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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Ano de 1936 (2ª Parte)
Apear da tremenda tragédia que pairava sobre o povo espanhol, aqui, em Campo Maior, o projecto das Festas continuava. Repare-se que as Festas eram organizadas por uma comissão constituída para o efeito, embora até altas autoridades ligadas ao governo, se pudessem envolver na sua promoção. Nada de estranho se atendermos a que Secretário do Sr. Ministro da Agricultura da altura, que abriu a subscrição com 200$00, era o Dr. Francisco Tello da Gama, um campomaiorense que já antes tinha desempenhado as funções de Presidente da Câmara Municipal de Campo Maior e as de Governador Civil de Distrito de Portalegre sendo, portanto, a nível local, umas figuras mais destacadas do Estado Novo, nesta região.
Outra questão de interesse na época, era a formação das bandas de música. Ao que parece, não correriam bem as coisas com a Filarmónica Operária Campomaiorense e logo se cuidou de organizar uma nova formação. Provavelmente com os mesmos elementos. Por vezes tratava-se apenas de mudar de direcção e de nome. Mas os músicos seriam os mesmos “operários” de sempre.
Outro pormenor a fixar será o de as Festas procurarem angariar os fundos de financiamento necessários à sua realização.
Brados do Alentejo, Estremoz, 12 de Julho de 1936
Festas de Setembro
Já se encontra organizada a Comissão das festas grandes de Setembro que duram quatro dias e que são feitas em honra de São João Baptista, padroeiro desta vila. A Comissão vai consultar as bandas Municipal de Estremoz, de Setúbal e de Palmela. O secretário do Sr. Ministro da Agricultura, Dr. Tello da Gama, abriu a subscrição com 200$00.
Nova Filarmónica
Constituiu-se uma Comissão composta pelos Srs. João Mineiro, sapateiro, Vilas, vendedor ambulante, Manuel Caraças, sapateiro, que se propõem organizar uma nova filarmónica. Agregam-se à Comissão como auxiliares, os Srs. Eduardo da Conceição Guerreiro Ramos, empregado de escritório e Wolfogango Sabino Leitão, sapateiro, que se propõem ensaiar um grupo de crianças para darem uma récita infantil cujo produto reverte também a favor da filarmónica.
Brados do Alentejo, Estremoz, 26 de Julho de 1936
Festas de Setembro
Há dias que a comissão das festas instalou na Avenida Dr. Agrela a tômbola que se encontra a funcionar e tem tido farta concorrência. Dentro de dias, na frente desta será instalada a quermesse. Já foi arrematada a praça de touros por 5.000$00 sendo o arrematante o nosso amigo Francisco Sérgio da Conceição que a um grupo de arrematantes teve de dar 600$00 para desistirem. Diz-se que num gesto nobre de altruísmo, este grupo pensa dar uma esmola à Santa Casa da Misericórdia que é a casa de todos os campomaiorenses.
1936 (1ª Parte)
Neste ano verificou-se um acontecimento que teve profundos reflexos em Campo Maior: em Julho, com o levantamento contra o governo republicano das tropas sedeadas em Marrocos e comandadas pelo General Francisco Franco, começava a Guerra Civil de Espanha que se transformou num ensaio para a 2ª Grande Guerra que se lhe iria seguir. O mais estranho é que as Festas se vão realizar nos três anos em que a guerra esteve mais acesa: 1936; 1937; 1938.
Perante isto nem sabemos que pensar: ou se queria tentar esquecer o terror que se vivia, ali, do outro lado da fronteira, ou se a intenção era dar a entender que tudo ia bem quando, de facto, a situação era tal que as pessoas deveriam achar que estavam a viver no pior dos mundos possível.
João Ruivo que continuava a residir em Estremoz, onde exercia as funções de tesoureiro da Fazenda Pública, persistia em lutar pela divulgação das coisas da sua terra dando notícias através do jornal local, Brados do Alentejo.
Chama-se a atenção dos amantes das coisas relacionadas com a história da música em Campo Maior de que existia então na vila, uma Filarmónica Operária Campomaiorense.Com um reparo: a palavra operário, nessa época não tinha, em Campo Maior, o significado de designar os que trabalhavam em fábricas, uma vez que não havia fábricas nesta região, mas apenas oficinas; eram portanto, os ferreiros, os carpinteiros, os pedreiros e todos os que, embora desenvolvessem um trabalho manual, não trabalhavam nos campos.
Brados do Alentejo, Estremoz, 6 de Junho de 1936
Festas religiosas
[Campo Maior] Em 13 do corrente pelas 11 horas, realiza-se no Convento de Santo António, a festividade a Santo António de Lisboa e, bem assim, às 12 horas na paroquial de São João Baptista, em honra do mesmo Santo.
Festas a S. João Baptista – Padroeiro de Campo Maior
É o seguinte o programa destas festas:
Dia 23 do corrente, às 11 horas, festa na Igreja de São João Baptista (extra-muros). Das 17 às 20 horas, no Parque da mesma igreja, arraial, venda de fogaças e bolinhos de São João. Das 22 horas às 2 da madrugada, arraial com bailes e descantes populares.
Dia 24 do corrente, às 12 horas, na paroquial de São João, festa de igreja. Às 16 horas, na referida igreja, arraial e venda de fogaças revertendo o produto a favor do amanho da igreja de que é tesoureiro o Sr. Gabriel Gomes. Às 18 horas sairá do referido templo a procissão com a imagem de São João Baptista, diversos anjos de gala, o pálio com o S.S., precedido de três padres e diversas irmandades com opa que percorrerão as ruas do costume. Abrilhantam estes festejos a Banda de Caçadores 8 e a Filarmónica Operária Campomaiorense.
Como é uso nestes dias, realiza-se a feira conhecida como “Feira dos Burros” em que os ceifeiros beirões costumam fazer as suas transacções. Em 23 e 24 do corrente haverá carreiras de automóveis e camionetas de Elvas para Campo Maior e vice-versa, bem assim como de Campo Maior para o Parque de São João. Espera-se, como de costume, afluência de forasteiros. As iluminações dos recintos serão fornecidas pela Central Eléctrica desta vila e dentro de dias a confraria procederá à arrematação do restaurante do Parque.
Festas de Santa Beatriz da Silva
Organizou-se uma comissão de operários que anda a angariar donativos para as festas de Santa Beatriz da Silva, natural desta vila. Do programa apenas sabemos que as festas são em 26, 27 e 28 do corrente, havendo tríduo com exposição do S.S., festa de igreja, sermões, arraiais e fogos, sendo os actos religiosos presididos pelo Exmo. Arcebispo de Évora.
Os rapazes da Comissão pensam convidar a assistir a estas festas o Exmo. Sr. Dr. Oliveira Salazar e bem assim pedirem o concurso da aviação.
No ano de 1935 tomou posse, no dia 6 de Abril, uma nova Comissão Administrativa da Câmara Municipal. Esta era constituída por: Manuel Joaquim Correia, comerciante com loja na rua da Misericórdia - que assumia o lugar de presidente; João Vitorino Muñoz, farmaceutico; dr. Justo Garcia d’Agrela, Mauro das Dores Alves, João Aguiar Mexia Serra e João Martins Leitão, elementos ligados ao comércio e à agricultura.
Esta nova administração chegou a ter o projecto de realizar as Festas do Povo. Mas, na verdade, elas não se chegaram a efectivar. Temos a sorte de João Ruivo, que em 1929 saíra de Campo Maior, estar nesta altura em funções de tesoureiro da Fazenda Pública, na cidade de Estremoz. Aí começara a colaborar no jornal local, Brados do Alentejo, onde ia publicando as notícias que lhe chegavam da sua terra natal. Por isso, este jornal constitui uma fonte importante sobre o que, nessa época, se ia passando em Campo Maior.
Como se pode constatar pela série de notícias que a seguir se transcrevem, parecia haver vontade da parte das autoridades municipais e boas condições para que as festas se tivessem realizado. Contudo, elas não se fizeram e não possuímos dados para compreender porque isso aconteceu. Será que, nessa época, as Festas só se faziam se o povo se dispusesse a realizá-las?
Brados do Alentejo, Estremoz, 16 de Junho de 1935
Festas do Povo
Diz-se que as sumptuosas festas em honra de S. João Baptista, Padroeiro desta vila, vão ser realizadas pela Câmara Municipal, que para maior brilhantismo serão contratadas três bandas de música havendo também números novos de festas que devem causar sensação.
Festas de S. João
Para os festejos de S. João nos próximos dias 23 e 24 do corrente vão ser contratadas as bandas de Caçadores 8 e a União Campomaiorense. Os números do programa constam de festa de igreja, procissão, arraiais, bailes e descantes populares e bem assim venda de bolos e fogaças como nos anos anteriores.
Brados do Alentejo, Estremoz, 30 de Junho de 1935
Festas de S. João Baptista
Durante os dias 23 e 24 do corrente realizou-se na Avenida Dr. Agrela a costumada “feira dos burros” que esteve muito concorrida de burros e compradores beirões (os Ratinhos). Havia também algumas barracas que fizeram bom negócio. Os arraiais de S. Joãozinho (extra-muros), estiveram animadíssimos, agradando muito a banda de Caçadores 8.
Brados do Alentejo, Estremoz, 18 de Agosto de 1935
Feira de Agosto
Há muito anos que a feira se não encontrava tão animada como este ano. Há grande quantidade de barracas de todos os géneros e as transacções são muito regulares. Este ano, como todos os anos, deve prolongar-se por mais uns dias.
Brados do Alentejo, Estremoz, 1 de Setembro de 1935
Feira de Agosto
Decorreu brilhantíssima a feira e muito concorrida principalmente pelos nossos vizinhos da cidade de Elvas que até nos mimosearam com orquestras que muito nos alegraram principalmente uma em que entravam concertinas que produz um efeito lindo. Os feirantes fizeram bom negócio.
Pelas descrições referentes a este ano de 1934, se pode constatar que as Festas não apresentaram mudanças significativas em relação aos anos anteriores. Aparece contudo, como novidade, o recurso a duas bandas de música vindas de fora, porque não havia, nessa altura, banda formada na terra. Aparece também um desporto de elite apresentado como espectáculo do programa: a gincana de automóveis.
Contudo, a maior novidade, é a participação do representante máximo do governo a nível local, o administrador do concelho, a presidir à Comissão das Festas, bem de acordo com o carácter centralizador da administração pública neste período da vida nacional. Daqui para diante, as instituições públicas, tornam-se uma presença constante nas decisões e na programação das Festas do Povo.
O Correio Elvense, Nº 208, 9 de Setembro de 1934
AS FESTAS DO POVO EM CAMPO MAIOR
De brilhantes se podem classificar as festas que de 2 a 5 do corrente se realizaram em Campo Maior, a linda e progressiva vila vizinha, que vestiu nesses dias as suas melhores galas.
Foi grande a concorrência de forasteiros, mormente desta cidade e povoações limítrofes.
Campo Maior foi inundada por uma vaga de alegria, que se espairou por toda a vila, repleta de uma multidão buliçosa, que trouxe a melhor impressão daquele povo comunicativo e ordeiro.
Como oportunamente noticiámos, o programa das festas meticulosamente organizado por uma comissão a que presidia o Sr. Tenente Falcão, ilustre administrador daquele concelho, constava de grandes festivais nocturnos no Jardim Municipal e concertos musicais pelas bandas Barão de Gáfete e União Artística de Castelo de Vide, que foram escutadas com muito agrado; solenidades religiosas na igreja de S. João Baptista, abrilhantadas por uma boa orquestra regida pelo Sr. Boaventura Guanilho; corridas de touros; concurso de ruas ornamentadas; gincana automobilística; etc.
No concurso de ruas classificaram-se: em primeiro lugar a rua dos Carvajais, ornamentada, com fino gosto artístico, por uma comissão presidida pela Sr.ª D. Aida da Gama Pinheiro; a Rua General Magalhães, que recebeu o 2º prémio (comissão presidida pelo Sr. Manuel Torres); e a Rua Dr. Rui de Andrade, 3º prémio, comissão da presidência do Sr. João Alegria.
O motivo decorativo da Rua dos Carvajais era constituído por uma grande profusão de “mantones de Manilha”, imitados com muita felicidade e que colocados entre os festões de flores e verdura, deram ao local um aspecto deslumbrante. À entrada foi erguido um arco com desenhos alegóricos de Campo Maior (…)
Além das ruas a que foram adjudicados prémios, as melhores ornamentadas eram as da Soalheira, S. João Baptista e Pedroso. (…)
Das corridas de touros a primeira foi a melhor. O gado era do lavrador Sr. Francisco Romão Tenório. O da segunda, do Sr. Agnelo Minas e o da terceira, do sr. António Luís Gama, que teve duas vacas que deram bem ao capote o que é para estranhar em gado de trabalho. Os capinhas tiraram o melhor rendimento possível.
Jornal de Elvas, Ano 9º, Nº 352, 7 de Setembro de 1934
AS FESTAS DE CAMPO MAIOR
A progressiva vila de Campo maior, situada num recanto do nosso querido Alentejo, esteve em festa nos dias 2, 3, 4 e 5.
A risonha vila, mercê do temperamento progressista que invade os cérebros dos seus filhos, tem ultimamente subido na escala do progresso duma maneira notável, caminhando sempre sem um único desfalecimento.
As suas festas, ‘Festas do Povo’ revestiram-se de uma característica especial, sob todos os aspectos interessantíssima e original. Trata-se da ornamentação das ruas cujos moradores disputam, com invulgar entusiasmo, o ‘Prémio da Comissão.
Semelhante número, repleto de cor e garridice, engrandece sobremaneira o programa dos festejos sendo, certamente, o que mais atrai a presença dos forasteiros.
A beleza das ornamentações, a intuição, a originalidade das decorações, são bem o índice onde se nota, logo à primeira vista, o gosto daquele laborioso povo, incansável em extremo, de promover o seu torrão.
Ruas houve, engalanadas a capricho, que deliciaram a nossa vista.
Nestas circunstâncias e sem pretendermos ferir o orgulho dos moradores das outras ruas que também admirámos, colocamos quanto ao nosso gosto, no primeiro plano, as ruas do General Magalhães e Visconde de Seabra.
Aquela, pelo grandioso trabalho que os seus moradores tiveram de desenvolver, num conjunto harmonioso de cenas, cuja estética nos impressionou deveras e esta, pela originalidade da sua ornamentação.
Os xailes de papel, bem acabados, que pendiam por sobre a rua, davam-lhe uma nota triunfal de beleza, sendo a entrada constituída por um ‘arco’ tendo de cada lado pintados uma camponesa que aborrecidamente exclamava:
Ando triste e assustada
Inté me pula o coração
Ganhará a nossa rua
O Prémio da Comissão?
E um camponês que alegremente lhe respondia:
Meu amor minha aligria
Não andes nessa encerteza
A nossa rua Maria
Ganha o prémio concerteza.
E quem sabe se o alegre camponês, com a ideia de acalmar os nervos à sua mais que tudo, inspirou magicamente, a opinião abalizada dos componentes do júri.
Jornal da Situação, Portalegre, Nº 31-32, 2 de Setembro de 1934
Por Campo Maior!
A comissão que levou a efeito este ano as Festas do Povo e que trabalhou de uma maneira decidida para o seu maior brilhantismo, era assim constituída:
Tenente António Falcão, presidente; Estêvão Bastos Caldeirão, José Rita Ensina, Marciano Ribeiro Cipriano, David Fonseca Caraças, Joaquim Pereira Cunha do Rosário, Júlio Alegria Lindo, Benjamim António Caeiro, João Martins Centeno, José Gonçalves Niza, José César Leitão e António Afonso Borrega.
Bem merecem as nossas saudações que aqui foram bem expressas.
Programa das Festas
Dia 2
Às 6 horas - Início das Festas. Repique dos sinos em todas as torres da vila e uma salva de 21 tiros.
Às 9 horas - Chegada da distinta Banda do Barão de Gáfete que será recebida à entrada da vila pela Comissão das festas. Foi esta Banda que alcançou o 1º prémio no último certame musical realizado na sede do distrito.
Às 12 horas - Solene festividade religiosa na paroquial igreja de S. João Baptista, na qual tomará parte uma especial orquestra, sob a regência do Maestro Sr. Boaventura Ribeiro Guarilho, proficiente regente da Banda Barão de Gáfete.
Às 18 horas – Procissão com a imagem do padroeiro S. João Baptista, a qual percorrerá as principais ruas de Campo Maior.
Às 22 horas – Grande festival nocturno no Jardim Público, que estará ornamentado e profusamente iluminado com lâmpadas eléctricas de variadas cores. Concerto pela Banda Barão de Gáfete, fogo de artifício, descantes populares, etc.
Dia 3
Às 8 horas – Alvorada pela Banda Barão de Gáfete.
Às 9 horas – Gincana de automóveis com prémios para cavalheiros e senhoras.
Às 14 horas – Entrada do gado para a Praça de Touros.
Às 17 horas – Corrida de touros à vara larga, uma das mais características e interessantes diversões do Alentejo, que será abrilhantada pela Banda do Barão de Gáfete.
Às 22 horas – Continuação do festival no Jardim Público. Concerto pela Banda do Barão de Gáfete, fogo de artifício preso e do ar, bailes e descantes populares.
Dia 4
Às 8 horas – Chegada da distinta Banda União Artística de Castelo de Vide, que será recebida à entrada da Vila pela Comissão das Festas. Foi esta Banda que alcançou o 2º lugar no último certame musical realizado na sede do distrito.
Às 9 horas – Corridas de sacos, ovos e bicicletas. Serão distribuídos três prémios aos três concorrentes melhor classificados.
Às 12 horas – Entrada do gado para a Praça de Touros.
Às 17 horas – Corrida de touros à vara larga, abrilhantada pela Banda União Artística de Castelo de Vide.
Às 22 horas – Continuação do festival nocturno no Jardim público. Concerto pela Banda União Artística de Castelo de Vide fogo de artifício preso e do ar.
Às 0 horas – Largada de um balão.
Dia 5
Às 7 horas – Alvorada pela Banda União Artística de Castelo de Vide.
Às 10 horas – Concurso e distribuição de prémios pela Comissão das Festas, que se fará acompanhar de um júri competente ás ruas cuja ornamentação seja considerada mais artística e original. 1º Prémio, 300$00; 2º Prémio, 200$00; 3º Prémio, 100$00.
Às 17 horas – Última corrida de touros.
Às 22 horas – Leilão de prendas não sorteadas na Tômbola e Quermesse. Concerto pela Banda União Artística de Castelo de Vide, bailes e descantes populares. Fogo de artifício preso e do ar.
As Festas só regressaram em 1934. A gente que agora as promovia, pertencia a uma nova geração, com nova mentalidade e perfilhando diferente ideologia. Começaram por promover as festividades anuais de carácter religioso, como o São Joãozinho, dando-lhes um carácter caritativo, pois eram organizadas com o objectivo de recolher fundos de apoio às obras sociais da Misericórdia. Finalmente, abalançaram-se a realizar as Festas do Povo. Na comissão que as levou a efeito constam os nomes de jovens afectos ao novo regime político, sendo alguns deles elementos activos da Legião Portuguesa.
Jornal da Situação, Portalegre, Nº 31-32, 2 de Setembro de 1934
Campo Maior – a Leal e Valorosa
Começam hoje nesta histórica, risonha e progressiva vila alentejana, as tradicionais Festas do Povo que, se a memória não me falha, já não se realizavam desde 1927.
Festas verdadeiramente interessantes e originais, cheias de cor e movimento, de graça e beleza, elas foram e serão sempre o motivo para que a população da vila dê, durante os dias festivos, largas à sua mocidade e à sua alegria.
Têm nome no nosso distrito e até fora dele, as Festas do Povo de Campo Maior, cujas ruas e largos são transformados como por encanto em verdejantes jardins, graças às mãos virtuosas e hábeis das minhas gentis patrícias que fazem prodígios para apresentarem trabalhos que são verdadeiros mimos de graça e arte.
Quanto trabalho, quanta luta, quanta canseira despende o povo da minha terra, para a engrinaldar, patenteando-a bonita, linda, muito branca e asseada, toda luz e encanto! (…)
(…) Impõe-se ainda Campo Maior como sendo uma terra farta e rica, pelas suas produções de saborosos vinhos, magníficos trigos e azeites finíssimos.
Sendo uma terra essencialmente agrícola, é, no entanto, de grande importância na indústria da moagem e panificação, lagares de azeite dos mais modernos e aperfeiçoados, fabricação de potes em barro para vinho e ainda nas finíssimas e saborosas conservas do Serafim da Conceição, já conhecidas e apreciadas em Portugal como no Brasil. (…)
Portalegre, na última semana de Agosto,
Lavadinho Mourato
Depois de 1928 e por cinco anos consecutivos, as Festas não se voltaram a realizar. Cremos que, mais uma vez, como consequência dos acontecimentos políticos, pois esses anos coincidem com o período em que se está a gerar a nova situação que iria ser designada como o Estado Novo e que consistiu em constituir um regime de Estado corporativista, segundo as orientações doutrinárias e a liderança de António de Oliveira Salazar, constituído como Presidente do Conselho de Ministros.
Significativamente, quando o novo poder se consolidou, com a aprovação da nova Constituição, as Festas voltaram, mas agora promovidas por outra gente e numa sociedade politicamente estruturada de modo diferente.
Jornal da Situação, Portalegre, Nº 31-32, 2 de Setembro de 1934
Festas do Povo
Nenhuma terra de Portugal tem uma festa tão tradicional que se possa apelidar com tanto direito de Festas do Povo, como esta de Campo Maior.
Ruas de lés-a-lés, cheias de flores naturais e artificiais, curiosíssimos trabalhos de enfeite, que formam um lindo parque entre os seus 1.203 prédios urbanos.
Em poucas linhas contar-lhes-ei quanta alegria expandem estas 8.300 almas ao verificarem a transformação do sonho em realidade, depois de um ano de constante labuta pelo pão de cada dia.
Todo o ser humano tem direito a momentos de gozo; deve pois, ter sido este o principal motivo, que levou os nossos antepassados a criarem as festas populares; porque o espírito do trabalhador necessita de divagar, folgar, rir, viver feliz enfim.
A mocidade campomaiorense quando verifica que o proprietário e o lavrador, vão colher boa seara, o que é quase garantia de trabalho para o futuro ano agrícola, organiza uma comissão de representantes de várias profissões, para levar a efeito as Festas do Povo. Aquela então, batendo de porta em porta, junta o necessário para as despesas a fazer com as bandas de música, fogos de artifício, procissão do Padroeiro da vila, etc., etc.
Outras quantas comissões quantas as ruas, são constituídas e, durante uns dias, após o dia de trabalho, homens e mulheres vão passar o serão que é cheio de sorrisos e cantigas entre namorados, a fazer bandeiras, campainhas e flores de papel, para as colocarem com fino gosto nas ruas a que pertencem.
Chegado o dia 2, rompe a alvorada dos campanários, estalejam os foguetes, a vila anima-se cheia de galas e de flores e começam então as Festas do Povo (…)
Pedro Augusto Vitorino
Em 31 de Março de 1931, O Campomaiorense reapareceu numa terceira e última fase que iria ser de curta duração. Nesta última fase, o jornal era assumidamente apoiante do novo regime e, de uma perspectiva meramente jornalista, terá sido a sua fase menos interessante, voltando-se para uma elite local muito restrita e bastante fechada e consumindo-se em questiúnculas políticas e arrazoados de exaltação da nova situação política. É este um dos jornais que nos trazem a descrição das Festas que se realizaram neste período.
O Campomaiorense, 8 de Julho de 1934
FESTA DO POVO
Continua despertando muito interesse na população desta vila, a realização, que promete ser brilhante, das tradicionais Festas do Povo.
A comissão organizadora tem recebido valiosos donativos, esperando que quem pode fazê-lo a auxilie, de forma a poder realizar com êxito a sua iniciativa.
E bem o merecem, diremos nós.
Porque, nem só de pão se vive e é até louvável que ao povo se proporcione um pouco de prazer espiritual, por via de espectáculos da sua preferência como estas festas, em que cada um se alheia por momentos, das preocupações e das dificuldades da vida.
Se a vida não corre de feição, nem por se andar de cabeça baixa, com cara de dia de finados, se remedeia alguma coisa … Pelo contrário, quanto mais triste se ande, menos as dívidas se pagam …
De resto, a receita líquida é para a Misericórdia e para a Casa do Povo.
Não há, portanto, mesmo para os macambúzios e taciturnos, para os que querem isolar-se no seu pessimismo, mal tolerando uma gargalhada saudável do seu próximo, motivo ou razão de peso que valha qualquer má vontade.
As Festas do Povo vão fazer-se e muito bem.
E o comércio local tem todo o interesse em auxiliar a sua realização.
É preciso que não falte. Por nós, repetimos, contem connosco rapazes.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.