao século XVI pois, segundo os investigadores, terá começado a funcionar entre 1525 e 1574. Cerca de duzentos anos mais tarde, veio associar-se-lhe uma peregrinação que, a partir de 1737, se começou a fazer no sítio onde se construiu o santuário do Senhor Jesus da Piedade. Tanto a feira como a romaria ganharam grande importância entre as gentes do Alto Alentejo, tanto mais que a sua realização, coincidindo com o equinócio do Outono, marcava o período em que se dava por encerrado um ano agrícola e se começavam a tomar as disposições para o arranque do ano agrícola que se ia seguir.
As pessoas, em grande parte as que estavam mais ligadas ao trabalho nos campos – aproveitando a romaria pela devoção, e a Feira de São Mateus por ser local de trocas muito necessárias às actividades agrícolas –, deslocavam-se a Elvas para aí permanecerem durante os três dias que durava o evento. Os transportes eram, nesses tempos, difíceis e lentos. Em volta do terreno da feira, formavam-se grandes acampamentos de gente vinda de quase todas as terras desta região.
Para além da grande diversidade de gentes que acorria a este evento, alguns vindo de terras bem distantes, é interessante constatar que, entre essas terras, tomavam relevo as gentes de Olivença, o que indica que eram ainda muito fortes os laços culturais que ligavam os oliventinos a Portugal.
A Feira de São Mateus em Elvas e a Romaria ao Senhor da Piedade tiveram o seu período de maior esplendor entre meados do século XIX e meados do Século XX.
O Jornal de Notícias, Nº 37 de 15 de Novembro de 1928, na sua página 4, noticiava:
A empresa Ramos & Valente instalou num casão do Assento Militar um salão cinematográfico, tendo, para isso, efectuado ali algumas obras de adaptação.
A nova casa de espectáculos compõe-se de: sala para o público dividida em duas classes de lugares (geral e superior) com um pequeno palco para variedades; vestíbulo com bufete, bengaleiro e retretes com autoclismo, para senhoras e cavalheiros; casa de aparelhos, motor, depósitos de água, etc.
A inauguração teve lugar no dia 1 de Novembro do corrente ano, a benefício da Misericórdia, tendo o produto líquido sido de 573$00.
A casa estava à cunha e, se bem que se trate de uma instalação provisória e modesta, é de esperar que continue sendo muito frequentada, por não haver em Campo Maior qualquer outra diversão para entreter os longos serões de inverno.
O programa do espectáculo inaugural é que foi infeliz: duas fitas do mesmo género policial, tanto do agrado dos americanos, com muitas mortes, muitas correrias, muitas cenas de murro, trambolhões, etc., etc., pelo que no público das cadeiras se notava visível aborrecimento.
Aconselhamos a empresa a precaver-se contra os fornecedores que vão sempre impingindo gato por lebre.
Os programas mais atraentes e que ao público mais agradam, são aqueles em que se entremeiam filmes de arte, documentários e actualidades de carácter instrutivo, com pequenas farsas e comédias ligeiras, de fins meramente recreativos.
Outra coisa notamos também, para o que chamamos a atenção da empresa e da autoridade administrativa: na sala fumava-se à vontade, tornando a atmosfera pesada, o que não dispôs bem as senhoras que lá se encontravam. Cremos que está ainda em vigor o regulamento que proíbe que se fume nas casas de espectáculo e a polícia, a quem a empresa paga, não deve fechar os olhos.
Para terminar, felicitamos os nossos amigos Srs. Ramos e Valente e fazemos votos para que o público saiba corresponder à sua iniciativa que representa alguma coisa de importante no nosso meio, onde o capital raras vezes acorre a financiar empresas desta natureza.
Estamos em plena época das vindimas. De manhã cedo encontro grupos de trabalhadores que esperam, junto à Avenida, o transporte que os leve até aos campos em que vão trabalhar. Quase todos são imigrantes. Pelo linguajar, são dos países do Leste da Europa. Trabalhadores naturais de Campo Maior, em trabalhos agrícolas, tornaram-se muito raros.
A Porta de S. Pedro ou da Carreira, localizava-se ao fundo desta rua, entre o edifício da Escola e casa que, do lado direito, faz esquina com a rua de acesso ao Cavaleiro.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.