No EXPRESSO, de 27/2/2016, encontrei a afirmação: “Marcelo ofuscou Cavaco”. Também, não era difícil. Ele próprio se aniquilou, transformando-se em motivo continuado de contestações e de anedotas, algumas delas bem degradantes da instituição presidencial.
A propósito, reparo que há, neste jornal, jornalistas que, para esconderem as suas inconsistentes e militantes posições, recorrem à ironia, sem cuidarem de que tal estratégia os diminui como profissionais cuja função deveria ser a de informarem e eclarecerem com seriedade e isenta objectividade os seus leitores.
Henrique Monteiro é quase o paradigma deste género. “Marcelo, Presidente Paizinho?”. Este título aponta para aí. O conteúdo da prosa começa mansamente e com algum acerto. Mas, a certa altura, resvala para o seu empenhado desejo de que o novo presidente se aproxime da sua concepção direitista-autoritária do que deva ser a acção do novo PR, aconselhando Marcelo a contornar dois obstáculos: o primeiro é tentar não ser uma espécie de paizinho de todos, alguém a quem se recorre nas aflições e que está sempre disposto a tudo conciliar, perdoar e esquecer; o segundo é, afirmando as suas convicções, não permitir (como Cavaco permitiu ...) que o seu cargo e a sua pessoa sejam desrespeitados ou mesmo enxovalhados. De facto, para isto é adequado afirmar, como o faz Henrique Monteiro, que “Vai precisar de Coragem”.
Ora, é o “não permitindo” que revela a base ideológica que está subjacente a esta prosa. Porque o que, noutra prespectiva, devia estar seria: “Não agindo de forma a que o seu cargo e a sua pessoa sejam desrespeitados ou mesmo enxovalhados.” E, neste caso, seria mais adequado que Henrique Monteiro tivesse escrito: “Vai precisar de manter a isenção e a dignidade, para preservar o elevado prestígio que é próprio do exercício da função presidencial”. Claro que, assim, estariamos no domínio de uma concepção do exercício da função presidencial baseada na democraticidade, na ética republicana e no civismo que devem coexistir no mútuo relacionamento de confiança, de considerção e de respeito, entre o PR e os cidadãos.
Porque , se assim não for, terá cabimento dizer, de uma maneira mais simples e mais directa, como dizia um antigo dito popular:
Quem não sabe dar-se ao respeito, não merece ser respeitado.