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OS OUTROS TRABALHOS ( III )

por Francisco Galego, em 31.10.12

Hoje não fui escardar,

P’ra falar ao meu Joaquim;

Não quero que ele abale,

Sem se despedir de mim.

 

Não quero mais ir à escarda,

Não quero mais escardar;

Foi na escarda que ganhei,

Dinheiro p’ra me casar.[1]

 

A vida do almocreve,

É uma vida arriscada;

Ao subir duma ladeira,

Ao cerrar uma carrada.[2]

 

Eu fui lá ao São Mateus,

No ano em que choveu milho;

Encontrei o meu amor,

Fabricante de ladrilho.[3]

 

Não quero amor d’alvanéu,

Que trabalha lá no alto;

Pode cair e morrer,

Vive sempre em sobressalto.[4]



[1] Publicada em Cantos Populares Portugueses – Recolhidos da tradição oral por A. T. Pires, Elvas (1902-1910), p. 140.

[2] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 425, Elvas, 18 de Abril de 1886.

Publicada também em Cancioneiro Popular, por Jaime Cortesão. Porto, 1914, pág. 84.

[3] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 425, Elvas, 18 de Abril de 1886

[4] Idem, nº 361, Elvas, 23 Fevereiro de 1885.

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publicado às 17:16


OS OUTROS TRABALHOS ( I I )

por Francisco Galego, em 24.10.12

O ofício d’alvanéu,

É ofício de grandeza;

Trabalham com colher d’aço,

Que a de pau é baixeza.[1]

 

O meu amor é do campo,

É do campo e é quinteiro;

Rega o pé ao laranjal,

A raiz ao limoeiro.[2]

 

 

Sapateiros não são homens,

Alfaiates também não;

Homens são os cavadores,

Que cavam na terra o pão.

 

Mal empregada fui eu,

Ferreiro na tua mão;

Era branca fiz-me negra,

De andar ao pé do carvão.[3]

                                                       

Boieiro vai para os bois,

Que a manhã já vem rompendo;

Não quero que teu amo diga,

Que eu te estive entretendo.[4]



[1] Idem, nº 286, Elvas, 4 de Janeiro de 1884.

[2] Idem, nº 283, Elvas, 21 de Dezembro de 1883.

[3] Idem, nº 233, Elvas, 24 de Junho de 1883.

[4] Idem, nº 162, Elvas, 19 de Junho de 1882, mas com algumas diferenças.

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publicado às 17:15


OS OUTROS TRABALHOS ( I )

por Francisco Galego, em 17.10.12

Vou lavar roupa à ribeira,

Estendo a roupa a corar;

Nunca chorei por amores,

Como hei-de agora chorar.

 

Canta o cantoneiro na estrada,

Na quinta canta o quinteiro;

Canta a moça bem prendada

E canta o rapaz solteiro.

                                 

O meu amor é caixeiro,

Tem fitas para me dar;

Vale mais que quem não tem,

Nem dinheiro p’ras comprar.[1]

 

Empregados no comércio,

Não têm aceitação,

Pois só sabem encostar,

À gaveta do patrão.[2]

 

Alfaiate ou sapateiro,

Isso sim que é bom artista,

Trabalham, ganham dinheiro,

E estão sempre à nossa vista.[3]

 



[1] Idem, nº 159, Elvas, 8 de Outubro de 1882.

[2] Idem, nº 235, Elvas, 1 de Julho de 1883.

[3] Idem, nº 579, Elvas, 25 de Janeiro de 1891.

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publicado às 17:09


OS TRABALHOS E OS DIAS NO CAMPO IV

por Francisco Galego, em 10.10.12

Não quero amor de carreiro,

Que tem a vida arriscada;

Quero amor de ganadeiro,

Que vai dormir à malhada.[1]

 

P’ra carregar um carreiro,

Para lavrar um ganhão;

P’ra namorar um padeiro,

Um guarda p’ra mandrião.[2]

                                                       

O meu amor é pastor,

Guarda ovelhas d’alavão[3];

E já tem malhada assente,

Dentro do meu coração.[4]

 

Toda a vida guardei gado,

Eu sempre fui ganadeiro;

Uso safões e cajado,

Uso pelico[5] e caldeiro

 

Contrabandista valente,

Corres campinas e vaes[6];

Com guardas pela frente,

Com pistolas e punhais.[7]



[1] Idem, nº 580, Elvas, 23 de Fevereiro de 1891.

[2] Publicada em Cantos Populares Portugueses – Recolhidos da tradição oral por A. T. Pires, Elvas (1902-1910), p. 130.

[3] Ovelhas paridas, à quais se destinavam os melhores pastos pois produziam leite para fabrico de queijos.

[4] Publicada em Cantos Populares Portugueses – Recolhidos da tradição oral por A. T. Pires, Elvas (1902-1910), p. 130.

[5] Peça de vestuário, espécie de agasalho masculino, fabricada com pele de ovelha.

[6] Vaes  = Vales

[7] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 580, Elvas, 23 de Fevereiro de 1891.

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publicado às 17:07


OS TRABALHOS E OS DIAS NO CAMPO ( III )

por Francisco Galego, em 03.10.12

Ando lavrando de noite,

Podendo de dia andar;

Ando fazendo o alqueive,

P’ra se poder semear.[1]

 

À casa que leva a palha,

Logo lhe chamam palheiro;

Eu tenho na minha sina,

De casar com um carreiro.

 

Mesmo ao andar escardando,

Colhendo ervas à mão;

Não deixo de ser briosa,

Como aquelas que o são.

 

Belo Monte da De Castro,

Quem me dera agora lá;

Para ver o meu amor,

De saúde como está.

 

Belo Monte D’Atalaia.

Belo D’Atalaia Monte;

Bela Ribeira de Caia,

Co’a Amoreirinha defronte.



[1] Idem, nº 570, Elvas, 11 de Maio de 1890.

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publicado às 17:05


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