por Francisco Galego, em 25.08.09
Portugal é ainda um país profundamente marcado por uma dura ditadura que sufocou durante quase meio século as tentativas de real desenvolvimento. Os pouco mais de trinta anos de situação democrática não bastam para apagar por completo os estigmas de tão dominadora e duradoira situação de opressão.
Por outro lado, o mundo em geral passa por uma fase de contínua e alucinante série de transformações. Todas as épocas de transformações profundas são naturalmente épocas de crise: há um mundo que vai desaparecendo para dar lugar a uma nova etapa da civilização. Como conviver com estes tempos de tanta incerteza e de tanta instabilidade?
A tendência mais natural é para desistir, deixar de se interessar, deixar correr. Mas nenhum mal se cura depressa e bem deixando apenas o correr tempo. Compreende-se que o espectáculo dado pelos certos representantes políticos, seja de facto muito desanimador. Mas desistir de participar não será a melhor forma de contribuir para que se mantenham as situações que provocam o nosso desagrado?
Claro que dói verificar que muitos dos que desenvolvem e exercem o poder político, a todos os níveis da governação, parecem muito mais empenhados em abocanhar o máximo de poder, ignorando o interesse público, a vontade e bem-estar daqueles que os elegeram como representantes para que governassem segundo o melhor bem comum possível. É verdade que, causa desencanto constatar-se que, em vez de se unirem na busca do bem público, se consomem em questiúnculas e lutas de facções. Por vezes, essas lutas desenvolvem-se dentro de um mesmo partido, havendo também os que, cegos, surdos e mudos ao crescente e perigoso desinteresse das populações pela causa da democracia, pensam que assim conseguem instalar mais facilmente a arbitrariedade do seu poder pessoal. Ora, para bemdecidir, é preciso decidir com a participação e segundo o interesse das populações.