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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Realizavam-se muitos bailes no Entrudo. Os rurais – jornaleiros, criados e criadas de servir – frequentavam os bailes da “sociedade da música” que, por estar ladrilhada com lajes de xisto negro que largava um pó preto que se agrava à roupa, era, por graça, designada pelo nome de “casinha do picom”, ou por “bailes do assento”, devido á localização da sociedade.
Os bailes da “sociedade da praça” eram reservados a uma espécie de classe média que incluía os chamados “artistas” – ferreiros, ferradores, carpinteiros de “finos” e de “obra grossa”, comerciantes e caixeiros, pedreiros (os alvanéus), paneiros e alfaiates, sapateiros, correeiros e albardeiros – enfim, todos os que tinham profissão não relacionada com o trabalho no campo, ou que cultivassem apenas as suas terras, ou seja, os pequenos e médios proprietários.
Por volta de meados do século passado, foi mantido o hábito de se organizarem as “Marchas de Entrudo”, com algumas semelhanças com as actuais marchas populares – como as de Lisboa - só que com um aspecto mais chocarreiro, de acordo com o carácter carnavalesco da quadra. Deram muito nas vistas algumas marchas organizadas e ensaiadas pelo Carrasco e pela parceria constituída pelo sapateiro Joaquim d’Elvas e pelo, sacristão da Matriz, António Bajé. Estas distinguiam-se pelo brilho dos figurinos, pela perfeição das danças coreografadas e pelo cuidado que punham nas músicas e cantares ensaiados para o efeito. Os dois elementos da parceria referida esforçavam-se sempre por se apresentarem travestidos da forma mais gloriosa que lhes fosse possível, compondo extraordinárias personagens de rainhas, fadas ou princesas, pois, além da marcha que iam cantado e dançando, paravam nos cruzamentos das ruas e nas praças para representarem pequenos entremezes como, por exemplo, a extraordinária saga da “Princesa Magalona”.
Numa sociedade profundamente estratificada como a que nesse tempo habitava Campo Maior, nem no Entrudo eram concebíveis misturas das “pessoas comuns” com as “famílias notáveis”. Estas faziam, à sua maneira, o seu Carnaval: organizavam as suas trupes para irem de casa em casa animar as pessoas do seu “meio”. Esses bailes eram reservados e realizavam-se em casas particulares – os assaltos -, ou no Grémio, a Sociedade Recreativa muito selectiva, designada vulgarmente como “a sociedade dos ricos”.
Esta “elite social” organizou, durante alguns anos, uma espécie de corso local, um cortejo ou desfile que o povo designava como a “ batalha das flores” e que consistia em as famílias do “círculo dos importantes” desfilarem ao longo da Rua da Canada, em charretes, ou noutro tipo de trens de tracção animal, travando uma amável “batalha” de pequenos saquinhos de farinha, grão, feijão, farelo, serpentinas, papelinhos, entre os que circulavam e os que assistiam na rua ou nas janelas. Ao povo cabia o papel de assistir e de se deslumbrar com o brilho dos trajes - dominós, damas antigas, arlequins e columbinas -, envergados pelos figurantes.
Hoje, tudo está mais igual. A sociedade está seguramente mais justa e isso é mesmo muito importante. O que não significa que o Carnaval se tenha tornado muito mais interessante.
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