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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Procurando em velhos papéis, encontrei este escrito de que já não guardava qualquer memória.
Achei-lhe graça por estar tão ligado à contemplação do mar, uma realidade que eu, rapaz do interior e de poucas viagens, só conheci numa fase já adiantada da minha vida.
Nesse dia, tinha ido visitar os meus netos – David e Mariana – que estavam de férias e muito ocupados nas suas actividades de praia.
Para não os importunar, afastei-me e fiquei a contemplar aquela imensidão que tivera tanta dificuldade em entender. E lembrei que, naquele momento, eu encontara a minha maneira de sentir aquilo que estava perante mim.
Quarta-feira, 27 de Junho de 2007
EM SESIMBRA
Ouvindo Chopin
Olhando o mar
Parado sobre a falésia
O mar
Que é cinzento
Neste dia de nuvens
Confunde-se no limite do horizonte
Com o cinzento do céu
Num dia sem história
Como devem ser os dias perfeitos
A vida retoma o seu melhor sentido
Que é não ter sentido nenhum
Apenas viver
Olho em frente
A minha razão sabe
Que há mais mundo
Para além do horizonte
Mas os sentidos apreendem apenas
A imensidão deste mar sem fim
Momentos assim
Deviam ser eternos
Como o tempo
A política que nasceu da necessidade de organizar a vida dos homens em sociedade, tendeu sempre para se tornar uma das maneiras de, através da aquisição do poder, ser um dos processos mais usados por certos homens, para tirarem o maior proveito dela, usando-a para complicar a vida dos outros.
Mas, ao longo dos tempos, sempre se constatou que, quanto maior é a prepotência de certos políticos, maior é a sua preocupação em manter os outros afastados da participação na tomada das decisões que a todos dizem respeito.
Coerentemente, em contrapartida, quanto mais os outros se desinteressam pela política, maior é a probabilidade de serem governados por políticos corruptos e incompetentes.
Sendo que, também é incontestável que, a má gestão da política arrasta as sociedades para situções críticas em que todas as vantagens e benefícios se concentram nas mãos de alguns, à custa da miséria, do sofrimento e das carências de grande parte dos outros.
A grande dificuldade é fazer entender, a quase todos, a evidência destas verdades tão simples.
Ocupo-me agora em preparar dois livros sobre João Dubraz, escritor nascido e sepultado em Campo Maior, tendo aqui vivido entre 1818 e 1895.
São dele as palavras que a seguir transcrevo e que copiei de uma obra que ele publicou em 1869:
Eu sou socialista, confesso-o sem esforço e denuncio-o com ingenuidade. Sou, porém, socialista de tal classe que, só perversos me podem condenar. O meu socialismo, simples e positivo, não tem névoas, nem lacunas. Respeita os bens alheios, dá e não tira, socorre sem aviltar e auxilia de modo a não corromper. Difere muito este socialismo do vulgar, do de escola, do condenado pelas ciências económicas e até difere da habitual definição.
O meu socialismo que somente significa reforma humanitária, das sociedades nacionais, é o método prático de tornar efectivo o princípio: “O homem tem direito à vida”. Consiste em implantar instituições públicas contra a fome, em obviar quanto possível ao suicídio, em acudir aos enfermos, em preservar o homem do crime, a mulher da devassidão, a juventude da ignorância e corrupção precoce, por meio de uma sabia previdência que se ocupe em evitar os crimes afastando-lhes as causas (…) Inspirando-se no trabalho, esse agente incansável abre caminhos largos à actividade, adversário da cupidez, combatendo com fervor as tendências para o egoísmo que esterilizam tudo o que é fecundo, nobre e grande.
Finalmente, o meu santo socialismo, aperta e multiplica todos os laços da fraternidade humana por leis justas e previdentes, sem menosprezar o princípio da associação que é utilíssimo tanto aos costumes, como aos interesses económicos, pois não se ocupa em dividir a terra em conventos sociais, nem em fazer dos operários os frades da civilização moderna. Assenta em bases tais, tão sensatas, tão destituídas de perigo, tão conformes com o direito, que é consentâneo com qualquer forma de governo, embora mais praticável se aliado com a democracia pura.
A democracia surgiu como um modelo de organização das sociedades humanas em que todos participavam nas decisões que garantissem o bem de todos. Para garantir um funcionamento justo, eram estabelecidas as regras que definiam a Lei. Escolhiam-se os que deviam tomar as decisões - os que governavam - e os que faziam respeitar a Lei - garantindo a segurança e a ordem, usando da autoridade.de que nela foram investidos.
A democracia nasceu por contraposição às monarquias e às oligarquias. Na monarquia, o poder concentrava-se num só que tudo podia e tudo decidia – o monarca ou soberano, o que está acima de todos ( o super). Na oligarquia o poder era assumido por uma elite, grupo restrito que definia as regras e tomava as decisões que impunha a toda a sociedade.
No fundo, em contraposição aos modelos de governação em que um, ou alguns, se constitem como senhores de tudo e de todos, a democracia define-se como modelo em que o poder de decisão (soberania) é atribuido pelo povo a alguns que o devem usar em benefício de todos.
Actualmente, em certos casos, a “republica de cidadãos” parece estar a ser substituida por uma “república dos funcionários”, ou seja, de indivíduos que fazem do poder um modo de vida que adquirem e tratam de manter com o voto do povo. Mas, em vez de assumirem o compromisso de agirem em benefício de todos, exercem o poder como forma de garantir o seu próprio benefício.
Claro que tudo isto se torna mais fácil quando os cidadãos são levados - por ignorância ou por truques de manipulação das inteligências e das consciências - a não participarem nas escolhas de quem deve governar, ou a fazerem escolhas erradas dos que devem ter o poder de decidir.
Uma coisa parece ser certa: Só com bons cidadãos se podem garantir as boas democracias. Como parece existir uma tendência para cada vez menos empenho e menos capacidade de intervenção dos cidadãos, cada vez se torna mais fraca a qualidade das democracias. E, infelizmente, muitos só conseguem perceber o valor do que têm quando o perdem e começam a sentir o peso da desgraça em que passaram a viver.
Por vezes sou vencido pela tentação do pessismo. É natural se considerarmos toda a confusão que se desenrola à nossa volta. Principalmente neste tempo em que de tudo vamos tendo constantes notícias. Sobretudo das coisas mais chocantes e mais trágicas.
Mas, se me questiono, acabo sempre por concluir que sou radicalmente optimista, pois considero que a humanidade evolui no sentido do seu contínuo aperfeiçoamento. Mesmo nos períodos mais críticos, sobram sempre as sementes de que irão brotar novas e melhores soluções.
Poderá acontecer uma catástrofe final? Talvez... Não sei e ainda bem que não posso sabê-lo. Mas sei que, até esse derradeiro momento, terá havido gente a esforçar-se para que tudo pudesse resolver-se da melhor maneira.
E, se o acaso ou a estupidez tiverem mais força e puserem fim a tudo?
Então já nada importará porque tudo terá deixado de fazer sentido.
Creio que era Gramski que costumava enunciar um dito que adoptara como atitude de vida:
Pessimismo do intelecto, optimismo da vontade.
No início da semana, regressei ao trabalho no livro que será o décimo que publicarei: “Vida e Obra de João Dubraz” e que, no essencial, está quase terminado.
Um pouco emperrado pela paragem que me impus durante um período, vou ocupar apenas curtos tempos até recuperar o ritmo ...
Com a semana a terminar, tenho acrescentado e corrigido quase todo o livro.
Acho que estou a voltar ao normal.
Façamos aqui uma pausa: É domingo... Acordei mais tarde e com pouca vontade de me mover...
Coisas da idade...
Já que o corpo não tem disposição... façamos uma pausa.
O problema é a falta de hábito – que se tornou falta de jeito – para nada fazer...
Então, o melhor é deixar fluir o pensamento:
- O estudo da História, entre outros efeitos, dota-nos da capacidade de entender que os acontecimentos do presente são, quase sempre, consequência de causas que os antecederam e que, logo que acontecem, se tornam causas de novas consequências que determinarão os acontecimentos do futuro.
- Procuro ter sempre como princípio, ser tolerante com os outros, nas suas acções, práticas, ditos e decisões. Mas, procuro também, ter sempre em conta, um princípio que considero ainda mais estruturante: Não consentir que os outros interfiram tentando modelar as minhas decisões e acções, de modo a mancharem o meu carácter: Não se trata de ser menos tolerante. Trata-se de tentar ser mais coerente.
Com isto vou conseguindo manter-me no caminho que tracei: conviver evitando conflitos, relacionar-me evitando ser intransigente.
Mas... sem nunca permitir que a minha tolerância se torne cumplicidade com atitudes e práticas que condeno por as considerar inaceitáveis.
(Domingo, 28 de Junho de 2015)
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