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CANTIGAS A CAMPO MAIOR ( VI)

por Francisco Galego, em 29.01.13

A rua da Costanilha,

É custosa de subir,

Os olhos do meu amor,

É que me fazem lá ir.

 

No coração duma pomba,

Nas asas duma andorinha,

Eu fui ver o meu amor,

À rua da Canadinha.

 

A rua do Quebra-costas,

Dá a volta pr’ó castelo,

Nem teu pai nem tua mãe,

Sabem o bem que te quero.

 

Ontem à noite à meia-noite,

À meia-noite seria,

Estava meu amor cantando,

No canto da Mouraria.

 

Eu criei-me na Caleja,

Que é uma rua pobrezinha;

Das outras não tenho inveja,

Não há rua como a minha.

                                                       

Com sangue duma andorinha,

Com a pena dum pavão,

Pus-me a escrever uma carta,

P’ra rua de São João.

 

Eu fui ver a minha amada

À rua de São João,

Parecia uma santinha

Passando na procissão.

 

Igreja de São João,

Tem dois vasos d’assucena;

Lá irei p’ra ver as moças,

A saírem da novena.

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publicado às 08:12


CANTIGAS A CAMPO MAIOR ( V )

por Francisco Galego, em 22.01.13

Lá por fora, em terras distantes, recordava-se a terra que se deixara.

A emigração era uma dor que o tempo iria atenuando. Mas, agora que estava tão próximo do tempo em que se abalara, acudiam à mente e ao sentimento tantas recordações.... Por isso, cantavam-se as ruas, os sítios e os recantos onde se vivera, brincara e convivera, durante a infância e a mocidade:

 

Campo Maior teu jardim,

É tão bom como os melhores,

Quer de dia quer de noite,

Nele passeiam amores.

 

Vila de Campo Maior,

Tua beleza é tamanha,

Que até tens o rio Caia,

Bem encostadinho à Espanha.

 

Ruinha de Santo António,

Sempre dela gostarei.

É uma rua pequenina,

Mas foi lá que me criei;               

 

Sou soldado d’acavalo,

À porta da vila entrei,

Fui rua Direita abaixo,

Nem para o Convento olhei.

 

Ó bela rua Direita,

Entrada das espanholas;

Toca-me essa pandeireta,

Repenica as castanholas.

                               

Na rua da Soalheira,

Não se pode namorar;

De dia, velhas à porta,

De noite, cães a ladrar.[1]

                                                       

Olha lá, ó linguareira,

Que andas a remoer?

Da rua da Soalheira,

Ninguém tem nada a dizer.



[1] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 333, Elvas, 12 de Agosto de 1884,  mas com o 1º verso mudado: Na rua do Espírito Santo

 

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publicado às 07:04


CANTIGAS A CAMPO MAIOR ( IV )

por Francisco Galego, em 15.01.13

Já Elvas se está queixando

Que não tem moças formosas,

Cheguem-se a Campo Maior

Que até as silvas dão rosas.         

 

Ó belo Campo Maior

Não és vila nem cidade,

És uma capela d’ouro

Onde brilha a mocidade.

 

Campo Maior minha terra

Terra d’encantos sem par,

Teus cantos e teus recantos

São difíceis d’igualar.

 

Ó belo Campo Maior,

Tudo à roda são “calitros”;[1]

Se tu me quisesses bem,

Não te fiavas em ditos.

 

Ó belo Campo Maior,

És comparado com França;

O adro de São João,

Tem gradarias em lança.[2]

 

Moças de Campo Maior,

Vão bailar par’o castelo;

Todas levam na cabeça,

O seu lencinho amarelo.[3] 

 

Ó Campo Maior das flores,

Onde tenho a minha amada;

Se não logro ver seus olhos,

Minha sorte é desgraçada.[4]



[1] Calitros = eucaliptos

[2] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 420, Elvas, 14 Março de 1886.

[3]  Idem, nº 423, Elvas, 4 de Abril de 1886.

[4] Publicada em Achegas para o Cancioneiro Popular Corográfico do alto Alentejo, por J.A. Pombinho Júnior, 1957, p. 56

 

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publicado às 16:56


CANTIGAS A CAMPO MAIOR ( III )

por Francisco Galego, em 07.01.13

 

Elvas porque é cidade,

Vila Boim por nobreza,

Vila de Campo Maior,

Onde está minh’ alma presa.

 

Camponesa, camponesa,

Eu sou de Campo Maior;

Tenho a minha fala presa,

Não posso cantar melhor.[1]

 

Adeus Monte da Defesa,

Tão branquinho e posto ao sol;

Minha mãe é camponesa,

Eu sou de Campo Maior.[2]

 

Nossa fala alentejana

Não a podemos negar;

Toda a gente nos conhece

Pelo modo de cantar.

 

Tenho um amor na cidade,

Outro em Vila Boim,

Outro em Campo Maior,

Esse é que me mata a mim.

 

Aldeia de Santa Eulália

E Povo de São Vicente,

Mas é em Campo Maior,

Que eu tenho a minha gente.

 

Eu venho de muito longe

A passar a Montemor;

Minha fala não conhecem,

Eu sou de Campo Maior.

 

Fui a Espanha fui espanhol,

Fui a França fui francês,

Cheguei a Campo Maior,

Agora sou camponês.



 



[1] Publicada em Achegas para o Cancioneiro Popular Corográfico do Alto Alentejo, por J.A. Pombinho Júnior, 1957, pág. 58

[2] Idem, nº 496, Elvas, 27 de Setembro de 1887, recolha de A. T. Pires, com pequenas diferenças.

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publicado às 19:08


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