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A ESTRADA DE CAMPO MAIOR A ELVAS

por Francisco Galego, em 30.05.17

Deve haver uns 20 anos que protesto por esta razão, pois a câmara municipal pretende e é justíssimo que o governo mande construir uma ponte sobre o Caia; tem feito várias representações ao governo e, até agora nada foi feito, sendo que todos os anos o Caia vai tragando algumas vítimas.

(A Voz do Alemtejo, Nº 411, Elvas, 26 de Janeiro de 1865).

 “Se o Sr. ministro das obras públicas ... mais praticasse, já a imprensa e os povos deste distrito não levantariam justos clamores contra o péssimo e ridículo estado em que se encontra um grande lanço da estrada de Elvas a Campo Maior, a respeito do qual temos repetidas vezes requerido providências. (…)”

 “A política de hoje repugna-me.

Partidário sincero do velho Setembrismo, não me entendo com as coteries da época: são anónimas e não têm objecto claro.

Eram mais nobres os antigos partidos, porque definiam claramente o seu fim e caminhavam para ele com a fé e resignação dos mártires.

Porém, vamos tratar do problema da estrada.

Não me consta que o Sr. Ministro das obras públicas (era João Crisóstomo de Abreu e Sousa, o qual já não será ministro em Abril) resolvesse já alguma coisa sobre o assunto.

…Aproveite-se a Primavera para reconstruir a estrada e torná-la viável.

De se não fazer isto, resultará não só grande mal para os transeuntes e para os cultivadores dos terrenos próximos à estrada, mas para o governo que tolera há tanto tempo um pântano em lugar de estrada, ruínas em lugar de obras de arte, caboclos e quebradas perigosíssimas, em lugar de uma conservação esmerada.”

(A Voz do Alemtejo, Nº 428, Elvas, 26 de Março de 1865).

 

            Consta-nos que a repetidas instâncias do deputado deste círculo, foi rescindido o contrato feito pelo Sr. Kukenbuk de Figueiredo com a fazenda para a construção do lanço da estrada a macdam, do alto das Espadas à ponte do Caia, no caminho de Campo Maior e que o mesmo lanço vai ser concertado e devidamente acabado por conta do governo.

Damos os nossos parabéns aos viandantes que têm de utilizar-se desse melhoramento e Deus queira que não tenhamos de esperar por ele ainda outros dois anos.

Consta-nos que na ponte construída sobre o ribeiro do Judeu, já as rodas dos carros entram com a rosca de tijolo da abóbada da mesma. Se assim é, e se o concerto não se faz com brevidade, o mal a remediar há-de ainda ser maior e custar mais dinheiro.”

(A Voz do Alemtejo, Nº 431, Elvas, 6 de Abril de 1865)

Dizem que o ex-ministro das obras públicas (João Crisóstomo) rescindiu finalmente o contrato do Sr. Kukenbuck de Figueiredo. Ora graças a Deus ...

A estrada de Elvas ia parecendo as obras de Santa Engrácia.

Mas é preciso que a reconstrução comece quanto antes… a ponte do Judeu… se não lhe acudirem, aquela obra de arte arruinar-se-á. Parece-me que a estrada deve ser alargada na proximidade da ponte, porque está tão estreita e tem uma curva tão precipitada, que se não pode ali passar com cavalgaduras fogosas sem algum perigo.”

(A Voz do Alemtejo, Nº 435, Elvas, 20 de Abril de 1865)

 

 Textos da autoria de João Dubraz

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publicado às 00:03

I- NOTA PRÉVIA

 O texto que a seguir se transcreve, intitula-se "Breves notas sobre a arte e coisas de interesse turístico em Campo Maior",  que João Ruivo escreveu em meados do séc. XX e fez publicar em alguns jornais. É um texto  muito importante porque começa por explicar a razão de não encontarmos, em Campo Maior, elementos e documentos com valor patrimonial significativo, anteriores ao século XVIII, devido à terrível destruição provocada pela explosão de 1732.

Foi tão grande e vasta essa destruição que, em grande parte, a vila teve de ser reconstruída, com particular empenhamento para reparação dos danos provocados nas estruturas defensivas da praça de guerra. Foram rapidamente restaurados os danos que sofreram essas estruturas, porque a instabilidade político-militar assim aconselhava.Por outro lado, havia que criar condições para que os sobreviventes não abandonassem a vila, porque isso era sempre muito importante para a sustentação de uma praça de guerra, em caso de conflito.

Em 1725 as relações diplomáticas entre Portugal e a França tinham sido cortadas, situação que se manteve durante os catorze anos seguintes, em que não houve embaixadas, nem missões diplomáticas entre os dois reinos. Daí resultou uma situação que colocou os dois países à beira de uma guerra eminente, tendo mesmo entrado no Tejo uma armada inglesa para apoiar Portugal no conflito com a Espanha.

Depois da terrível destruição provocada pelo rebentameto do paiol da pólvora, instalado na torre de menagem do castelo, a reconstrução foi desde logo ordenada por D. João V.  Foi bastante facilitada pelas circunstâncias de serem então vultuosos os rendimentos com a exploração do ouro e dos diamantes no Brasil e de estarem em plena laboração estaleiros destinados à construção de muitas obras, entre as quais se podem referir a construção da Torre dos Clérigos no Porto, a  da Torre da Universidade de Coimbra e, principalmente, a construção do monumental Convento de Mafra, onde trabalhavam cerca de 15.500 operários, sob orientação de alguns dos melhores mestres desse tempo.

 

II - O TERRÍVEL DESASTRE

Devido a uma terrível explosão do armazém da pólvora e das munições, existentes na altaneira torre de menagem do castelo medieval, grande parte da vila de Campo Maior ficou destruída e foram mortos ou feridos muitos dos seus habitantes.  Um raio provocado por uma violenta trovoada seca, na madrugada do dia 16 do mês de Setembro, do ano de 1732, entrou por uma fresta da torre de menagem que servia de paiol e causou a lamentável destruição de quase tudo quanto, a vila fronteiriça de Campo Maior possuía de mais notável, em matéria de arte e de arqueologia, constituindo um valioso património de que os campomaiorenses muito se orgulhavam. Essa foi a mais importante causa de esta vila não ter conservado vestígios patrimoniais dos tempos mais recuados da sua existência,

Nos séculos anteriores à explosão de 1732, a vila fora-se alargando para fora do recinto fortificado, descendo pelas encostas viradas a norte e ao poente. Quando esta trágica situação ocorreu, existiam já, na chamada “vila nova”, bastantes ruas e largos fora da antiga fortaleza (onde ficava a "vila velha"). A vila era, já então, bastante populosa, tendo morrido muitos dos seus habitantes sob os escombros das casas que ruíram. 

Não havia muito tempo que, para garantir a defesa do país após a Restauração de 1640, prevenindo a guerra com a Espanha que se iria estender entre 1640 e 1668, fora construida uma nova cintura defensiva segundo o sistema abaluartado “à Vauban” (que numa quadra popular é designado como de “muralhas à francesa”).

Além do próprio castelo que ficou quase completamente destruído, desapareceu todo o casario da primitiva vila medieval e, como era na parte nova da vila que se encontravam os solares das famílias nobres, com os seus portais brasonados, as suas fenestras em ogiva e os seus grandes balcões ornados de artisticas grades de ferro, à semelhança das que podemos ainda hoje admirar noutras antigas vilas fronteiriças, como Marvão, Castelo de Vide, Estremoz, Monsaraz, Albuquerque e Olivença.

Desapareceu também, a primitiva igreja matriz, designada primeiramente como Igreja de Santa Maria e, posteriormente, como de Santa Clara, que ficava no castelo podendo-se presumir que fosse de traça romano-gótica.  Perdeu-se também todo o recheio que existia no seu interior.

O antigo Domus Municipalis sofreu tão forte ruína que foi depois transformado em açougue. Foi também muito afectado o palácio do governador e os antigos solares dos Teles da Silva, dos Teles de Menezes, dos Vaz, dos Barreiros, dos Galvões e dos Mexia, com as peças de mobiliário, tapeçarias, obras de arte e outras coisas de grande valor. Algumas dessas casas nobres sofreram obras de restauração. Mas alteraram-lhes tanto a traça primitiva, que quase nada terá restado do seu estilo em épocas anteriores.

A parte mais antiga da vila, dentro do castelo, jamais foi reedificada. Todo o perímetro do antigo recinto acastelado foi atulhado, com os materiais acumulados dos escombros, até à altura do anterior caminho de ronda ou adarve. Desta terraplanagem resultou a esplanada, que actualmente ocupa o interior do castelo e da qual se pode admirar o magnífico panorama da vila e da pitoresca paisagem que a rodeia, avistando-se para nascente e sul as terras distantes da Extremadura espanhola até às serranias de Zagala, de Montanchez, de Hornachos, de S. Benito, de Barcarrota, de Matacebada, de Alor e todas as alturas que enquadram a extensa veiga do Guadiana, bem como os plainos da província de Badajoz, de onde emergem, bem visíveis, em dias de boa visibilidade, as povoações de Albuquerque, Montijo, Lobon, Pueblo de la Calzada, Almendralejo, Valverde de Leganes, Olivença e outros “pueblos” de menor importância.

 

III - A RESTAURÇÃO DA VILA

O castelo foi reconstruido com novas formas e em novas dimensões. Como elemento essencial foi construído um castelejo rodeado de muralhas e de torres, ostentando a torre voltada a norte uma artística janela, talvez salva da destruição, que alguns têm atribuido ao artista normando Nicolas Chanterene que desenvolveu grande parte da sua obra em Portugal, entre os anos de 1517 e 1551, ou seja, no reinado de D. João III.

A actual Igreja Matriz, de invocação de Nossa Senhora da Conceição, de planta cruciforme, cuja construção terá sido iniciada no último quartel do século XVI, é obra robusta e magestosa que alguns atribuem a Manuel Pires, famoso mestre de pedraria do cardeal-rei D. Henrique, cuja acção continuou sob o domínio filipino, sendo autor dos planos de outras igrejas em terras do Alentejo, como Estremoz e Évora. Mas, só ficou concluída após a Restauração de 1640. As cúpulas em forma de pirâmides quadrangulares que cobriam as torres sineiras foram detruídas pelas pedras lançadas pela explosão que as atingiram, bem como às abóbadas das naves e do côro que ficaram parcialmente destruídas. Aquando da restauração da igreja foram substituídas pelas que agora apresentam, em forma de calote esférica.

O adro que fica no lado oriental desta igreja, é rodeado pelas três capelas: a Capela do Calvário, que tem um monumental altar, a Capela das Almas do Purgatório e a Capela dos Ossos, toda revestida de ossos humanos, como a do Convento de S. Francisco, em Évora, mas menos espaçosa e ostentando uma legenda algo macabra, lembrando: Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos.

A curiosa e original igreja barroca de S. João Baptista, em planta do tipo de “igreja salão”, (allen Kirchen) de uma só nave, é muito rica em mármores que revestem toda a fachada exterior e as paredes no interior e tem os seus altares decorados por talha dourada e por panéis pintados, com algum valor artístico. Esta igreja teve de ser construída de novo depois da explosão, pois que, estando a ser restaurada dos danos sofridos pelos bombardeamentos durante o cerco de 1712, ficou de novo muito destruída por efeito das pedras lançadas pela explosão, que a atingiram em 1732. Por isso, D. João V ordenou a sua reconstrução.

 

Convém também referir, a denominada “Casa da Mitra”, onde os bispos de Elvas costumavam permancer. Fica na Rua 13 de Dezembro, popularmente chamada Rua da Canada e que ostenta uma artística grade de ferro, um dos especímenes mais artísticos e aprimorados que se podem admirar no Alentejo, a par de outros que se podem admirar em Portalegre, em Marvão e em Borba e que têm alguma semelhança com os que se vêem, em Espanha - na Extremadura e na Andaluzia -, terras que possuem um notável recheio de  artísticos trabalhos em ferro forjado.                                                      

Não muito longe da vila, há certos recantos que merecem ser apreciados, merecendo destaque a pitoresca e bucólica “Quinta da Raínha”, com o seu amplo pátio, os seus jardins, a fonte em cascata, com a sua escultura em mármore representando Neptuno, os caminhos ensombrados de buxo e engrinaldados de trepadeiras e roseiras, o vetusto solar que, com o seu torreão, coroado por ameias e merlões, que permitem atribuir a sua fundação ao séc. XVI, embora tendo depois sofridos grandes alterações.

Por estas e por mais algumas razões, Campo Maior pode e deve ser considerado um ponto de passagem quase obrigatório para os turístas, nacionais ou estrangeiros que pretendam conhecer melhor o nosso país.

 

 

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CAMPO MAIOR – A CATÁSTROFE DE 1732

Por Frei Manuel de Figueiredo:

 Eremita Augustiniano, cronista da sua província (Ordem), e muito acreditado pregador no seu tempo, de seu nome António Dias da Silva e Figueiredo, foi natural de Campo Maior e morreu no Convento da Graça de Lisboa a 19 de Novembro de 1774.

Estêvão da Gama de Moura e Azevedo, na sua obra "DESTRUIÇÃO DA VILA DE CAMPO MAIOR", pág. 140, "entre os feridos de mais nome (..) o Padre Frey Manoel de Figueyredo, religioso de Santo Agostinho e Prior que foi no seu Convento da Graça, em Lisboa.

Estava de visita à sua família, em Campo Maior, quando se deu a explosão do paiol na torre de menagem, provocando uma terrível destruição em Campo Maior. Testemunhou, portanto, por vivência directa,  o trágico acontecimento que descreveu neste documento por si publicado em Lisboa, com o seguinte título:

“Notícia do lastimoso estrago, que na madrugada do dia 16 de Settembro, deste presente anno de 1732, padeceu a Villa de Campo-Maior, causado pelo incêndio, com que hum raio, cahindo no armazém da pólvora, arruinou as torres do castello, e com ellas as casas da Villa. Escrita por António Dias da Sylva, e Figueiredo, natural da mesma Villa”, Lisboa Oriental, na Officina Augustiniana, 1732

Encontrei este documento, por mero acaso, na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, numa das minhas pesquizas de documentos que contivessem informações sobre personagens e factos da história  de Campo Maior. Nunca tinha visto qualquer referência que lhe tivesse sido feita. Mas, no meu entender, por ser um testemunho presenciado directamento por quem a ele assistiu ao vivo, constitui, com o de Estêvão da Gama de Moura e Azevedo, outro testemunho directo, uma descrição muito realista e absolutamente credível desta terrível tragédia.

Creio que este texto foi pela primeira vez, por mim publicado in, "Alem Caia", em 18 de Outubro de 2016.

Vejamos como o nosso conterrâneo Frei Manuel de Figueiredo descreveu os factos a que assistiu, actualizando a escrita e introduzindo algumas notas para facilitar a sua compreensão.

Como orador afamado e escritor experimentado que era, a sua descrição é impressiva, muito viva e muito pormenorizada. O texto, ainda que algo extenso, é um documento de tal valor que não deve ser ignorado por quem se interessar por estes acontecimentos.

 

"Desde o dia 14 de Setembro começou o céu a dispor-se para este estrago, encapotando-se na primeira noite os ares e fuzilando com alguns relâmpagos os quais, acompanhados de trovões, causaram muitos sustos, mas que não passaram de ameaços.

 Chegou enfim a tristíssima noite de dia 15 que havia de reduzir a cinzas aquela máquina (refere-se ao castelo) que, por quase cinco séculos, resistiu às injúrias do tempo e aos combates da guerra. Principiou com a carranca dos ares a atemorizar os corações, anunciando-lhes com alguns trovões a ruína em que, daí a poucas horas, se haviam de encontrar sepultados.

Seriam as 3 horas da madrugada quando, cruzando-se duas trovoadas, uma da parte do Poente, outra da parte do Meio-Dia, fizeram despertar com horríveis trovões os moradores. Quase uma hora durou o horror da tormenta em que as duas trovoadas pareciam travar um combate disputando qual delas devia assolar a vila. Até que, unindo as suas forças num horrível estampido, saiu de uma nuvem o fogo que tinha sido concebido por tamanha ira. Caiu o raio na torre maior, ignorando-se de que parte a feriu. Uniu-se o fogo vindo do céu ao da terra quando rebentaram as bombas, granadas e pólvora que se guardava no interior da torre. Havia nela 5.732 arrobas e 6 arráteis de pólvora, 4.816 granadas ordinárias, 830 granadas reais, 711 bombas, 2.575 granadas desatacadas. Tudo isto com o seu impulso deu ruína ao castelo e sepultura à vila.

Ateando-se o fogo do raio, em tanta, tão arrumada e tão activa matéria, arrancou dos alicerces a torre de menagem e com ela mais quatro das seis torres pequenas. A este estrago seguiu-se o da vila: primeiro pelo impulso violento da explosão; depois pelo chuveiro de pedras, algumas de notável grandeza, despedidas do castelo arruinado.

Com o repentino abalo e ruína de suas casas, os assustados moradores que ficaram vivos pensaram, cada um deles, que era apenas o seu estrago particular, ou seja, o que um raio tinha feito na sua própria casa. Até que clamando uns por misericórdia, outros por confissão e outros por socorro, entenderam que se não podiam valer uns aos outros porque a ruína era de todos. Mas, no princípio, no meio da confusão e do horror, ignoravam qual tivesse sido verdadeiramente a causa.

O impulso foi tão violento que as casas caíram ao mesmo tempo parecendo que disputavam umas às outras o terreno para se derrubarem. Ficaram arruinadas 840 casas e mesmo as poucas que resistiram ao estrago, tiveram seu dano em telhados e portas. Foi tal o impulso que, mesmo as portas que não estavam voltadas para o castelo, foram violentamente arrancadas das suas ombreiras. Serviu de escudo ao pequeno número das casas que ficaram de pé o grande edifício da Igreja Matriz que susteve a maior parte do chuveiro de pedras da torre. Mas o magnífico templo que susteve o maior ímpeto do castelo, sofreu algum destroço, destruindo-se todo o frontispício e a abóbada do coro que estava sobre a porta principal e que era obra de pedraria e muito forte. Também ficaram danificadas as abóbadas das suas três naves e algumas das colunas que são de cantaria. Quebraram-se as portas, tendo as principais sido arrancadas com tal violência que foram parar junto ao altar-mor. Nem as imagens ficaram incólumes de tamanho ímpeto.

O mais sensível estrago foi o que padeceu a Igreja, Convento e Hospital de S. João de Deus, onde não ficou casa alguma que não padecesse ruína. Mas o mais lamentável foi o que ofendeu o mais sagrado. Porque, caindo o tecto da Igreja e quebrando o Sacrário onde estava o Santíssimo, se achou a Ambula 1] fora do seu lugar e as formas consagradas caídas em terra e despedaçadas, ainda que juntas debaixo da hóstia grande que ficou inteira.

A Misericórdia e Hospital desta vila também tiveram o seu dano. (Referência ás antigas instalações que ficavam na rua e largo do mesmo nome).

Maior dano experimentou o Convento de São Francisco, onde não ficou porta inteira, nem mesmo a mais interior, abrindo grandes roturas nas suas abobadas as muitas e grandes pedras que sobre elas caíram. Arruinou-se também o frontispício da sua Igreja, obra recém acabada, caindo em terra a imagem de Santo António que estava nesse frontispício, tendo caído os pedaços na cabeça de um pobre homem que procurava refúgio no espaço sagrado da Igreja, provocando-lhe a morte.

Como a veneranda imagem do grande Baptista estava depositada na pública capela, que tem nas suas casas o governador desta praça, por estar demolida a Igreja do Santo, devido ao projecto de se edificar uma nova, maior e de melhor arquitectura, foi aquela capela a única que foi respeitada pela ira do céu, pois que, caindo grandes pedras nas casas do governador, com grande dano, nem de leve elas ofenderam o lugar onde estava o Santo, ficando ilesa toda aquela numerosa família do governador. Benefício que também experimentaram todos os irmãos que, no presente ano, servem na mesa do Santo.

Confessamos que também a Ermida do invicto Mártir S. Sebastião, que está num baluarte da muralha, não sofreu ruína, mas não é tão notável o prodígio, por ficar numa parte para onde não se encaminhou o ímpeto da explosão.

Dentro do próprio castelo, sofreram ruína os “armazéns de outras provisões de guerra” e ainda duas torres que ficaram em pé, sofreram seu dano ficando descoberta uma que conservava em si alguns barris de pólvora, os quais não rebentaram. Também ficou isenta de estrago uma pequena capela que a devoção dos moradores desta vila tinha erigido a uma pintura do Padre Eterno, que se achou quando se demoliu a antiga Igreja que fora matriz desta vila e que depois foi, por alguns anos, ocupada pelos religiosos de S. Francisco. Esta imagem é muito venerada pelos frequentes prodígios que obra.

Ficaram também demolidas as casa da Câmara e a cadeia desta vila.

A fortificação sofreu seu dano, principalmente nas portas da Praça que, sendo fortíssimas, foram arrancadas como impulso da explosão. Tão activa foi ela que, estando três canhões desmontados e quase subterrados junto do reduto,2] arrancou dois do chão e arrojou-os para fora das muralhas. O mesmo sucedeu a dois morteiros que estavam junto da porta do castelo.

Mesmo à distância de quatro léguas se fez sentir o efeito da explosão, pois os moradores de Arronches e Albuquerque deram notícia de terem sentido, nessa hora, um extraordinário abalo nas suas casas.

Observou-se que, todas as boticas que há nesta vila, ficaram isentas de estrago, havendo mesmo algumas que não sofreram dano apesar de ter caído o tecto das casas em que estavam. Parece que o Céu, depois de dar o golpe para nossa emenda, teve providência em conservar ilesos os remédios para a cura. Assim se conjectura que, apesar de ter desembainhado a espada, não descarregou o seu golpe com toda a violência. Porque, sem tantos prodígios, não podiam tantos ter escapado com vida no meio da total ruína das suas casas. Apesar de ter havido famílias inteiras em que todos ficaram mortos, foi muito maior o número dos que saíram das mesmas ruínas sem qualquer lesão, causando admiração o modo como, sem advertência, evitaram o perigo.

Não se pode averiguar o número certo das pessoas que morreram nestas ruínas. Alguns estimam que tenham sido mais de duzentas. As de que temos certa notícia pelo distribuidor da Igreja, são as seguintes:

- Na Igreja Matriz enterraram-se 76 pessoas de comunhão e 28 crianças pequenas;

- No Convento de S. Francisco, 17 crianças pequenas;

- No Hospital de S. João de Deus, 6 soldados e uma criança pequena;

- Na Misericórdia, enterrou-se apenas o seu provedor Francisco Pires Cotão que foi a pessoa principal diante do Regimento de Cavalaria; e um sargento de Infantaria;

- Morreu também um religioso de S. João de Deus, chamado Frei José de Santa Catarina, sacerdote, confessor, a quem, partindo-lhe uma pedra a cabeça e lançando-lhe fora os miolos, não rompeu a túnica em que estavam metidos, de sorte que, pondo-lhos outro religioso no seu lugar e unindo-lhe a cabeça, ficou tão composto como se não tivesse lesão alguma; era religioso de vida exemplar;

- No Convento de S. Francisco morreram 3 dos monges que estavam orando no coro: o padre Frei Pedro de S. Boaventura, pregador, que logo ficou morto; o padre pregador Frei António das Chagas, que ainda pôde receber a extrema-unção; o padre confessor Frei António de S. Faustino, a quem uma pedra quebrou ambas as pernas e molestou de sorte que durou poucas horas. Ficaram gravemente feridos mais três religiosos da mesma comunidade;

- Morreu também o padre Domingos Gonçalves Pires, mestre de latim nesta vila, de idade de quase 70 anos, mas em todos de tão justificado procedimento que, desde menino, se não soube dele nem a mais leve verdura.

- E, fazendo-se reflexão sobre todas as pessoas que morreram, acha-se serem quase todas elas timoratas e de boa consciência. E, observou-se em especial que se achava coberto de cilício o corpo de uma bem morigerada donzela que morreu nesta desgraça.

Estes são os mortos de que se fez especial memória, mas, fora deles, se enterraram muitos outros, alguns pela piedade de seus parentes e amigos, de que se não pode saber o número certo, porque a mesma piedade que o fazia o ocultaria.

Sabe-se, contudo, (e pode este número acrescentar-se ao dos mortos) que, constando ao Doutor Juiz de Fora que passavam de 20 os mortos que, no segundo dia, estavam no hospital da vila e que os seus cadáveres tinham corrupção, os mandou conduzir e sepultar à sua custa, a cujo enterro assistiram clérigos castelhanos.

Além disso, teme-se que estejam alguns sepultados nas ruínas das suas casas, como sucedeu a uma menina de tenra idade, a qual, depois de 4 dias foi desenterrada, mas ainda viva e que ainda hoje existe.

Os mais gravemente feridos, que ainda hoje se estão curando, são 302, sendo incomparavelmente maior o número dos feridos leves que não chegaram às mãos do cirurgião e outros que procuraram remédio nas terras circunvizinhas, buscando amparo de parentes e amigos, cujo número, prudentemente, se conjectura chegar aos 2.000 3]  

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[1] Ambula – recipiente para guardar os santos óleos.

[2] Reduto – recinto fechado dentro de uma fortaleza que servia como último ponto de resistência. Por vezes é designado como o castelejo.

[3] Estêvão da Gama de Moura e Azevedo refere 256 mortos, entre pessoas grandes e pequenas e mais de dois mil feridos.Segundo o seu testemunho, a explosão provocou o desmoronamento de 836 das 1.076 moradas de casa que então existiam na vila.

 

 

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publicado às 08:04

ESTEVÃO DA GAMA DE MOURA E AZEVEDO, sendo nesse tempo o governador militar desta praça  de guerra, narrou  a tremenda catástrofe que testemunhou directamente. De forma muito significativa, este autor deu ao texto em que  relata o efeito que nele provocou este terrivel acontecimento, o titulo de Destruição da vila de Campo Maior, no incêndio que teve. Este texto foi incluido na obra NOTÍCIAS DA ANTIBUIDADE E ESTADO DA VILA DE CAMPO MAIOR (...), com organização, introdução, biografia, transcrição e notas de Rui Rosado Vieira, publicada em 1993, em edição promovida pela Câmara Municipal de Campo Maior. (Pág.s 135 a 141).
 Neste texto, o autor começa por nos informar da estrutura da torre, cujo rebentamento deu origem a este trágico acontecimento de que relata depois os efeitos mais dranáticos que provocou.

 

Esta torre tinha uma cisterna no primeiro pavimento; no segundo, uma casa e, nas quatro paredes dela, quatro capelas, e no terceiro pavimento outra casa. A cisterna não recebia água havia muitos anos e na segunda casa estava a pólvora em barris. Para maior segurança, a porta de entrada estava tapada com pedra e cal.

O ano de 1712, em que foi sitiada esta Praça pelo exército castelhano e nós a governávamos, mostrou a experiência que era à prova de bomba, porque, caindo nela nove bombas de 16 arrobas cada uma (cerca de 80 kg), as expulsou fora sem lhe fazerem o menor dano. Por esta causa se fazia a maior confiança deste lugar para a segurança de tão preciosa coisa para a defesa das praças,

Achava-se nela a porção de 5.743 arrobas e 6 arrates (cerca de 86 toneladas de pólvora) e, na última casa, 4.800 granadas muitas delas reais (ou seja, para  serem lançadas por peças de artilharia) , e outras de mão, que tudo rebentou ao mesmo tempo e estas foram as que fizeram maior dano no telhados, no Bairro de S. João e no Largo das Estalagens (actual Largo do Barata, popularmente chmado Largo do Assento).

Era a torre toda de pedraria grossa, assim por fora como por dentro e as abóbadas, das nove ruas que tinha, eram também de pedra de enchilaria (ou seja, de silharia = pedra aparelhada) sem que entrasse ali outro material.

Foi tal o impulso da pólvora, que arrancou a torre dos seus alicerces e a desfez em miúdos pedaços e juntamente todo o muro do Castelo que, sendo obra muito antiga, lhe não valeu a sua fortaleza, antes a muita fortaleza que tinha a torre foi a causa de maior estrago que padeceu este infeliz povo (…)

 Com a trovoada, que algumas horas antes principiara medonha, estavam os moradores já despertos e implorando a clemência divina. Ao estrondo da pólvora e da torre, caíram 836 moradas de casas das 1.076 de que se compunha a povoação e as outras ficaram sem telhados e nenhuma sem ruína.

 “Entre grandes e pequenas, morreram 256 pessoas e ficaram feridas mais de duas mil”.

Arruinou-se o coro e o frontispício da Igreja Matriz, algumas das suas abóbadas e colunas, quebraram-se todas as portas e algumas imagens.

Arruinou-se o Convento de S. Francisco. Não caiu a sua Igreja, mas o frontispício dela, algumas celas e a cerca, padeceram grande estrago.

Arruinou-se, em parte, o Convento de S. João de Deus e o Hospital, inteiramente, de sorte que os religiosos foram para a Rua da Canada… e os enfermos para a guarda de S. Francisco, donde ficaram se curando.

Arruinou-se o Hospital da Misericórdia (o antigo, situado na rua do mesmo nome), mas não a sua Igreja, só as portas e janelas se fizeram em pedaços

Arruinou-se a Igrejinha do castelo, mas a capelinha em que está o Senhor ficou sem lesão.

A milagrosa imagem de S. João Baptista que estava depositada numa Ermida do Governador Estêvão da Gama, não teve ruína nenhuma e, padecendo-a as próprias casas (do palácio) nada aconteceu às que estavam contíguas à Ermida. (…)

Deu-se conta a El-rei D. João V, Nosso Senhor, o qual mandou logo pela posta o seu cirurgião José Ricolth, com medicamentos e ordem para que se curassem todos os feridos. Mas, antes que este chegasse, tinha o Conde de Alva mandado quatro cargas de botica, para que se assistisse com ela a todos os feridos desta fatalidade.

O Cabido de Elvas mandou logo dois cónegos com 100 moedas de 4.800 (réis) cada uma, para socorrerem os necessitados… os quais erigiram um hospital nas casas da Mitra(casas do bispo de Elvas, na rua da Canada) para que nele se recolhessem todos os pobres necessitados, a quem assistem 6 religiosos capuchos do Convento de Elvas …

Mandou sua majestade 200 moedas de ouro para se repartirem pelos pobres… Os padres de S. Domingos de Elvas mandaram repartir pela pobreza 740 pães, 12 carneiros e uma carga de vinho. Os padres da Companhia da mesma cidade mandaram duas cargas de azeite e algum dinheiro…

Mandaram-se vir 75 soldados de Elvas e 75 de Olivença, para trabalharem no desentulho do Castelo.

Sua Majestade mandou 20 mil cruzados para limpeza das ruínas que embaraçavam as ruas e para se irem reedificando algumas casas dos pobres que, por falta delas, se tinham ausentado (algumas famílias foram para Albuquerque e para outras povoações vizinhas). Mandou-se fazer a avaliação de todas as casas arruinadas, por Diogo Pereira, empreiteiro que tinha sido das obras da fortificação… achou este que, pelo que tocava às casas dos moradores, importava em cento e vinte e oito mil cruzados; mas, entrando neste negócio más inteligências, foram-se as coisas pondo de tal modo, que não mandou Sua Majestade mais nenhuma ajuda de custo. E ficaram muitos moradores sem ela… os que se chamavam ricos ficaram sem ajuda nenhuma.

Mas El-Rei aliviou o Povo, por 10 anos, do tributo de 4 e meio por 100 e do cabeção. E mandou aplicar a terça do concelho para reedificação da Igreja Matriz e dar o acréscimo do depósito comum e 400 moios de trigo para se fazer uma Praça Nova, Casas da Câmara, Açougues e Cadeia, nos quintais que há entre a Rua da Canada e a do Manantio, com entradas para estas duas ruas e para a de S. Pedro, cuja obra se deve principiar.

 

 

 

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LEITURA DE UMA PLANTA MILITAR...

por Francisco Galego, em 12.05.17

 

Os documentos que podemos utilizar para recolha de informações úteis e necessárias para a elaboração do conhecimento histórico, são dos mais variados tipos e, consoante a perspectiva e a estratégia utilizadas para a sua leitura e análise, são susceptívies de múltiplas interpretações.

Aqui se apresenta a leitura estruturada que procurámos fazer da Planta da Praça de Campo Maior, elaborada para fins militares, pelo Real Corpo de Engenheiros, publicada em 1817, em folha de 94 x 62 cm.

Para melhor organização da sua leitura, optou-se por constituir duas zonas representadas na Planta, para que, cada uma delas, correspondesse às fases de crescimento da vila, desde o início do séc. XIV até ao início do Séc. XIX.

As informações contidas no documento em análise foram organizadas por categorias que facilitassem, a sua leitura, o seu registo e a sua descrição.

 

SECTOR 1:

Esta é primeira área de crescimento da vila, nos séculos XIV, XV e XVI. Extravasando as muralhas do castelo medieval que abrigavam a “Vila Velha”, uma nova parte da vila vai alastrar descendo pela encosta, desde uma primeira radial formada pelas ruas da Barreira e da  Soalheira (ou, segundo a "Planta", rua da Cadeia) até uma nova radial formada por:  Rua das Poças, Rua da Misericórdia,  Rua do Paço e  Largo da Alagoa. Esta nova radial terá começado a ser ultrassada no século XVI, devido ao  crescimento de novas ruas para a zona oriental da malha urbana representada na "Planta".

 Vejamos o que a "Planta" nos apresenta este Sector 1, lendo e anotando de Norte  para Sul : 

Ruas e Largos:

  1. Largo da Alagoa; 2. Calçada da Costanilha; 3. Rua da Galega; 4. Ruinha; 5. Calçada da Aldeia de Pastor; 6. Praça Velha; 7. Rua do Castelo; 8. Rua da Cadeia (ou Barreira); 9. Rua da Soalheira; 10. Calçada Nova; 11. Calçada Vasco Romão; 12. Rua dos Forneiros; 13. Calçada da Misericórdia; 14. Calçada da Praça; 15. Rua Direita; 16. Rua da Estalagem Velha; 17. Largo da Porta Falsa.

Elementos destacados:

  1. Castelo; 2. Igreja da Misericórdia; 3. Igreja e Convento de S. Francisco; 4.. Assento (noutros documentos, designado como Assento das Provisões de Boca); 5. Meio-baluarte de Lisboa; 6. Meio-baluarte do Curral dos Coelhos; 7. Baluarte de Santa Cruz; 8. Meio-baluarte de S. Sebastião; 9. Ermida de S. Sebastião; 10.  Baluarte da Boa-Vista; 11. Meio-baluarte de Santa Rosa. Porta da Vila (ou Porta de Santa Maria); Porta Falsa (ou Poterna).

Extramuros:

  1. Luneta de Parquer (também designada noutros documentos como Forte de Schomberg ou Forte do Cachimbo); 2. Quinta do Prior; 3. Revelim da Porta da Vila; 4. Revelim da Boa-Vista; 5. Revelim de Santa Rosa;  6. Estradas para Elvas. 7. Estradas para Espanha (Badajoz).

 

SECTOR 2.

Numa nova fase  que terá começado no século XVI, deu-se o crescimento para a zona oriental a partir da linha demarcada pela sequência de ruas que separam os dois sectores  da malha urbana da vila: Rua das Poças; Rua da Misericórdia; Rua do Paço; Largo da Alagoa.

 Torna-se importante tomar em consideração que a época anterior à data em que foi desenhada esta “Planta”, foi marcada por grandes acontecimentos dos quais se destacam:

- A Restauração da Independência de Portugal, apos a qual a vila transformou  numa forte Praça de Guerra, para defesa da fronteira, na expectativa das tentativas de invasão durante a guerra com a Espanha - A Guerra da Restauração -  que iria durar 28 anos, desde o 1º de Dezembro de 1640  até à assinatura do Tratado de Paz, em Madrid, em 5 de Janeiro de 1668. É a configuração da vila que resultou desta conjuntura que está representada na "Planta".

- As sucessivas guerras nos séculos XVII e XVIII que só irão terminar com a queda de Napoleão confirmada  no Congresso de Viena em 1815.

- No caso específico de Campo Maior há que referir, principalmente, os efeitos provocados pelo Cerco de 1712 que durou cerca de um mês, causando grandes destruições, a que se seguiu a terrível catástrofe que foi a explosão do paiol instalado na torre de menagem do antigo Castelo, em 1732. 

Foi, portanto, um período  de assinaláveis mudanças em que a vila foi afectada por graves problemas  e  grandes obras de restauração. 

Vejamos então o que falta ler e analisar neste precioso documento que é a "Planta Militar de 1817". Na leitura e análise deste “Sector 2”, procedeu-se  a uma observação da "Planta" feita  de Sul para Norte.

A leitura e análise desta parte oriental foi feita usando as mesma categorias utilizadas para o “Sector1”, antes analisado.

Ruas e Largos: Rua das Poças; Largo das Poças; Rua da Guarda de S. Francisco; Ruinha de Santo António; Rua da Fonte de Baixo; Rua da Fonte de Cima; Rua da Canadinha; Rua das Pereiras; Rua do Menantio; Praça Nova; Rua da Canada; Rua de S.Pedro; Rua da Mouraria; Rua da Carreira; Rua da Misericórdia; Terreio da Misericórdia; Rua Estreita; Largo da Matriz; Rua do Tenente-General; Largo da Carreira; Rua do Poderozo; Rua de S. João de Deus; Rua de S. João Baptista; Rua da Alagoa.

Elementos destacados: Igreja da Matriz; Porta da Carreira (também designada como Porta de S. Pedro, ou como Porta Nova); Igreja e Hospital de São João de Deus, Igreja de São João Baptista; Meio-baluarte de S. Francisco; Tanque, bebedouro e fonte do Largo das Poças; Baluarte da Fonte do Concelho; Meio-baluarte do Príncipe; Baluarte do Cavaleiro.  

Extramuros: Estradas para Badajoz; Forte de São João Baptista; Fonte das Negras; Estrada de S. Pedro; Estrada dos Tilheiros; Revelim do Lago; Fonte Nova; Revelim da Carreira.

 

 NOTA: Para complemento de leitura, ver também:

CAMPO MAIOR – NOMES DE RUAS ANTIGAS ( I ) http://alemcaia.blogs.sapo.pt/campo-maior-nomes-de-ruas-antigas-i-177503

CAMPO MAIOR – NOMES DE RUAS ( II ) http://alemcaia.blogs.sapo.pt/campo-maior-nomes-de-ruas-ii-177674

 

 

 

 

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publicado às 11:36


AMEAÇA CONSTANTE NAS PRAÇAS DE GUERRA

por Francisco Galego, em 10.05.17

Para além da ameaça das invasões que deviam tentar evitar, autênticas tragédias ocorriam com lamentável frequência nas praças de guerra, entre os séculos XVI a XIX, numa altura em que eram muito frequentes as guerras entre as nações, em terra pela disputa da supremacia na Europa e, nos mares, pela posse dos domínios coloniais. Daí que as praças de guerra estivessem sempre muito providas dos meios necessários para enfrentarem qualquer tentiva de domínio por forças inimigas. Contudo, bastava qualquer manobra menos prudente, a propagação de qualquer incêndio, ou o efeito de inesperadas e violentas tempestades, para que as torres que albergavam os explosivos se tornassem tremendas bombas destruindo tudo em seu redor.

Para confirmação basta referir apenas algumas das que deixaram testemunho pela dimensão dos danos prrovocados:

          

JUROMENHA: - 1659 - Grande explosão do paiol de pólvora que destruiu a maior parte da fortaleza incluindo o antigo paço.

 MIRANDA DO DOURO -  A Alcáçova do castelo da cidade foi arrasada pela violenta explosão do paiol da pólvora em 8 de Maio de 1762 que destruiu uma grande parte do núcleo urbano.

TORRES VEDRAS: Em 1810, o Castelo passou a forte das Linhas de Torres e, em Dezembro de 1846, serviu de quartel as tropas do Conde de Bonfim, de que resultou o agravamento do seu estado de ruína provocado pela explosão do paiol da pólvora.

ALMEIDA: - No cerco de Almeida que ocorreu entre 15 e 28 de Agosto de 1810, no início da Terceira Invasão Francesa,  a praça forte de Almeida estava sob o comando do Coronel William Cox. As forças sitiantes estavam sob comando do Marechal Ney. Uma forte explosão no paiol deixou a praça sem meios de defesa.

É neste quadro que se insere a tragédia que desabou sobre CAMPO MAIOR em 1732.

 

CAMPO MAIOR - EXPLOSÃO DO ARMAZÉM DA PÓLVORA

 

16 DE SETEMBRO DE 1732

4 HORAS DA MADRUGADA

UMA TROVOADA ABATEU-SE SOBRE CAMPO MAIOR

UM RAIO CAIU SOBRE A TORRE QUE SERVIA DE PAIOL

DEU-SE UMA TREMENDA EXPLOSÃO

A TORRE DE MENAGEM DESFEZ-SE EM PEDAÇOS

UMA CHUVA DE PEDRAS CAIU SOBRE O POVOADO

A VILA FICOU QUASE COMPLETAMENTE DESTRUÍDA

JOÃO V ORDENOU A SUA RÁPIDA RESTAURAÇÃO

 

É do relato desta tragéia que tratam os textos que a seguir irão ser apresentados. Eles referem um dos momentos mais trágicos da história desta povoação.

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VOLTANDO A ESTE CASO ...

por Francisco Galego, em 05.05.17

Na coluna de opinão “Qualidade de vida”, sob o título “O MAL PELA RAIZ”, publicado, no Semanário “Expresso” de 29 de Abril de 2017, na página 17 do “Primeiro Caderno”, Luísa Schmidt chama a atenção para o problema da necessidade urgente de protecção do património florestal, assunto sobre o qual também já aqui escrevi, manifestando as minhas preocupações sobre esta questão.

A autora deste artigo refere, como exemplos, casos recentemente denunciados:

            - O arranque de centenas de árvores autóctones centenárias, no Parque Natural da Ria Formosa, no Algarve, para se construirem umas estufas, caso denunciado e interrompido pelas autoridades;

            - O anunciado arranque de mais de um milhar de árvores – pinheiros e ciprestes – no Parque Natural da Serra de Sintra, ao longo da estrada entre Malveira da Serra e a Lagoa Azul, alegando estarem velhas e doentes, embora os especialistas afirmem o seu bom estado, o que aponta para a ganância dos bons lucros com a venda das madeiras;

            - O brutal arranque de árvores na serra da Freita, em plena Rede Natura, que já fora flagelada pelos incêndios.

Perante isto, a autora do artigo interroga:

O que se passa em Portugal para que se continue a vandalizar o património florestal que ainda resta? Já não bastavam o fogo e as doenças. É também, a ganância, o abuso arrogante e a lastimável incapacidade da Administração Pública para cuidar do bem comum.

Refere também que “o Instituto da Conservação da Natureza... se mantém mudo e quedo” apesar das numerosas petições para salvação das árvores, contrapondo a  exemplar acção da Câmara de Arouca ao promover a reflorestação com espécies autóctones e lamentando a desproporção entre o muito pouco que se replanta e a enormidade do muito que se destrói.

Termina com uma tímida expectativa: Resta a ténue esperança dos movimentos cívicos que se têm oposto a toda esta destruição e só se espera que eles ganhem raízes, ramos e folhas.   

----------------------------------------------------------------------------------

Eu, porque às vezes sou tentado a pensar que, em vez de progredirmos, estamos a regredir, acrescento da minha lavra que deveríamos tomar em consideração o que é recomendado neste texto publicado no jornal “O Transtagano”, (PERIÓDICO DE INTERESSES MORAIS E ECONÓMICOS DA PROVÍNCIA), Elvas, nº 5, de 17 de Maio de 1860, ou seja, há 157 anos:

Arvoredos

“Se as câmaras municipais estabelecessem prémios para os plantadores e criadores de arvoredos, se mandassem plantar em todas as margens de rios e ribeiras… veríamos em breve melhorarem as condições e salubridade da nossa árida província…

À ilustrada câmara de Campo Maior recomendamos a Margem esquerda da ribeira de Caia e, sobretudo, a área compreendida na extensão das duas herdades denominadas as Godinhas, porque, pertencendo tais herdades ao município e arrendando-as a câmara em hasta pública, pode adicionar ao seu contrato a condição de arborização daquela margem da ribeira.”

Pois é! Muitas vezes o "Passado", pode e deve ser tomado como sábio mestre pelo "Presente".

 

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POR CÁ, HÁ 84 ANOS...

por Francisco Galego, em 02.05.17

 

Quem leu o "Post" anterior, poderá fazer uma ideia do valor histórico e documental do texto que a seguir se transcreve.

Torna-se necessário chamar a atenção para o seguinte: A Casa do Povo de Campo Maior que aqui se refere, era uma cooperativa dos trabalhadores de Campo Maior, por eles fundada e gerida. Nasceu como sucursal da Casa do Povo de Lisboa, que tinha a sua sede na Rua da Mouraria daquela cidade. A iniciativa de criação destas cooperativas era de um partido então existente que se chamava "Partido Socialista Português", que era mal tolerado pelos salazaristas que não pararam de lhe mover encarniçada perseguição.

Também a cooperativa Casa do Povo de Campo Maior foi alvo de perseguições. Alguns dos seus dirigentes foram presos, tendo parte deles sido levados a tribunal. Foram desencadeadas campanhas caluniosas, contra os seus dirigentes, nos jornais que apoiavam o governo, acabando  por resultar dessa perseguição que, a cooperativa que fora criada em finais de 1932 e inaugurada em 11 de Janeiro de 1933, se visse compelida ao seu encerramento e dissolução, em 31 de Dezembro desse mesmo ano de 1933. Os salazaristas vieriam a fundar um outro organismo, com o mesmo nome de Casa do Povo de Campo Maior, mas de diferentes objectivos, orientada por outros principios e com finalidades, não de comparticipação cooperativista, mas de centralismo corporativista, de acordo com a ideologia do Estado Novo. É nesta conjuntura e neste contexto que convém avaliar o significado do documento que se transcreve e que descreve o primeiro 1º de Maio celebrado em Campo Maior com manifestação de apoio popular:

A forma como decorreram as Festas do 1º de Maio levadas a efeito por esta comissão.

Eram vinte horas e meia quando a filarmónica local regida pelo hábil regente Senhor José Matias Branco, depois de percorrer algumas ruas desta localidade, se dirigiu à sede desta casa aonde cumprimentou a Comissão Organizadora desta casa, tocando o hino “Primeiro de Maio”, sendo saudada por esta comissão e cerca de mil sócios desta casa, que se achavam presentes, com uma entusiástica salva de palmas. Em seguida iniciou-se a marcha através das ruas desta vila aonde se encontravam cerca de quatro mil pessoas, na sua maior parte trabalhadores rurais, sócios desta casa. Dirigiu-se então aos Paços do Concelho aonde a comissão organizadora foi cumprimentar a autoridade administrativa e a Comissão “Pró Campo Maior”. Usou então da palavra o companheiro Sardinha, Presidente da Comissão Organizadora da Casa do Povo, que saudou a autoridade administrativa e Comissão “Pró Campo Maior”. A autoridade administrativa pediu, em nome dos trabalhadores de Campo Maior, o cumprimento integral das leis, do horário de trabalho, do descanso semanal e da protecção às mulheres e menores nos trabalhos agrícolas e que o acompanhassem em dois vivas: um à Comissão “Pró Campo Maior” e outro aos trabalhadores portugueses. Em seguida, usou da palavra o presidente da comissão já referida, Senhor José Augusto Corte Real Mascarenhas que, agradecendo o cumprimento, lamentou que, aquela comissão, pouco ou nada tivesse feito, mas que era seu desejo fazer muito, mas para isso contava com o concurso de todos os campomaiorenses. Deu por findo o seu discurso, sendo muito ovacionado com uma salva de palmas. Usou então da palavra o administrador do Concelho, Senhor Domingos Calado Branco, que disse congratular-se com a feição que o problema social ia tomando em Campo Maior. Depois de fazer várias considerações sobre o problema social, a Comissão “Pró Campo Maior”, terminou bradando um viva à dita comissão e outro aos trabalhadores de Campo Maior, sendo delirantemente ovacionado. Fez-se então o desfile pelas principais ruas desta vila aonde se incorporavam cerca de mil pessoas, vendo-se nas portas e janelas o elemento feminino que saudava o Primeiro de Maio com luminárias. Ao chegar-se novamente à sede desta casa tocou a filarmónica outra vez o hino “Primeiro de Maio", sendo entusiasticamente aplaudido com uma salva de palmas. Pelas vinte e três horas, realizou-se uma sessão solene. Depois de tocado o hino usou da palavra o companheiro Sardinha que, na qualidade de Presidente da Casa, convidou o companheiro Costal para presidir à “mesa”. Este companheiro, depois de saudar os sócios da Casa do Povo, lamentou que não tivesse competência para tão honroso cargo, mas que aceitava, certo de que todos os companheiros o desculpariam se os trabalhos não fossem orientados como era seu desejo. Convidou para o secretariar os companheiros Francisco Leonardo da Casa do Povo de Santa Eulália que veio expressamente a esta localidade assistir à manifestação e Manuel Augusto Rondão. Deu em seguida a palavra ao companheiro Chagas que depois de saudar os companheiros presentes e todos os trabalhadores internacionais, pediu um minuto de silêncio em memória dos mártires de Chicago e dissertou sobre as origens do Primeiro de Maio e o massacre dos operários de Chicago pela polícia daquela cidade. Ao terminar pediu à assistência que o acompanhasse num viva aos trabalhadores internacionais, sendo delirantemente aplaudido pela assistência e sinceramente felicitado pelos companheiros da Comissão Organizadora. Em seguida, o presidente da mesa deu a palavra ao companheiro Sardinha, que dissertou sobre o Primeiro de Maio na Europa e em Portugal, pedindo dois minutos de silêncio, um pela memória do falecido ministro do trabalho socialista Augusto Dias da Silva e outro pela memória do nosso chorado companheiro Manuel Lavadinho Mourato. Terminou saudando a Casa do Povo de Lisboa, os companheiros presentes e aqueles que pelos afazeres da sua vida profissional não podiam estar ali, assim como a filarmónica local e os trabalhadores de Portugal, sendo muito ovacionado. Foi então dada a palavra ao companheiro Pinto que lastimou que os poderes públicos não tenham nunca olhado pela classe dos trabalhadores rurais e terminou pedindo pão para os famintos, trabalho para os que mendigam e liberdade para todos, sendo entusiasticamente aplaudido. Usou da palavra ao presidente da mesa, que agradeceu a boa ordem e compostura de que a assistência deu provas, durante o decorrer da sessão, sendo esta encerrada em seguida, eram doze horas, tocando o hino a filarmónica local. Resolveu-se também exarar um voto de louvor aos trabalhadores de Campo Maior pela forma como se conduziram no decorrer da manifestação, assim como à filarmónica local e ao seu regente Senhor José Matias Branco.

(CASA DO POVO DE CAMPO MAIOR - Acta da sessão extraordinária – 1º de Maio de 1933)

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