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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Estamos em plena época das vindimas. De manhã cedo encontro grupos de trabalhadores que esperam, junto à Avenida, o transporte que os leve até aos campos em que vão trabalhar. Quase todos são imigrantes. Pelo linguajar, são dos países do Leste da Europa. Trabalhadores naturais de Campo Maior, em trabalhos agrícolas, tornaram-se muito raros.
Caminhando para N.E. de Campo Maior uma légua, é o forte ou praça e vila de Ouguela, cujo terreno circunvizinho é descoberto e pouco montuoso.
As águas minerais desta vila, são únicas do seu género em Portugal.
Segundo a tradição, a sua primitiva origem é à distância de uns 300 passos da Atalaia e S. Pedro, de onde corre para o forte contíguo à igreja e por baixo desta e da muralha, sai e continua por um aqueduto, junto à fonte. Nesta corre por duas bicas de ferro, nas quais a soma total de água é de dois anéis no Inverno, sendo metade e às vezes menos, no Verão.
Os canos das bicas estão carcomidos e rotos, pela passagem da água. E esta é fria e cristalina, sem cheiro algum, mas o seu sabor na fonte é áspero e ácido e custa a sofrer. Porém, perde-o passado algum tempo, de pois de estar em vasos de barro, tornando-se então própria para o uso comum. Mas quase ninguém a bebe porque dizem que faz abalar os dentes e separarem-se as gengivas.
Emprega-se para amassar o pão que fica alvo, leve e saboroso. Não coze legumes nem carne que, ainda que fervam muito tempo, ficam duros, negros e incapazes de se comerem.
Recolhida em vasos de vidro, vê-se sobrenadar uma substância oleosa que, demorando-se, engordura o vidro. Porém, em vasos de barro não deixa, no fundo ou nas paredes internas, depósito algum. Mas exteriormente ficam cobertos de uma matéria branca como se tivessem sido caiados.
O aqueduto que conduz esta água para o chafariz e os que são próximos às bicas, têm de têm de romper-se e com muita dificuldade de dois em dois anos ou, quando muito, de três em três anos, por causa das duríssimas crostas lapidosas que neles se formam, misturadas com limos e ervas aderentes a que aqui dão o nome de raposos”.
Perto desta fonte ou chafariz há outra, dentro e uma horta, onde mesma água é aproveitada para irrigação e que faz prosperar notavelmente os seus frutos que são mais saborosos do que os criados nos outros sítios próximos que não são regados com esta água.
(Dr. Francisco Tavares, Instruções e cautelas practicas sobre a natureza, differentes espécies, virtudes em geral e uso legitimo das aguas minerais… Coimbra, Real Imprensa da Universidade, 1810)
O Dr. Fonseca Henriques diz no seu Aquilégio, pág. 191, fundando-se no padre Carvalho, que nas Constituições Synodaes do bispado de Elvas, impressas em 1634, falando-se da vila de Ouguela – se refere que – procurando verificar se as suas águas minerais consentiam em si, vivos, peixes ou insectos, ou vermes aquáticos ou anfíbios. Se viu sempre que, tanto os insectos, sanguessugas e vermes, morrem apenas se ditam na água – e os peixes em seu vigor, morrem em menos de meia hora. Vivem porém nela as rãs, mas pequenas e magras, talvez porque respiram o ar atmosférico.
(Francisco da Fonseca Henriques, Aquilégio medicinal, Lisboa, Instituto Geológico e Mineiro, 1998, edição fac-simile da edição de Lisboa Ocidental, na o Officina da Musica, 1726)
Julga o Dr. Tavares que esta água é gasosa pelo gás carbónico em excesso, com alguma porção diminuta de carbonato e sulfato de calcário. As incrustações duríssimas formadas nos canos provam a presença de carbonatos e sulfatos calcários (selenites) e talvez sílica misturada. É próprio de todas as águas que abundam em gás carbónico não criarem peixes, nem os consentirem vivos, nem os insectos e vermes, mesmo que sejam aquáticos.
A substância oleosa que se vê nos vidros, pode vir de outros depósitos de minerais. Mas também ser resultado da combinação de hidrogénio com o ácido carbónico e o oxigénio, que forma uma matéria oleosa – a nafta.
O gosto acre e ácido prova a existência do gás carbónico e da nafta que são extremamente voláteis, se evaporam fora da nascente, deixando a água potável. A crosta branca que aparece no exterior dos vasos de barro não é mais do que carbonato e sulfato de cal, filtrados pela matéria porosa do vaso.
Estas águas são aplicadas com vantagem nas debilidades de estômago: vómitos pertinazes delas precedidos, hidropisias, e para a expulsão de vermes intestinais, incluindo a ténia e a solitária.
Pinho Leal - Portugal Antigo e Moderno (p. 309 e 310)
Campo Maior, Setembro de 1897
Correram bastante animadas as Festas a São João Baptista que, de 4 a 7 do corrente se realizaram na importante e populosa vila de Campo Maior.
Quase todas as ruas da vila se achavam garridamente enfeitadas e, decerto, foi isto o maior atractivo das festas. Principalmente as ruas da Canada, da Misericórdia, Direita, do Paço, de Menantio, das Pereiras, 13 de Dezembro, Visconde de Seabra, Mouraria de Baixo e de Cima e Largo do Barão de Barcelinhos, ostentavam primorosas ornamentações.
À noite, com as iluminações, tornaram-se então verdadeiramente fantásticas.
O fogo de artifício agradou bastante. É pena que seja queimado num sítio onde o seu efeito quase não se pode desfrutar.
De Elvas foram muitíssimas pessoas a estas festas.
Ornamentavam-se cerca de 20 ruas e 4 largos.
A festa começou Sexta-feira com arraial em S. Joãozinho. Nos outros dias missa e procissão, concerto pela banda no coreto da Praça D. Luís, fogo de artifício, lançamento de balões, touradas; bailes na Câmara, nas casas particulares e nas ruas; marcha “aux flambeaux” no último dia para agradecer aos organizadores.
As festas decorreram durante os dias 4,5,6,e 7 de Setembro. Tinham, portanto, a duração de 4 dias. De 1893 até 1898, as festas foram anuais.
As ornamentações eram muito simples. Cada um armava a “testada” da sua casa. Havia
Tronos e Capelinhas armadas a S. João, arcos triunfais e uma gruta. Numa casa à Rua das Poças havia uma gaiola com um gato, um coelho e 2 rolas).
Pelas ruas, ao longo das frontarias das casas, vasos com plantas naturais e flores. Podiam-se contar mais de 500 vasos.
Quanto à iluminação, “O vento excessivo não autorizou a iluminação que ficou adiada para hoje”. Mais de 10.000 balões à veneziana; lamparinas feitas de casca de melão, laranja, melancia e ovos.
“Pelas ruas andavam mais de 5.000 pessoas, quase não se podia transitar; Houve diminuto número de forasteiros”.
“Mestre Garrifo estabeleceu na rua da Carreira desta vila uma sucursal do seu hotel.”
Dados recolhidos em:
Correio Elvense, Ano VIII, nº791, 4ª-feira, 8 de Setembro de 1897, p.2
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