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AS “SAIAS” NOS CANCIONEIROS POPULARES ( IV )

por Francisco Galego, em 26.03.14

Quadras recolhidas por José Leite de Vasconcelos no seu “Cancioneiro Popular Português” ( 2 )

 

 

Eu nunca fui cantador,

 

Nem nos descantes achado;

 

Passo a vida a trabalhar,

 

Trago o meu corpo maçado.[1]

 

 

 

A vida que te darei,

 

Já a podes ir sabendo;

 

Trabalharemos os dois,

 

Assim iremos vivendo.

 

 

 

Nesta vida de ganhão,

 

Nem se pode namorar;

 

De dia ganha-se o pão,

 

A noite é p’ra descansar.

 

 

 

Ó meu bem apaga a luz,

 

Apaga-a vai-te deitar;

 

Já passa da meia-noite,

 

São horas de descansar.

 

 

 

Canta amor, canta comigo,

 

Já qu’outra alegria não temos;

 

Basta termos a certeza,

 

Que nunca nos apartemos.

 



[1]“Massado”= amassado, magoado, cansado.

 

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publicado às 10:37


AS “SAIAS” NOS CANCIONEIROS POPULARES ( III )

por Francisco Galego, em 19.03.14

Quadras recolhidas por José Leite de Vasconcelos no seu “Cancioneiro Popular Português”

 

 

Ó belo Campo Maior,

 

Com janelas à francesa;

 

Cantas bem, balhas[1] melhor,

 

Cantigas à camponesa

 

 

 

Ó belo Campo Maior,

 

Distrito de Portalegre;

 

No dia que te não vejo,

 

Já não posso andar alegre.

 

 

 

Raparigas alentejanas,

 

Eu sou de Campo Maior;

 

Tenho a minha fala presa,

 

Não posso cantar melhor.

 

 

 

Vou-me a cantar uma cantiga,

 

Já não canto senão esta;

 

Que o que é pouco bem fica,

 

O que é demais não presta.

 

 

 

Vou-me a dar a despedida,

 

Por hoje não canto mais;

 

Já tenho a garganta seca,

 

Já me doem os queixais.

 



[1] “Balhas” = bailas

 

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publicado às 09:22


HOMENAGEM A ALGUÉM QUE NÃO CONHECI

por Francisco Galego, em 15.03.14

Este cardeal, José Policarpo, que agora morreu e foi ontem sepultado, era uma figura pública com que eu simpatizava. Homem com grande carreira dentro da hierarquia eclesiástica. E, ao mesmo tempo com grande aceitação fora da Igreja.

Há excepções como esta. Nem era amaneirado no comportamento - tinha uma expressão e uma atitude completamente masculinizada – nem as suas acções mostravam respeito ou obediência reverencial – manifestava com frontalidade as suas opiniões e convicções.

 

Sempre tive facilidade em entender-me com gente que, assim como ele, assumiam a sua vivência do catolicismo que professavam. Tive mesmo amizade com alguns sacerdotes que tive o privilégio de conhecer e com os quais houve mesmo verdadeira amizade.

 

Em termos de crença em transcendências, desde muito cedo me convenci de que o agnosticismo era a posição em que me sentia mais à vontade. Mesmo quando as circunstâncias me aproximaram de outro tipo de crenças, de carácter mais imanente, que são as ideologias.

 

Crer foi verbo que nunca soube bem como assimilar. Sempre fui mais de procurar entender.

 

Sou capaz de entender e aceitar os princípios éticos e comportamentais propostos por uma doutrina. Por isso me sinto, tantas vezes, em consonância com os crentes religiosos, principalmente com os cristãos que são os que, por conhecer melhor, mais me influenciaram. Também me senti sempre mais em consonância com os que, partindo do marxismo, o praticam de facto enquanto doutrina. Mas não consigo aderir incondicionalmente a qualquer tipo de convicção. E isto aplica-se tanto às religiões como às ideologias.

 

Penso que assim acontece em relação ao cristianismo porque, partindo de uma crença que radica no judaísmo bíblico, se tornou doutrina vivida, atitude existencial, com a pregação e o exemplo de Jesus Cristo. Já o marxismo, que no início foi uma filosofia, se me tornou difícil de aceitar quando se tornou ideologia com o leninismo. Mas aceitou-o sempre que ele se configura como uma doutrina base da organização social.

 

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publicado às 15:31


AS “SAIAS” NOS CANCIONEIROS POPULARES ( II )

por Francisco Galego, em 05.03.14

O “Cancioneiro Popular Português” coligido por J.Leite de Vasconcelos

 

            José Leite de Vasconcelos deixou acumulados em pastas milhares de documentos que foi laboriosamente recolhendo ao longo da sua vida de 83 anos. Viveu entre 1858 e 1941.

            Os seus testamenteiros,  entre os quais se destaca para a missão de dar à estampa grande parte desses documentos, o Professor Orlando Ribeiro que, com a colaboração do professor Viegas Guerreiro, seu colega no Centro de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras de Lisboa, irão encarregar a Drª Maria Arminda Zaluar Nunes da coordenação do “Cancioneiro”.

 

            Nesta obra encontram-se as quadras com a indicação precisa da terra em que foram recolhidas.

            No que respeita ao Alentejo, podemos, a partir da correspondência trocada entre J.L. de Vasconcelos e A.T. Pires, deduzir que, na maior parte dos casos, os registos da recolhas efectuadas tenham sido feitos por volta de 1891, ano em que o eminente etnólogo viajou pelo Alto Alentejo, tendo sido visita e hóspede do etnógrafo elvense com quem se correspondia com grande frequência.

 

Neste cancioneiro, estando claramente indicada a sua identificação com Campo Maior, podemos proceder de modo diferente do que foi feito para o “cancioneiro” de Tomás Pires. Neste só podíamos concluir que algumas das cantigas recolhidas na actualidade constavam desse documento. Logo, é legitimo concluir que eram mais antigas do que, à partida poderíamos ter pensado. No “cancioneiro” de J. L. Vasconcelos vamos encontrar cantigas identificadas como sendo de Campo Maior que não constavam da recolha que foi feita para a elaboração deste livro. Poderá isso significar que elas não permaneceram na memória colectiva. Assim, porque um dos objectivos principais deste trabalho consiste na inventariação e na preservação do “cantar e bailar as saias”, houve o cuidado de transcrever as quadras claramente identificadas como tendo sido recolhidas em Campo Maior.

 



 

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publicado às 08:11


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