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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Por Frei Manuel de Figueiredo:
Eremita Augustiniano, cronista da sua província (1), e muito acreditado pregador no seu tempo, de seu nome António Dias da Silva e Figueiredo, foi natural de Campo Maior e morreu no Convento da Graça de Lisboa a 19 de Novembro de 1774.
Estava de visita à sua família, em Campo Maior, quando se deu a explosão do paiol na torre de menagem, provocando a terrível destruição de grande parte da vila de Campo Maior. Testemunhou, portanto, este trágico acontecimento por vivência directa, que descreveu em documento que publicou em Lisboa, com o seguinte título:
“Notícia do lastimoso estrago, que na madrugada do dia 16 de Settembro, deste presente anno de 1732, padeceu a Villa de Campo-Maior, causado pelo incêndio, com que hum raio, cahindo no armazém da pólvora, arruinou as torres do castello, e com ellas as casas da Villa. Escrita por António Dias da Sylva, e Figueiredo, natural da mesma Villa”, Lisboa Oriental, na Officina Augustiniana, 1732
Transcrevo apenas algumas partes do relato que este nosso conterrâneo publicou:
"Desde o dia 14 de Setembro começou o céu a dispor-se para este estrago, encapotando-se na primeira noite os ares e fuzilando com alguns relâmpagos os quais, acompanhados de trovões, causaram muitos sustos, mas que não passaram de ameaços (...)
Seriam as 3 horas da madrugada quando, cruzando-se duas trovoadas, uma da parte do Poente, outra da parte do Meio-Dia, fizeram despertar com horríveis trovões os moradores. Quase uma hora durou o horror da tormenta em que as duas trovoadas pareciam travar um combate disputando qual delas devia assolar a vila. Até que, (...) caiu o raio na torre maior, ignorando-se de que parte a feriu. Uniu-se o fogo vindo do céu ao da terra quando rebentaram as bombas, granadas e pólvora que se guardava no interior da torre. Havia nela 5.732 arrobas e 6 arráteis de pólvora, 4.816 granadas ordinárias, 830 granadas reais, 711 bombas, 2.575 granadas desatacadas. Tudo isto com o seu impulso deu ruína ao castelo e sepultura à vila. (...)
O impulso foi tão violento que as casas caíram ao mesmo tempo parecendo que disputavam umas às outras o terreno para se derrubarem. Ficaram arruinadas 840 casas e mesmo as poucas que resistiram ao estrago, tiveram seu dano em telhados e portas. Foi tal o impulso que, mesmo as portas que não estavam voltadas para o castelo, foram violentamente arrancadas das suas ombreiras. Serviu de escudo ao pequeno número das casas que ficaram de pé o grande edifício da Igreja Matriz que susteve a maior parte do chuveiro de pedras da torre. Mas o magnífico templo que susteve o maior ímpeto do castelo, sofreu algum destroço, destruindo-se todo o frontispício e a abóbada do coro que estava sobre a porta principal e que era obra de pedraria e muito forte. Também ficaram danificadas as abóbadas das suas três naves e algumas das colunas que são de cantaria. Quebraram-se as portas, tendo as principais sido arrancadas com tal violência que foram parar junto ao altar-mor. Nem as imagens ficaram incólumes de tamanho ímpeto (...)
O mais sensível estrago foi o que padeceu a Igreja, Convento e Hospital de S. João de Deus,(2)onde não ficou casa alguma que não padecesse ruína. (...) A Misericórdia e Hospital desta vila também tiveram o seu dano. Maior dano experimentou o Convento de São Francisco, onde não ficou porta inteira, nem mesmo a mais interior, abrindo grandes roturas nas suas abobadas as muitas e grandes pedras que sobre elas caíram. Arruinou-se também o frontispício da sua Igreja, obra recém acabada, caindo em terra a imagem de Santo António que estava nesse frontispício, tendo caído os pedaços na cabeça de um pobre homem que procurava refúgio no espaço sagrado da Igreja, provocando-lhe a morte. (...) a Ermida do invicto Mártir S. Sebastião, que está num baluarte da muralha, não sofreu ruína, (...), por ficar numa parte para onde não se encaminhou o ímpeto da explosão.
Dentro do próprio castelo, sofreram ruína os “armazéns de outras provisões de guerra” e ainda, duas torres que ficaram em pé, sofreram seu dano ficando descoberta uma que conservava em si alguns barris de pólvora, os quais não rebentaram. Ficaram também demolidas as Casas da Câmara e a Cadeia desta vila. (3)
A fortificação sofreu seu dano, principalmente nas portas da Praça que, sendo fortíssimas, foram arrancadas como impulso da explosão.
Mesmo à distância de quatro léguas se fez sentir o efeito da explosão, pois os moradores de Arronches e Albuquerque deram notícia de terem sentido, nessa hora, um extraordinário abalo nas suas casas. (...)
(...) Não se pode averiguar o número certo das pessoas que morreram ou ficaram feridas nestas ruínas cujo número, prudentemente, se conjectura chegar aos 2.000 (...)
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(1) Pertencia à Ordem dos Agostinianos Eremitas, conhecida como Ordem dos Gracianos, sedeada no Convento da Graça de Lisboa.
(2) A Igreja, Hospital Militar e o Convento de São João de Deus de Campo Maior, ocupavam todo o quarteirão que, actualmente fica limitado por: a Oeste e a Norte pela Rua de Santa Cruz; a Sul pela Rua Vasco Sardinha; a Leste pela Rua Visconde de Seabra, antiga Rua de Pedroso.
(3) Estes dois edifícios localizavam-se na Praça Velha, encostados à muralha do antigo castelo.
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NOTAS:
A partir de meados de Século XVI, quando a artilharia já se tinha tornado dominante como arma de guerra, a situação antes descrita tornou-se bastante frequente, como dão a entender as notas que fui recolhendo das leituras que fui efectuando e que refiro seguidamente. Infelizmente, não tive o cuidado de tomar nota das fontes onde foram recolhidas.
Juromenha:1644 / 1658 - Grandes obras de adaptação do castelo a uma fortaleza para uso da artilharia durante a Guerra da Restauração, alterando significativamente a fortificação medieval.
Em 1659 - Grande explosão do paiol de pólvora que destruiu a maior parte da fortaleza incluindo o antigo paço.
Parte do castelo de Estremoz foi destruída por explosão do paiol de pólvora em 1698.
A Alcáçova do castelo da cidade de Miranda do Douro foi arrasada pela violenta explosão do paiol da pólvora em 8 de Maio de 1762 que destruiu uma grande parte do núcleo urbano.
No Cerco de Almeida que ocorreu entre 15 e 28 de Agosto de 1810, no início da Terceira Invasão Francesa, a praça-forte de Almeida estava sob o comando do Coronel William Cox. As forças sitiantes estavam sob comando do Marechal Ney. Uma forte explosão no paiol deixou a praça sem meios de defesa. Nessa explosão morreram à volta de 500 homens (cerca de 200 eram artilheiros) e os danos materiais foram muito grandes. Uma parte da povoação de Almeida desapareceu e o resto ficou muito danificado. Só seis casas tinham conservado os seus telhados. Perante reacção adversa de alguns oficiais portugueses, Cox acabou por aceitar a capitulação. A guarnição entregou a praça aos franceses no dia 28 de Agosto.
Torres Vedras: Em 1810, o Castelo passou a forte das Linhas de Torres e, em Dezembro de 1846, serviu de quartel às tropas do Conde de Bonfim, de que resultou o agravamento do seu estado de ruína provocado pela explosão do paiol da pólvora.
Estêvão da Gama de Moura e Azevedo foi governador militar e historiador da vila e do concelho de Campo Maior, vila onde nasceu e foi baptizado, em 27 de Março de 1672 e onde morreu em 23 de Abril de 1714.
João Dubraz , nas suas memórias, refere que ele terá feito a seguinte descrição do antigo castelo de Campo Maior, realçando que (O castelo de agora é quase outro, tanto nas acomodações que contém, como no aspecto ...) e transcreve a descrição que ele, Estêvão da Gama fez, nas suas memórias, em que refere o estado do castelo antes da catrátofe de 1732.
O castelo está situado na parte mais alta da povoação, ao meio-dia, com quatro torres pequenas e uma grande, junto das quais estavam as casas do alcaide-mor, na parte interior que hoje se chama castelejo, em que se fizeram os armazéns. Tem duas portas: uma para o norte, outra para o sul. Depois das torres tem outra fortificação, que mostra ser mais moderna, porque tem um género defesas. E tem uma terceira fortificação, que guardava toda a vila velha, que ficava com duas portas que ficavam, uma para a Barreira, outra para Santa Maria; e a da Barreira chamava-se Porta do Sol.
A torre grande tem no seu vão três formosas casas que servem de armazém, na qual estão as granadas e a pólvora, porque, com a experiência de 1712, se verificou que a dita torre é à prova de bomba, pois que lhe cairam em cima nove das de maior potência e não lhe causaram a menor ruína. As outras torres estão ocupadas por apretechos militares e todas as munições necessárias a uma praça de fronteira. Dentro, do castelo, na vila velha, havia casas nobres e algumas ruas, mas só achámos o nome de Rua dos Infantes, o que mostra que, em algum tempo, moravam nela pessoas reais.
A fortaleza a que se chama castelo contém verdadeiramente dois castelos. Do mais antigo restam alguns panos de muralhas e partes do castelejo.
A parte maior, a mais moderna, compreende dois planos, tem seis torres com plataformas, podendo, em cinco delas, laborar a artilharia de rodízio. As torres são todas ligadas por parapeitos com canhoneiras. Há também uma torre de vigia no plano superior e é aí a praça de armas e a ermida.
Do lado do Ocidente eleva-se um recinto ameado, com duas torres, ao Norte e ao Sul, resto do primitivo castelo, destruído em grande parte pela terrível explosão do armazém da pólvora em 1732. As ameias, os adarves e algumas seteiras que restam, estampam nesta construção o selo interessante da Idade Média.
Nada, porém, denuncia ali um edifício dos árabes – contra ao que pretendem alguns antiquários.
A lenda da moira encantada poder-se-ia considerar tradição oral transmitida de pais para filhos, se a poesia popular não tivesse encantado, em todos os velhos castelos, uma moira, mais ou menos formosa, protesto eloquente contra um certo fanatismo religioso.
(Texto elaborado com base na obra publicada por João Dubraz em 1868 e 1869)
Sobre a origem do nome, fazem os antiquários (1) conjecturas, crendo alguns que venha de campus major, por se avistar do castelo, para Leste, uma vasta planície. O nome seria de origem romana, pois assim eram designadas as terras extensas e planas, boas para a agricultura, porque nelas se podiam melhor cultivar o trigo, a vinha, o olival e criar rebanhos de gado.
Outros supõem que a povoação teria começado nas proximidades da Ermida de S. Pedro, onde se têm encontrado alguns vestígios da presença dos romanos. Mas, com as invasões do Império Romano pelos povos ditos bárbaros, as guerras que se travaram, terão afastado o povoado do campus major para se situar num ponto elevado onde pudessem construiram um castelo para defesa da população.
Outros ainda, crêem piamente que houve um campus major, escolhido pelos antigos povoadores, para ampliarem a vila velha, a qual começava nos Cantos de Baixo, onde, numa casa antiga, está no vão de uma janela, uma pedra com três caras esculpidas, símbolizando os três períodos da vida: Juventude, Idade Madura, e Velhice.
Há antiquários que atribuem a construção do castelo aos romanos e outros que a atribuem aos mouros (2). Nada disto se pode asseverar nem negar face às provas que se conhecem.
Os panos amuralhados denunciam-nos a arquitectura simples dos castelos da Idade Média.
Estêvão da Gama, - governador militar e cronista dos factos históricos de Campo Maior - em texto redigido nas primeiras décadas do séc. XVIII -, cita o livro de Francisco Brandão, Monarquia Lusitana, em que se diz que os moradores de Elvas ganharam o castelo de Campo Maior pela ruim vizinhança que lhe faziam os seus moradores, então castelhanos.
As crónicas mais antigas, dizem-nos somente que D. Dinis reformou o castelo, para o que terá aproveitado uma construção anterior. Numa memória dos franciscanos, assevera-se que o castelo foi edificado em 1310. Nessa memória refere-se que “veio a vila à corte deste reino, por D. Dinis, que reformou e reparou o castelo”.
(Texto elaborado a partir do que João Dubraz escreveu, no seu livro publicado em 1868 e em1869)
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(1) Este termo que, para nós significa que alguém se dedica a coleccionar ou transaccionar coisas antigas, significava para João Dubraz, os que se dedicam ao estudo das coisas antigas.
(2) Contudo, é pouco seguro atribuir a sua fundação aos mouros, só por estar o castelo num monte, pois que, tanto os romanos, como os godos, os árabes e todos os povos da Idade Média, construíam as suas fortalezas em lugares elevados, mesmo que tivessem burgos ou arrabaldes próximos. Os castelos alcandorados garantiam melhor o acolhimento e a defesa das populações em situações de cerco por tropas inimigas.
O poema tem de ter o peso das coisas que invoca: alegria, contentamento, bem-estar, lágrimas, angústia, ou o desespero do que nem se consegue dizer claramente escrevendo.
Sem isso, não é poema e, poderá mesmo, nem conseguir ser boa prosa. São apenas palavras colocadas a jeito de parecerem ser aquilo que não podem ser.
Não é a forma que pode, só por si, expressar e causar o sentimento. E as palavras, se não têm sentido, nada nos dizem. Podem até parecer... Mas, de facto, não são (...) se nelas não houver a verdade do que pretendem dizer.
Há o sentir, há o ritmo, ou a rima, há a concordância e, acima de tudo, tem de haver a autenticidade do que se sente; a autenticidade do que encanta, ou do que causa paz, alegria, dor, amargura ou sofrimento.
O poema tem de ser expressão da vida, tal qual se sente.
Se forem vazios de sentido, os versos, mesmo que bem alinhados, podem não formar um verdeiro poema.
É pouco notável em antiguidades o concelho de Campo Maior. O recinto ameado do castelo, o muro de uma albufeira romana ou mourisca (1), a capela do Salvador, junto ao Xévora, a praça de Ouguela e alguns alicerces de procedência duvidosa, são por ventura as únicas antiguidades que podem, por agora, motivar investigações arqueológicas.
Construções modernas, dignas de observação, só há as já citadas. Mas não é inútil visitar a Igreja da Misericórdia e o hospital, a capela das almas feita de caveiras humanas, os conventos de São Francisco e de São João de Deus, já meio transformados e algumas ermidas a que se ligam tradições religiosas, entre as quais se pode contar o Calvário enriquecido por imagens de valor artístico.
Construções particulares de vulto foram raras nos últimos quarenta anos. O movimento da povoação a tal respeito reduz-se a reedificar e reparar as antigas habitações e, mesmo assim, há sítios onde os proprietários não reedificam a casa que abate de velhice. O município deve quanto antes arrasar essas ruínas, verdadeiras chagas cobertas de podridão, desacumulando a vila de pejamentos repugnantes que lhe dão um aspecto de decrepitude, pouco acorde com a actividade febril dos habitantes e que induzem os que a visitam a apreciações erradas.
Indústrias novas não se têm criado e apenas se pode dizer que certas necessidades, provenientes do progresso da agricultura, foram remediadas. Nessa consideração tenho a construção de duas fábricas de destilação e alguns lagares de moer azeitona.
Tal é a minha terra. Os que a conhecem não rejeitarão o quadro. Os que apenas ouviram falar dela, se lha pintaram diferente amigos ou inimigos, podem, se me quiserem crer, rectificar os seus juízos. Como entidade moral deve o leitor apreciá-la mais completamente lendo este livro, que é a sua história de mais de quarenta anos, precedida de preliminares que talvez não repute inúteis para o objecto que tive em vista.
(Texto de João Dubraz, na obra Recordações dos Últimos Quarenta Anos, publicada em 1868 a primeira edição e, em 1869, a 2ª edição)
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(1) Refere-se à barragem romana do Muro, considerada uma das maiores barragens romanas a sul do Tejo.
A gente é laboriosa, apaixonada pelo luxo do trajar, um pouco altaneira e imprevidente, geralmente bondosa e tratável. A educação pública e a polícia carecem todavia de cuidados que se não podem preterir.
Essencialmente agrícola, a povoação alimenta-se da uberdade da terra e só dela. Se a agricultura não constituiu exclusivamente, outrora, o lavor diário dos campomaiorenses, é hoje e vai continuar a ser, o mais valioso recurso para que podem apelar. Exporta muito trigo, legumes e azeite e, tendo o cultivo da vinha assumido nos últimos anos proporções inesperadas, as bebidas alcoólicas constituem já um grosso rendimento. Também exporta lã e alguma laranja(1).
Os habitantes de Campo Maior são laboriosos, como já se disse, especialmente os camponeses. Em parte alguma está tão garantido o trabalho braçal e não há país onde a existência da máquina viva e pensante de arrotear a terra seja mais cómoda e segura, enquanto lhe não falecem as forças para o trabalho.
A área do concelho é pequeníssima, pois, do lado de Espanha mede somente seis a oito quilómetros, apenas dois ou três do lado de Arronches (2), e pouco mais na direcção de Elvas. Este vício de divisão territorial faz com que muitos colonos dos termos de Elvas e de Arronches residam em Campo Maior.
(Texto de João Dubraz, em obra publicada em 1868 e 1869)
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(1) Quanto à laranja, na 1ª edição, na página 7, era referido que se tratava de “cultura que esteve muitos anos descurada e que actualmente progride de modo esperançoso”.
(2) Convém tomar em consideração que a freguesia de Degolados, estava ainda integrada no concelho de Arronches.
A vila é abundante de água potável e os campos adjacentes, ainda que um pouco secos, são férteis e bem cultivados. Nota-se porém, durante o Estio, uma zona quase circular que tem de diâmetro alguns milhares de metros, cujo centro é o povoado, onde a vista quase só pousa sobre pés de plantas devastadas pelo ceifeiro. Como contrasta então este terreno árido, queimado pelo sol e pelo fogo, repugnantemente feio e incómodo, com os tapetes luxuriantes de verdura e semeados de papoulas que brotam no Inverno e se alindam na Primavera!
O clima é áspero pela deficiência de arvoredo que só abunda a dois e mais quilómetros dos muros. No Inverno desce o termómetro a uma temperatura bastante baixa, elevando-se no Estio a ponto de se tornar o calor quase insuportável. O Verão é pois ardente e feio, o Outono temperado e agradável, e o Inverno muito frio, mas com dias tão suavemente deleitosos como os que se podem desejar na Primavera. Esta é irregular, ora fria ora quente, ora ventosa, ora húmida, sendo as menos vezes as que se diz lhe serem próprias, isto é, suave e amena. Os belos dias de Campo Maior são quase sempre em Janeiro: nesses dias excepcionais o sol resplende sem deslumbrar e o calor dos seus raios, tépidos e voluptuosos, vem tocar-nos com a sensação castamente perfumada de um beijo de criança.
(Texto de João Dubraz, em obra publicada em 1868 e 1869)
Vila antiga e praça de armas da província do Alentejo, Campo Maior demora[1] três léguas ao norte de Elvas, três ao oeste de Badajoz, três ao sul de Albuquerque e quatro a leste de Arronches.
O terreno onde está assente a povoação é, alto ao Sul, baixo a Leste e Oeste, erguendo-se um pouco ao Norte. Sobranceiro a todos os lados da vila, na extremidade sul, eleva-se o castelo - forte, vistoso e imponente. Respectivamente às cercanias, a praça é baixa e dominada por muitos cerros a Leste, Norte e Oeste, na distância de mil a dois mil metros, o que constitui a sua defesa difícil e perigosa.
Pelo recenseamento geral verificou-se que a população tem quase seis mil almas, volume importante, aglomerado e comprimido num espaço comparativamente pequeno. Portanto, sendo certo que não é a mais extensa das vilas do Alentejo, é decerto a mais populosa, porque nenhuma tem tal número de habitantes dentro de muros.[2]
São edifícios notáveis, o castelo, os muros da praça, a Igreja Matriz, a de São João Baptista, o depósito de víveres e os paços municipais. Entre as construções particulares sobressaem a casa dos Carvajais, a de Albuquerque Barata, a de João de Mello e outras. Em geral, os prédios da vila, com excepções não raras, são pouco elegantes, e o aspecto da povoação, conquanto que as ruas sejam regulares, deixa muito a desejar aos que lhe procuram aumentos.
(Texto de João Dubraz, em obra publicada em 1869)
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[1] Demora = Está à distância de ...
2 A última frase deste período, não existia na 1ª edição da obra publicada em 1868.
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