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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
“Em um desses anos ( 1848- 1851), fizeram-se festas esplêndidas a S. João Baptista, festas que desde tempos imemoriais foram sempre brilhantes na minha terra e que atraíam muitos forasteiros. Aquelas a que aludo, merecem especial atenção por bem dirigidas…”
João Dubrás – Recordações dos últimos quarenta anos, 2ªed.1869, pág.142.
Desta notícia podemos concluir que:
- habitualmente eram feitas festas em honra de S. João Baptista;
- que essas festas deviam ser no dia 28 de Outubro por essa ser a tradição desde o sítio de 1712 e do lançamento da 1ª pedra da Igreja de S. João, no mesmo dia 28 de Outubro de 1734.
João Dubrás descreve uma festa que decorreu na Praça Nova, depois designada por Praça de D. Luís, hoje Praça da República
"Se as Festas do Povo se realizarem este ano, em 2011, serão assinalados os 100 anos da existência deste evento cultural, uma vez que o primeiro certame aconteceu em 1911." in Rádio Elvas
Basta de criar mentiras e patranhas à volta de um assunto que está perfeitamente documentado e sistematizaddo em obra publicada.*
Para já começo por dizer que não se realizaram as Festas do Povo no ano de 1911. Tinham-se realizado, com muito custo e muito pouca glória em 1909. Havia uma grande crise económica e política, agravada com o assassinato do rei D. Carlos e do princípe herdeiro D. Luis Filipe, em Fevereiro de 1908. Viviam-se tempos de elevada instabilidade, não havendo, portanto, grande disposição para festejos.
Aconteceu mesmo que depois, as Festas deixaram de se realizar por muitos anos. Só passados doze anos, em 1921, voltaram a realizar-se as Festas em Honra de São João Baptista, que tiveram lugar nos dias 3, 4, 5 e 6 de Setembro.
Acontece também que, as Festas existem há mais de cem anos, sendo completamente destituída de fundamento a ideia de que se vai comemorar o seu centenário.
As Festas em Honra de São João Baptista, começaram a comemorar-se para celebrar o fim do cerco de 1712, pois estando vila para se render, o exército espanhol levantou esse cerco e a população atribuiu o facto à intervenção do santo patrono de Campo Maior. Com algumas interrupções, a tradição foi-se consolidando até chegar ao século XIX. Devido a tempos muito conturbados, com guerras civis, houve períodos mais ou menos extensos de interrupção. Quando as coisas voltaram à normalidade, a população resolveu voltar à celebração das Festas e isso aconteceu no ano de 1893, mudando-se então a data de Outubro para os primeiros dias de Setembro.
Outra questão é a do nome que estas festas tiveram. Oficialmente, foram designadas como FESTAS EM HONRA DE SÃO JOÃO BAPTISTA até ao ano de 1922, data em que João Ruivo, no seu jornal O Campomaiorense, propos que estas festas que o povo se habituara a designar como sendo as Festas dos Artistas, se passassem a chamar de FESTAS DO POVO. Queria ele com isto significar que já não eram apenas os comerciantes e os artesãos que as organizavam e realizavam, pois que todo o povo se envolvia na sua realização.
Basta consultar um quadro cronológico com os anos de realização das Festas para se verificar que elas acabam sempre por reflectir os grandes acontecimentos que se foram dando na vida do país e do povo de Campo Maior.
* Francisco Galego (2004). Campo Maior - As Festas do Povo, das Origens à Actualidade. Lisboa: Livros Horizonte. (O livro está à disposição de quem o quiser consultar na Biblioteca Municipal de Campo Maior)
Notícias agrícolas
“De Campo Maior dizem-nos o seguinte:
No termo do concelho desta vila, a novidade de azeitona é medíocre. Mesmo assim, julga-se haver mais azeite que se colheu no ano de 1859. Há sítios em que os olivais têm muito pouca azeitona e outros que oferecem mais do que a colheita do ano anterior.
O apanho é custoso por causa das grandes chuvas tão enfadonhas e constantes, como também pelo excessivo preço dos jornaleiros. Estes preferem andar ao rebusco quase à vista dos proprietários, do que ganharem um jornal mais do que suficiente. Pedimos à autoridade competente que ponha os meios que possam estar ao seu alcance, mandando vigiar os rebuscadores que entram às portas. Julgamos que já o terá feito, mas é precisa maior energia dos subalternos e assim não haverá tanto ratoneiro.
As moeduras que se têm feito nos lagares desta vila, têm fundido 20 a 25 alqueires, livres de maquia. Mas há poucos compradores, porque há dias que não têm vindo espanhóis procurá-lo e, por isso, tem dado baixa no preço.
In, A VOZ DO ALEMTEJO, Elvas, Nº 17 (2º Ano), 4ª – FEIRA 2/1/1861
Os enterramentos eram, tradicionalmente, feitos no interior das igrejas, nos adros, nos terrenos envolventes e nas cercas dos conventos, ou seja, em Campo Santo.
No século XIX começaram a surgir medidas a condenar esse costume, considerado contrário à saúde pública. Em Portugal, foi com o governo de Costa Cabral (que mais tarde foi agraciado com o título de Marquês de Tomar) que foi aprovada uma lei de Novembro de 1845, que além de várias disposições e carácter tributário, determinava que os enterramentos passassem a ser feitos em cemitérios, fora das povoações, como medida de protecção da saúde pública.
A reacção das populações, principalmente no norte do país, conduziu a revoltas que culminaram num período de grande agitação em 1846, a chamada Revolução da Maria da Fonte que fez cair o governo de Costa Cabral e serviu de prólogo à Patuleia que lançou o país na guerra civil em 1847.
Mas, em Campo Maior, já antes, numa acta da Câmara de 23 de Agosto de 1834, se levantava o problema dos enterramentos. Assim, num Acórdão em Câmara Municipal se estabelecia o seguinte: Atendendo esta Câmara às diferentes representações que tem feito o Médico deste Concelho e a que têm continuado nesta vila diferentes moléstias epidémicas, as quais (têm) tanto mais graduação quanto menos polícia há, e que o enterramento dos corpos humanos nas Igrejas, é de muito prejuízo à saúde pública em todo o tempo, e muito especialmente em tempo de epidemias, determina esta Câmara que, de hoje em diante, não se enterre corpo algum humano nas Igrejas, e sim no cemitério que será interinamente a cerca do Extinto Convento de Santo António desta vila; cujo acórdão obriga a todas as pessoas que hajam de morrer sem atender a hierarquias – porque a lei é igual para todos (Carta Constitucional) –, nem tão pouco a moléstias.”
Na Acta da CMCM de 31 de Agosto de 1836 decidia-se a arrematação da obra do cemitério e a construção de um cemitério junto à ermida de S. Pedro.
Esta decisão foi muito contestada pela população. Entre outras coisas protestava-se a localização do cemitério, tão próxima do chafariz, bebedouro e tanque de S. Pedro, argumentando-se que o cemitério iria contaminar uma água de tanta qualidade e tão necessária para a população de Campo Maior. Tratava-se do terreno que fica encostado à capela de S. Pedro na bifurcação da estrada para Ouguela e da que se dirige para o Muro. Apesar da cerca que vedaria o cemitério já estar construída, como se pode ainda hoje constatar, a Câmara abandonou o projecto que só veio a ser retomado mais tarde, mas noutro local – no sítio chamado “do Paraíso”, onde hoje se encontra.
Mas, na acta da sessão da Câmara de 28 de Outubro de 1836, ficou apenas registado que: Respondeu-se à Circular Nº 13 que trata sobre os cemitérios, expondo-se que, por falta de meios, se não tem concluído a construção do Cemitério Público; porém que já se acha principiado, com uma grande parte da parede feita. E todos os materiais juntos, e espera-se ficar pronto de tudo até ao dia 30 de Novembro próximo; e que, neste concelho, não há mais povoações em que hajam de se fazer mais cemitérios públicos.
Apesar destas intenções tão progressistas, nada foi feito para que os enterramentos deixassem de ser feitos nas igrejas. Procurou-se um meio termo de conciliação: deixariam de se fazer dentro das igrejas e passariam a fazer-se na cerca do convento de S. Francisco que, de certo modo, seria também campo santo.
O último enterramento feito no cemitério de São Francisco (do antigo convento franciscano que estava abandonado devido à extinção das ordens religiosas pelos liberalistas em 1834) foi o de Aurora Pereira em 14 de Dezembro de 1859 e o primeiro no Cemitério do Paraíso foi o de Maria do Carmo em 17 de Dezembro de 1859, segundo os assentos de óbitos da Freguesia de S. João Baptista.
Mas, um testemunho particular desse tempo refere que, no dia 15 de Dezembro de 1859, deu começo o Cemitério do Paraíso, extramuros desta vila de Campo Maior, sendo a primeira pessoa sepultada nele o filho do Morgado José Augusto Cayolla (mas ocultamente). Este jovem foi assassinado com grande violência junto das muralha que ficavam na actual Avenida. O caso foi noticiado em jornais de Elvas e de Lisboa. Mas nunca foram encontrados os responsáveis e tudo leva a crer que houve uma grande preocupação de abafar o caso. Provavelmente, estes cuidados terão a ver com o carácter secreto deste enterramento.
Tudo leva a crer que tenha existido um antigo pelourinho, medieval, junto aos antigos paços do concelho que primeiramente se localizavam dentro do castelo e que depois foram construídos na chamada Praça Velha. Mas tudo isso desapareceu com a explosão de 1732 e não ficou qualquer registo guardando a memória de como pudesse ter sido tal pelourinho.
Quanto ao que actualmente se encontra no meio da Praça da República, existem dois testemunhos:
O primeiro é o testemunho de um visitante em 1876 que nos diz que o pelourinho estava arrumado à nossa esquerda quando se passa o arco, que era construção do século XVIII, que estava assente sobre quatro degraus de cantaria e que tinha uma coluna que servia de pedestal a uma estátua da justiça. Refere que tinha como característica interessante o facto de estar de olhos desvendados e lhe faltar o braço direito, de que pendia a balança, por lho terem mutilado os rapazes com pedradas. (Do jornal elvense “Democracia”).
O Dr. Martinho Botelho, no livro que publicou em 1996, refere que o pelourinho de Campo Maior era um dos mais notáveis que existiam no país, que tinha sido mandado apear em 1879, pela Câmara Municipal, quando se procedeu no local onde se erguia – a chamada Praça de D. Luís – a obras de reparação e embelezamento. Ora, como em 1880, foi fundado o Museu Arqueológico de Elvas, o pelourinho foi requisitado tendo ali dado entrada em Junho de 1903. Estaria então reduzido a uma coluna medindo 2,17 m, a um capitel, uma esfera e uma figura da Justiça com o braço direito mutilado.
Mais tarde, a pedido da Câmara de Campo Maior, o pelourinho voltou para a vila, sendo restaurado e solenemente inaugurado no mesmo local que antes ocupara, isto é, na antiga Praça D. Luís. Contudo, mais tarde foi colocado no centro da Praça, hoje chamada Praça da República.
O pelourinho é formado por uma elegante coluna de mármore sobrepujada por uma esfera e, sobre esta, a figura da Justiça. Dão-lhe acesso quarto degraus, também de mármore. É um curioso trabalho arquitectónico do século XVIII. No lado virado a nascente, a almofada em que assenta a estátua da Justiça tem inscrita a data de 1740.
Em Campo Maior há uma rua que começa no jardim a que se chama a Avenida e só termina em acentuada ladeira quando se cruza com a antiga rua da Barreia. Essa rua era, toda ela, uma só e, noutros tempos, era chamada Rua da Cadeia porque a cadeia civil do município ficava precisamente localizada no edifício em que a rua termina. Se olharmos para o cimo desse edifício, podemos constatar que ainda lá está o campanário que sustentava o sino da cadeia. Mas o povo foi-a dividindo em três: ao primeiro troço, chamava Rua da Praça Velha, depois que a Praça Nova foi construída por volta de 1740; ao segundo troço, a rua que hoje se chama Rua 1º de Maio, que antes era oficialmente chamada Rua Dr. Oliveira Salazar, o povo sempre chamou Rua do Tenente General, sem que tenha ficado memória de que Tenente General se tratava; ao terceiro troço, que começa no cruzamento com as Mourarias, o povo chamava Rua da Carreia porque aí paravam as diligências da mala-posta.
Mas antes de tudo isso, já existia cadeia, embora fosse outra a sua localização:
Na primeira década de Quinhentos, a cadeia de Campo Maior estava instalada no piso térreo da torre de menagem (1) no interior do Castelo. Cerca de dois decénios depois foi transferida para a Praça, actualmente conhecida por Praça Velha, situada no espaço que medeia entre os altos muros do recinto medieval virado a norte e a respectiva barbacã (2). Ali, numas casas adaptadas para o efeito, que ‘por ordem de sua Majestade, passada no ano de 1524, se compraram naquele sitio, funcionou durante vários séculos a prisão concelhia. (In, Rui Vieira, 1999, p. 135)
(1) Que explodiu em 1732.
(2) À barbacã ou muralha exterior, também se chamava barreia, daí o nome da rua.
O clima é áspero pela deficiência de arvoredo que só abunda a dois e mais quilómetros dos muros. No Inverno desce o termómetro a uma temperatura bastante baixa, elevando-se no Estio a ponto de se tornar o calor quase insuportável. O Verão é pois ardente e feio, o Outono temperado e agradável e o Inverno muito frio mas com dias tão suavemente deleitosos como os que se podem desejar na Primavera. Esta é irregular, ora fria ora quente, ora ventosa ora húmida, sendo as menos vezes as que se diz lhe serem próprias, isto é, suave e amena. Os belos dias de Campo Maior são quase sempre em Janeiro: nesses dias excepcionais o sol resplende sem deslumbrar e o calor dos seus raios, tépidos e voluptuosos, vem tocar-nos com a sensação castamente perfumada de um beijo de criança.
(J. Dubraz, 1869, p. 6)
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