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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
As minhas desculpas pelo interregno. Mas certas tarefas deixam marcas. Por outro lado, às vezes o melhor é parar para retomar folgo.
Enfim... cá estamos de novo para continuar. e vamos retomar com AS SAIAS, a maior e mais antiga expressão cultural dos campomaiorenses que luta hoje com muita dificuldade para não cair em total esquecimento e que tão mal tratadas são, de facto, hoje.
Tratemos pois de as divulgar tal como elas foram no seu tempo de apogeu.
Devido à mecanização da agricultura e ao surto industrial nas grandes cidades do litoral, a partir de inícios dos anos cinquenta do século passado, verificou-se um êxodo massivo das populações rurais para os grandes centros urbanos.
O desemprego frequente dos que se ocupavam nos trabalhos agrícolas que sempre fora uma das causas da constante situação de miséria dos assalariados agrícolas – sempre dependentes das condições do clima e do carácter sazonal do trabalho nos campos – tornou-se uma realidade dramaticamente presente, a partir da mecanização da agricultura, afectando não apenas os assalariados mas também os pequenos e médios agricultores. Estes, não tendo capacidade para adquirirem equipamentos de custos elevados, viram-se coagidos a vender as suas terras aos grandes proprietários.
Para toda esta gente, excluída da actividade agrícola, restava a debandada para as cidades.
Este êxodo foi logo seguido, nos anos sessenta, pela sangria demográfica que levou boa parte da população de Campo Maior a emigrar para os países da Europa central. Basta pensarmos no impacto destes fenómenos sobre o modo de vida de uma pequena comunidade, como era nesse tempo Campo Maior, para entendermos as modificações que, naturalmente, teriam de ocorrer.
A nível do “cantar as saias” verificou-se o rareamento das quadras que se cantavam enquanto se cultivavam os campos. Em contrapartida, verificou-se um significativo aumento de quadras de temática bairrista, muito ao gosto e ao encontro dos sentimentos saudosistas dos que estavam afastados da terra que os vira nascer.
Assim, lá longe, onde se vivia, a terra que, por força das voltas que a vida dá, se tivera que deixar, passava a ser imaginada com os encantos que lhe eram acrescentados por uma sofrida saudade.
Cantavam-se assim, de longe, os encantos da vila:
Campo Maior terra linda,
Com’outra não há igual;
Esta terra é a rainha,
Na raia de Portugal.
Campo Maior tão velhinho,
Às portas tens um brasão;
Tu recebes com carinho,
A todos sem distinção.
Ó belo Campo Maior,
Com muralhas à francesa,
Cada vez canto melhor,
Cantigas à camponesa.[1]
Ó belo Campo Maior,
Meu cantinho alentejano;
És no nosso Portugal,
A terra que eu mais amo.
Ó belo Campo Maior,
Numa colina pousada;
Com terras de Espanha à vista
Pelos ‘spanhóis cobiçada.
Ó belo Campo Maior,
Terra de contrabandistas;
De gente boa e leal,
E das “festas dos artistas”.
[1] Publicada em Achegas para o Cancioneiro Popular Corográfico do Alto Alentejo, por J.A. Pombinho Júnior, 1957, pág. 56, com algumas diferenças.
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