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JORNAIS DE CAMPO MAIOR (TEXTO 3)

por Francisco Galego, em 29.05.19

A partir de certa altura, a colagem do jornal a tendências políticas que pugnavam por soluções políticas de carácter autoritário, levou o antigo grupo fundador a reagir criando um outro jornal – Notícias de Campo Maior – ficando assim a vila com dois jornais nos anos de 1926 a 1928.

Depois, seguiu-se a Ditadura Militar que resultou da vitória do golpe levado a efeito por militares em 28 de Maio de 1926. A acção inibidora da censura, a suspensão das liberdades democráticas e a saída de Campo Maior de João Ruivo, ditaram o encerramento do Notícias de Campo Maior a partir 1 de Junho de 1929.

            O Campomaiorense já tinha suspendido a sua publicação em 14 de Abril de 1928. Voltaria a publicar-se nos anos de 1933 a 1935, então já com um total alinhamento com o Estado Novo e com a ideologia salazarista.

 

Entretanto, já na fase posterior ao 25 de Abril, apareceram outros jornais em Campo Maior como A Palavra que se publicou desde 30 de Janeiro de 1988 ao último trimestre de 1989 e o Jornal Campo Maior no início dos anos 90. Em 16 de Outubro de 1996 reapareceu o Notícias de Campo Maior, por iniciativa da empresa proprietária do Linhas de Elvas, que o manteve em publicação até 2005.

            Contas bem feitas, o Notícias de Campo Maior foi o jornal que se publicou durante mais tempo em Campo Maior.

           

 

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JORNAIS DE CAMPO MAIOR (TEXTO 2)

por Francisco Galego, em 24.05.19

João Ruivo foi a alma do jornal O Campomaiorense numa primeira fase de publicação que durou de 1921 a 1923. Durante este período o jornal procurou manter-se imparcial e acima das lutas partidárias. Embora João Ruivo fosse um activo militante republicano, era seu entendimento e sua prática que o jornalismo devia usar do máximo de neutralidade e democraticidade mantendo-se equidistante em termos de opiniões políticas.

            A falta de recursos económicos, o peso excessivo das despesas e a fraca adesão dos leitores numa terra onde imperava o analfabetismo, ditaram a necessidade de procurar uma solução que viabilizasse a continuação do jornal.

            Outro grupo de jovens, quase todos ligados a famílias de grandes proprietários agrícolas, alguns com cursos superiores, tomaram o encargo de fazer sair o jornal, começando assim a 2ª fase da sua publicação que iria durar de 1924 a 1927. Este grupo agia sob a liderança do Dr. Francisco Telo da Gama personalidade que durante muito tempo marcou profundamente a vida de Campo Maior, na chefia do município, como governador civil do distrito e como membro do governo.

            A partir de certa altura, a colagem do jornal a tendências políticas que pugnavam por soluções políticas de carácter autoritário, levou o antigo grupo fundador a reagir criando outro jornal – Notícias de Campo Maior – ficando assim a vila com dois jornais nos anos de 1926 a 1928.

Depois, seguiu-se a Ditadura Militar que resultou da vitória do golpe levado a efeito por militares em 28 de Maio de 1926. A acção inibidora da censura, a suspensão das liberdades democráticas e a saída de Campo Maior de João Ruivo, ditaram o encerramento do Notícias de Campo Maior a partir 1 de Junho de 1929.

            O Campomaiorense que já tinha suspendido a sua publicação em 14 de Abril de 1927, voltaria a publicar-se nos anos de 1933 a 1935, então já com um total alinhamento com o Estado Novo e com a ideologia salazarista.

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JORNAIS CAMPO MAIOR (TEXTO 1)

por Francisco Galego, em 20.05.19

O primeiro jornal que Campo Maior teve apareceu no ano de 1921, vivia Portugal um período agitado e de grande instabilidade social e política. Os governos mudavam devido a uma alucinante sucessão de golpes de estado, de revoltas, de desencontradas votações no parlamento.

            Muitos, desencantados e cansados de tanta perturbação, procuravam formas alternativas de intervenção social desviando-se da turbulência dos acontecimentos políticos.

Um grupo de jovens campomaiorenses que viriam a constituir-se em associação que significativamente adoptou o nome de Pró Terra Nostra, (Pela Nossa Terra), resolveu criar um jornal – O Campomaiorense em torno do qual se pudessem realizar acções que promovessem o desenvolvimento de Campo Maior. Eram jovens que podemos considerar de classe média, com algumas bases culturais, distribuídos por diversas profissões e condições sociais: funcionários públicos, comerciantes e empregados no comércio, agricultores, estudantes e alguns dedicados aos ofícios artesanais que então existiam em número significativo na vila.

            O Campomaiorense foi o primeiro jornal que Campo Maior teve. Este projecto, como sucede com quase todos os empreendimentos humanos, fez-se sob a liderança de um homem que marcou profundamente a vida de Campo Maior durante os anos vinte do século passado. Chamava-se João Ruivo. Era filho de um mestre-de-obras que deixou algumas construções notáveis na vila, como o Lagar União já desaparecido e o Bairro Operário. João Ruivo que tinha combatido como voluntário na 1ª Grande Guerra, exerceu funções importantes como funcionário da câmara municipal, aonde chegou a chefiar os serviços administrativos e a ocupar por algum tempo o cargo de administrador do concelho. Autodidacta inteligente e aplicado, conseguiu adquirir uma sólida cultura. Foi correspondente de vários jornais de Lisboa -, entre eles o Século e o Diário de Notícias -, colaborou em vários jornais regionais como Brados do Alentejo de Estremoz, Montes Claros de Borba, Democracia do Sul e Notícias D’ Évora, A Fronteira e Linhas de Elvas.

 

 

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DEITANDO CONTAS À VIDA ...

por Francisco Galego, em 15.05.19

Com 77 anos, estou já razoávelmente entrado na chamada terceira idade da vida. Sou, portanto, oficialmente, um velho, ou estou a tentar aprender a sê-lo com a dignidade que me for possível. Com toda a franqueza digo que não esperava chegar a uma idade tão avançada como a que agora tenho. Não sinto qualquer angústia, nem a ideia de uma aproximação da morte me provoca medo ou sobressalto. Encaro-a como coisa natural e certa. Só desejo ser poupado a situações de grande sacrificio, sofrimento, ou de acentuada decadência fisica ou mental.

Até aqui a vida tem cuidado razoavelmente de mim. Não me apaparicou, mas também não me atormentou com inquietações de monta. Procurei pedir-lhe pouco e ela foi-me dando o necessário para ir vivendo sem ter atormentadas razões de queixa. Desde muito cedo fiz a opção essencial que, de forma mais ou menos consciente, todos fazemos, a partir de dado momento. Ao prazer preferi o sossego de uma consciência tranquila. Preferi o ir vivendo razoavelmente, sem aspirar a muito ter. Entre o servir-me e o compromisso de bem cumprir, escolhi o que me parecia ser o meu dever. Compreendi que não podia aspirar a grandes realizações, nem a alcançar sucessos espectaculares. Pareceu-me mais justo e adequado renunciar a grandes ilusões. Um destino de aurea mediocritas pareceu-me ser uma possibilidade aceitável para quem nasceu com tão poucas condições para a muito aspirar. Pior seria a procura insensata de uma improvável celebridade.

Preferi os afectos acessíveis, às paixões inantingíveis. Não escolhi percorrer as vias que me levassem ao poder, ou ao muito ter. Mas fui conseguindo o que me era indispensável para não sofrer de grandes carências. Para quem foi tão prudente nas suas aspirações, até  acabei por ir conseguindo alcançar o que foi sendo bastante. Talvez por ter entendido que, para ir mais longe, só com  grande rasgo de sorte.

Chego a este patamar da minha existência e posso pensar e sentir que, até ao momento, o projecto concebido e executado pode ser avaliado positivamente. Sei que não depende completamente de mim que assim persista até ao momento final. Mas, enquanto tiver discernimento, procurarei agir para que continue desta feição, este  projectado trajecto  que foi sendo o meu viver. Não lamento o que não fui e procuro não contabilizar como falhado o não ter aquilo que não alcancei. Porque, a maior parte das coisas que não consegui, foi porque as não desejei. E se outras não logrei, foi porque tinha a clara consciência de que não havia condições para lá poder chegar.

Esta é a avaliação que penso dever fazer, nesta idade terceira, e é a que me parece a mais adequada ao projecto que me foi possível traçar como opção do meu viver. E, porque passou o tempo de ambicionar, é tempo de deitar contas ao que foi possível fazer. Seria completamente descabida qualquer pretensão de recomeço. Mas, não me sinto frustrado, nem estou zangado com a vida... Não terei sido excepcional pelo sucesso. Mas, - e isso é muito mais importante do que os tolos podem conceber -, também não devo fazer um balanço final negativo. Pois que, se não tive momentos de exuberante felicidade, também não conheci o desespero irremediável dos grandes sofrimentos. Nunca me senti glorificado pela fama. Mas fui agradávelmente premiado com a amável consideração de uma grande maioria dos que me foram conhecendo.

Por isso, posso e devo dizer neste momento: Vivi razoavelmente a vida que me foi possível ir vivendo. Se ainda vier a ter que me atormentar com inesperados sofrimentos, aqui fica a confissão do balanço positivo que me sinto obrigado a fazer neste momento.

Calmamente

Vou-me retirando

Sem angústia

Sem mágoa

Nem ressentimento

Grato por tudo

O que fui alcançando

E ainda muito atento.

 

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MINHA TERRA E MINHAS RAÍZES ...

por Francisco Galego, em 10.05.19

Nasci nesta vila do Alto Alentejo, mesmo encostada à fronteira, que se chama Campo Maior. Embora colocada num recanto, afastada de importantes vias de comunicação foi, no passado, povoação de considerável importância militar, económica e demográfica. A presença num ponto da fronteira bastante frágil, em termos de estratégia de defesa, constituiu-a como importante praça de guerra, enquanto existiu o perigo de invasões a partir do território do poderoso vizinho que fica do outro lado. Mas, em termos económicos, a fronteira teve também efeitos positivos. O contrabando foi sempre fonte de consideráveis rendimentos e houve mesmo épocas em que se tornou fonte de fácil e rápido enriquecimento.

A agricultura em terras com aptidão para a produção dos cereais, dos gados, do vinho e do azeite, favorecia a fixação de uma considerável população.

 Sendo concelho de pouca extensão, devido à variedade das terras que o compõem, sustentou uma agricultura bastante próspera em tempos em que predominava uma economia de subsistência, em regime de acentuado isolamento. Foi o café, produto essencial do contrabando, depois da guerra civil de Espanha, que lançou as bases da economia campomaiorense na actualidade. Do contrabando veio uma primeira acumulação de capitais que gerou uma  produção que constitui actualmente, a principal base da sua prosperidade: a torrefacção de cafés.

            Nasci numa rua modesta como modesta foi a minha origem familiar: Os meus quatro avós e as duas bisavós que ainda conheci, estavam ainda muito envolvidos na sua condição campesina. Os avós maternos vinham directamente de gente secularmente ligada ao trabalho nos campos. A mãe da minha mãe, minha avó Maria Catarina Cainço, descendia de uma família de camponeses naturais e residentes na  aldeia de Degolados, muito próxima de Campo Maior mas que, à época do seu nascimento, estava administrativamente ainda ligada ao concelho de Arronches. Esta minha avó veio com seus pais residir no monte de uma herdade, em Campo Maior, onde conheceu o jornaleiro Jacinto de Jesus, natural de Elvas, freguesia de S. Pedro. Do casamento de minha avó Maria com o meu avô Jacinto, nasceram 12 filhos, dos quais - , como então era muito frequente entre a gente pobre, devido às doenças epidémicas que grassavam por aquele tempo -, mormente a pneumónica -, apenas sobreviveram quatro filhas: Palmira, minha mãe, era a mais velha, seguindo-se Mariana, Alice e Ana Maria.

O meu avô Jacinto era, em toda a família da parte de minha mãe, o único que tinha frequentado regularmente a escola e que, por conseguir ler e escrever razoavelmente, largou a enxada, ingressando na Guarda Nacional Republicana. Minha mãe, por vontade e esforço pessoal, conseguiu, por sua iniciatva, tornar-se modestamente letrada.

Da parte de meu pai, os meus avós estavam já bastante desligados do trabalho agrícola. Minha avó, Ana do Carmo Serra, como as gerações anteriores na sua família, estava basicamente ligada ao contrabando, actividade que, na nossa terra, era tão digna como qualquer outra, pois que, só podia ser exercida por gente de muita coragem e de grande seriedade. Aliás, aqui na raia de Espanha, todos eram um pouco contrabandistas e o contrabando gerou sólidas fortunas, tanto no domínio da agricultura, com no campo das poucas indústrias que se foram constituindo.

Tal como minha avó, também meu avô, Francisco, fazia do contrabando a sua principal ocupação, se bem que este tivesse sido arrastado para esta actividade pelo casamento – pois os seus irmãos eram, na sua maioria, gente muito ligada ao trabalho nos campos.

 Embora analfabetos, os meus avós paternos cuidaram de escolarizar os seus dois filhos varões: meu pai, José e meu tio Francisco. De minha tia Maria, foi entendido por meus avós que, sendo rapariga, não necessitaria de tal investimento.

Minha mãe, sendo a primogénita dos filhos sobreviventes, aprendeu o ofício de costureira de alfaiate, ou seja, de vestuário masculino. Meu pai tinha mais dois irmãos, minha tia Maria, a mais velha e meu tio Francisco, o mais novo. Mas, nunca aceitou o destino de contrabandista que o fatum familiar lhe parecia traçar – o risco e a incerteza desse tipo de vida, não quadravam com a timidez e a ânsia de segurança que lhe moldavam o carácter. Por isso, desde muito cedo, foi destinado ao comércio. Daí que, depois de um longo aprendizado de mais de seis anos em loja alheia, pôde, com o apoio dos pais, estabelecer-se por conta própria, pouco antes de casar e de eu ter nascido.

            A rua onde nasci era modesta, encostada às muralhas que ainda limitavam quase por completo o perímetro da vila. A minha casa ficava, entre as casas dos meus avós -, quase a igual distância de ambas -, o que foi estrategicamente muito importante no quadro do mapa dos meus afectos. Subindo a rua chegava a casa de minha avó Ana. Descendo-a e virando a esquina, chegava a casa de minha avó Maria.

Entre o tesouro de afectos que encontrava numa e a largueza de recursos que a outra me propiciava, a minha infância decorreu de forma muito favorável. De certo modo, não sentia falta de quem me apaparicasse: era filho único, sobrinho único, neto e bisneto único de um grupo considerável de gente.

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