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CAMPO MAIOR – NOMES DE RUAS ( II )

por Francisco Galego, em 30.09.16

Certas ruas foram designadas em função da sua inclinação pois que, sendo ruas de aceso ao castelo e à parte mais alta e antiga da vila, são naturalmente muito inclinadas: Rua da Costanilha; Rua do Quebra-costas. Outras foram nomeadas por determinada função como a Rua do Poço, muito importante antes de se terem construído as fontes para abastecer a vila e a Rua do Forno, também dita de Rua da Fonte de Baixo. Pela mesma razão, o nome dado ao actual Largo do Barata, indicando bem a função que noutros tempos desempenhava.  Era o Largo das Estalagens e depois foi também chamado Largo do Assento por causa do edifício militar que aí foi construído. Basta descer a rua que vai dar a este largo para entender porque sempre lhe chamou o povo Rua do Paço. O actual Palácio do Visconde, onde hoje está instalada a Biblioteca Municipal João Dubráz, pertencera o um antigo bispo da família Mexia,  natural de Campo Maior e, por isso, o seu palácio era designado como o Paço.

Uma rua, no lado oposto da vila, era a Rua da Estalagem Velha que passou a Rua da Poterna quando, pela construção das novas muralhas, passou ir dar a uma pequena porta de acesso à vila, em caso de cerco, um pequeno acesso secreto que era designado por poterna. A construção das novas muralhas determinou o aparecimento de novas ruas como a Rua Nova ou da actual Rua de Santa Beatriz que, por ficar no lugar onde antes estava a cerca baixa do castelo, chamada "Barreira", foi sempre designada pelo povo por a Barreira. A Rua da Soalheira era a que dava acesso à Porta do Sol no primitivo castelo medieval.

Se a Aldeia de Pastor ou Curral dos Coelhos designavam os sítios onde se recolhiam os gados e outra criação dentro dos muros da vila, a Rua dos Quartéis indicava onde ficavam as casas destinadas a abrigo dos militares e de suas famílias quando eram colocados na guarnição incumbida da defesa de Campo Maior.

Com o passar dos tempos outros acontecimentos foram marcando a toponímia campomaiorense. Assim, quando o governo de Lisboa determinou que, pela nova Lei da Administração Civil, se devia fazer a reforma e reestruturação dos concelhos, extinguindo os antigos para os agregar em municípios de maiores dimensões populacionais e territoriais, Campo Maior foi designado como um dos que deviam perder a sua autonomia administrativa para ficar integrado num novo município sedeado em Elvas.

O povo não entendeu que vilas menores e de menor importância como Avis, Niza, e Monforte pudessem ser sedes dos novos concelhos enquanto Campo Maior se via condenado à humilhante condição de paróquia civil do concelho de Elvas. A 13 de Dezembro de 1867, a população declarou-se em revolta de resistência pacífica contra a decisão do governo. Foi nomeada uma comissão de 50 notáveis para irem representar o concelho junto do rei e do parlamento para apresentarem as suas queixas e razões. Revoltas semelhantes eclodiram por todo o país. O rei D. Luís teve de intervir. O governo de Martens Ferrão caiu. Em seu lugar foi constituído como ministro dos negócios do reino, o Conde D’Ávila, que se apressou a revogar a lei que pusera o país em estado geral de revolta.

O povo reunido em comício para comemorar, aprovou a proposta de mudar o nome de algumas ruas para homenagearem alguns dos que intervieram na luta pela salvação do município de Campo Maior: Rua da Canada – Rua 13 de Dezembro, data do começo da revolta; Rua da Canadinha – Rua do Conde de Ávila; Praça Nova – Praça D. Luís I; Largo da Carreira – Largo dos Carvajais; Rua Tenente General – Rua Visconde de Seabra (quando a actual Rua 1º de Maio passou a ser Rua Dr. Oliveira Salazar, o nome de Rua Visconde de Seabra, passou para a Rua de Pedroso); Rua da Cadeia – Calçada do Castelo; Terreiro da Estalagem – Largo do Barata; Terreiro da Misericórdia –Largo Barão de Barcelinhos, título que então usava o futuro visconde de Ouguela; Rua de Nantio – Rua General Magalhães; Rua Direita – Rua Direita da Comissão, em homenagem à comissão de 50 notáveis que tinha defendido o concelho de Campo Maior, em Lisboa.

Sucessivos acontecimentos políticos como a implantação da República, o Estado Novo e o 25 de Abril, determinaram a mudança de nomes de antigas ruas da vila. Mas, em alguns casos, os nomes populares têm conseguido subsistir, ainda que se verifique uma tendência  para, lentamente, irem desaparecendo.

 

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CAMPO MAIOR – NOMES DE RUAS ANTIGAS ( I )

por Francisco Galego, em 27.09.16

Em certos casos, podemos apontar, com relativo grau de certeza, uma explicação para os  nomes antigos e actuais das ruas do "núcleo histórico" da vila de Campo Maior.

A Rua da Canada e a sua adjacente Rua da Canadinha  deverão o seu nome a terem sido as vias destinadas à circulação dos gados quando entravam ou saíam das povoações, porque sabemos que, em tempos antigos, nomeadamente até ao século XVIII,  quando o pastoreio de gado ovino teve uma grande expansão, se chamavam canadas aos caminhos que desempenhavam essa função. Ora, no que respeita a Campo Maior, terá sido por esse tempo que esses dois caminhos se devem ter tornado ruas. Foi quando a vila, depois da tragédia do rebentamento da torre do paiol da pólvora, em 1732, teve de ser quase completamente reconstruída.

Na sequência da Canada estava a Rua da Fonte de Cima. As duas formam  hoje a Rua 13 de Dezembro. A da Rua da Canadinha, chama-se hoje Rua do Conde D'Ávila. Descendo-a e virando à esquerda chegamos à Rua da Fonte de Baixo, Talvez porque no fim das duas "ruas da fonte"  ficava a chamada  Fonte do Concelho que deu o nome ao forte que no seu lugar foi construido, quando a vila se tornou Praça de Guerra para defesa da fonteira, na Guerra da Restauração.

No seguimento da Rua da Canadinha fica a Rua de S. Francisco que, a meio, tem adjacente do lado esquerdo,  a Ruinha de S. António, cujos nomes testemunham a proximidade do antigo Convento de S. António, dos frades franciscanos, localizado no actual Campo da Feira, que teve de ser demolido para se poder construir, na nova fortaleza, a muralha e que liga os baluartes de S. Francisco e da Fonte do Concelho. No fim da Rua de Francisco, um pouco mais abaixo, ficava o Largo do Chafariz a seguir ao qual estava o Sítio da Poças. Este Largo do Chafaris, era assim chamado porque, quando foi construída a nova muralha que ligava o baluarte de S. Francisco ao Baluarte de Santa Rosa, foi aí construída  uma fonte para abastecimento da população; esta  alimentava um chafariz onde bebiam os animais e deste a água ia alimentar  um tanque para  lavagem de roupas que se localizava em frente, no sítio onde hoje está uma oficina. Seguia-se depois o chamado Sítio das Poças. A fonte foi posteriormente deslocada para o muro do Balurte de S. Francisco virado ao largo do Chafariz.

Do Largo dos Cantos de Baixo, partia a Rua das Pereiras, actual Rua João Minas que ligava ao Canto do Saquete e a Rua das Poças que terminava na  muralha, no chamado Sítio das Poças.

Voltando ao sector norte da vila...

A Rua da Carreira Detrás, depois chamada Rua do Norte, devia estes nomes à sua orientação geográfica e ao facto de, primeiramente, ser apenas uma rua com poucas ou nenhumas casas, geralmente cocheiras, oficinas e instalações de apoio à lavoura, nas traseiras do palácio do governador que tinha a sua fachada principal para o Largo da CarreiraRua da Carreira (correspondendo esta ao troço da actual Rua 1º de Maio, até ao cruzamento  com a Rua da Mouraria de Baixo e com a Rua Mouraria de Cima, (as quais podem dever o nome a terem sido, em tempos muito antigos, um arrabalde onde  vivim os não-cristãos, ou seja, judeus e mouros). O Largo  da Carreira e a Rua da Carreira eram assim chamados porque as diligências que entravam pela Porta de S. Pedro, (também chamada Porta Nova ou Porta da Carreira) iam aí descarregar e embarcar passageiros, correio e mercadorias.

A antiga Rua do Norte ou da Carreira Detrás, voltou a ser designada pelo povo, como a Rua da Carreira quando uma empresa de camionagem, a Vasco da Conceição Painho, no séc. XX, passou a ter aí a garagem donde partiam e onde chegavam os autocarros da carreira.

A Rua de S. Pedro, que ia da Carreira Detrás aos Cantos de Baixo e a Rua Direita que ia dos Cantos de Baixo até à Porta de Santa Maria, são nomes que em muitas terras designavam as vias principais das povoações que ligavam, segundo o eixo Norte-Sul, as portas principais, no caso a Porta de S. Pedro e a Porta de Santa Maria a que o povo sempre teimou chamar Porta da Vila

A Praça Nova, depois Praça de D. Luís I e depois Praça da República, foi construída após a  catástrofe de 1732 e originou  que à antiga praça, junto ao castelo, se passasse a chamar Praça Velha. Do nome desta resultava o nome da rua que lhe dava acesso pelo lado Norte, a Rua da Praça, que também se chamou Rua da Cadeia por ficar no cimo dela a prisão municipal. Esta terminava nos Cantos de Cima, em contraposição aos Cantos de Baixo,  a que se ligava pela  Rua da Misericórdia, a meio da qual ficava o Terreiro da Misericórdia devido a ser à antiga igreja desta instituição, ficar no meio do hoje chamado Largo Barão de Barcelinhos.

Ao troço da actual Rua 1º de Maio entre os Cantos de Cima e o cruzamento com a Mouraria de Baixo e a Mouraria de Cima, chamou o povo Rua do Tenente General. Seria por aí ter morado a figura grada do governador Estêvão da Gama Moura e Azevedo, que teve papel notável na defesa de Campo Maior, durante o Cerco de 1712. A meio desta rua fica o largo a que o povo chamou da Igreja Nova, ou da Matriz, por contraposição à velha Matriz que ficava dentro do castelo.

O nome de algumas ruas como  a Rua do Poderoso (o povo passou a dizer Rua de Pedroso), a Rua de Ramires, Rua de Cigano, Rua das Pereiras, invocam provavelmente o nome de personalidades ou de famílias notáveis da terra que nelas residiam. Já a Rua do Manantio, que o povo simplificou para Rua de Nantio, tem um significado curioso e que, devido à corrupção do nome original, se foi perdendo até se apagar por completo da memória colectiva. Manantio é uma palavra do mesmo radical da palavra manancial (originalmente manantial), que designava um local donde manava, brotava água, logo, uma fonte ou nascente. Talvez fosse o veio que alimentava as fontes do Concelho, das Negras  e a dos Cantos de Baixo.

 

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CANTANDO O “SÃO MATEUS”

por Francisco Galego, em 25.09.16

 

O São Mateus tinha tal efeito mobilizador sobre as gentes de Campo Maior que, mesmo os que a Elvas se não  podiam deslocar, o celebravam com bailes e arruadas pelas ruas da vila, nos dias da sua celebração. Não admira, portanto, que tantas quadras, sendo quase sempre as de produção mais antiga, tenham como tema o Senhor da Piedade.

                        

Se eu for ao São Mateus,

Irei balhar c’o meu par;

Mulher que se sabe amada,

'Stá mais disposta a cantar.

 

Eu quero ir ao São Mateus,

Só para te ouvir cantar;

Não vou lá com outro fim,

Estou velho p’ra namorar.

 

Que o Senhor da Piedade,

Tenha de nós compaixão;

E nos dê por caridade,

Um ano farto de pão.

 

As festas do São Mateus,

São as festas da cidade;

Quem me dera andar ballando,

No Senhor da Piedade.

 

Ao Senhor da Piedade,

P’ro ano vou outra vez;

Quero ir agradecer-lhe,

O milagre que me fez.

 

Meu bem vem cantar comigo.

Na Feira do São Mateus;

Cantigas de amor sentido,

São como preces aos céus.

 

Feira d’Elvas, Feira d’Elvas,

Feira d’Elvas da cidade;

Quem me dera estar balhando,

No Senhor da Piedade.

 

São Mateus é romaria,

Como outra outra não há  igual;

Fica à frente de todas,

Neste nosso Portugal.

 

O Senhor da Piedade,

Rescende como a gambôa;

De manhã quando se abre,

O cheiro chega a Lisboa.[1]

 

In, Francisco Pereira Galego – Cantar e Bailar as Saias. Lisboa. 2006

[1] Publicada em Gama, Eurico (1965). O  Senhor Jesus da Piedade de Elvas, Elvas, 1965, pág.326.

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CAMPO MAIOR E A “FÊRA D’ELVAS”

por Francisco Galego, em 23.09.16

O São Mateus de Elvas era, até meados do século passado, uma das maiores festividades que os campomaiorenses celebravam. Poupava-se durante meses para se pode ir até à Fêra d’Élvas por volta de 20 de Setembro.

Só os mais pobres, por falta de recursos, e os que cumpriam resguardo por luto ou por doença, ficavam. As carroças partiam uns dias antes ajoujadas de gente, de galinhas, de capazes de comidas e de doçarias confeccionadas para a ocasião. Quem mais depressa chegasse, melhor lugar podia escolher para acampar nos olivais em volta do parque em que estaria montada a feira.

Havia anos, principalmente os mais favoráveis para a agricultura e em que o clima em Setembro era ainda favorável, que Campo Maior quase se despovoava nos dias do São Mateus. Quem não podia ir de carroça, em caravana, ia a pé. Uma manta chegava para aconchego. Quanto ao resto, desde que houvesse dinheiro para a pinga e para o petisco, já se passava a contento.

Campo Maior, anos há que fica completamente deserta, donde admitir-se que se desloquem, pelo menos 3.000 pessoas.[1]

Em 1921, só de Campo Maior vieram às Festas de São Mateus aproximadamente mil pessoas, que se fizeram conduzir em cerca de 200 carros de canudo (churriões) acampando como costumam fazer, no recinto da Senhora da Nazaré, Junto da Ermida, dando ao local uma nota pitoresca e característica.

É curioso registar que as saias novas aparecem nos arraiais do Senhor da Piedade e são cantadas e bailadas pelas simpáticas e morenas camponesas, cuja alegria é contagiante.[2]Procuravam, os de cada terra, ficarem juntos para melhor conviverem. Aliás, a feira era o pretexto para o que mais importava: o convívio de que se ia desfrutar durante os dias que a feira durava. O São Mateus constituía assim as parcas férias de que os menos ricos e os remediados podiam desfrutar. Armados os acampamentos, gozava-se do descanso, da boa comida, da alegre convivência que a ocasião propiciava. De dia dormia-se muito e até tarde, por força de alguns excessos de bebida e porque as noites se prolongavam até de madrugada.

As noites eram para a maioria destes romeiros o melhor que a festa propiciava. Formavam-se grandes bailes de roda, animados pelo cantar e dançar das “saias”. Havia disputas assanhadas, muitas vezes entre grupos de terras diferentes. Surgiam a “modas novas”. Quadras engenhosamente elaboradas ao longo do ano encontravam ali o terreiro adequado para a sua pública exibição. Arranjavam-se e desfaziam-se namoros. De vez em quando, uma ou outra rixa ensombrava a convivência por razões de exacerbado bairrismo, por melindres, ou por imponderadas ofensas à honra ou à dignidade dos presentes.

 

In, Francisco Pereira Galego – Cantar e Bailar as Saias. Lisboa. 2006  

 

[1] Eurico Gama, op. cit. , pág. 239

[2] Eurico Gama, op. cit. , pág. 380

 

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“AS SAIAS” E “A FÊRA D’ELVAS”

por Francisco Galego, em 20.09.16

Até meados do século XX, o São Mateus manteve viva esta manifestação da cultura popular tão característica do alto Alentejo: o “bailar e cantar as saias”. Com o desenvolvimento dos transportes motorizados e com as profundas transformações que se deram nas últimas décadas, no mundo rural, romarias como as do Senhor da Piedade e Feira do São Mateus em Elvas, sofreram também grandes modificações.

Noutros tempos este grande acontecimento anual, dava lugar a um intenso convívio, pois, os que vinham de fora, deslocavam-se em carroças ditas de canudo porque eram cobertas por uma protecção de forma cilíndrica, formada por uma estrutura de cana, coberta de uma tela de pano encerado, que protegia os passageiros da chuva e do sol. Com essas carroças, autênticos antepassados das actuais tendas, roulottes, e caravanas, formava-se um vasto acampamento no qual permaneciam, em alegre convívio, pessoas das mais variadas proveniências, algumas por cerca de uma semana. Aí se cozinhava e comia, aí se dormia, aí se cantava e dançava, sobretudo nas madrugadas, pois os bailes só podiam funcionar bem depois que se calava a algazarra dos altifalantes dos tendeiros e as potentes aparelhagens sonoras dos circos e carrosséis.

Para termos uma ideia da importância que esta grande manifestação de cultura popular tinha na transição do século XIX para o século XX, vejamos como decorriam as festividades segundo um texto escrito há mais de cem anos:

“Romaria espantosa aquela que o povo anónimo, principalmente, promove em louvor do Senhor Jesus da Piedade, de Elvas, em Setembro. Romaria inconfrontável de vibração de vida, de massa de gentes, de fervente fé, de acrisolado e ingénuo cristianismo.

            (…) Inunda-se de lés a lés o parque da Piedade. (…) dentro da igreja asfixia-se. Pela escadaria lateral que conduz á casa dos milagres, há um subir e descer constante. São os devotos que ali vão entregar as suas oferendas prometidas por bondade desinteressada ou por via do milagre de Jesus. As paredes desta casa estão pejadas de ofertas: pernas e braços de cera adornados por lacinhos de seda; quadros grotescos, de proporções desequilibradas; fotografias com extensas dedicatórias e limitadas por mirabolantes molduras em madeira ou em tecidos. A tudo acode o Senhor Jesus da Piedade, nos momentos aflitivos: um lobo que ataca um pobre pastor ou viandante; um cão raivoso que procura morder quem passa; aquele que caiu de um andaime à rua; outro que involuntariamente se precipitou de uma ponte ao rio; este que ficou sob a roda de uma carro carregado de trigo; aqueles que estiveram gravemente doentes durante meses, etc. etc.

            (…) Cá fora a atmosfera é densa, da poeira levantada pelos que caminham, se acotovelam, centenas de carros alentejanos, de toldo abaulado, puxados por parelhas de guiseiras barulhentas e cabresto garridos, invadem uma parte do parque, para ali permanecerem durante dois dias, despejando milhares e milhares de festeiros ou romeiros, de Borba, de Vila Viçosa, de Estremoz, de Vila Boim, de Arronches e de Campo Maior. E centenas e centenas de criaturas vêm com os pendões de Varche e de Ana Loura, em cerimonial cauteloso. Bandas e filarmónicas atroam os ares com o sempre agradável hino da Piedade (…) Os comboios vomitam gente de Portalegre, do Crato, de Niza, de Gafete, de Tolosa, de Assumar, de Santa Eulália e, por bandas de Espanha, Badajoz.

            Insuficiente o vasto campo da Piedade para comportar a multidão, magotes deslocam-se para o Rocio, onde a feira de S. Mateus tem lugar. Pela tarde o Rocio e a Piedade são aluviões de pic-nics, são farnéis abundantes que se estendem e se vão devorando por entre uma alegria comunicativa comum, ideal e só perfeita, naquele fugidio momento.

            Pululam os trajes vistosos de camponeses e camponesas, moços cheios de vivacidade, moças sadias e alegres. Estralejam incessantemente os foguetes.”[1]

 

 In, Francisco Pereira Galego – Cantar e Bailar as Saias. Lisboa. 2006  

 

[1] .Paiva, Jerónimo M.S. (1927). “Do Alto Alentejo – Descritivos e factos de há trinta anos” – Beja.Págs. 18 e 19

.

 

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ACERCA DO SÃO MATEUS, EM ELVAS

por Francisco Galego, em 17.09.16

Desde tempos recuados, cada povoação tinha as suas próprias festas e romarias. Mas, algumas delas, por motivos religiosos, ou pelo brilho das suas realizações, atraíam gente de outras terras, tornando-se famosas como locais de trocas, de diversão e de peregrinação.

No Alto Alentejo, sobressaía entre todas, a feira de São Mateus, em Elvas. A feira de São Mateus remonta ao século XVI, pois, segundo os investigadores, terá começado a funcionar entre 1525 e 1574.[1] Cerca de duzentos anos mais tarde, veio a associar-se-lhe uma peregrinação que, a partir de 1737, se começou a fazer no sítio aonde se veio a construir o santuário do Senhor Jesus da Piedade. Tanto a feira como a romaria, ganharam grande importância entre as gentes do Alto Alentejo, tanto mais que a sua realização, coincidindo com o equinócio do Outono, marcava o período em que se dava por encerrado um ano agrícola e se começavam a tomar as disposições para o arranque do ano agrícola que se ia seguir.

As pessoas, em grande parte as que estavam mais ligadas ao trabalho nos campos, aproveitando a romaria pela devoção, e a Feira de São Mateus por ser local de trocas muito necessárias às actividades agrícolas, deslocavam-se a Elvas para aí permanecerem durante os dias que durava o evento. Os transportes eram, em tempos antigos, difíceis e lentos. Em volta do terreno da feira, formavam-se grandes acampamentos de gentes vinda de quase todas as terras desta região[2].

            A Feira de São Mateus em Elvas e a Romaria ao Senhor da Piedade, tiveram o seu período de maior esplendor entre meados do século XIX e meados do Século XX.

 

In, Francisco Pereira Galego – Cantar e Bailar as Saias. Lisboa. 2006  

 

[1] Gama, Eurico (1965). O  Senhor Jesus da Piedade de Elvas, Elvas. Pág. 217.

[2] Interessante realçar que, entre os romeiros que vinham nas suas carroças acampar, se contavam as gentes de Olivença, dando continuidade à tradição que remontava ao tempo da sua pertença a Portugal.  

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AS RAZÕES DE UM NOME ...

por Francisco Galego, em 14.09.16

Na reunião da Assembleia Municipal de Campo Maior, realizada na Freguesia de Degolados em 28 de Fevereiro de 2012, foi apresentada a sugestão de se atribuir o nome de João Dubraz à Biblioteca Municipal de Campo Maior. Essa sugestão foi levada em consideração e deu origem à apresentação de uma proposta que foi aprovada em reunião da Câmara Municipal.

            A razão desta decisão foi fundamentada em documento lido na Assembleia de que se transcrevem as passagens fundamentais:

"Segundo a acta da sessão da CMCM, de 10 de Junho de 1882, foi tomada a resolução de levar a efeito a criação duma biblioteca, por proposta dos cidadãos Dr. José Maria da Fonseca Regala e João Francisco Dubraz, sendo este nomeado seu conservador nessa mesma sessão. À sala de leitura foi dado o nome do Marquês de Pombal por, nesse ano, se comemorar o centenário da sua morte.

(...) Sempre muito devotado às questões culturais e à valorização de Campo Maior, João Dubraz convocou para o dia 9 de Julho de 1882, uma reunião para a constituição da comissão instaladora da Biblioteca Municipal de Campo Maior, na qual participaram algumas das mais proeminentes figuras da sociedade campomaiorense desse tempo.

Em reunião de 9 de Agosto do mesmo ano, por proposta de João Dubraz, todos os presentes concordaram que se iniciasse uma campanha de angariação de livros através do envio de uma circular, da qual foram impressos 350 exemplares que foram enviados a várias entidades. Foi também sugerido que se enviasse uma “respeitosa carta à Exa. Sra. D. Maria Rita Freire de Andrade Carvajal” pedindo-lhe que cedesse os livros existentes no palácio do largo dos Carvajais, que seriam um generoso donativo e que vieram a constituir um importante núcleo para a constituição da biblioteca. Desencadeou-se também uma campanha para angariação de donativos de livros. O próprio João Dubraz, em seu nome e no dos seus quatro filhos, fez um donativo de mais de uma centena de volumes.

Nos primeiros anos, a Biblioteca esteve instalada no edifício da Câmara, numa sala do primeiro andar. Mais tarde, foi instalada no mesmo edifício, mas na rua Major Talaya, no rés-do-chão, na porta abaixo daquela  onde foi o posto da PSP, na sala lado, onde João Dubraz dava aulas e que tinha na porta a inscrição Aula de Latim a qual foi depois substituída pela de Biblioteca Municipal.

João Francisco Dubraz foi o primeiro a exercer o cargo de bibliotecário que passou para seu filho Alfredo Constantino Félix Dubraz e, falecido este em 1918, o cargo passou para sua viúva D. Guilhermina Velez Dubraz.

(…) Estas considerações serviram para fundamentar a razão para esta Assembleia e os membros da Câmara Municipal considerarem a possibilidade de atribuírem à Biblioteca Municipal de Campo Maior o nome de Biblioteca Municipal João Dubraz e fundamentaram esta sugestão nas seguintes razões:

- Por ser costume adoptado por muitas câmaras municipais, atribuírem às suas bibliotecas, os nomes de destacadas figuras da cultura local;

- Porque João Dubraz, além de ter sido um dos elementos que mais contribuíram para a fundação duma biblioteca municipal em Campo Maior, ser efectivamente um dos nomes de maior relevo da cultura campomaiorense, como professor, como jornalista e por ser, provavelmente, o mais importante dos escritores da nossa terra.”

Nota: No post que antecedeu o agora apresentado, pretendi mostrar que Elvas possui nomes que, poderiam, com toda a justiça, ser associados à Biblioteca Municipal de Elvas. Não sou elevense. Sou campomaiorense. Por isso, a minha opinião não conta. Mas, pelas mesmas razões que estiveram subjacentes no texto agora apresentado, se eu tivesse que expressar a minha opinião, diria com plena convicção que um nome se me imporia: o de António Tomaz Pires. Também ele esteve, como João Dubraz em Campo Maior, muito ligado à criação da Biblioteca Municipal de Elvas. Isso e a sua enorme estatura intelectual seriam razões fortíssimas para fundamentar essa decisão.

 

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publicado às 00:02

 

 Ao longo da História da Cidade de Elvas e da História da Vila de Campo Maior, grandes nomes se destacaram na reconstrução da memória dos seus antepassados. Mas dois são fundamentais e determinantes quando se fala de História Local nestas duas comunidades: referimo-nos a Vitorino de Almada e a João Dubraz. Para além do seu interesse pela História, estes dois grandes vultos possuíam também, uma verdadeira paixão pelo jornalismo.

O primeiro, natural de Elvas, onde nasceu em 21-10-1845  foi, sem dúvida, o mais importante historiador desta cidade. O segundo, nascido em Campo Maior, em 21-01-1818, destacou-se não só na vida cultural da sua vila, mas também como um dos mais importantes colaboradores na imprensa periódica de Elvas, salientando-se como cronista do seu tempo, como activista político e como historiador da sua terra.

Todavia, a forma de participação que tiveram, tanto na imprensa nacional, como na local, foi marcada pelas suas formações e actividades profissionais. Vitorino de Almada, sendo capitão do exército e oriundo de uma família ligada à carreira das armas, evitava tomar partido nas lutas políticas que se fizeram sentir fortemente até perto de meados do século XIX. João Dubraz, pelo contrário, assumia-se plenamente como um empenhado activista político. Esteve preso em Elvas durante cinco meses, devido à sua participação num acto revolta militar, em 1847, na conjuntura revolucionária da “Maria da Fonte” e da “Patuleia”. Era um empenhado defensor de um liberalismo radical e um fervoroso partidário do regime repúblicano.

Mas, em ambos, deve-se, sobretudo destacar nas suas obras, o seu empenho na descoberta e na preservação, da memória histórica das comunidades em que estavam inseridos.           

No caso de João Dubraz, destacam-se  as «Recordações dos Últimos Quarenta Anos” de que - coisa rara naquele tempo - se publicaram duas edições: uma primeira em 1868, logo seguida de uma  segunda em 1869. Trata-se, sem dúvida, duma importante memória descritiva da Vila de Campo Maior, desde as suas origens até final dos anos sessenta do séc. XIX, com particular destaque para  a conjuntura das guerras peninsulares e para os factos e acções durante o período de implatação do Liberalismo na vila de Campo Maior. Como jornalista deixou ampla e diversicada coloboração em quase todos os jornais que, no seu tempo, se publicaram em Elvas e em alguns dos que se publicavam em Lisboa.

No que respeita à actividade como colaborador nos jornais, o mesmo caminho seguiu Vitorino de Almada. Uma parte considerável da sua obra foi também publicada em artigos em jornais como o Elvense, o Gil Fernandes e o Correio Elvense de que foi o redactor principal. Mas não pode deixar de se referir a obra que publicou de 1888 a 1895 - Elementos para um dicionário de geografia e história portuguesa -  que trata dos factos relativos ao concelho de Elvas e aos extintos concelhos de Barbacena, Vila Boim e Vila Fernando -  bem como O manuscrito de Afonso da Gama Palha, sobre a Guerra da Sucessão em Espanha, (Elvas, 1876); o estudo biográfico Francisco de Paula Santa Clara, (Elvas, 1888) e a obra Os quartéis- mestres, (Elvas,1890).

Eis, de forma abreviada, algumas notas sobre dois vultos e duas obras de referência na historiografia portuguesa, no que respeita à História Local: uma referida à vida na cidade de Elvas e outra, uma memória sobre uma vila, Campo Maior, ambas localizadas na zona raiana do Alto Alentejo.

 

NOTA: Este texto pretende ser um gesto solidário, de apoio à justa e necessária campanha que Jacinto César tem vindo a desenvolver em defesa da memória e da cultura da sua cidade. E foi elaborado com base noutro, postado por Arlindo Sena, In,

http://flama-unex.blogspot.com/2009/05/historia-local-ao-longo-da-historia da_6801.html

 

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CAMPO MAIOR EM MEADOS DO SÉCULO XVII

por Francisco Galego, em 10.09.16

TEATRO DAS ANTIGUIDADES D’ELVAS

 Com a história da mesma cidade e descrição das terras da sua comarca, escrito pelos anos de 1644 a 1655 pelo Cónego Aires Varela, com um prólogo de António Thomaz Pires.

 

O castelo de Campo Maior é obra muito antiga e muito forte, tanto por razão do sítio, como pelas torres e muros. Foi fabricado pelos mouros e reparado por El-rei D. Dinis, que lhe levantou a maior torre que nele há e, por esta razão, quiseram alguns atribuir-lhe a honra de edificador.

Os romanos lhe deram o nome, com muita propriedade porque, daquele sítio se descobre o maior campo que há por aquele distrito.

Havia junto ao castelo duas aldeias da jurisdição de Badajoz e que entraram nesta coroa com as de Olivença e Ouguela em troco de Aroche e Aracena. A mais populosa se chamava Joannes, ou por ser Bartolomeu Joannes a principal pessoa da aldeia, ou porque a água que a ela vinha era do seu campo da Valada. Dela se descobrem vestígios. A outra se chamava dos Luzios, nome que conserva o sítio e algumas famílias que passaram a Albuquerque.

Os habitantes destas aldeias viviam de cultivar os campos, respondiam com os dízimos à Sé de Badajoz que reconheciam no espiritual. E assim foram continuando até ao tempo de El-rei D. João I e ainda neste tempo (anos de 1644 a 1655) se conserva naquela Sé uma dignidade com o título de Prior de Campo Maior.

Logo que estas aldeias ficaram pertencendo à coroa portuguesa, abandonaram os sítio e aproximaram-se do castelo pelas comodidades que daí lhes resultavam, fugindo às rigorosas leis castelhanas, sujeitando-se às piedosas leis portuguesas.

Em favor destes novos moradores, com muita consideração e, sem dúvida, com a aprovação dos moradores de Elvas, desuniu El-rei D. Dinis este castelo de sua jurisdição para o honrar com o título de vila. Foi crescendo pela bondade dos ares, abundância das águas e fertilidade do terreno, até chegar a ser uma das mais populosas do reino. Desta sua origem resulta que, quando alguém quer chalacear com os de Campo Maior, chame à vila Campo Joannes.

São os naturais desta vila robustos, de grandes forças e igual valor, são duros e contentam-se com pão e água. As famílias antigas desta vila são os Vaz, Vicente, Rego, Prioreço, e Galvão. Depois vieram de fora os Mexia, Videira, Pereira, Sequeira, Fouto, Carrascosa, e Carrasco.

Entre a gente do povo conservam-se algumas palavras castelhanas e outras compostas de ambas as línguas, daí que não sejam nem portuguesas, nem castelhanas. E o mesmo acontece quanto aos costumes.

As mulheres que sempre deitam mão aos que favorecem a sua liberdade, mesmo as nobres, quando lhes parece, andam vestidas ao uso de Castela.(…)

Nesta vila apareceu uma imagem de São João Baptista e lhe fabricaram uma igreja que é venerada pelos naturais da vila e frequentada pelos que o não são, pelos muitos milagres que Deus por ela opera. Crê-se que, por intercepção deste santo, nunca tocou mal contagioso neste lugar, mesmo quando todos os lugares vizinhos ardiam em peste.

Afirma a tradição e confirma a pintura do retábulo que, o homem a que esta imagem apareceu, tinha na cabeça um lobinho e, duvidando de lhe darem crédito, lhe disse o santo que serviria de testemunho que, naquele mesmo momento, o lobinho que tinha na cabeça lho mudasse para o pé, o que logo aconteceu. E, assim ficou acreditado o homem e respeitado o Santo. O homem chama-se Gonçalo Rodrigues. Dele há descendência e se conserva uma horta do prazo[1] da mitra, em que se entra por sucessão de sangue. Estava nesta horta quando lhe apareceu a imagem de S. João Baptista, e afirmam que essa imagem é a que é venerada hoje naquela ermida.

A causa deste milagre foi que os moradores da vila estavam há anos a habitar no campo, devido à grande corrupção do ar que a todos matava. Ao que parece, pela intercepção deste grande Santo, de que já antes os de Campo Maior eram grandes devotos, foi Deus servido de lhes levantar o castigo. Três vezes apareceu o Santo a este hortelão, sempre entre chamas de fogo: a primeira, na sua choça; a segunda numa fogueira; a terceira, junto a um regato, onde lhe falou como atrás se disse. Também se afirma que, a fonte chamada de S. João que deu o nome à horta, nasceu milagrosamente aos pés do Santo e, por ser fonte milagrosa, a sua água faz milagres.

No tempo de El-rei D. João I era alcaide do castelo Paio Roriz Marinho que teve voz por Castela e que depois foi morto por Martim Vasquez de Elvas. A Pio Roriz sucedeu Gil Vasquez de Barbuda de quem a Crónica de El-rei D. João I diz estas palavras: Partiu El-rei de Monção e veio a Lisboa, deixou aí a rainha para ir cercar Campo Maior, um bom lugar do seu reino entre Tejo e Odiana, que tinha voz pelo rei de Castela. E estava nela por alcaide Gil Vasquez de Barbuda, primo  do mestre Dom Martin Annes. Estando El-rei sobre esta vila, vieram de Badajoz os mestres de S. Tiago e de Calatrava com muita gente da Andaluzia para a socorrer. Houve muitas escaramuças. Porém, El-rei combateu a vila de tal sorte que a tomou pela força e, dezoito dias depois, tomou os castelo por pleitearia.

 

 

 

[1] Prazo = aforamento

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CAMPO MAIOR - SÉCULO XVIII

por Francisco Galego, em 05.09.16
  1. ANTÓNIO CARVALHO DA COSTA, COROGRAFIA PORTUGUEZA E DESCRIPÇAM TOPOGRAFICA DO FAMOSO REYNO DE PORTUGAl ... Braga, 2ª ed.1868, 1ª ed. 1706 – 1712

 

Cap. VI – Da Villa de Campo Mayor (p. 366 a 368)

 

Campo Maior foi povoação de 1.200 vizinhos. Hoje, por causa das guerras com Castela, acha-se com 850 , com casas muito nobres e limpas, cujos apelidos são Vaz, Galvão, Mexia e Sequeira, que a vieram povoar.

Foi ganha aos mouros na era de 1219, pela família dos Peres naturais de Badajoz; estes deram a vila à fábrica da Igreja de Santa Maria do Castelo, sendo bispo de Badajoz D. Pedro Peres, que lhe deu por armas Nª Sr.ª e um cordeiro com um circulo à roda que diz: Sigillum Capituli Pacensis.

Depois, no reinado de D. Dinis que lhe fez o castelo na parte mais alta do terreno para o lado de Elvas, havendo controvérsia entre os moradores sobre o lugar para onde haviam de estender a povoação, ajustaram que para o maior campo, de que resultou ter por nome Campo Maior.

Tem uma freguesia da invocação de Nª Srª da Expectação, que se edificou no tempo de D. Sebastião de Matos, bispo de Elvas, com um prior e dois vigários para administração dos sacramentos e rezarem em coro com os outros beneficiados: são benefícios simples e muito ténues.

Tem um convento da invocação de Santo António, de frades franciscanos, que vivem no castelo desta vila enquanto se acaba o convento que se lhes funda por ordem do sereníssimo rei D. Pedro II. Servem-se os padres da Igreja que antigamente foi matriz desta vila, a qual foi deixada pelos clérigos no ano de1645, sendo dela prior Fernando Gil Castelo. A primeira fundação deste convento foi junto às casas para o lado das Poças e que foi mandado derrubar por causa das guerras com Castela.

Tem outro convento de frades de São João de Deus, com título de Hospital del-Rey, onde se curam os soldados e mais gente de guerra da guarnição da Praça.

Tem Casa da Misericórdia com seu hospital.

Tem três ermidas (pois as mais estão extintas):

- uma de São João Baptista, em que o Santo é muito venerado pelos muitos milagres que Deus Nosso Senhor faz por sua intercepção;

- outra do Mártir S. Sebastião, imagem muito selecta e de singular beleza;

- a de S. Pedro que fica fora dos muros e na qual está o Santo pintado na parede com tal perspectiva que parece olhar para todas as direcções. Segundo a tradição, estando feita a ermida, entram nela dois forasteiros e, depois, quando se ausentaram, os naturais acharam a imagem pintada em fresco com dois cardeais ao lado. Esta pintura ainda hoje existe.

Foram baptizados na pia da antiga matriz desta vila, o Beato Amadeu que instituiu a Ordem dos Amadeus em Itália (o seu nome secular fora João de Menezes e Silva, filho segundo de Ayres Gomes da Silva, alcaide de Campo Maior e Ouguela) e D. Isabel de Menezes, filha de D. Pedro de Menezes, Conde de Viana e primeiro Capitão de Ceuta e irmão de D. Diogo da Silva, primeiro Conde de Portalegre. E D. Beatriz da Silva, que instituiu a Ordem da Conceição em Castela, irmã do dito João Menezes da Silva que  passou a Castela com a rainha D. Isabel, filha do Infante D. João, quando esta foi casar com El-rei D. João II de Castela. Foi canonizada como Santa Beatriz

Foi também natural desta vila o bispo Martinho Afonso Mexia que nela tem muitos sobrinhos e dilatada família; foi primeiro bispo de Viseu e depois de Coimbra e Vice-rei deste reino.

É esta vila muito abundante de trigo, cevada e legumes, com muitos montes no termo onde vivem os lavradores.

Dista da cidade de Elvas três léguas para Norte, meia légua do Rio Caia que nasce na Serra de São Mamede, junto ao Rio do Sete, termo da vila de Marvão e que corre pelo meio dos soutos de Alegrete e junto de Arronches, vindo a servir de linha de divisão entre esta vila de Campo Maior e a cidade de Elvas. Com as águas do Caia regam-se muitas hortas e pomares e moem muitos moinhos. É rio de muitas pedras e, por essa razão, o peixe que cria é tido como sendo melhor que os dos outros rios.

Entre as muitas hortas que tem esta vila, é muito nomeada a Horta de São João Baptista pelo aparecimento que nela fez o santo a Gonçalo Rodrigues, homem virtuoso e pelo milagre que com ele usou em lhe tirar um lobinho que tinha na cabeça e passar-lho para o pé esquerdo, a fim de convencer os moradores a voltarem às suas casas de que se tinham retirado por causa da peste, a qual já tinha cessado como lhe afirmara São João Baptista.

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