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NOTAS SOBRE O CEMITÉRIO

por Francisco Galego, em 16.01.11

Os enterramentos eram, tradicionalmente, feitos no interior das igrejas, nos adros, nos terrenos envolventes e nas cercas dos conventos, ou seja, em Campo Santo.

No século XIX começaram a surgir medidas a condenar esse costume, considerado contrário à saúde pública. Em Portugal, foi com o governo de Costa Cabral (que mais tarde foi agraciado com o título de Marquês de Tomar) que foi aprovada uma lei de Novembro de 1845, que além de várias disposições e carácter tributário, determinava que os enterramentos passassem a ser feitos em cemitérios, fora das povoações, como medida de protecção da saúde pública.

A reacção das populações, principalmente no norte do país, conduziu a revoltas que culminaram num período de grande agitação em 1846, a chamada Revolução da Maria da Fonte que fez cair o governo de Costa Cabral e serviu de prólogo à Patuleia que lançou o país na guerra civil em 1847.

Mas, em Campo Maior, já antes, numa acta da Câmara de 23 de Agosto de 1834, se levantava o problema dos enterramentos. Assim, num Acórdão em Câmara Municipal se estabelecia o seguinte: Atendendo esta Câmara às diferentes representações que tem feito o Médico deste Concelho e a que têm continuado nesta vila diferentes moléstias epidémicas, as quais (têm) tanto mais graduação quanto menos polícia há, e que o enterramento dos corpos humanos nas Igrejas, é de muito prejuízo à saúde pública em todo o tempo, e muito especialmente em tempo de epidemias, determina esta Câmara que, de hoje em diante, não se enterre corpo algum humano nas Igrejas, e sim no cemitério que será interinamente a cerca do Extinto Convento de Santo António desta vila; cujo acórdão obriga a todas as pessoas que hajam de morrer sem atender a hierarquias – porque a lei é igual para todos (Carta Constitucional) –, nem tão pouco a moléstias.”

Na Acta da CMCM de 31 de Agosto de 1836 decidia-se a arrematação da obra do cemitério e a construção de um cemitério junto à ermida de S. Pedro.

Esta decisão foi muito contestada pela população. Entre outras coisas protestava-se a localização do cemitério, tão próxima do chafariz, bebedouro e tanque de S. Pedro, argumentando-se que o cemitério iria contaminar uma água de tanta qualidade e tão necessária para a população de Campo Maior. Tratava-se do terreno que fica encostado à capela de S. Pedro na bifurcação da estrada para Ouguela e da que se dirige para o Muro. Apesar da cerca que vedaria o cemitério já estar construída, como se pode ainda hoje constatar, a Câmara abandonou o projecto que só veio a ser retomado mais tarde, mas noutro local – no sítio chamado “do Paraíso”, onde hoje se encontra.

Mas, na acta da sessão da Câmara de 28 de Outubro de 1836, ficou apenas registado que: Respondeu-se à Circular Nº 13 que trata sobre os cemitérios, expondo-se que, por falta de meios, se não tem concluído a construção do Cemitério Público; porém que já se acha principiado, com uma grande parte da parede feita. E todos os materiais juntos, e espera-se ficar pronto de tudo até ao dia 30 de Novembro próximo; e que, neste concelho, não há mais povoações em que hajam de se fazer mais cemitérios públicos.

Apesar destas intenções tão progressistas, nada foi feito para que os enterramentos deixassem de ser feitos nas igrejas. Procurou-se um meio termo de conciliação: deixariam de se fazer dentro das igrejas e passariam a fazer-se na cerca do convento de S. Francisco que, de certo modo, seria também campo santo.

O último enterramento feito no cemitério de São Francisco (do antigo convento franciscano que estava abandonado devido à extinção das ordens religiosas pelos liberalistas em 1834) foi o de Aurora Pereira em 14 de Dezembro de 1859 e o primeiro no Cemitério do Paraíso foi o de Maria do Carmo em 17 de Dezembro de 1859, segundo os assentos de óbitos da Freguesia de S. João Baptista.

Mas, um testemunho particular desse tempo refere que, no dia 15 de Dezembro de 1859, deu começo o Cemitério do Paraíso, extramuros desta vila de Campo Maior, sendo a primeira pessoa sepultada nele o filho do Morgado José Augusto Cayolla (mas ocultamente). Este jovem foi assassinado com grande violência junto das muralha que ficavam na actual Avenida. O caso foi noticiado em jornais de Elvas e de Lisboa. Mas nunca foram encontrados os responsáveis e tudo leva a crer que houve uma grande preocupação de abafar o caso. Provavelmente, estes cuidados terão a ver com o carácter secreto deste enterramento.

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