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POEMA (11)

por Francisco Galego, em 30.07.19

Como acontece com quase todas as tarefas, escrever sempre também cansa. Por isso, vai-se  impondo a vontade de "fazer umas férias" para descanso. Por isso, volto a publicar este  belo poema, que expressa  claramente o meu "estado de alma", neste momento...

A minha Alma sentou-se
E não há quem a levante,
Que desde o Poente ao Levante
A minha Alma fartou-se.

E ei-la, a mona, lá está,
Estendida, a perna traçada,
No infindável sofá
Da minha Alma estofada.

Pois é assim: a minha Alma
Outrora a sonhar de Rússias,
Espapaçou-se de calma,
E hoje sonha só pelúcias.

Vai ao café, pede um “bock”,
Lê o "jornal" de castigo,
E não há nenhum remoque
Que a regresse ao oiro antigo!

Dentro de mim é um fardo
Que não pesa, mas que maça:
O zumbido dum moscardo,
Ou comichão que não passa.

Folhetim da "Capital"
Pelo o nosso Júlio Dantas -
Ou qualquer coisa entre tantas
Duma antipatia igual …

O raio já bebe vinho,
Coisa que nunca fazia,
E fuma o seu cigarrinho,

Em plena burocracia!…

Qualquer dia, pela certa,
Quando eu mal me precate,
É capaz dum disparate,
Se encontra uma porta aberta…

Isto assim não pode ser…
Mas como achar um remédio?
P´ra acabar este intermédio,
Lembrou-me de endoidecer:

O que era fácil,

Partindo os móveis do meu hotel,
Ou para a rua saindo
De barrete de papel
A gritar "Viva a Alemanha"!…

Mas a minha Alma, em verdade,
Não merece tal façanha,
Tal prova de lealdade.

Vou deixá-la decidido
No lavabo dum Café,
Como um anel esquecido.
É um fim mais raffiné.

Mário de Sá-Carneiro (19 Maio 1890 - 26 Abril 1916)

BOAS FÉRIAS!

E, ... SE POSSÍVEL, ... APÓS ELAS, ..., BOM REGRESSO ...

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publicado às 15:34


AVALIANDO...

por Francisco Galego, em 24.07.19

Daqui a alguns dias alcançarei a idade de 78 anos.  Com esta idade, o tempo passado foi sendo, tão denso e tão prolongado, que deixou de ser completamente alcançável pela minha, cada vez mais fraca, memória. E, no entanto, ele constitui a parte essencial e integrante da pessoa em que me fui tornando.

Para o bem e para o menos bem, o tempo vivido vai modelando as capacidades e as tendências do nosso carácter. A educação e as aprendizagens que ela propiciou, foram desvendando os caminhos que, as circunstâncias e a linha do tempo, foram revelando.

Viver é este caminhar que consiste em percorrer um destino que se vai tecendo como o nosso viver. Mas, como nem tudo depende apenas de nós, nem sempre aconteceu o que desejaríamos que tivesse acontecido. Porém, tendeu a piorar muito, quando não cuidámos de prevenir para que tudo decorresse segundo o que parecia ser o mais conveniente.

Viver é, em grande parte, o que resulta da interacção entre, as circunstâncias, o querer, o poder e a capacidade de prevenir e de remediar. O âmbito da nossa vida vai-se reduzindo, na medida em que, na nossa memória, se vão cada vez mais desvanecendo os factos que ocorreram no passado do nosso viver.

Esta reflexão não tem qualquer intenção, nem de lamento, nem de despedida. Poderá mais propriamente ser tomada como um balanço de avaliação. Nela não há qualquer lamento, nem tem qualquer carácter de despedida. Se viver é tecer uma vida ao longo do tempo, ela só acaba quando o “tecelão” parar a sua acção de tecer. E eu, por enquanto, não tenho ainda qualquer perspectiva, nem intenção de parar. Até porque esse será o único acontecimento da minha vida que não poderei prever e de que não poderei guardar memória.

Prefiro considerar que se trata mais de uma "avaliação" do caminho percorrido para evitar desvios ou mudanças de rumo. Ou seja: garantir que haja sequência entre o passado, o presente e o futuro. Pois que, não devemos deixar a vida acontecer sem ir avaliando, para que haja coerência no nosso viver.

A avaliação é um excelente guia para o aperfeiçoamento e a definição do nosso comportamento.                                       

Francisco Galego, Campo Maior, Julho de 2019

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publicado às 15:43


POEMA (10)

por Francisco Galego, em 23.07.19

Decidi publicar alguns poemas retirados de obras de autores reconhecidos como notáveis poetas, porque não sei responder com clareza a perguntas como as que assim expresso:

Afinal qual é a essência da poesia?

Amontoar palavras e informações?

Revelar muitos e profundos conhecimentos?

 

Ora, a poesia,

mesmo um pequeno poema,

dizendo em poucas palavras,

poucas coisas, quase nada,

pode sugerir tanto, tanto,

que consegue produzir,

um imenso sentimento ...

 

Para exemplificar:

 

 

Mário de Sá Carneiro

 

A minha vida sentou-se
E não há quem a levante,
Que desde o Poente ao Levante
A minha vida fartou-se.

E ei-la, a mona, lá está,
Estendida, a perna traçada,
No indindável sofá
Da minha Alma estofada.
(...)
Dentro de mim é um fardo
Que não pesa, mas que maça:
O zumbido dum moscardo,
Ou comichão que não passa.
(...)

O raio já bebe vinho,
Coisa que nunca fazia,
E fuma o seu cigarrinho
Em plena burocracia!...

Qualquer dia, pela certa,
Quando eu mal me precate,
É capaz dum disparate,
Se encontra a porta aberta...

Isto assim não pode ser...
Mas como achar um remédio?
--- Pra acabar este intermédio
Lembrei-me de endoidecer:
(...)
Vou deixá-la --- decidido ---
No lavabo dum Café,
Como um anel esquecido.
É um fim mais raffiné.

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publicado às 00:03


POEMA (9)

por Francisco Galego, em 20.07.19

Decidi publicar alguns poemas retirados de obras de autores reconhecidos como notáveis poetas, porque não sei responder com clareza a perguntas como as que assim expresso:

Afinal qual é a essência da poesia?

Amontoar palavras e informações?

Revelar muitos e profundos conhecimentos?

 

Ora, a poesia,

mesmo um pequeno poema,

dizendo em poucas palavras,

poucas coisas, quase nada,

pode sugerir tanto, tanto,

que consegue produzir,

um imenso sentimento ...

 

Para exemplificar:

 

 

Mário de Sá Carneiro (1890 – 1916)

 

Fim

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

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publicado às 00:05


POEMA (8)

por Francisco Galego, em 15.07.19

 

Decidi publicar alguns poemas retirados de obras de autores reconhecidos como notáveis poetas, porque não sei responder com clareza a perguntas como as que assim expresso:

Afinal qual é a essência da poesia?

Amontoar palavras e informações?

Revelar muitos e profundos conhecimentos?

 

Ora, a poesia,

mesmo um pequeno poema,

dizendo em poucas palavras,

poucas coisas, quase nada,

pode sugerir tanto, tanto,

que consegue produzir,

um imenso sentimento ...

 

Para exemplificar:

 

São Silveirinha (1972)

 

DE MÃOS ABERTAS

 

Mulher sofrida

arranca essas vestes

carregadas de medos!

 

Deixa que te amainem esse grito

que, aos poucos, te vai estrangulando!

 

Mulher coragem,

embebeda os teus sentidos

até agora adormecidos!

 

Lá fora, tudo é som...

Lá fora, tudo é claridade...

 

Não temas o sol impiedoso

que parece ferir-te os olhos,

até agora vendados!

 

De mãos libertas, avança pelas ruas!

Á tua frente, irão misturar-se sem pudor,

Serpenteantes como rabiscos de lápis de cor!

 

Mulher luz – antes sombra –

Alimenta-te desse trago de vida!

 

As mãos da liberdade

são agora o teu abrigo!

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publicado às 00:07


POEMA (7)

por Francisco Galego, em 10.07.19

 

Decidi publicar alguns poemas retirados de obras de autores reconhecidos como notáveis poetas, porque não sei responder com clareza a perguntas como as que assim expresso:

Afinal qual é a essência da poesia?

Amontoar palavras e informações?

Revelar muitos e profundos conhecimentos?

 

Ora, a poesia,

mesmo um pequeno poema,

dizendo em poucas palavras,

poucas coisas, quase nada,

pode sugerir tanto, tanto,

que consegue produzir,

um imenso sentimento ...

 

Para exemplificar:

 

São Silveirinha (1972)

 

MARCHA

 

QUE NINGUÉM

NOS TENTE TRAVAR O SONHO!

O alento que nos impulsiona.

 

QUE NÃO NOS CALEM A VOZ!

O arco dos nossos anseios.

 

QUE NÃO NOS APRISIONEM A ALMA!

A nossa força motriz.

 

QUE MÃO NENHUMA SUFOQUE O NOSSO GRITO!

O escape da nossa inquietude.

 

QUE NENHUMA CORRENTE DE FERRO

NOS IMPEÇA O CAMINHAR!

O nosso passo é firme, inabalável.

 

SOMOS DONOS DA NOSSA VONTADE

E COMANDAMOS O NOSSO DESTINO!

 

 

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publicado às 08:40


POEMA (6)

por Francisco Galego, em 05.07.19

 

Decidi publicar alguns poemas retirados de obras de autores reconhecidos como notáveis poetas, porque não sei responder com clareza a perguntas como as que assim expresso:

Afinal qual é a essência da poesia?

Amontoar palavras e informações?

Revelar muitos e profundos conhecimentos?

 

Ora, a poesia,

mesmo um pequeno poema,

dizendo em poucas palavras,

poucas coisas, quase nada,

pode sugerir tanto, tanto,

que consegue produzir,

um imenso sentimento ...

 

Para exemplificar:

 

Fernando Pessoa (188-1935)

 

NEVOEIRO

 

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,

Define com perfil e ser

 Este fulgor baço da terra

Que é Portugal a entristecer -

Brilho sem luz e sem arder,

Como o que o fogo-fátuo encerra.

 

Ninguém sabe que coisa quer.

Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)

Tudo é incerto e derradeiro.

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoreiro ...

 

É a Hora!

 

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publicado às 00:02


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