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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Outras vezes, quando razões de zanga assistiam ou por simples brincadeira, podia sair provocação agreste e rude como uma chicotada, sem cuidar de regras de boa educação. Nestes casos, vinha logo resposta a contento e começava o despique que ia da ofensa à desconsideração, até que algum dos contendores parasse ou que, se os ânimos se azedassem, tudo acabasse em grande confusão. Vejamos este exemplo constituído por quadras muito antigas:
Cala-te aí boca aberta,
Rodilha da chaminé;
Como não sabes cantar,
Vai-te embora do meu pé.
Cala-te aí boca aberta,
Gargalo dum garrafão;
Meu pai comprou umas cabras,
E tu vais ser o meu cão.
Cala-te aí boca aberta;
Rodilha da chaminé;
Se tu tiveras vergonha,
Não arrumarias pé.
Cala-te aí boca aberta,
Novelo de linhas finas;
Devias era servir,
De poleiro às galinhas.
Cala-te aí boca aberta,
Rodilha do meu palheiro;
Já vi andar o teu pai,
Às marradas c’um carneiro.
Cantas bem não cantas mal,
Meu cara de Belzebu;
Mascarrava a minha cara,
Se cantasse como tu.
As cantigas que tu cantas,
Mete-as num forno frio;
Tu só és bom a cantar,
Com um burro ao desafio.
Eu subi ao cabecinho,
Para ver o sol raiar;
Não devia vir tão cedo,
P’ra t’ouvir assim zurrar.
Tenho dúzias de cabrestos,
Comprados na nossa feira;
P’ra encabrestar as bestas,
Que cantam dessa maneira.
Quem tem raiva que enraiveça,
Quem tem catarro que tussa;
Quem lhe servir na cabeça,
Que enfie esta carapuça.
Esta noite choveu neve,
Arrasaram-se os açudes;
Cala-te chibo não berres,
Cala-te burro não zurres.
Vai-te daqui toleirão,
Boca de almotolia;
Guardanapo d’estalagem,
Vassoura d’estrebaria
Cantas bem não cantas mal,
Como o sapo num alqueve;
Vai roendo esses caroços,
Té que o diabo te leve.
Cantas bem não cantas mal,
Como o sapo n’alagoa;
Vai roendo esses caroços,
Té que venha a palha boa.
Cantas bem não te desfaças,
Desse teu cantar aflito;
Pois s’os animais cantassem,
Melhor cantava o cabrito.
Disse o galo p’ra galinha,
Lá p’rós lados do mercado;
P’ra cantar dessa maneira,
Mais valia estares calado.
Os temas eram muito variados sendo certo que, tratando-se dum descante entre homem e mulher, o tema mais provável das quadras improvisadas, versaria sobre questões de amor: umas vezes de pedido de namoro, outras de declaração de paixão, havendo mesmo algumas que consistiam em ajustes de contas de desentendimentos.
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