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NO SÃO MATEUS, EM ELVAS ( II )

por Francisco Galego, em 27.09.14

O Senhor da Piedade,

Tem vinte e quatro janelas;

Quem me dera ser pombinha,

Para pousar numa delas.[1]

 

As festas do São Mateus,

São as festas da cidade;

Quem me dera andar bailando,

No Senhor da Piedade. [2]

 

Ó Senhor da Piedade,

Na vossa capela o digo;

Já cá não venho outro ano,

Sem trazer o meu marido.[3]

 

Eu hei-de ir ao São Mateus,

P’ro ano se Deus quiser;

Este ano fui menina,

Pró ano volto mulher.

 

Ao Senhor da Piedade,

P’ro ano vou outra vez;

Quero ir agradecer-lhe,

O milagre que me fez.

 

Ao Senhor da Piedade,

Quero este ano lá ir;

Eu não lhe vou levar nada,

E nada lhe vou pedir.[4]



[1] Publicada em Gama, Eurico. (1965). O  Senhor Jesus da Piedade de Elvas, Elvas, 1965, p. 227.

[2] Idem, (1965). O Senhor Jesus da Piedade de Elvas, Elvas, 1965, p. 227.

[3] Idem, p. 322:

                                                               Ó Senhor da Piedade,

                                                               À sua porta lho digo;

                                                               Já cá não venho outro ano,

                                                               Sem trazer meu bem comigo.

    E, tal qual, publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 586, Elvas, 3 de Agosto de 1891.

[4] Idem, nota 8, p. 323.

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publicado às 12:38


NO SÃO MATEUS, EM ELVAS ( I )

por Francisco Galego, em 25.09.14

O São Mateus tinha tal efeito mobilizador sobre as gentes de Campo Maior que, mesmo os que a Elvas não se podiam deslocar, o celebravam com bailes e arruadas pelas ruas da vila, nos dias da sua celebração. Não admira, portanto, que tantas quadras, sendo quase sempre as de produção mais antiga, tenham como tema o Senhor da Piedade:

 

 

Se não fores ao São Mateus,

Havemos de combinar;

P’ra andarmos aqui na vila,

A noite toda a balhar.

 

Caminho da Feira d’Elvas,

Fica o monte dos Judeus;

Se encontrares o meu rapaz,

Dá-lhe lá recados meus.

 

Se eu for ao São Mateus,

Irei balhar c’o meu par;

Mulher que se sabe amada,

Está mais disposta a cantar.

 

Eu quero ir ao São Mateus,

Só para te ouvir cantar;

Não vou lá com outro fim,

Estou velho p’ra namorar.

 

Que o Senhor da Piedade,

Tenha por nós compaixão;

E nos dê por caridade,

Um ano farto de pão.

 

In, "Campo Maior - Cantar e Bailar as Saias", 2006.

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publicado às 12:33


CANTAR AS “SAIAS” NO SÃO MATEUS, EM ELVAS

por Francisco Galego, em 22.09.14

Na Feira do São Mateus apareciam as modas novas das “saias”, que cada comunidade preparava para apresentar nos bailes durante a feira que se armava, nos dias 19, 20 e 21 de Setembro, no sítio do Senhor da Piedade. Praticamente, até aos anos sessenta do século XX, o São Mateus manteve viva esta manifestação da cultura popular tão característica do Alto Alentejo: o “bailar e cantar as saias”. Com o desenvolvimento dos transportes motorizados e com as profundas transformações que se deram nas últimas décadas no mundo rural, romarias como as do Senhor da Piedade e da Feira do São Mateus em Elvas, sofreram também grandes modificações.

Noutros tempos este grande acontecimento anual, dava lugar a um intenso convívio pois, os que vinham de fora, deslocavam-se em carroças ditas de canudo por serem cobertas por uma protecção de forma cilíndrica, formada por uma estrutura de cana, coberta de uma tela de pano encerado, que protegia os passageiros da chuva e do sol. Com essas carroças, autênticos antepassados das actuais tendas e roulottes, formava-se um vasto acampamento no qual permaneciam, em alegre convívio, pessoas das mais variadas proveniências, algumas por cerca de uma semana. Aí se cozinhava e comia, aí se dormia e aí se cantava e dançava, sobretudo nas madrugadas, pois os bailes só podiam funcionar bem depois que se acalmava a barafunda da feira e se calava a algazarra dos tendeiros e das potentes aparelhagens sonoras dos circos e carrosséis.

 

In, "Campo Maior - Cantar e Bailar as Saias", 2006.

 

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publicado às 09:22


O SÃO MATEUS, EM ELVAS

por Francisco Galego, em 19.09.14

Tempos houve em que cada povoação tinha as suas próprias festas e romarias. Mas, algumas delas, por motivos religiosos, ou pelo brilho das suas realizações, atraíam gente de outras terras, tornando-se famosas como locais de trocas, de diversão e de peregrinação.

No Alto Alentejo, sobressaía entre todas a Feira de São Mateus, em Elvas. A Feira de São Mateus remonta ao século XVI pois, segundo os investigadores, terá começado a funcionar entre 1525 e 1574. Cerca de duzentos anos mais tarde, veio associar-se-lhe uma peregrinação que, a partir de 1737, se começou a fazer no sítio onde se construiu o santuário do Senhor Jesus da Piedade. Tanto a feira como a romaria ganharam grande importância entre as gentes do Alto Alentejo, tanto mais que a sua realização, coincidindo com o equinócio do Outono, marcava o período em que se dava por encerrado um ano agrícola e se começavam a tomar as disposições para o arranque do ano agrícola que se ia seguir.

As pessoas, em grande parte as que estavam mais ligadas ao trabalho nos campos – aproveitando a romaria pela devoção, e a Feira de São Mateus por ser local de trocas muito necessárias às actividades agrícolas, deslocavam-se a Elvas para aí permanecerem durante os três dias que durava o evento. Os transportes eram, nesses tempos, difíceis e lentos. Em volta do terreno da feira, formavam-se grandes acampamentos de gente vinda de quase todas as terras desta região.

Para além da grande diversidade de gentes que acorria a este evento, alguns vindo de terras bem distantes, é interessante constatar que, entre essas terras, tomavam relevo as gentes de Olivença, o que indica que eram ainda muito fortes os laços culturais que ligavam os oliventinos a Portugal.

A Feira de São Mateus em Elvas e a Romaria ao Senhor da Piedade tiveram o seu período de maior esplendor entre meados do século XIX e meados do Século XX.

 

In, "Campo Maior - Cantar e Bailar as Saias", 2006.

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publicado às 10:13


O PALÁCIO DE OLIVÃ – III

por Francisco Galego, em 16.09.14

- Com a implantação do liberalismo, em 1820 e, sobretudo pelos efeitos que a guerra civil, que lavrou até 1832, teve sobre algumas das mais importantes famílias da tradicional nobreza portuguesa, as quais, por terem seguido o partido absolutista de D. Miguel, foram expropriadas dos seus bens, o palácio parece ter entrado num período de decadência.

Em meados do século XIX o Palácio Olivã (dito Palácio do Visconde, onde hoje se encontra a Biblioteca Municipal) foi adquirido por um tal José Vitorino Machado, natural de Olivença. O qual, através do comércio conseguiu enriquecer, tornando-se grande proprietário e chegando mesmo a ocupar cargos elevados na administração local. Foi este senhor que adquiriu o Palácio dos Menezes (Casa do Barata), no qual viveu como nobre, embora fosse apenas um abastado plebeu. Casou com uma senhora elvense muito mais nova, que foi sua herdeira universal.

Esta senhora, depois da morte do seu primeiro marido, casou em segundas núpcias, com Cristóvão Cardoso de Albuquerque Barata, oriundo de Paredes de Coura, sargento de brigadas que serviu na guarnição de Elvas e depois na de Campo Maior. Este senhor foi, durante muito tempo chefe do Partido Progressista, tendo sido, durante muitos anos, investido no cargo de Administrador do Concelho. Por ter assumido a defesa do concelho de Campo Maior que esteve na iminência de ser extinto em Janeiro de 1868, viu o seu nome ser dado ao largo onde se situa o palácio de sua residência que passou a chamar-se Largo do Barata. Devido à sua acção como político e à benevolência da sua acção para com os mais humildes, veio a ser agraciado com a Comenda da Ordem de Cristo.

Seu filho, Cristóvão Cardoso Cabral Coutinho de Albuquerque Barata que fez carreira, primeiro como advogado, depois na magistratura, atingindo o cargo de Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, foi agraciado com o título de Visconde de Olivã.

A estes dois ilustres campomaiorenses se deve a restauração e conservação do palácio nos finais do século XIX e primeira metade do século XX.

                                              

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publicado às 12:37


O PALÁCIO DE OLIVÃ – II

por Francisco Galego, em 12.09.14

Estêvão da Gama de Moura e Azevedo, governador de Campo Maior entre 1706 e 1741, refere-se ao palácio (dito, Palácio Olivã, ou Palácio do Visconde, ou Casa do Barata, onde hoje se encontra a Biblioteca Municipal) do seguinte modo:

(Estas casas) são de D. João de Aguilar Mexia, no Terreiro das Estalagens, com oito janelas (altas) e outras tantas (janelas) baixas. Tem dentro uma horta com muitas árvores, uma fonte com a mesma água que vem à que tem nas fontes públicas o Povo. Nelas se tem acomodado o Sr. Infante D. Francisco, as três vezes que tem vindo a esta praça. Sendo a primeira em segunda-feira, 18 de Dezembro do ano de 1713, a segunda em 14 de Setembro de 1714, e a terceira em treze do dito mês do ano de 1715. Nestas mesmas casas se fez aposentadoria para S. Majestade, que Deus guarde, o ano de 1716, de que não usou, porque vindo no dia doze de Novembro a esta Praça voltou no mesmo a Elvas, por causa da chuva que sobreveio.

- Por este texto se pode concluir que, no início do século XVIII, o palácio seria, a mais nobre casa de Campo Maior, pois que, estando a vila em reconstrução depois do desastroso cerco de 1712, a vila, que ficara muito arruinada, foi visitada por um irmão de D. João V e foi neste palácio que esteve hospedado. O próprio rei que, por essa mesma altura, visitou a vila para observar o andamento da sua restauração, teve aposentos preparados neste palácio, não chegando a pernoitar neles. Regressou no mesmo dia a Elvas por receio dos efeitos que a chuva pudesse ter sobre os caminhos, dificultando o regresso. Por este tempo ainda não existia ponte sobre o Caia, na estrada para Elvas, tornando-se muito difícil de transpor a vau por se tornar muito caudaloso.

 

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publicado às 12:35


O PALÁCIO DE OLIVÃ – I

por Francisco Galego, em 08.09.14

 

O actual Palácio Olivã (dito Palácio do Visconde, onde hoje se encontra a Biblioteca Municipal) é certamente uma das mais nobres casas e, provavelmente, a mais antiga construção de Campo Maior, por ser uma das que conseguiu sobreviver à grande tragédia de 1732 em que do rebentamento do paiol da pólvora resultou a quase total destruição do casario desta vila raiana.

Na sua Galeria de Figuras, publicada nos anos 50 do século passado, João Pessoa escreve sobre D. Manuel de Menezes, natural de Campo Maior, cronista-mor do reino e com uma carreira começada ao lado do Prior do Crato e que terminou com a prestação de honrosos serviços no Oriente já sob o governo dos Filipes, o seguinte:

Encontrava-se no seu paço de Campo Maior, então cercado de vasta quinta (hoje, Casa do Barata), preocupado com o estudo e afastado das lides oficiais, quando em 1625, o nomearam General da Armada, para comandar a esquadra de vinte e seis navios guarnecidos por 24.000 homens, com a qual foi restaurar a cidade da Baía, usurpada pelos holandeses.

Este texto permite tirar algumas ilações importantes sobre o actua Palácio Olivã:

- Tendo os Menezes ocupado a função de governadores de Campo Maior, daí resulta que a sua residência fosse referida como o paço;

- Assim sendo, o nome da rua onde o palácio se localiza, não adveio de nela se localizar um passo processional, mas de ter sido a rua da residênciado do governador.

 

 

UMA NOTA DE SAUDAÇÃO:

 

 

JÁ SOMOS TÃO POUCOS OS QUE APARECEMOS NA PEQUENA "BLOGOSFERA" DESTE PEQUENO ESPAÇO QUE É CAMPO MAIOR, QUE NÃO POSSO DEIXAR DE SAUDAR O REAPARECIMENTO DO "FONTE DAS NEGRAS" QUE ESTAVA PARADO JÁ HÁ ALGUM TEMPO. SEJA BEM REAPARECIDO.

 

 

 

 

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publicado às 09:41


PREMONIÇÃO POÉTICA?

por Francisco Galego, em 04.09.14

A Comunidade Europeia Vai Ser um Logro.

 

 As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir.

Natália Correia, citada por Fernando Dacosta in 'O Botequim da Liberdade'

 

 

NOTA: Natália Correia morreu, aos 69 anos, em Lisboa, em 16 de Março de 1993

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publicado às 09:05


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