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SOBRE A ERMIDA DE S. SEBASTIÃO OU DO MÁRTIR SANTO

por Francisco Galego, em 27.02.16

Sucessos

 

Que houve nas fronteiras

De Elvas, Olivença, Campo Maior e Ouguela,

No primeiro ano da Restauração de Portugal,

Que começou no 1º de Dezembro de 1640

E teve fim no último de Novembro de 1641

 

Dirigidos

 

À majestade de D. João IV,

rei de Portugal e nosso senhor

 

Escritos

 

pelo Doutor Aires Varela,

cónego na magistral da Santa Sé de Elvas,

comissário da Bula da Cruzada

e vigário geral na dita cidade e seu bispado

 

<<<<<<<<<<<<<<>>>>>>>>>>>>>>>

 

 

Sobre Campo Maior, relata este documento que: 

 

    - Os de Campo Maior, ainda que na Vila Nova tenham muita água,

       na Vila Velha e Castelo, não têm nenhuma, mas têm grandes

       cisternas que, com notável diligência, encheram;

 

   - Campo Maior, é lugar de mil e duzentos vizinhos, tem castelo

      e vila velha que são coisa pouca, situados numa eminência,

      superior a todo aquele território, bastante murados;

 

     -  Mas, a Vila Nova, que é corpo da povoação, está em plano

      aberto e sem defesa alguma;

 

   - O monte de S. Sebastião, que toma o nome de uma ermida

      deste santo nele fundada, fica a cavaleiro da Vila Nova;

 

   - Este lugar faz rosto a Badajoz e Vilar D’El Rei, com cujos

      termos parte, ora por marcos, ora pelo rio Xévora;

 

   - Com a mesma certeza que os desta vila tiveram

      da aclamação feita nesta cidade, fizeram eles com particular

      demonstração de alegria;

 

   - E, como convinha, trataram da sua defesa, fazendo ofício

     de capitão-mor Pedro da Silva Menezes;

 

    - Começaram com singular assistência a entricheirarem-se

      e tudo foram obrando quase de olhos fechados porque,

      sem notícia ou com muito pouca de semelhantes fortificações,

      continuaram a entricheirar por grande distância;

 

    - Foi Matias de Albuquerque a esta vila.

      Pareceram-lhe bem as trincheiras obradas;

 

    - Ordenou que se fizesse, no monte de S. Sebastião,

      um valente baluarte que os daquela vila conseguiram

      com grande trabalho e gasto.

 

Pela notícia que nos dá este antigo documento, ficamos a saber que: 

 

- Campo Maior seria, nesse tempo, vila de 4 a 5 mil habitantes;

 

- A construção da fortaleza que transformou Campo Maior

numa praça de guerra, começou pela construção

do baluarte de S. Sebastião ou do Mártir Santo, cuja ermida já existia;

 

- Que foi a própria população que tomou a inicitiva

  de construção das defesas da vila, devido à eminente

  situação de guerra com a Espanha;

 

- Que Campo Maior aderiu, desde o primeiro momento, à

Restauração da Independência do Reino de Portugal.

 

Destas informações resulta o valor patrimonial

acrescentado que este espaço tem para

a história da vila de Campo Maior.

 

 

Nota:

Segundo informou Vitorino D'Almada, este documento escrito por Ayres Varela, terá sido impresso e publicado por Domingos Lopes Rosa, em Lisboa,no ano de 1642 e reimpresso pela Typographia Elvense, no ano de 1861.

 

 

(Segundo Estêvão da Gama, 1722)

 

ERMIDA DE SÃO SEBASTIÃO

         “Há outra Ermida do glorioso Mártir São Sebastião, colocada em meio de um baluarte do mesmo nome, de cuja imagem faz especial menção o Doutor Novaiz, por ser de admirável escultura. Esta Igreja que estava muito danificada, pela falta de devoção, neste ano de 1714, em  que os oficiais do Regimento de Infantaria desta guarnição a tomaram por sua conta e a reedificaram, fazendo-lhe uma tribuna nova, pintando-a toda, com a capela a óleo, festejando-lhe seu dia com a solenidade da Igreja, e com comédias, fogos e outros aplausos. Os mais dos soldados são confrades e elegem todos os anos um oficial Maior, assim de Infantaria como de Cavalaria, para juiz.

 

( Segundio , António Dias da Silva e Figueiredo, 1732)

 

Notícia do lastimoso estrago, que na madrugada do dia 16 de Settembro, deste presente anno de 1732, padeceu a Villa de Campo-Maior, causado pelo incêndio, com que hum raio, cahindo no armazém da pólvora, arruinou as torres do castello, e com ellas as casas da Villa. Escrita por António Dias da Sylva, e Figueiredo, natural da mesma Villa”, Lisboa Oriental, na Officina Augustiniana, 1732

 

“(...) a Ermida do invicto Mártir S. Sebastião, que está num baluarte da muralha, não sofreu ruína, mas não é tão notável o prodígio por ficar numa parte para onde não se encaminhou o ímpeto da explosão.”

 

Pela notícia que nos dão  estes dois últimos  antigos documentos, ficamos a saber que:

 

- A antiga Ermida de São Sebastião, foi transformada em capela  da guarnição militar da Praça  de Guerra, da vila de Campo Maior, em 1714 e que não tendo sofrido estrago de monta aquando da explosão de 1732, que danificou grande parte da vila e matou uma parte significativa da sua população, esta ermida pode ser considerada um dos mais antigos edifícios de Campo Maior.

 

 

 

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publicado às 00:07


CRÓNICA DE UM DIA SEM HISTÓRIA ...

por Francisco Galego, em 23.02.16

Ontem sentimos algum cansaço. Consequente do esforço de anteontem. Da idade também, pois que esta impõe cada vez mais as suas limitações, exigindo novas maneiras de regular hábitos e projectos.

O “Almanaque” informava: Começo da fase de LUA CHEIA. Regressam os grandes luares que deixam os terraços alumiados, numa espécie de “quase-noite” que liga os crespúsculos com as auroras.

Mas, o “Almanaque” enganou-se redondamente, ao anunciar “chuva e trovoada” para um esplendoroso dia de sol que nos brindava com uma temperatura de 24º, às 14.15 da tarde.

Diz também o “Almanaque” que era o “Dia do Pensamento”. Coisa mais absurda!... Como se pudessem existir dias em que não tivessemos que pensar... Às vezes torna-se impossível seguir a linha de pensamento destas “folhas” que já debitam “sentenças há 87 anos. Pois é! A idade não perdoa... Isto é a progressiva esclerose a ditar a falta de juizo esclarecido sobre as coisas. Enfim... É preciso respeitar os mais velhos, embora dando o devido desconto aos desacertos que vão comentendo. Vai chegar a vez em que, cada um de nós, começará também a misturar pensamentos com alucinações. É a lei da vida. Temos que a aceitar. Já agora que venha devagar.

Não há razão para que se apresse.

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publicado às 08:41


DE OUTRA VISITA DE ESTUDO...

por Francisco Galego, em 22.02.16

Ontem, visitámos o Forte de Santa Luzia, em Elvas. Desde as 14.30 até quase às 17.30, decorreu esta visita de estudo, orientada e explicada pelo Ten. Coronel José Ribeiro, empenhado e competentíssimo, como sempre.

É tão agradável ver fazer assim as coisas com a perfeição que só é acessível a quem as faz por gozo, com gosto e com muito saber! ...

No campo de uma especialidade que, à partida, se poderia julgar tão árida quanto desinteressante, como a história da arquitectura militar, este homem, já um amigo, conseguiu prender-nos interessados, durante três horas. Éramos cerca de uma dezena de pessoas com idades, origens e formações diferentes. E todos acompanhámos atentamente as explicações.

Ficámos convertidos e ansiosos por novas oportunidades de alargarmos os nossos conhecimentos.

O nosso abraço de agradecimento.

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publicado às 11:32


DAS SURPRESAS DUMA VISITA BREVE...

por Francisco Galego, em 20.02.16

 

No regresso de Évora, resolvemos parar em Estremoz. Tivemos uma primeira surpresa de carácter gastronómico com os petistos que nos foram servidos na “ Mercearia do Gadanha” que consegue a arte de conjugar os produtos tradicionais com toques de verdadeiro requinte.

Agradados, resolvemos revisitar a cidade. Gostamos muito da riqueza arquitectónica dos seus  edifícios, tão valiosos e, por vezes, votados a confrangedor abandono. O acaso levou-nos à Praça do Municipio, onde estão os Paços do Concelho.

A nossa atenção focou-se no Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte e tivemos nova surpresa: Fachadas restauradas com rigor, interiores primorosamente  recuperados, realçando a beleza deste edifício que sempre admirámos, lamentando a ruína a que chegara. É sempre agradável constatar que há já bastantes municípios que tendem a focar a sua atenção nos valores  patrimoniais que lhes cabe preservar e gerir com eficácia.

Como a porta estava aberta, entrámos e vimos que estava aberta ao público uma exposição :

“Pintura – 2 eus”.

(Os dois “eus” apontavam para duas exposições):

 

- Fernando Gil – “objectos inúteis”

– Homenagem aos poetas do Orfeu. (2006-2015)

 

- Álvaro Marvão – “bichos d’infãncia”

– Homenagem aos pintores naturalistas portugueses (2006-2015)

 

            Talvez porque algumas experiências com “exposiçôes” nos tenham desmotivado, não criámos muita expectativa. Mas, porque tínhamos muita curiosidade de ver o restauro do interior do palácio, resolvemos entrar.

            Grande surpresa tivemos! A começar pela amável recepção da funcionária em serviço e a culminar no contacto com as obras expostas.

            A senhora da recepção foi ao nosso encontro e, percebendo o nosso surpreendido agrado, começou a dilogar conosco e a  comunicar-nos informações sobre a obra e a sua autoria. Eram de facto dois “eus”, mas consubstanciados numa só pessoa. Um, com o seu próprio nome; o outro, como pseudónimo, em coerência com a opção por outra estética, outra temática e outras soluções técnicas.

           A nossa surpresa, já definida pela qualidade do que víamos, acrescentou-se com esta revelação. Num caso, o artista, partindo do abstracionismo das pinceladas divergentes na forma e na côr, chegava à formulação dos animais que sugeria. No outro caso, o artista, partindo do realismo naturalista dos objectos representados, levava-nos, através da ironia ou das ideias sugeridas, até às mensagens.

           Na verdade, estas  surpresas foram a solução para um dilema em que me encontro e que posso expôr partindo de um texto que li, recentemente.

Em “E – A Revista do Expresso”, Ed. 2255 de 16/1/2016, pág.s 54 a 59,  numa entrevista feita ao consagrado artista Julião Sarmento, este deu a seguinte resposta:

O que se passa hoje na esfera da arte contemporânea, não me interessa. Conheço as regras, tenho de viver nesse mundo, mas não me interessa.

A arte tornou-se numa “commodity”.

Para um artista ser “successfull”, é irrelevante o trabalho  que faz. Qualquer um pode fazer o que quer que seja, desde que conheça as pessoas certas e se movimente nos circulos certos. Não foi isso que assinei quando quis ser artista.

Estas afirmações aliviaram-me da questão que trago comigo, desde há muito tempo: de facto não consigo aceitar certos objectos que me apresentam como “arte ”. E, porque entendo que, com a frequência das cadeiras sobre arte, no meu curso de História, não me posso considerar um especialista, custumo guardar para mim a reserva que sinto perante objectos que me são apresentados como manifestações artísticas. Devo desde já esclarecer que, não tenho preconceitos sobre qualquer forma ou estilo de arte. Grande parte das obras de arte que me têm despertado o mais vivo interesse, situam-se nos domínios mais divergentes, de todas as épocas e ambientes culturais e que vão deste as que são consideradas dentro dos "naturalismos realistas" às que se enquadram  nos chamados “abstraccionismos”.

Mas, no meu entendimento, a arte raramente resulta de facilitismo, de exibição de coisas que só se destacam pelo sua total ausência de sentido. No meu entender a arte não deve consistir na intenção de nos surpreender, por nos provocar apenas espanto. Deve, acima de tudo suscitar a adesão da nossa sensibilidade, quer através da mensagem, quer pela forma como se nos apresenta.

Citando, de memória, uma frase de Oscar Wilde, na sua obra "O Retrato de Dorian Gray": A única justificação para uma coisa inútil é que ela seja profundamente admirada. Frase que traduzo deste modo: Não basta que algo me cause espanto; tem de me despertar forte admiração, para que o entenda como arte.

É assim que sinto e penso. Se com isto me engano, paciência...

Para mim, a arte resulta de uma ideia que se concretiza pela laboriosa acção que, começando por ser ideia,  - recorre aos materiais, às técnicas, aos conhecimentos e aos sentimentos -, traduzindo essa ideia em composições de traços, cores, manchas, formas, jogos de luz e sombras, volumes. 

Se isto é ignorância, então eu prefiro permanecer nela. Recuso-me a entrar no jogo de considerar com valor artístico, coisas em que só vejo o valor comercial de troca que lhes é atribuido em certos circuitos.

Afirmo isto, perfeitamente consciente de que, para alguns, provavelmente mais esclarecidos do que eu sou, não passo de facto de um grande ignorante, no que se refere às questões da arte. Até porque, esse juízo não anda muito longe daquilo que eu mesmo, nesse domínio, me considero.

 

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publicado às 11:23


PROPAGANDA VERSUS INFORMAÇÃO...

por Francisco Galego, em 16.02.16

Por muitas razões, entre as quais sobressai o meu temperamento, mais inclinado a respeitar opiniões do que a abrir e manter situações de conflito, evito intrometer-me em disputas politizadas. Por outro lado, considero demasiado valiosa a democraticidade que deve reger as sociedades e as relações entre as pessoas, para me permitir a presunção de impor que as minhas posições sejam melhores, mais certas ou mais válidas, do que outras, mesmo que estejam em contradição com as minhas.

Mas, há situações que não consigo suportar e que têm a ver com o modo como determinadas pessoas ou grupos profissionais e orgãos de comunicação social, têm assumido o exercício das suas funções. Nesta perspectiva, confesso a minha revolta pela maneira como certa imprensa e certo tipo de jornalistas, que deviam cumprir o seu dever de informar e o seu direito de analisar para melhor esclarecerem, reduzem a sua acção a uma contínua e descarada atitude de propaganda, não de factos, mas de opiniões distorcidas que, não tendo base real de sustentação, se limitam  a fazer vingar a visão que melhor serve as causas que decidiram servir e favorecer.

A questão tende a configurar-se no sentido de que, enquanto a informação tenta descobrir e revelar a verdade, a propanganda, está mais ocupada em dissimular, contrapondo uma divulgação de versões tão manipuladas que acabam por se aproximar mais de uma contra-informação, por falseamento da verdade.

Na sabedoria dos provérbios populares encontramos alguns que ajudam a compreender o campo em que se colacam os conceitos de propaganda e de informação quando nos situamos no domínio da política. 

Tomemos como exemplos:

A verdade é como o azeite. Acaba sempre por vir  o de cima.

Pois é! Mas, por vezes, demora tanto que, enquanto não vem, provoca grandes estragos.

A mentira tem perna curta.

Mas, por mais manca que a mentira seja, nem sempre aparece quem esteja interessado em a denunciar.

Até porque...

Com papas e bolos se enganam os tolos.

E, infelizmente, por vezes são muito poucos os quem têm o sentido claro e os olhos abertos e são muitos os que, por serem ou porque  lhes convém parecê-lo, assumem o papel de tolos.

 

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publicado às 00:07


NO DIA DOS NAMORADOS...

por Francisco Galego, em 14.02.16

Reparei agora que, o dia de hoje, 14 de Fevereiro, domingo, estava, no calendário do "almanaque", indicado como "O Dia de S. Valentim" e "Dia dos Afectos e dos Namorados". Estranhei que esta designação de "Dia dos Afectos", embora seja uma dedicação tão delicada e tão simpática, seja tão escamoteada que eu nem sabia da sua existência. 

Porém, pensando melhor, sendo o que o objectivo predominante é nitidamente comercial, torna-se mais natural que, em vez dos afectos, se pense mais em presentes, lembranças, prendas e ofertas. E, é em volta disso que tanto se comemora e que tanto as montras dos comércios se ornamentam com uma extraordinária panóplia de objectos alusivos a esta comemoração.

 Embora se trate de coisas completamente distintintas, pois este "Dia dos Namorados", não tem qualquer intenção de carácter humanitário, reparei, também agora que, o  passado dia 27 de Janeiro, fora consagrado à memória das vitimas do holocausto. Verdade seja, que nem se deu por ela. Silêncio total, mesmo nos orgãos de comunicação social.

Estranha comemoração neste tempo em que novo holocausto está a acontecer no Próximo Oriente, perante uma atitude algo agressiva de uma parte dos países desta Europa que gosta de se considerar como luzeiro da civilização europeia, ocidental e cristã. Custa aceitar que isto aconteça dentro das fronteiras da tão proclamada União Europeia.

Os argumentos de que não se pode acolher esta massa descontrolada de imigrantes, para preservar a segurança e a estabilidade das populações dos nossos países, quase chegam a ser convincentes. Mas, torna-se arrepiante quando, analisando melhor, constatamos que, na sua grande maioria, se trata de grupos de homens, mulheres, velhos e crianças em fuga dos seus países completamente destruídos por uma guerra que coloca em extremo risco as suas condições de vida e a sua sobrevivência.

Visto o problema segundo esta perspectiva, não estarão estas pessoas a tentar escapar a um novo holocausto?

E nada fazer para lhes acudir não poderá  abrir caminho para que o mal alastre e se possam chegar a colocar em risco as nossas próprias vidas?

Talvez fosse aconselhável pensarmos que, quando o fogo arde na casa do nosso vizinho, manda a prudência que vamos acudir-lhe, para que o fogo não se propague à nossa própria casa. Porque, pode acontecer que, nessa altura, não tenhamos também ninguém que nos venha acudir.

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publicado às 00:15


DO INÍCIO DA QUARESMA ...

por Francisco Galego, em 10.02.16

O meu “Almanaque” indica que ontem, dia final do Entrudo, se iniciou o ano 4. 653 da era chinesa, começando o Ano do Macaco.

Eu não gosto, nem nunca gostei, do Carnaval. Talvez isso esteja relacionado com a recordação de alguns aspectos bastante violentos de que se revistia o Carnaval, no tempo em que eu era criança. As manifestações exibicionistas de excessos, atitudes desregradas e abusivas, ultrapassando muitas vezes os limites da contenção e da decência, nunca tiveram a minha adesão e muito menos a minha simpatia. Mas, obrigo-me a não censurar, nem reprimir os comportamentos de quem gosta de participar nas manifestações realizadas ao abrigo desta tradição.

Claro que, como muitas outras manifestações festivas, o Carnaval está hoje super comercializado, assumindo níveis elevados os grandes gastos com os eventos que se enquadram na sua celebração. Vivendo nós, cada vez mais na tendência hedonista que predomina nas épocas de crise civilizacional, natural se torna esta crescente importância da sua realização.

Mas, confesso que me sinto aliviado por ter acabado mais um Entrudo, como se chamava ao Carnaval  quando eu era criança.

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publicado às 08:05


NOTÍCIAS DE HÁ 150 ANOS...

por Francisco Galego, em 09.02.16

 

Hoje termina o "Entrudo". Recordemos as mais antigas notícias que conheço sobre o Carnaval na vila de Campo Maior.

 

A DEMOCRACIA PACÍFICA, de Elvas

 

Nº 498, 5ª FEIRA, 22 DE FEVEIRO DE 1866

Folhetim (J. Dubraz)

Também Campo Maior iniciou bailes públicos de máscaras…

No domingo gordo inauguraram-se nesta vila os bailes públicos de máscaras. O primeiro teve lugar no teatro (do castelo), levado a efeito pela Sociedade Artística, auxiliada por alguns não artistas, os quais, em comissão mista, tomaram a direcção do espectáculo. O teatro estava ornado sem luxo, mas com asseio e bom gosto e manteve-se em toda a noite na mais rigorosa decência.

À entrada do salão de baile (plateia superior), cada máscara dizia o seu nome ao presidente da comissão.

A filarmónica artística, vestida uniformemente, deu começo ao espectáculo com uma sinfonia: levantado o pano, um artista, moço de merecimento moral e intelectual, entrou em cena com os emblemas que representam o tempo e figurou as quatro estações do ano…com versos alusivos.

Depois começou o baile que durou até às 2 horas da noite. Nos intervalos houve quadros vivos…

Na generalidade o baile careceu de animação… os bailes de máscaras devem ter feição mais galhofeira: há movimento, há febre, há delírio… ”

(Continua no nº seguinte)

-------------------------------------------

 

Nº 499 , DOM:, 25 DE FEVEIRO DE 1866

Bailes de máscaras em Campo Maior ( J.Dubraz)

No terceiro dia de Entrudo teve lugar o segundo baile de máscaras. Foi brilhante, foi até esplêndido e houve um grande concurso de espectadores. Desta vez, o número de Máscaras não baixou de sessenta: apareceram costumes variados e de bom gosto e houve muita animação.

O ardor dos dançadores chegou a ser por vezes frenético … o movimento e alegria foram constantes…

À comissão que dirigiu os espectáculos, todos os louvores são devidos: nunca os houve em Campo Maior com mais ordem; fez recordar os bons e já velhos tempos da sociedade dramática

 

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publicado às 00:06


VISITA AO FORTE DA GRAÇA

por Francisco Galego, em 06.02.16

Já há algum tempo, tinhamos combinado ir ao Forte da Graça, em Elvas, para verificarmos como ficara após a reabilitação.

O complexo que já tinhamos visitado algumas vezes, é um extraordinário elemento de arquitectura militar. Estava muito degradado devido ao prolongado abandono depois de ter funcionado por muitas décadas como presidio militar.

Ficámos muito agradados com o rigor da reesturação levada a efeito. Despojada dos arrebiques de que, infelizmente, se usa e abusa em muito outros casos, houve o cuidado de preservar e realçar todos os elementos que documentam como era e como funcionava o edifício no tempo em que tinha a função para que fora criado. Percebe-se que houve cuidado na escolha dos materiais usados e que foram preservadas e recuperadas todas as estruturas que o compunham.

Apenas me pareceu que se deveria ter dado maior realce à fase de utilização, deste monumental elemento do património da nossa arquitectura militar, como presídio. Não para serem feitos excessos de dramatização, que nada justificava. Mas apenas porque essa foi, durante um tempo relevante, a sua utilização. São quase inexistentes as referências que a isso são feitas. Não me parece que haja razão para que essa tivesse sido a opção.

Para além do próprio edifício, a visita torna-se também muito interessante pela visão panorâmica que nos propicia da magnífica paisagem que o envolve e de que se pode disfrutar de modo altamente privilegiado.

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publicado às 00:04


A PROPÓSITO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR...

por Francisco Galego, em 04.02.16

 

O DN do passado 31 de Janeiro trazia uma entrevista com Pepe Menéndez, director da Fundació Educació da Catalunha, sobre o projecto educativo em que está envolvido e que tem uma extensão para Andorra.

Ler esta entrevista foi para mim uma agradável maneira de voltar à lembrança da actividade profissional em que me envolvi durante mais de 36 anos, com verdadeiro gosto, gozo e empenhada entrega.

Mas, já não tenho paciência para aturar discussões sobre os problemas da educação pelas seguintes de razões:

  1. A questão é tão complexa que deve ser analisada com rigor e os professores devem estar dotados da capacidade de encontrarem as soluções mais adequadas para resolverem os problemas com que se deparam, em cada situação. Ora, a sua formação é, em muitíssimos casos, muito inadequada ou   insuficiente;
  2. Acontece que, no que respeita à educação, quase toda a gente costuma opinar, na maioria das vezes para criticar. Mas - e isto é o aspecto mais extraordinário - entre os opinantes, destacam-se os que, por se considerarem bem informados, assumem a atitude de focarem os seus ataques contra todas as tentativas de inovação, assumindo com isso, talvez inconscientemente, a defesa das soluções mais antiquadas e que, na verdade, funcionam como as principais causas dos actuais problemas escolares.

Por estas e outras razões, hoje, em educação, os verdadeiros problemas não se resolvem aplicando receitas. Por isso, os professores necessitam de estar bem preparados, para saberem observar com rigor e de forma sistemática, trabalhando em grupo, de forma a intervirem numa realidade que está sempre em mudança, exigindo o recurso a novas soluções.

            Para mim, foi muito interessante verificar que esta proposta de projecto educativo, seja apresentada e praticada por um jesuíta. Já agora, atrevo-me a um palpite: não será de admirar que, entre os que irão alçar voz contra estas propostas tão inovadoras, encontremos os que, julgando-se bem informados e de espirito aberto à inovação, formularão criticas violentas, sem consciência de que estão a alinhar com as posições mais retrógadas e ultrapassadas sobre os problemas e as necessidades que hoje existem no domínio da educação. Ou seja, contra-argumentarem defendendo soluções educativas que, implementadas há mais de dois séculos, em grande parte pelos jesuítas e que foram sofrendo apenas ligeiras adaptações, estão hoje completamente desadequadas para resolverem as necessidades educativas da sociedade actual.

Algumas das práticas escolares ainda em uso, como basear o ensino no discurso do professor; ensinar a todos como se todos pudessem aprender da mesma maneira, como se tivessem as mesmas capacidades e disfrutassem das mesmas condições, tornaram-se atitudes pouco adequadas numa escolaridade de frequência obrigatória, com turmas constituidas por alunos de diferentes estruturas familiares e de estratos sociais muito diversos, com diferentes espectativas sobre as aprendizagens e com os comportamentos divergentes que adoptam em ambiente escolar. Claro que, tendo em consideração tão acentuadas diferenças, seria utópico esperar igual sucesso de todos os educandos.

Mas, será devido a essa inadequação dos processos que, mesmo na escola pública - a que os alunos frequentam por obrigação - se recorre tanto a processos de exclusão em vez de procurar estratégias integradoras que, atendendo à capacidade de cada educando, promovam o maior sucesso escolar possível? Claro que tudo se tornaria mais possivel, se a sociedade e o Estado entendessem a importãncia da educação e dotassem as escolas e os educadores das condições necessárias para desenvolverem bem a sua missão.

Segundo esta perspectiva, a culpa talvez nem seja, propriamente, nem da Escola, nem dos professores. Há quem pense que o futuro das sociedades humanas dependerá essencialmente das políticas educativas que vierem a ser adoptadas.

 

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publicado às 08:22


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