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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Há dois conceitos que, exprimindo sentimentos de desânimo, de cansaço e de desistência, se colocam, em termos de atitude, em polos contrapostos: o do desencanto e o do desespero.
O desespero implica sempre uma atitude dramática, que tende a tornar-se revolta ou radical renúncia.
O desencanto traduz-se apenas numa consciencilização de que, no decurso das novas vivências, subsiste sempre uma imutável presença do que, mesmo mudando, permance como um fundo imutável da realidade.
O poema que se transcreve, traduz de modo calmo, ponderado e ternamente sentido, a consciência existencial desse desencanto que se traduz no amargo sentimento, expresso com amável ternura, do que se mantém "sempre o mesmo", indiferente à nossa ansiosa esperança de mudança.
Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo..."
De: José Gomes Ferreira.
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