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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homano, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga
Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.
Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.
Vitorino Nemésio
Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio
nasceu esta semente; mas que invade
esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos
por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,
e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.
Pedro Tamen
COM UM VOTO
DE
ESPERANÇA
NO FUTURO:
UM BOM NATAL
UM FELIZ
NOVO ANO!
(...) A ideia é, convenhamos, de uma beleza intemporal. Por isso, todos os anos, adultos e crianças, no mundo inteiro, se encantam com a beleza do presépio e com a história (ainda actual em 2015) de uma família de refugiados que, algures no Médio Oriente, obteve guarida num estábulo de uma estalagem, onde nem sequer havia lugar para uma jovem no termo da sua gravidez (...)
(...) O Natal tem, no entanto, uma verdade essencial. E essa verdade é tragicamente ilustrativa da condição humana. Se o facto de o Filho de Deus não ter vindo ao mundo num esplendoroso palácio (mas sim na palha de um estábulo) sugere a mais requintada das verdades poéticas, já o massacre dos inocentes ordenado por Herodes faz soar uma nota amargamente realista, visto que genocídios e massacres pautam desde sempre a história da Humanidade. Deus decidiu vir ao mundo? Então o mundo é isto: é um lugar onde um bebé recém-nascido não só não tem abrigo condigno como está na iminência de ser morto à nascença. Mais tarde, nesse mesmo Menino já crescido, cuspir-lhe-ão em cima, troçarão dele, arrancar-lhe-ão a roupa, fustigá-lo-ão de forma cruel, crucificá-lo-ão. Este Deus não veio ao mundo para ser recebido como Deus, mas como um marginal, um criminoso, um “pobre de Cristo”. Nesta, a mais extraordinária de todas as ideias, (lindíssima, sim) é possível — e é preciso — acreditar.
De um texto publicado por Frederico Lourenço, na edição de "A Revista do Expresso" de 5 Dezembro 2015
Temos agora em moda uma nova estirpe de opinadores: Uns, os partidários do “economês” e outros, os partidários do “politiquês”, evocam certezas sobre situações que irão acontecer. Pululam nas rádios nas televisões e nos jornais e, com pequenas variantes, concordam e comugam de uma mesma conviccão: Não há alternativa para a resolução dos problemas que se levantam nas sociedades actuais.
O mais espantoso é que isto é afirmado por aqueles que ficariam profundamente indignados se alguém se atrevesse a pôr em dúvida o carácter científico do conhecimento em que se agregam. E fazem-no sem consciência de que, ao negarem dogmáticamente as possibilidades de novas perspectivas e de novas concepções, negam o carácter científico das mesmas ciências que pretendem defender. A diversidade das perspectvas é uma das maiores virtudes da verdadeira ciência. É certo que a ciência analisa factos, para tentar conpreender razões e encontar soluções. Mas essas análises, não permitem antecipar um futuro de que não sabemos nem as condições, nem as circunstâncias que nele vão estar presentes. A ciência não deve, nem pode ser usada como futurologia. Ela pode antecipar a probabilidade de... Mas nunca dar como certo o que poderá acontecer. Pois que, se mudarem as condições e as circunstâncias, essa probablidade pode deixar de existir.
Por outro lado, a Economia e a Ciência Política, como todas as Ciências Sociais, incidem sobre uma realidade que se caracteriza pela constante mudança. E, essa mudança, torna-se muito incidente e muito acelerada quando nas sociedades decorrem períodos de crise. Nestes períodos, verifica-se o esgotamento das soluções que vinham a ser usadas e torna-se necessário conceber e implementar novas soluções.
É assim que, como dizia o poeta (e cientista), “o mundo pula e avança”.
O primeiro jornal que Campo Maior teve apareceu no ano de 1921, vivia Portugal um período agitado e de grande instabilidade social e política. Os governos mudavam devido a uma alucinante sucessão de golpes-de-Estado, de revoltas, de desencontradas votações no parlamento.
Muito desencantados e cansados de tanta perturbação, os portugueses procuravam formas alternativas de intervenção social desviando-se da turbulência dos acontecimentos políticos.
As povoações viviam muito fechadas sobre si mesmas. O isolamento gerava a tendência para buscar soluções e formas de vida que as dotavam de uma acentuda autosuficiência, procurando cada uma produzir aquilo de que mais necessitava.
Um grupo de jovens campomaiorenses que viriam a constituir-se numa associação que significativamente adoptou o nome de Pró Terra Nostra, (Pela Nossa Terra), resolveu criar um jornal – O Campomaiorense – em torno do qual se pudessem realizar acções que promovessem o desenvolvimento cultural de Campo Maior. Eram jovens que podemos considerar de classe média, com algumas bases culturais, distribuídos por diversas profissões e condições sociais: Funcionários públicos, comerciantes e empregados no comércio, agricultores, estudantes e, muitos deles, dedicados aos ofícios artesanais que então existiam em número significativo na vila. O nivel de vida das famílias, os ofícios e o terem frequentado a escola, separava-os da massa dos assalariados agrícolas. A diferença de fortuna, distanciava-os das famílias dos grandes proprietários.
O Campomaiorense foi o primeiro jornal que Campo Maior teve. Este projecto fez-se sob a liderança de um homem que marcou profundamente a vida política e cultural de Campo Maior durante os anos vinte do século passado. Chamava-se João Ruivo. Era filho de um mestre-de-obras que deixou algumas construções notáveis na vila, como o Lagar União - frente ao actual hotel Santa Beatriz - já desaparecido e o Bairro Operário. O próprio João Ruivo começou por se dedicar à profissão de seu pai que tinha enraizada tradição na sua família.
João Ruivo, que se destacara como militante dos ideais republicanos e que tinha combatido como voluntário na 1ª Grande Guerra, tendo sido sido condecorado pela sua sua acção como militar, regressado à sua terra, exerceu funções importantes como funcionário da câmara municipal, onde chegou a chefiar os serviços administrativos e a ocupar, por algum tempo, o cargo de administrador do concelho. Autodidacta, inteligente e aplicado, conseguira adquirir uma sólida cultura. Foi correspondente de vários jornais de Lisboa, entre eles “O Século” e o “Diário de Notícias”. Colaborou depois em vários jornais regionais como “Brados do Alentejo” de Estremoz, “Montes Claros” de Borba, “Democracia do Sul” e “Notícias D’ Évora”, “A Fronteira” e “Linhas de Elvas” da vizinha cidade de Elvas.
João Ruivo foi a alma do jornal O Campomaiorense, numa primeira fase de publicação que durou de 1921 a 1923. Durante este período o jornal procurou manter-se imparcial, perante as questões partidárias. Embora João Ruivo fosse um activo militante republicano, era seu entendimento e sua prática que o jornalismo devia usar do máximo de neutralidade e democraticidade mantendo-se equidistante em termos de opiniões políticas.
A falta de recursos económicos, o peso excessivo das despesas e a fraca adesão dos leitores numa terra onde imperava o analfabetismo, ditaram a necessidade de procurar uma solução que viabilizasse a continuação do jornal.
Outro grupo de jovens, quase todos ligados a famílias de grandes proprietários agrícolas, alguns com cursos superiores, tomaram o encargo de fazer sair o jornal. Começou assim a 2ª fase da sua publicação que iria durar de 1924 a 1927. Este grupo agia sob a liderança do Dr. Francisco Telo da Gama, personalidade que, durante muito tempo, marcou profundamente a vida de Campo Maior, na chefia do município, como governador civil do distrito , chegando mais tarde, no promeiro período do Estado Novo, a ocupar um cargo como membro do governo.
A partir de certa altura, a colagem do jornal a tendências que pugnavam por soluções políticas de carácter autoritário, levou João Ruivo, o antigo grupo fundador, a reagir, criando outro jornal – o Notícias de Campo Maior – ficando assim a vila com dois jornais nos anos de 1926 a 1928.
Depois, seguiu-se a Ditadura Militar que resultou da vitória do golpe levado a efeito por militares em 28 de Maio de 1926. A acção inibidora da censura, a suspensão das liberdades democráticas e a saída de Campo Maior de João Ruivo, ditaram o encerramento do Notícias de Campo Maior, a partir 1 de Junho de 1929.
O Campomaiorense que já tinha suspendido a sua publicação em 14 de Abril de 1928, voltaria a publicar-se nos anos de 1933 a 1935, então já com um total alinhamento com o Estado Novo e com a ideologia salazarista.
Entretanto, já na fase posterior ao 25 de Abril, apareceram outros jornais em Campo Maior como A Palavra que se publicou desde 30 de Janeiro de 1988 ao último trimestre de 1989 e o Jornal Campo Maior no início dos anos 90. Em 16 de Outubro de 1996 reapareceu o Notícias de Campo Maior, por iniciativa da empresa proprietária do Linhas de Elvas, que o manteve em publicação até 2005.
Contas feitas, o Notícias de Campo Maior foi o jornal que se publicou durante mais tempo em Campo Maior.
Na sua fase final, no ano de 2003, este jornal mudou o título para Região em Notícias - Campo Maior.
(Texto elaborado, revendo outro publicado em Abril de 2006, por Francisco Pereira Galego)
A propósito de um comentário ao texto em que eu censurava o muito do que actualmente se diz e se escreve:
"Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo".
Esta frase muito citada e que pode aparecer escrita com algumas pequenas variações, sintetisa muito claramente o principio democrático do direito à liberdade de expressão do pensamento, princípio fundamental instituido na Sociedade e no Estado Democrático, preconizados pela Revolução Francesa de 1789.
Porém, não há provas de que tenha saído da pena de Voltaire, pseudónimo porque é conhecido, o iluminado filósofo, de seu verdadeiro nome François-Marie Arouet, (1694-1778).
Provavelmente, se Voltaire a tivesse escrito, a frase teria acabado deste modo, mais concordante com o seu pensamento:
"Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até à morte o seu direito de dizê-lo, desde que respeite os direitos e a dignidade daqueles a quem se refere ou a quem se dirige.”
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