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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
A rua da Costanilha,
É custosa de subir,
Os olhos do meu amor,
É que me fazem lá ir.
No coração duma pomba,
Nas asas duma andorinha,
Eu fui ver o meu amor,
À rua da Canadinha.
A rua do Quebra-costas,
Dá a volta pr’ó castelo,
Nem teu pai nem tua mãe,
Sabem o bem que te quero.
Ontem à noite à meia-noite,
À meia-noite seria,
Estava meu amor cantando,
No canto da Mouraria.
Eu criei-me na Caleja,
Que é uma rua pobrezinha;
Das outras não tenho inveja,
Não há rua como a minha.
Com sangue duma andorinha,
Com a pena dum pavão,
Pus-me a escrever uma carta,
P’ra rua de São João.
Eu fui ver a minha amada
À rua de São João,
Parecia uma santinha
Passando na procissão.
Igreja de São João,
Tem dois vasos d’assucena;
Lá irei p’ra ver as moças,
A saírem da novena.
Lá por fora, em terras distantes, recordava-se a terra que se deixara.
A emigração era uma dor que o tempo iria atenuando. Mas, agora que estava tão próximo do tempo em que se abalara, acudiam à mente e ao sentimento tantas recordações.... Por isso, cantavam-se as ruas, os sítios e os recantos onde se vivera, brincara e convivera, durante a infância e a mocidade:
Campo Maior teu jardim,
É tão bom como os melhores,
Quer de dia quer de noite,
Nele passeiam amores.
Vila de Campo Maior,
Tua beleza é tamanha,
Que até tens o rio Caia,
Bem encostadinho à Espanha.
Ruinha de Santo António,
Sempre dela gostarei.
É uma rua pequenina,
Mas foi lá que me criei;
Sou soldado d’acavalo,
À porta da vila entrei,
Fui rua Direita abaixo,
Nem para o Convento olhei.
Ó bela rua Direita,
Entrada das espanholas;
Toca-me essa pandeireta,
Repenica as castanholas.
Na rua da Soalheira,
Não se pode namorar;
De dia, velhas à porta,
De noite, cães a ladrar.[1]
Olha lá, ó linguareira,
Que andas a remoer?
Da rua da Soalheira,
Ninguém tem nada a dizer.
[1] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 333, Elvas, 12 de Agosto de 1884, mas com o 1º verso mudado: Na rua do Espírito Santo
Já Elvas se está queixando
Que não tem moças formosas,
Cheguem-se a Campo Maior
Que até as silvas dão rosas.
Ó belo Campo Maior
Não és vila nem cidade,
És uma capela d’ouro
Onde brilha a mocidade.
Campo Maior minha terra
Terra d’encantos sem par,
Teus cantos e teus recantos
São difíceis d’igualar.
Ó belo Campo Maior,
Tudo à roda são “calitros”;[1]
Se tu me quisesses bem,
Não te fiavas em ditos.
Ó belo Campo Maior,
És comparado com França;
O adro de São João,
Tem gradarias em lança.[2]
Moças de Campo Maior,
Vão bailar par’o castelo;
Todas levam na cabeça,
O seu lencinho amarelo.[3]
Ó Campo Maior das flores,
Onde tenho a minha amada;
Se não logro ver seus olhos,
Minha sorte é desgraçada.[4]
Elvas porque é cidade,
Vila Boim por nobreza,
Vila de Campo Maior,
Onde está minh’ alma presa.
Camponesa, camponesa,
Eu sou de Campo Maior;
Tenho a minha fala presa,
Não posso cantar melhor.[1]
Adeus Monte da Defesa,
Tão branquinho e posto ao sol;
Minha mãe é camponesa,
Eu sou de Campo Maior.[2]
Nossa fala alentejana
Não a podemos negar;
Toda a gente nos conhece
Pelo modo de cantar.
Tenho um amor na cidade,
Outro em Vila Boim,
Outro em Campo Maior,
Esse é que me mata a mim.
Aldeia de Santa Eulália
E Povo de São Vicente,
Mas é em Campo Maior,
Que eu tenho a minha gente.
Eu venho de muito longe
A passar a Montemor;
Minha fala não conhecem,
Eu sou de Campo Maior.
Fui a Espanha fui espanhol,
Fui a França fui francês,
Cheguei a Campo Maior,
Agora sou camponês.
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