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CANTAR A FEIRA DE ELVAS

por Francisco Galego, em 25.09.11

Feira d’Elvas, Feira d’Elvas,

Feira d’Elvas da cidade;

Quem me dera estar bailando,

No Senhor da Piedade.

 

Daqui p’ra cidade d’Elvas,

São três léguas, nada mais;

Ai que estrada tão comprida,

Tão seguida dos meus ais.

 

Daqui pr’a cidade d’Elvas,

Tudo é caminho chão;

Tudo são cravos e rosas,

Dispostos p’la minha mão.

 

Já Elvas não é cidade,

Nem vila lhe chamarão;

Já os Arcos d’Amoreira,

Deram consigo no chão

 

Belos Arcos d’Amoreira

Foram feitos sem ventura;

Por baixo estrada real,

Caminho pr’a sepultura

 

Também neste, como nos outros tipos de cantigas de “saias”, não podiam faltar as cantigas de escarnecer:

 

Eu hei-de ir à Feira d’Elvas,

No carro do João Vieira;

C’uma roda de toucinho

E outra roda de farinheira.

 

Caminho da Feira d’Elvas,

Fica o monte dos Judeus;

Se encontrares o meu rapaz,

Dá-lhe lá recados meus.

 

 

 

 

 

 

                                     

 

           

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publicado às 19:07


CANTAR AO SENHOR DA PIEDADE

por Francisco Galego, em 24.09.11

As festas do São Mateus,

São as festas da cidade;

Quem me dera andar bailando,

No Senhor da Piedade.

 

Já perdi o norte à terra,

No caminho da cidade;

Já nem sei p’ra onde fica,

O Senhor da Piedade.

 

Que o Senhor da Piedade,

Tenha por nós compaixão;

E nos dê por caridade,

Um ano farto de pão.

 

O Senhor da Piedade,

Tem vinte e quatro janelas;

Quem me dera ser pombinha,

Para pousar numa delas.

 

Ó Senhor da Piedade,

Na vossa capela o digo;

Já cá não venho outro ano,

Sem trazer o meu marido.

 

Ao Senhor da Piedade,

P’ro ano vou outra vez;

Quero ir agradecer-lhe,

O milagre que me fez.

 

Ao Senhor da Piedade,

Quero este ano lá ir;

Eu não lhe vou levar nada,

E nada lhe vou pedir.

 

Zanguei-me com meu amor,

Já se acabou a amizade;

À noite cantei melhor,

No Senhor da Piedade.

 

O Senhor da Piedade,

Não está em casa foi fora;

Foi visitar os enfermos,

Que estão na última hora.

 

O Senhor da Piedade,

Tem uma prenda de valia;

Uma fonte de repuxo,

Com pedra de cantaria.

 

No Senhor da Piedade,

Muita coisa lá se faz;

Uns arranjam rapariga,

Outras ficam sem rapaz.

 

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publicado às 18:57


CANTAR O SÃO MATEUS

por Francisco Galego, em 22.09.11

A feira de São Mateus, atraindo gente de todo o Alto Alentejo, tornou-se ponto de encontro das populações que ali acorriam. Por esta razão, as “saias”, cantadas e dançadas por toda esta região no século XIX, tinham ali o seu ponto nuclear de trocas e de irradiação. Em cada terra iam-se preparando ao longo do ano as cantigas e as toadas ou modas que se iriam exibir no São Mateus. Em contrapartida, quando regressavam às suas terras, levavam consigo os sons e as palavras que tinham ouvido nos bailes da romaria.

 

O São Mateus tinha tal efeito mobilizador sobre as gentes de Campo Maior que mesmo os que a Elvas não se podiam deslocar, o celebravam com bailes e arruadas pelas ruas da vila, nos dias da sua celebração.

 

Se não fores ao São Mateus,

Havemos de combinar;

P’ra andarmos aqui na vila,

A noite toda a balhar.

 

Os campomaiorenses tornavam-se notados quer pelo número dos que acorriam à Feira do São Mateus, quer pela qualidade das suas intervenções nos bailes de roda em que se cantavam e dançavam as “saias”, como está documentado nas seguintes quadras:

 

Se eu for ao São Mateus,

Irei balhar c’o meu par;

Mulher que se sabe amada,

Está mais disposta a cantar.

 

Eu quero ir ao São Mateus,

Só para te ouvir cantar;

Não vou lá com outro fim,

Estou velho p’ra namorar.

 

As festas do São Mateus,

São as festas da cidade;

Quem me dera andar bailando,

No Senhor da Piedade.

 

Eu hei-de ir ao São Mateus,

P’ro ano se Deus quiser;

Este ano fui menina,

Pró ano volto mulher.

 

A Feira de São Mateus,

É feira de arraiais,

Eu não tenho rapariga,

Divirto-me com as dos mais.

 

Arraiais de São Mateus,

Vão ganhões e vão malteses;

Adeus, meu amor adeus,

Até d’hoje a doze meses.

 

São Mateus é romaria,

Como outra não há outra igual;

Fica à frente de todas,

Neste nosso Portugal.

 

Eu vou sempre ao São Mateus,

E nunca deixarei de ir;

Ainda que lá dos céus,

Estejam pedras a cair.

 

Meu bem vem cantar comigo.

Na Feira do São Mateus;

Cantigas de amor sentido,

São como preces aos céus.

 

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publicado às 18:25


A ROMARIA AO SENHOR DA PIEDADE

por Francisco Galego, em 20.09.11

Noutros tempos este grande acontecimento anual, dava lugar a um intenso convívio pois, os que vinham de fora, deslocavam-se em carroças ditas de canudo por serem cobertas por uma protecção de forma cilíndrica, formada por uma estrutura de cana, coberta de uma tela de pano encerado, que protegia os passageiros da chuva e do sol. Com essas carroças, autênticos antepassados das actuais tendas e roulottes, formava-se um vasto acampamento no qual permaneciam, em alegre convívio, pessoas das mais variadas proveniências, algumas por cerca de uma semana. Aí se cozinhava e comia, aí se dormia e aí se cantava e dançava, sobretudo nas madrugadas, pois os bailes só podiam funcionar bem depois quando se acalmava a barafunda da feira e se calava a algazarra dos tendeiros e das potentes aparelhagens sonoras dos circos e carrosséis.

O São Mateus de Elvas era até meados do século passado, uma das maiores festividades que os campomaiorenses celebravam. Poupava-se durante meses para se pode ir até à Fêra d’Elvas por volta de 20 de Setembro.

Só os mais pobres, por falta de recursos, e os que cumpriam resguardo por luto ou por doença, ficavam. As carroças partiam uns dias antes ajoujadas de gente, de galinhas, de cabazes de comidas e de doçarias confeccionadas para a ocasião. Quem mais depressa chegasse, melhor lugar podia escolher para acampar nos olivais em volta do parque em que estaria montada a feira.

 Havia anos, principalmente os mais favoráveis para a agricultura e em que o clima em Setembro era ainda favorável, que Campo Maior quase se despovoava nos dias do São Mateus. Quem não podia ir de carroça, em caravana, ia a pé. Uma manta chegava para aconchego. Quanto ao resto, desde que houvesse dinheiro para a pinga e para o petisco, já se passava a contento.

Procuravam, os de cada terra, ficar juntos para melhor conviverem. Aliás, a feira era o pretexto para o que mais importava: o convívio que se ia gozar durante os dias que a feira durava. O São Mateus servia de pretexto para as parcas férias de que os menos ricos e os remediados podiam desfrutar.

Armados os acampamentos, gozava-se do descanso, da boa comida, da alegre convivência que a ocasião propiciava. De dia dormia-se muito e até tarde, por força de alguns excessos de bebida e porque as noites se prolongavam até de madrugada.

            As noites eram para a maioria destes romeiros o melhor que a festa propiciava. Formavam-se grandes bailes de roda animados pelo cantar e dançar das “saias”. Havia disputas assanhadas, muitas vezes entre grupos de terras diferentes. Surgiam a “modas novas”. Quadras engenhosamente elaboradas ao longo do ano encontravam ali o terreiro adequado para a sua pública exibição.

Arranjavam-se e desfaziam-se namoros. De vez em quando, uma ou outra rixa ensombrava a convivência por razões de exacerbado bairrismo, por melindres, ou por imponderadas ofensas à honra ou à dignidade dos presentes.

 

 

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publicado às 18:15


O SÃO MATEUS EM ELVAS

por Francisco Galego, em 18.09.11

Tempos houve em que cada povoação tinha as suas próprias festas e romarias. Mas, algumas delas, por motivos religiosos, ou pelo brilho das suas realizações, atraíam gente de outras terras, tornando-se famosas como locais de trocas, de diversão e de peregrinação.

No Alto Alentejo, sobressaía entre todas a Feira de São Mateus, em Elvas. A Feira de São Mateus remonta ao século XVI pois, segundo os investigadores, terá começado a funcionar entre 1525 e 1574. Cerca de duzentos anos mais tarde, veio associar-se-lhe uma peregrinação que, a partir de 1737, se começou a fazer no sítio onde se construiu o santuário do Senhor Jesus da Piedade. Tanto a feira como a romaria ganharam grande importância entre as gentes do Alto Alentejo, tanto mais que a sua realização, coincidindo com o equinócio do Outono, marcava o período em que se dava por encerrado um ano agrícola e se começavam a tomar as disposições para o arranque do ano agrícola que se ia seguir.

As pessoas, em grande parte as que estavam mais ligadas ao trabalho nos campos – aproveitando a romaria pela devoção, e a Feira de São Mateus por ser local de trocas muito necessárias às actividades agrícolas –, deslocavam-se a Elvas para aí permanecerem durante os três dias que durava o evento. Os transportes eram, nesses tempos, difíceis e lentos. Em volta do terreno da feira, formavam-se grandes acampamentos de gente vinda de quase todas as terras desta região.

Para além da grande diversidade de gentes que acorria a este evento, alguns vindo de terras bem distantes, é interessante constatar que, entre essas terras, tomavam relevo as gentes de Olivença, o que indica que eram ainda muito fortes os laços culturais que ligavam os oliventinos a Portugal.

A Feira de São Mateus em Elvas e a Romaria ao Senhor da Piedade tiveram o seu período de maior esplendor entre meados do século XIX e meados do Século XX.

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publicado às 17:57

Em mais de cem anos as festas realizaram-se 35 vezes. Nos primeiros cinquenta anos da sua existência, mantiveram-se com um expressão muito localizada, tendo ressonância apenas nas localidades que lhe ficavam vizinhas.

            Depois da Segunda Grande Guerra, mais concretamente, nos anos cinquenta, as Festas do Povo de Campo Maior conheceram um extraordinário desenvolvimento. Rapidamente ganharam fama a nível nacional, com alguma projecção mesmo para lá da fronteira.

            Aproveitando a tendência para a globalização propiciada pela extensão e aperfeiçoamento dos transportes e das comunicações, tornaram-se um fenómeno significativo da massificada cultura popular, lugar de grande romaria apesar de não estar ligado a qualquer fenómeno de culto ou de peregrinação.

            O desenvolvimento da economia local, mais uma vez devido ao efeito de fronteira com a torrefacção de cafés, constituiu a base de sustentação. A criatividade da população radicada numa tradição secular, criou o milagre destas festas que, apesar de muito copiadas, ainda não foram igualadas.

            Mas, como irão sobreviver as Festas se são tantas as mudanças e tão profundas as transformações que se estão a verificar?

 Como todos os fenómenos humanos, as Festas de Campo Maior vão de ter de evoluir adaptando-se a novas condições para garantirem a sua sobrevivência. Nota-se, neste tempo que vivemos, uma procura ainda imprecisa de novas soluções. Serão as mais adequadas?

            Do acerto das soluções e dos caminhos que se escolherem dependerá o seu direito a perdurarem ou a sentença da sua extinção. A lei da vida e da história não deixa lugar para as inadaptações.

            É nosso desejo e nossa fé que haja um futuro ainda mais glorioso para as Festas do Povo de Campo Maior.

 

(In, Francisco Pereira Galego, Campo Maior - Cantar e Bailar as Saias
 

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publicado às 10:29


EM SÍNTESE ...

por Francisco Galego, em 12.09.11

QUADRO GERAL

 

 ANO 

 DESIGNAÇÃO

 DATAS

1893

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

7,8,9,10 Set.

1894

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

1,2,3,4 Set.

1895

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

31 Ag.,1,2,3 Set

1896

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

12,13,14,15 Set.

1897

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

4,5,6,7, Set

1898

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

10,11,12,13 Set

1902

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

30,31 Ag.1,2 Set

1904

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

3,4,5,6 Set.

1909

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

28,29,30,31 Ag.

1921

FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

3,4,5,6 Set.

1922

FESTAS DO POVO

3,4,5,6 Set.

1923

FESTAS DO POVO

3,4,5,6 Set.

1927

FESTAS DO POVO

11,12,13,14 Set.

1928

FESTAS DO POVO

2,3,4,5 Set.

1934

FESTAS DO POVO

2,3,4,5 Set.

1936

FESTAS DO POVO

6,7,8,e9 Set.

 1937

FESTAS DO POVO

5,6,7 e 8 Set.

1938

FESTAS DO POVO

4,5,6,7 Set.

1939

FESTAS DO POVO

3,4,5,6,Set.

1941

FESTAS DO POVO

27,28,29,30 Set.

1944

FESTAS DO POVO

3,4,5,6 Set.

1952

FESTAS DO POVO

6,7,8,9 Set.

1953

FESTAS DO POVO

6,7,8,9 Set.

1957

FESTAS DO POVO

8,9,10,11 Set.

1964

FESTAS DO POVO

6,7,8,9 Set.

1965

FESTAS DO POVO

5 a 12 SET.

1972

FESTAS DO POVO

3 a 10 SET.

1982

FESTAS DO POVO

5 a 12 SET.

1985

FESTAS DO POVO

1 a 8  SET.

1989

FESTAS DO POVO

3 a 10 SET.

1995

FESTAS DO POVO

3 a 10 SET.

1998

FESTAS DO POVO

29AG. a 6 SET

2000

FESTAS DO POVO

26AG. a 3 SET

2004

FESTAS DO POVO

28AG. a 5 SET

2011

FESTAS DO POVO

27AG. a 4 SET

 

 

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publicado às 08:17


AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR

por Francisco Galego, em 08.09.11

           

Não é fácil demarcar com rigor a data de começo das Festas do Povo de Campo Maior. Sobre as Festas de Campo Maior, as fontes mais antigas apontam para uma origem ligada ao culto de São João Baptista, o santo patrono que figurava no seu antigo brasão. Todos aos anos no dia 28 de Outubro, realizava-se uma missa solene seguida de uma procissão em honra de São João Baptista, na qual participavam solenemente as autoridades municipais que assumiam a organização e despesas de uma festa popular com iluminação nocturna das ruas, havendo bailaricos e descantes populares. Estranha data para tal celebração pois esse dia era consagrado a um outro santo: era o dia de S. Simão.

Mas, em Campo Maior, esta data celebrava o fim do Sítio de de 1712, em que a vila estivera na eminência de se render por falta de condições para continuar a resistir ao terrível poder de fogo dos invasores. A maneira como, as tropas espanholas sitiantes, tinham inesperadamente retirado quando a vila já estava praticamente vencida, foi considerada um milagre atribuído à divina intervenção, por interferência de São João Baptista, Patrono e Protector de Campo Maior. Daí que o dia ficasse assinalado como feriado municipal e se decidisse que, nesse dia, se fizessem festejos em honra do Santo Precursor de Jesus Cristo.

Esta tradição foi mantida, mas com interrupções mais ou menos longas em períodos de grandes crises como a Guerra Peninsular, no início do século XIX, a Revolução Liberalista de 1820 e as guerras civis que se sucederam até meados desse século. Quase no final do século, com a pacificação da sociedade portuguesa, a tradição foi retomada. Mas, devido à instabilidade meteorológica do mês de Outubro, as Festas foram recuadas para o mês de Setembro.

            Em 1893, foi um grupo de jovens ligados às actividades de comércio e aos ofícios artesanais de loja aberta, que resolveu reatar a tradição de fazer as Festas em Honra de São João Baptista que, mais uma vez, tinham deixado de se fazer desde meados do século XIX. Estes jovens eram chamados de “artistas” por terem uma “arte” ou ofício não ligado aos trabalhos agrícolas, actividade dominante da população. Daí que essas festas começaram a ser chamadas de Festas dos Artistas. Só mais tarde, na segunda década do século XX, a designação oficial de Festas em Honra de São João Baptista, foi mudada pela de Festas do Povo, significando que passara a ser toda a população que se envolvia na sua realização.

Desde que a tradição foi reatada em 1893, os jovens que promoveram as Festas, traçaram-lhe os projectos que se iriam manter durante quase todo o século XX: ornamentação das ruas e a sua iluminação nocturna, um programa festivo do qual se destacavam as festas de igreja com missa solene e procissão, as alvoradas, os concertos pelas bandas locais ou convidadas de terras vizinhas, as touradas à vara larga, os bailes, os descantes populares e o fogo-de-artifício.

            Em Campo Maior costuma dizer-se que as festas se fazem quando o povo quer. Mais adequado seria dizer-se que as festas se fazem quando existem condições para que elas se possam fazer. Por isso, tendo sido concebidas para serem anuais elas têm sofrido muitas interrupções ditadas pelas circunstâncias que determinaram a vida da sua população.

            As Festas do Povo de Campo Maior adquiriram desde cedo uma certa pujança a nível regional. Esse facto deve-se à grandiosidade de uma festa que consistia em ornamentar as ruas de toda uma povoação ou, pelo menos da maior parte das suas ruas, usando formas elaboradas de decoração e de iluminação, recorrendo a vegetação natural e a um material de grande efeito decorativo, o papel, utilizado para fazer balões, franjas, lenços, cadeados e bandeirolas e flores. Por isso, estas festas, porque exigiam um considerável esforço e investimento à população local, só se podiam fazer quando a população dispunha de condições económicas favoráveis.  

            Desde o recomeço em 1893, decorridos que são 118 anos, as festas realizaram-se 35 vezes. Nos primeiros cinquenta anos, mantiveram-se com uma expressão muito localizada, tendo ressonância apenas nas localidades que lhe ficavam vizinhas.

            Depois da Segunda Grande Guerra, mais concretamente, nos anos cinquenta, as Festas do Povo de Campo Maior conheceram um extraordinário desenvolvimento. Rapidamente ganharam fama a nível nacional, com crescente projecção para lá da fronteira, aproveitando a tendência para a globalização propiciada pela extensão e aperfeiçoamento dos transportes e das comunicações. As Festas do Povo de Campo Maior foram-se tornando um fenómeno de cultura popular, lugar de grande romaria, apesar de não estarem ligadas a qualquer fenómeno de culto ou de peregrinação.

 Estamos, neste ano de 2011, perante a 36ª realização destas Festas. A vila de Campo Maior, neste final de Agosto, decidiu de novo transfigurar-se como se renascesse num turbilhão de formas e de cores. De uma noite para o dia, tudo se irá transfigurar. Os tectos de cordões de flores protegerão as ruas do esbraseamento do Sol. Cada rua terá procurado encontrar uma maneira de se cobrir de ornamentos. Por todos os recantos aparecerá a magia das flores e das ramagens. Haverá rosas, cravos, tulipas e uma miríade de outras flores que, pela sua perfeição, chegam a confundir-nos de tão bem dissimulado estar o artifício de serem flores de papel. Perante tamanha beleza, tornar-se-á inevitável o espanto perante uma obra colectivamente realizada. Seremos levados a pensar como terá sido possível gerar este sortilégio, trazido através do tempo por sucessivas gerações de campomaiorenses. Até quando poderá subsistir tanta magia se vivemos tempos de tão escassos valores e de tão rasteiro pragmatismo?

Provavelmente as Festas do Povo de Campo Maior terão o destino de todos os milagres: existirão até que existam em Campo Maior, mulheres e homens capazes de acreditar que estes milagres podem acontecer. Como todos os fenómenos sociais, as Festas de Campo Maior, para garantirem a sua sobrevivência, vão de ter de evoluir adaptando-se às novas condições da sociedade campomaiorense.

 

 

                                                           FRANCISCO PEREIRA GALEGO (In, Programa das Festas de 2011)

 

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publicado às 12:11


E AGORA?

por Francisco Galego, em 04.09.11

 

 

 

 

 

 

ACABARAM AS

 

 

 

 

FESTAS DO POVO

 

 

 

 

 

 

 

DE CAMPO MAIOR

 

 

 

 

DE 2011

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publicado às 23:59


O QUE DIZEM OS DOCUMENTOS LXII

por Francisco Galego, em 02.09.11

Só nos anos 50 as Festas começaram a merecer o título de "Festas das flores". Primeiro timidamente, depois, cada vez mais, com maior fulgor. Até chegarmos ao que são hoje.

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publicado às 11:11


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