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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Mas um cancioneiro geral do trabalho e das gentes que viviam do trabalho nos campos teria de referir muitas outras tarefas e muitas outras ocupações:
( III )
25.
Alfaiate ou sapateiro,
Isso sim que é bom artista,
Trabalham, ganham dinheiro,
E estão sempre à nossa vista.[1]
26.
O ofício d’alvanéu,
É ofício de grandeza;
Trabalham com colher d’aço,
Que a de pau é baixeza.[2]
27.
O meu amor é do campo,
É do campo e é quinteiro;
Rega o pé ao laranjal,
A raiz ao limoeiro.[3]
28.
Sapateiros não são homens,
Alfaiates também não;
Homens são os cavadores,
Que cavam na terra o pão.
29.
Mal empregada fui eu,
Ferreiro na tua mão;
Era branca fiz-me negra,
De andar ao pé do carvão.[4]
30.
Boieiro vai para os bois,
Que a manhã já vem rompendo;
Não quero que teu amo diga,
Que eu te estive entretendo.[5]
31.
Hoje não fui escardar,
P’ra falar ao meu Joaquim;
Não quero que ele abale,
Sem se despedir de mim.
32.
Não quero mais ir à escarda,
Não quero mais escardar;
Foi na escarda que ganhei,
Dinheiro p’ra me casar.[6]
33.
A vida do almocreve,
É uma vida arriscada;
Ao subir duma ladeira,
Ao cerrar uma carrada.[7]
34.
Eu fui lá ao São Mateus,
No ano em que choveu milho;
Encontrei o meu amor,
Fabricante de ladrilho.[8]
35.
Não quero amor d’alvanéu,
Que trabalha lá no alto;
Pode cair e morrer,
Vive sempre em sobressalto.[9]
36.
Andei desde pequenina,
Pelas casas a servir;
Não tenho nada de meu,
Mais que a roupa de vestir.
Olha o triste sapateiro,
Está batendo a sola ao sol;
Agachado no tripé,
Passando o fio no cerol.[10]
Não há nada mais bonito,
Que um marido lavrador;
Eu hei-de casar contigo,
Hás-de ser o meu amor.
Já não há p’raí quem queira,
Acomodar um ganhão;
P’ró alqueive e sementeira,
E p’ra ceifa no Verão.[11]
Esta vida de boieiro,
É uma vida arrastada;
Não tem noite nem tem dia,
Nem sesta nem madrugada.[12]
Triste vida a dum ganhão,
Andar sempre a trabalhar;
Dá-lhe Deus uma doença,
Vai morrer ao hospital.[13]
O amor do lavrador,
É que agrada às raparigas;
Boa bota, boa calça
E chapéu preto à rebimba.
O meu amor é do campo,
Do campo e sabe lavrar;
Não é paivante da vila,
Que só saiba namorar.[14]
O meu amor é do campo,
É do campo é camponês;
Mais vale um amor do campo,
Que da vila dois ou três.[15]
A enxada com que cavo,
Meu pai com ela cavou;
O arado com que lavro,
Foi deixas do meu avô.
[1] Idem, nº 579, Elvas, 25 de Janeiro de 1891.
[2] Idem, nº 286, Elvas, 4 de Janeiro de 1884.
[3] Idem, nº 283, Elvas, 21 de Dezembro de 1883.
[4] Idem, nº 233, Elvas, 24 de Junho de 1883.
[5] Idem, nº 162, Elvas, 19 de Junho de 1882, mas com algumas diferenças.
[6] Publicada em Cantos Populares Portugueses – Recolhidos da tradição oral por A. T. Pires, Elvas (1902-1910), p. 140.
[7] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 425, Elvas, 18 de Abril de 1886.
Publicada também em Cancioneiro Popular, por Jaime Cortesão. Porto, 1914, pág. 84.
[8] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 425, Elvas, 18 de Abril de 1886
[9] Idem, nº 361, Elvas, 23 Fevereiro de 1885.
Mas um cancioneiro geral do trabalho e das gentes que viviam do trabalho nos campos teria de referir muitas outras tarefas e muitas outras ocupações:
( II )
13.
À casa que leva a palha,
Logo lhe chamam palheiro;
Eu tenho na minha sina,
De casar com um carreiro.
14.
Mesmo ao andar escardando,
Colhendo ervas à mão;
Não deixo de ser briosa,
Como aquelas que o são.
15.
Belo Monte da De Castro,
Quem me dera agora lá;
Para ver o meu amor,
De saúde como está.
16.
Belo Monte D’Atalaia.
Belo D’Atalaia Monte;
Bela Ribeira de Caia,
Co’a Amoreirinha defronte.
17.
Não quero amor de carreiro,
Que tem a vida arriscada;
Quero amor de ganadeiro,
Que vai dormir à malhada.[1]
18.
P’ra carregar um carreiro,
Para lavrar um ganhão;
P’ra namorar um padeiro,
Um guarda p’ra mandrião.[2]
19.
O meu amor é pastor,
Guarda ovelhas d’alavão[3];
E já tem malhada assente,
Dentro do meu coração.[4]
20.
Toda a vida guardei gado,
Eu sempre fui ganadeiro;
Uso safões e cajado,
Uso pelico[5] e caldeiro
21.
Contrabandista valente,
Corres campinas e vaes[6];
Com guardas pela frente,
Com pistolas e punhais.[7]
22.
Vou lavar roupa à ribeira,
Estendo a roupa a corar;
Nunca chorei por amores,
Como hei-de agora chorar.
23.
Canta o cantoneiro na estrada,
Na quinta canta o quinteiro;
Canta a moça bem prendada
E canta o rapaz solteiro.
O meu amor é caixeiro,
Tem fitas para me dar;
Vale mais que quem não tem,
Nem dinheiro p’ras comprar.[8]
Empregados no comércio,
Não têm aceitação,
Pois só sabem encostar,
À gaveta do patrão.[9]
24.
Alfaiate ou sapateiro,
Isso sim que é bom artista,
Trabalham, ganham dinheiro,
E estão sempre à nossa vista.[10]
[1] Idem, nº 580, Elvas, 23 de Fevereiro de 1891.
[2] Publicada em Cantos Populares Portugueses – Recolhidos da tradição oral por A. T. Pires, Elvas (1902-1910), p. 130.
[3] Ovelhas paridas, à quais se destinavam os melhores pastos pois produziam leite para fabrico de queijos.
[4] Publicada em Cantos Populares Portugueses – Recolhidos da tradição oral por A. T. Pires, Elvas (1902-1910), p. 130.
[5] Peça de vestuário, espécie de agasalho masculino, fabricada com pele de ovelha.
[6] Vaes = Vales
[7] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 580, Elvas, 23 de Fevereiro de 1891.
[8] Idem, nº 159, Elvas, 8 de Outubro de 1882.
[9] Idem, nº 235, Elvas, 1 de Julho de 1883.
[10] Idem, nº 579, Elvas, 25 de Janeiro de 1891.
Mas um cancioneiro geral do trabalho e das gentes que viviam do trabalho nos campos teria de referir muitas outras tarefas e muitas outras ocupações:
( I )
1.
As moças deste ranchinho,
Andam sempre numa fona;
Trabalham sempre a cantar,
Na vindima e n’azeitona.
2.
Vão à colheita dos grãos,
Não lhes faz mossa o calor;
Vão colhendo e vão cantando,
Cantigas ao seu amor.
3.
O meu amor é carreiro,
Ajuda de maioral;
Quando vem guiando as bestas,
Parece-me um general.
4.
O meu amor é carreiro,
Que linda figura faz;
Toda a gente me dizia,
Namora-o que é bom rapaz.
5.
O meu amor é ganhão,
Trabalha a terra vermelha;
P’ra nela semear pão,
Lavra-a com sua parelha.
6.
Quem me dera ser ganhão,
Para lavrar no teu peito;
Embora mal te conheça,
Deixava alqueive bem feito.
7.
Se queres saber a glória,
Qu’alcança o pobre ganhão,
Vê as mãos cheias de calos,
Do cabo do enxadão.[1]
8.
Já não há quem queira dar,
Uma filha a um ganhão;
Estão à espera que venha,
De fora algum pimpão.
9.
Já não há quem queira dar,
Uma filha a um soldado;
Pensando que há-de vir,
Das ilhas algum morgado.[2]
10.
Já não há quem queira dar,
Uma filha a um carreiro;
Estão à espera que venha,
Do Brasil um brasileiro.
11.
Ando lavrando de noite,
Podendo de dia andar;
Ando fazendo o alqueive,
P’ra se poder semear.[3]
12.
Ando lavrando de noite,
Podendo de dia andar;
Ando fazendo o alqueive,
P’ra se poder semear.[4]
[2] Idem, nº 570, Elvas, 11 de Maio de 1890.
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