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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Os Cancioneiros coligidos e publicados por António Tomás Pires
No número 128 de 22 de Junho de 1881, o jornal elvense “A Sentinella da Fronteira” começou a publicar o folhetim “Poesia Popular Portuguesa – Cantos Populares do Alentejo – recolhidos da tradição oral por António Thomás Pires”. A sua publicação foi interrompida quando já iam publicadas 950 cantigas. A publicação recomeçou no número 230 de 14 de Junho de1883, mantendo-se até ao último número do jornal, o nº 590, que se publicou em 30 de Outubro de 1891, sendo que a última quadra publicada tinha o número 3.224. Como a numeração teve alguns saltos, não terá sido tão elevado o número das que foram publicadas. Terão, contudo, sido publicadas mais de duas mil. Publicaram-se ainda mais quadras noutro jornal – O Elvense – em 1885, no Folhetim “Miscellanea Folk-lorica”, entre os números 470 e 480.
A partir das quadras publicadas nestes jornais, foi possível identificar, ainda que sem grande rigor, cerca de duas centenas de “cantigas” que foram cantadas às “saias” em Campo Maior. O que de modo nenhum permitirá afirmar que tenham sido, todas elas, produzidas pela gente de Campo Maior. Os contactos que regularmente se faziam, principalmente no São Mateus, promoviam as trocas de que resultava que cada um levasse, de regresso à sua terra, as cantigas que mais o tinham impressionado.
Mas a identificação dessas cantigas com o cantar as “saias” em Campo Maior, permite a conclusão segura sobre a sua antiguidade. Por outro lado, foi possível recordar com rigor a memória de algumas delas que já estavam de facto esquecidas.
Nesta publicação, A. T. Pires não faz qualquer referência ao local onde cada quadra terá sido recolhida.
Mais tarde, os “Cantos Populares Portugueses” seriam reunidos em 4 volumes, tendo sido o 1º e o 2º publicados em 1902 , o 3º em 1909 e o 4º em 1910. Estes quatro volumes contêm 10.600 quadras, recolhidas por todo o país. Em cada quadra está a indicação da província em que foi recolhida, mas não há indicação da povoação em que tal terá sido efectuado.
“As saias são modas coreográficas do Alto Alentejo. Cantam-se ao despique durante as fainas agrícolas (apanha da azeitona, p. ex.) ou cantam-se e dançam-se no dia de S. João, em que aparecem as Saias novas, ou em festas colectivas, a exemplo das Festas do Povo, de Campo Maior.
Acompanham-se com uma pandeireta, que executa agilmente o ritmo e conduz a dança; uma voz feminina entoa o canto, de que nada de particular se pode assinalar do ponto de vista melódico.
As saias de Campo Maior denunciam, no dizer de F. Lopes Graça, ‘ com as suas coplas e o seu acompanhamento instrumental, do tipo de seguidilha, […] uma marcada influência espanhola.’ ”
( Michel Giacometti e Fernando Lopes Graça – “Cancioneiro popular português”, p. 324)
“SAIAS – A moda das saias é uma dança popular bailada principalmente pela gente do Alto Alentejo mas também bailada em algumas regiões do Ribatejo, da Beira Baixa, da Beira Litoral, da Estremadura, da Beira Alta e do Douro Litoral, Contudo, repetimos, é mais característica do Alto Alentejo e das terras interiores da Beira litoral e do Ribatejo – precisamente daquela região que outrora pertenceu à Estremadura (Tomar, Pombal, Ansião, Figueiró dos Vinhos, Chão de Couce, Avelar, etc.). é uma dança sincopada e, às vezes, com marcador.
O ritmo típico das saias é o binário; no Alto Alentejo o binário composto (6/8); no Douro Litoral, as saias têm um ritmo nortenho – binário simples (2/4).
Há quem pretenda aparentar as saias com a dança espanhola da Andaluzia conhecida pelo nome de “saeta”, porém nada de comum parecem ter, pois as saias são uma dança profana, de divertimento, ao passo que a “saeta” é uma dança acompanhada de canto litúrgico e só bailada como ritual das procissões.
A moda das saias tem vários aspectos, por isso há várias modalidades de saias:
a) Velhas – As antigas, em forma de valsa-mazurca;
b) Novas – As actuais, em forma de valsa campestre;
c) Aiadas – Aquelas em que o marcador grita um “ai” no estribilho, a indicar a volta;
d) Puladinhas (ou Pulado);
e) Com estribilho
As saias são modas acompanhadas de canto. Por isso, as saias são só para cantar ou para cantar e bailar. Quando cantadas possuem uma letra sem requebro. Quando só cantadas, durante o trabalho, as saias estão para a gente do Alto Alentejo como o tope está para a gente do Baixo Alentejo.
Nas saias, os estilos e modas (a música) bem como os pontos (a letra) são volantes e os seus ritmos, às vezes, variam, chegando a haver, na mesma região, várias saias de estilo e moda diferentes; algumas vezes, o mesmo ponto serve vários estilos, mas o mais vulgar é o mesmo estilo ser cantado com vários pontos.
Já no século XVII se dançavam as saias e parece que, então, elas se bailavam um pouco à maneira andaluza; tal modalidade arcaica ainda hoje se encontra em Escalos-de-Baixo.
É no Alto Alentejo, bailadas ao som de pandeiro e, às vezes, de pandeiro e adufe, que as saias são mais castiças.
(Tomaz Ribas – Danças do Povo Português, Ministério da Educação Nacional, Lisboa, 1ª ed. , 1961, pp.100-101)
Vejamos primeiramente algumas definições, chamando a atençãopara a pluradidade de referências que, ao longo do tempo, lhes foram sendo feitas. Em segundo lugar, constatemos que as saias foram, no passado, uma forma de cultura popular muito genuina e altamante criativa mas que actualmente estão em declínio, reduzindo-se a uma repetição de conjuntos restritos de quadras, sempre as mesmas e que as próprias melodias foram alteradas, acelerando-lhes o ritmo, para as adaptarem a um gosto mais citadino que pouco tem a ver com as "modas" que em tempos passados, eram constantemente renovadas pelos camponeses que as iam inventando.
Saias – Dança tradicional portuguesa típica do Alto Alentejo.
(“Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea”, Academia das Ciências de Lisboa, ed. Verbo, Lisboa, 2001, p. 3306)
Saias – Canção popular acompanhada de dança do Alto Alentejo.
(“Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, ed. Círculo de Leitores, Lisboa 2003, p. 3231).
Saias – Dança popular portuguesa, em especial no Alto Alentejo.
(“Dicionário da Língua Portuguesa”, de J. Almeida e Costa e A. Sampaio Melo, Porto Editora, 6ª ed. 1985, p. 1479)
Saias – Dança popular em Elvas e Campo Maior
In:
(“Grande Dicionário da Língua Portuguesa”, de António Morais Silva, Editorial Confluência, Lisboa, 1956)
(“Dicionário da Língua Portuguesa”, de Cândido Figueiredo, Bertrand Editora, 33ª ed., Venda Nova, 1973, p. 963)
(“Grande Dicionário da Língua Portuguesa”, de Cândido Figueiredo, Bertrand Editora, Venda Nova, 1996, p. 2260)
(“Lello Universal”, Porto, 1986)
Saias – Canção dançada, popular, localizada no Alto Alentejo, cuja fisionomia melódico-rítmica tem a particularidade de alternar compasso a compasso o seis por oito com o ternário. Existe na Andaluzia e em Cuba uma canção popular que oferece a mesma característica – é a guajira.
( Frederico de Freitas, in “Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura”, Editorial Verbo, Lisboa, 1974, 16º vol., p. 1074)
(Idem, in “Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura”, Lisboa, S. Paulo, 2002)
Saias e Balhos – Nome genérico que se dá às danças populares e bailes alentejanos, muitas vezes do tipo das rodas.
(“Enciclopédia Internacional Focus”, Livraria Sá da Costa, Lisboa, 1968, Vol. IV, p. 295)
Saias – Dança popular acompanhada a canto, característica do Alto Alentejo. Na sua linha melódico-rítmica alterna o compasso ternário com o compasso seis por oito, característica que também se encontra na canção popular denominada Guajira.
(“Lexicoteca – Moderna Enciclopédia Universal”, Círculo de Leitores, 1987, Vol. 16, p. 185)
Saias – Quadras populares, cujo estilo é apropriado a uma dança característica bastante movimentada. – Também assim é conhecida a referida dança em Elvas e Campo Maior. Noutros pontos do Alentejo, em Cabeção por exemplo, chamam saias novas a todas e quaisquer cantigas e modas que apareçam no folclore regional.
(Saias camponesas, “dança de roda” segundo Cândido de Figueiredo e Tomás Pires).
(J. A. Pombinho Júnior, “Cantigas Populares Alentejanas e seu subsídio para o léxico português”, Edições Marinus, Porto, 1936, pp. 89 e 90)
Estes versos, feitos para serem declamados, podem ter um ritmo e uma métrica diferentes e caracterizam-se pelo encadeado dos versos em função do tema escolhido como nuclear de cada poema.
A preocupação central destas com posições poéticas, é essencialmente narrativa. Em muitas delas predomina a ironia. Outras são mais descritivas, tendo frequentemente um intenção moralizante.
Quanto à estrutura formal, nas “décimas” aparece primeiro uma quadra a que se chama mote. Seguem-se depois quatro estrofes de dez versos (daí o nome décimas). Cada uma dessas estrofes ou décimas, acaba com o verso que, pela mesma ordem, aparece na quadra de mote. Assim, o primeiro verso do mote é o último da primeira décima, e o último verso do mote terá de ser o último verso da última décima.
No mote a rima é do tipo a,b,c,b ou a,b,a,b. Nas décimas o esquema de rima é o a,b,b,a,a,c,c,d,d,c.
MOTE
Eu também já fui à Lua
Vive-se lá muito bem,
Se a vida assim continua,
Fica a Terra sem ninguém.
I
D’ir onde os outros vão
Já chegou a minha vez,
Mas, como sou português,
Não fui à televisão.
Causou-me admiração,
O movimento na rua;
Não se vê lá terra crua,
É toda bem cultivada.
Fui e vim p’la mesma estrada,
Eu também já fui à Lua.
II
Fartei-me de lá gozar,
Numa grande brincadeira:
Aquelas lindas estrelas,
Todas me qu’riam beijar.
Depressa torno a voltar;
Dou-lhe a certeza, porém,
Tudo vai e tudo vem,
Vai em cima e vai ao fundo,
Lá em cima é outro mundo,
Vive-se lá muito bem.
III
Há um caminho directo
Para quem lá queira ir;
Não há mais que descobrir,
Seja longe ou seja perto,
Já está tudo descoberto,
Desde o ardo à charrua;
Se o foguetão não recua
Não temos onde poisar;
Pobre de que cá ficar,
Se a vida assim continua.
IV
Lá toda a gente trabalha
Sem pagar contribuições.
Lá não há oposições:
Todos comem e ninguém ralha,
Toda a gente s’agasalha
Conforme o frio que tem.
Seja aqui ou seja além,
Seja juiz, seja réu,
Vai tudo viver p’ró céu,
Fica a Terra sem ninguém.
(Manuel Paio)
Estes versos, feitos para serem declamados, podem ter um ritmo e uma métrica diferentes e caracterizam-se pelo encadeado dos versos em função do tema escolhido como nuclear de cada poema.
A preocupação central destas com posições poéticas, é essencialmente narrativa. Em muitas delas predomina a ironia. Outras são mais descritivas, tendo frequentemente um intenção moralizante.
Quanto à estrutura formal, nas “décimas” aparece primeiro uma quadra a que se chama mote. Seguem-se depois quatro estrofes de dez versos (daí o nome décimas). Cada uma dessas estrofes ou décimas, acaba com o verso que, pela mesma ordem, aparece na quadra de mote. Assim, o primeiro verso do mote é o último da primeira décima, e o último verso do mote terá de ser o último verso da última décima.
No mote a rima é do tipo a,b,c,b ou a,b,a,b. Nas décimas o esquema de rima é o a,b,b,a,a,c,c,d,d,c.
O MUNDO É UM JARDIM
MOTE
O mundo é um jardim
Composto com muita flor
Até hoje presentemente
Ninguém conheceu esse autor
I
Tão bem formado o ficou
Que não se nota um defeito
Fez a obra com preceito
O autor que o inventou
Tanta distância lhe ficou
Que ninguém sabe o seu fim
Meus senhores eu falo assim
Porque não estou no role dos descrentes
Mas para recreio dos viventes
O mundo é um jardim
II
Onde estará esse grande mestre
Que não precisou ser ensinado
Com o seu saber admirado
Formou o arco celeste
Fez um lindo rosal campestre
Composto com diversas cores
Esse artista, esse actor
Trabalhou com grande excesso
Abalou, ficou o universo
Composto com muita flor
III
Depois de o mundo completo
Dizem que foi feito em três dias
Para mim era só alegrias
Ver esse hábil decreto
Dizem que anda de nós perto
Mas que anda ocultamente
Não há nem sequer um vivente
Que me diga por aqui passou
E com ele ninguém falou
Até hoje presentemente
IV
Está escrito que foi Adão
O primeiro homem que apareceu
A quem esse mestre deu
A vida e a salvação
Profeta Jacob e rei Salomão
Qual dos três tem mais valor
Foi por graça do Senhor
Já cá temos reparado
Mas não há ninguém criado
Que conhecesse esse autor
(José Francisco Rúbio)
Estes versos, feitos para serem declamados, podem ter um ritmo e uma métrica diferentes e caracterizam-se pelo encadeado dos versos em função do tema escolhido como nuclear de cada poema.
A preocupação central destas com posições poéticas, é essencialmente narrativa. Em muitas delas predomina a ironia. Outras são mais descritivas, tendo frequentemente um intenção moralizante.
Quanto à estrutura formal, nas “décimas” aparece primeiro uma quadra a que se chama mote. Seguem-se depois quatro estrofes de dez versos (daí o nome décimas). Cada uma dessas estrofes ou décimas, acaba com o verso que, pela mesma ordem, aparece na quadra de mote. Assim, o primeiro verso do mote é o último da primeira décima, e o último verso do mote terá de ser o último verso da última décima.
No mote a rima é do tipo a,b,c,b ou a,b,a,b. Nas décimas o esquema de rima é o a,b,b,a,a,c,c,d,d,c.
VOU CONTAR A MINHA VIDA
MOTE
Vou contar a minha vida
Aos senhores que estão presentes
Desde a hora em que eu nasci
Até ao dia corrente
I
No dia dezoito de Fevereiro
De mil novecentos e trinta e seis
Foi nascido este camponês
Com o dote de pouco dinheiro
Com o meu nome verdadeiro
Sempre tem tido voz activa
E levo a carreira seguida
Na flor da mocidade
Isto e só a realidade
Vou contar a minha vida
II
Nos tempos da minha infância
Não queria senão brincar
Não é caso para admirar
Que eu ainda era criança
Aos sete anos fiz mudança
Sobre o número dos viventes
Seguindo conselhos prudentes
Peguei na minha sacola
Também entrei numa escola
Senhores que estão presentes
III
Quando as aulas terminei
Quiseram-me meter de caixeiro
Fizeram de mim prisioneiro
Foi lugar que rejeitei
Foi então que me subjuguei
Ao que a minha ideia quis
E apesar de ser petiz
Eu fui p´ra ajuda de gado
Por tudo isto tenho passado
Desde a hora em que eu nasci
IV
Já fui carreiro e ganhão
Adubeiro e corta rama
Tenho deixado boa fama
Em qualquer colocação
Espero mudar de situação
Talvez muito de repente
Para que venha ser um agente
Da guarda republicana
E é historia que me acompanha
Até ao dia corrente
(José Francisco Rúbio)
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