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OS CEREAIS NA ECONOMIA CAMPOMAIORENSE

por Francisco Galego, em 25.07.16

António Henriques da Silveira no seu “Racional Discurso sobre a Agricultura e População da Província do Alem-Tejo”, in Memorias Economicas para o adiantamento da Agricultura, das Artes e da Industria Portuguesa, publicada pela Academia das Ciências, tomo I, 1789, colocava entre as terras mais férteis do Alentejo, os “barros vermelhos” de Elvas, de Campo Maior, de Fronteira e de Estremoz. Para além destas povoações cita apenas Olivença, Beja e Serpa como terras com especial aptidão para a cultura dos cereais, principalmente do trigo.

 

Em Campo Maior, até meados do século passado, era significativo o volume da produção de trigo, aveia e cevada. A cultura de legumes era limitada a pequenas extensões em hortas e quintas na proximidade da vila. Os alqueives eram aproveitados para semear em grandes quantidades algumas leguminosas (os grãos, os chicharos e as favas). Tinham também bastante significado na economia local, as produções de vinho e  de azeite.

Contudo, só a produção de trigo era largamente excedentária permitindo a sua exportação em gande escala, para fora do concelho.

Segundo dados de 1823, as condições dos transportes não permitiam levar com facilidade grandes quantidades de mercadorias a grandes distâncias. Apesar disso, muito do trigo produzido no Alentejo chegava até Lisboa. O Tejo e o Sado eram as principais vias para encaminhar os cereais para a capital. São conhecidas as ligações que a vila de Campo Maior mantinha com o porto fluvial de Abrantes. Mesmo num ano difícil como, por razões militares, foi o de 1809, devido às invasões francesas, Campo Maior enviou, no mês de Maio, com destino a Lisboa, 2.742 alqueires de trigo.

O transporte era feito em carros puxados por bestas pertencendo a pessoas que faziam do acarreto de mercadorias a sua principal actividade – os carreteiros. Estes faziam o caminho de Abrantes, transportando o trigo, tanto por sua própria conta, como por conta de particulares. Além de Campo Maior participavam neste comércio, carreteiros de outras terras como Portalegre, Arronches, Veiros, Gáfete, e Vila Viçosa.

 Este comércio de cereais do Alentejo pelo porto de Abrantes manter-se-á até meados do século XX. Segundo uma memória sobre Niza, ocupavam-se regularmente neste transporte de cereais de Campo Maior e de Castelo de Vide para Abrantes, 180 a 200 carreteiros.

Claro que uma boa parte do trigo que partia destas localidades devia provir de Espanha por actividade de contrabando. O contrabando esteve, por natureza, desde sempre ligado ao destino de Campo Maior até que a evolução da História ditou a abolição das fronteiras numa Europa onde a existência das fronteiras tantos problemas causou na relação entre os povos.

 

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