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O QUE DIZEM OS DOCUMENTOS XXVIII

por Francisco Galego, em 23.05.11

OS ANOS 40 (II)

 

As Festas de 1941, em si, parecem não ter tido grande brilho, pois não existiam as melhores condições para a sua realização. A data foi alterada de inicio para finais de Setembro, para corresponder ao melhor momento para fazer as inaugurações, pretexto para trazer a Campo Maior altas figuras do governo e da hierarquia da Igreja.

Uma extensa reportagem do jornal O Século, descreve desenvolvidamente as sessões oficiais e os discursos nelas proferidos mas, das Festas, apresenta apenas uma fotografia com a entrada da Rua 13 de Dezembro, sem qualquer referência à ornamentação das ruas que parece em nada terem impressionado o jornalista que escreveu esta reportagem.

O programa das Festas, publicitado através de folhetos de cuidada apresentação, com várias gravuras e interessante arranjo gráfico, mostra que o modelo tradicional teve de ser adaptado aos objectivos que presidiram à organização dos festejos. Esses objectivos eram essencialmente propangandisticos: mostrar as realizações do Estado Novo através da acção de uma estrutura corporativa, a Casa do Povo. Esses objectivos estão bem claros na notícia que a seguir se transcreve.

 

Jornal de Elvas, Nº 688, 5 de Outubro de 1941

      AS FESTAS DO POVO EM CAMPO MAIOR


Constituíram uma enorme manifestação de alegria, civismo e progresso. O Subsecretário das Corporações, o Arcebispo de Évora, o Comandante Tenreiro e o Governador Civil de Portalegre, visitaram a vila em festa.

 

Notícias de Campo Maior


   Festas do povo – Na última 3ª feira, dia 30, terminaram as festas do povo desta vila, que foram muito concorridas por grande número de forasteiros, especialmente da cidade de Elvas.

   Das touradas à vara-larga, não agradaram as duas primeiras, devido ao gado não prestar para esse fim. A assistência ficou porém, bem impressionada com o último dia, por o gado, pertencente ao lavrador Sr. Francisco da Silva Rasquilho Corado, ter satisfeito plenamente os desejos do público.

   Porque os programas distribuídos com profusão eram claros na afirmativa de que se tratava de Festas do Povo, e, portanto, para o povo, este colaborou intensamente, com a sua peculiar alacridade, no cumprimento rigoroso do estabelecido, quer embandeirando as ruas, quer tomando parte em todos os números de recepção e solenidade. Cantava-se e dançava-se com alegria esfusiante, talvez na ânsia simpática de olvidar mágoas e reveses … E sem povo não há festas. Como não as há sem foguetes, sem música e sem vontade de brincar. E Campo Maior, a vila risonha e modernizada que mira com altivez lusíada o orgulhoso reino de Espanha, confirma tudo quanto fica dito, porque saiu toda para a rua, construindo túneis airosos de papéis franjados, alinhando renques e renques de vasos de flores ao rés das paredes, pregando garridos painéis na embocada de cada rua, inscrevendo uma quadra de sua inspiração na frente de cada tecto de papéis pintados, enfim, dando à vila que tão bem recebe e trata os forasteiros um verdadeiro aspecto festivo, sem uma nota forçada, sem um constrangimento, sem um vestígio sequer de andar naquilo para não desmanchar prazeres. Onde havia um baile, havia um despique, um desafio de palavras plenas de significado amoroso ou de velha e remordente dor de cotovelo, pondo nas vozes batidas aquele estilo alentejano típico. Os ranchos não se rendem. Até alta madrugada, passam e tornam a passar, fazendo alarde da sua resistência física e da sua vocação para cantar. E, nem um conflito, nenhuma desordem, nem uma falta de respeito pelo forasteiro ou pela autoridade, Pelo contrário, cada rua era uma gentil sala de visitas com uma pequena mesa coberta de chávenas, bule, etc., tradição ingénua desta desafogada vila dada a tradições e costumes que são a melhor fonte do nosso folclore (…)

 Esta apagada reportagem (pretende) registar os factos mais importantes apontados pelo programa dos festejos promovidos pelo Grupo Desportivo da Casa do Povo, por ocasião da bênção e inauguração do Cruzeiro da Independência, Quartel da Legião, Lactário-Creche e Campo de Jogos e em benefício da Santa Casa da Misericórdia e da reforma dos trabalhadores sócios efectivos da referida Casa do Povo. Outros números faziam ainda parte da lista de atractivos, como um importante desafio de futebol entre o onze de honra da F.N.I.M. de Lisboa, que no seu elenco incluía o jogador do Benfica, Pires e a equipa representativa da Casa do Povo; uma gincana de automóveis, touradas à vara larga, arraiais, concertos musicais, fogos de artifício, iluminações, corridas de bicicletas, recepções oficiais, procissão, concursos de Jazz’s etc.

    (…) Um pouco antes das 11 horas, chegou o Sr. Arcebispo de Évora, D. Manuel da Conceição Santos que, em seguida e após ter rezado a anunciada missa campal, em pleno baluarte, lançou a bênção do Cruzeiro da Independência. Pouco depois, chegava a Campo Maior o Sr. Dr. Trigo de Negreiros , ilustre subsecretário da Estado das Corporações (…) Foi recebido na Casa do Povo que oficialmente inaugurou (…) Ainda antes do almoço, foi também inaugurado e benzido o quartel da Legião Portuguesa.

   … De tarde, foi dada a bênção do campo de jogos pelo Sr. Arcebispo de Évora realizando-se em seguida o esperado desafio de futebol (…)

O modesto estádio registou a maior enchente de que há memória.

   Concurso de Jazz’s – Às 22 horas de 2ª feira, dia 29, teve lugar, no edifício da Câmara Municipal, o concurso de Jazz’s. (Eram) todos de Portalegre, em que tomaram parte com muito brilhantismo, “ Os Lisos”, “Ideal” e “Ferrugem”. O prémio, uma linda e artística taça, foi conferido entre aplausos do público, ao último daqueles agrupamentos musicais.

   Festas do PovoGincana de automóveis – Na 3ª feira dia 30, no estádio Capitão César Correia, pelas 14 horas (…)

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publicado às 18:55



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