Aqui ao lado, os vizinhos espanhóis comemoraram “Los Reyes”. Foi o grande dia de troca de presentes. De certo modo, aquilo que nós fazemos no Natal.
Natal, Ano Novo, Dia dos Reis. Dias de renovação e de esperança.
Na rádio, o locutor acaba de dizer “Utopia”, esclarecendo que significa literalmento “não local”. Na verdade, usa-se para significar que se trata de algo que, não estando em nenhum local, é algo que não existe. Mas, é também muito verdade que o sentido mais frequente que lhe é dado, é de algo que não existe, mas que se deseja alcançar. Ou seja, a utopia é sonho e aspiração, é desejo e projecto para melhorar o estado das coisas ou a situação que se vive.
A “Utopia” aparece no pensamento de filósofos e poetas, como futuro imaginado, esperança de algo que resolva os problemas do presente.
Por isso, esta evocação levou-me a pensar que um dos problemas deste presente é que tenha deixado de existir o consolo dos projectos utópicos que alimentem a esperança. Pensando bem, vive-se sem modelo orientador. Uns vivem movidos pela ambição. Outros conformados, tentando garantir a melhor maneira de sobreviverem. O pensamento vai dando lugar ao entretenimento. A acomodação conformada vai ocupando o lugar que devia ser o da persistência.
Tenho consciência de que há nisto um pessimismo demasiado radical. Enfim... Trata-se apenas de um desabafo, fruto de um crescente desencanto.