por Francisco Galego, em 30.10.09
Neste novo século, a escola como instituição e os profissionais a ela ligados, encontram-se num ponto de viragem tão profunda como aquela em que se encontravam no início do século passado. Tão radical é esta mudança, que melhor seria falarmos numa mutação. As novas exigências que a sociedade impõe à escola exige dela, rápidas e constantes adaptações. A escola é cada vez mais um universo aberto à comunidade e, em consequência disso, vê-se condenada a uma autonomia que a responsabiliza e obriga a gerir bem os recursos de que dispõe, ao mesmo tempo que, em consequência da mesma autonomia, fica exposta à pública prestação de contas através da avaliação dos efeitos sociais que produz.
Não é por acaso nem por capricho de moda que ocorrem estas transformações. No estado actual em que se encontra o mundo, em que os dogmas substituem a razão, em que o fanatismo se sobrepõe à tolerância, em que a desenfreada busca dos prazeres e da notoriedade faz esquecer o necessário cumprimento dos deveres, torna-se urgente, torna-se inadiável que a escola desenvolva novas perspectivas curriculares que integrem conteúdos de aprendizagem que vão para além dos conhecimentos específicos das disciplinas e cursos de formação, integrando também aprendizagens referidas às atitudes, aos valores e às responsabilidades sociais. Dito de outro modo, são grandes as responsabilidades educativas que hoje se proporem às escolas e aos professores.
Novas exigências em termos curriculares implicam o desenvolvimento de novas competências da parte dos profissionais ligados às organizações escolares. Para uma adequada educação para os valores torna-se necessário que os professores se tornem educadores.
Novas condições sociais provocaram efeitos relevantes na organização do trabalho e na estruturação das famílias. Depois das duas grandes guerras do passado século, a escola viu-se confrontada com duas grandes modificações que vão abalar as suas seculares convicções e rotinas: a massificação das populações escolares; a complexificação das aprendizagens.
A escola do século passado, habituada à tranquila uniformidade das clientelas burguesas que normalmente a frequentavam, vê-se actualmente invadida por uma pluralidade de classes, com uma grande variedade de culturas e de atitudes comportamentais. Os saberes, antes muito estáveis, ficam sujeitos a uma mudança contínua e progressivamente acelerada.