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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
O cantar à desgarrada é uma tradição de canto popular que se usou em todas as regiões do nosso país revestindo as mais variadas formas musicais: desde o fado aos cantares do Minho e dos cantares das Beiras aos do Algarve. Também no cantar de “saias” se usa a desgarrada:
Campo Maior que bem cantas,
As saias à desgarrada;
Ouvem-se belas gargantas,
De noite e de madrugada.
Antigamente, nos bailes de saias, eram frequentes as desgarradas, despiques, ou cantares ao desafio. Essa velha tradição tem-se vindo a desvanecer de tal modo que, hoje, só muito raramente se consegue ouvir uma boa disputa entre cantadores. Forma de cantar de improviso, só os dotados de maior repentismo e capacidade de improvisação a ela se podiam abalançar. Contudo, há algumas décadas, ainda se podia, com alguma sorte, assistir a homéricas sessões de confrontos poéticos que, em certos casos chegavam a durar horas. A assistência dividia-se no apreço por cada um dos cantadores. Algumas dessas disputas ficaram gravadas na memória da população.
Nesses tempos, os melhores cantadores mantinham rijas confrontações poéticas, animando com o seu cantar os bailes, ao mesmo tempo que exibiam os seus dotes, tentando apurar quem tinha maior capacidade de improvisação, de repentismo e maior habilidade no versejar.
Quando se tratava dos mais afamados, faziam-se grandes ajuntamentos que, num silêncio atento e expectante, seguiam o desenrolar da peleja.
Os pares em disputa podiam ser constituídos por dois homens, por um homem e uma mulher ou, muito raramente, por duas mulheres. As mulheres, para se darem ao respeito, só entravam nos desafios com os homens a quem as ligavam laços de afecto ou de intimidade. Por isso, se desafiadas, respondiam com o silêncio ou, cantando, rematavam a hipótese de desafio:
Desafio, desafio,
Desafio é p’ra quem quer,
Desafio é para os homens,
Não p’ra mim que sou mulher.
Podia-se também rejeitar o repto, alegando falta de competência:
Desafio, desafio,
Eu não te desafiei;
Desafio é p’ra quem sabe,
Não p’ra mim que nada sei.
Acontecia também serem outras as razões evocadas para não se responder ao repto lançado:
Quero cantar mas não posso,
Minha fala não me ajuda;
Morreu-me o meu pai há pouco,
Sou filho duma viúva.
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