Copyright Info / Info Adicional
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Os anos 20 do século passado, constituíram a década em que se deu o primeiro grande impulso para o desenvolvimento do futebol a nível nacional. Por todas as regiões surgiram novos clubes. Organizam-se os primeiros campeonatos. As equipas portuguesas estabeleceram os primeiros contactos com equipas além-fronteiras. Ensaiam-se as primeiras tentativas de constituição de selecções nacionais em representação do futebol português. Constitui-se a Federação Portuguesa de Futebol em 1926. Mas, era ainda uma época de total amadorismo.
Em Lisboa, os clubes proliferaram e o futebol tornou-se o espectáculo favorito das classes populares. Este desporto começou a ocupar páginas inteiras nos principais jornais e revistas: Diário de Notícias, O Século, A Ilustração, O Sport, Notícias Ilustrado, Eco dos Sports, Diário Ilustrado.
Nas terras pequenas era ainda o tempo das balizas às costas, dos campos mais ou menos improvisados, marcados a cal e regador pouco minutos antes dos jogos começarem, dos jogadores a equiparem-se a céu aberto dentro de uma roda de amigos a servirem de cortina, para resguardar a intimidade dos olhares púdicos das meninas e snhoras. Os que não estavam a jogar, encarregavam-se de guardar as roupas de cobiças alheias enquanto se desenrolavam os encontros. Os campos eram terrenos mais ou menos lisos e nem se sonhava ainda com instalações adequadas como os balneários.
Logo a seguir à Revolução do 5 de Outubro, tinham existido condições para o desenvolvimento de clubes de futebol porque os ideais republicanos incluíam as preocupações com as questões educativas e com a prática dos desportos. Mas, a instabilidade constante provocada pelas disputas partidárias a nível interno, e a participação na Guerra de 1914-18, com a mobilização das gerações que estavam em idade de se dedicarem á prática desportiva, impediram, o desenvolvimento da prática do futebol. Apesar de tudo, alguns clubes foram fundados, embora não tenham conseguido grande notoriedade até aos anos 20.
No jornal A Voz de Portalegre de Setembro de 1932, vem um artigo interessante de alguém que, tendo sido testemunha directa dos factos, retrata com vivacidade e colorido a realidade desde pequenos clubes pioneiros na prática do futebol, quando este estava ainda muito próximo das suas origens. Referindo-se aos tempos iniciais do Sport Club Estrela, fundado em 1919, diz o cronista: Nasceu de uma pleiade de rapazes de 10 a 15 anos que jogavam com pélas de trapos, de pé de meia, de borracha e, mais tarde, de couro, servindo-lhes de catchú uma bexiga de vaca. A equipa era interessante: cada um jogava com o que trazia vestido. Uns de blusa, outros de casaco, outros de mangas de camisa; uns de calças, outros de calções; uns de botas, outros de sapatos e outros de alpercatas...
Porque não tinham sede escolheram o nome adequado à sede que então tinham “debaixo das estrelas”: Sport Club Estrela.
Podemos facilmente aceitar que a realidade assim descrita estará muito próxima do que seriam muitos pequenos clubes que, nessa época ensaiavam os primeiros jogos de futebol.
Até à década de vinte, só Lisboa, a partir de 1910, Portalegre, a partir de 1911, o Porto, a partir de 1912 e a Madeira, a partir de 1916, tinham constituído associações de futebol que permitiam organizar campeonatos locais.
Só na época de 1921/22 se organizou o 1º Campeonato de Portugal que consistiu num desafio entre o campeão de Lisboa e o campeão do Norte. Este Campeonato de Portugal disputou-se entre as épocas de 1921/22 e 1937/38. Começando por se disputar entre o campeão de Lisboa e o campeão do Norte, veio depois a revestir um figurino semelhante ao da Taça de Portugal, pois consistia em sucessivas eliminatórias em duas mãos com recurso a finalíssimas em caso de empate. Aliás, deixou de se disputar na época de 1937/38 para que, na época seguinte, se começasse a disputar a Taça de Portugal.
Os primeiros autênticos campeonatos a nível nacional, começaram em 1934/35, com a organização das I e II Ligas Nacionais que viriam a dar origem à 1ª e 2ª Divisões. O Campeonato da 3ª Divisão só se começou a disputar na época de 1947/48. Ou seja, praticamente só na segunda metade do século XX é que podemos considerar completamente organizados todos os campeonatos nacionais no nosso país.
Antes disso, por razões diversas, não existiram condições propícias ao desenvolvimento geral do país e o incremento da prática desportiva só podia fazer-se em moldes modestos e a nível local.
Os homens, alguns homens, mataram o sentido de um Deus criador e ordenador do Universo. A partir da morte de Deus, criou-se um vazio. Perdeu-se o sentido da responsabilidade. Os homens entregaram-se ao prazer e ao ter. Perderam o sentido do dever.
É no meio desta ausência de responsabilidade que, homens como Saramago se elevam em toda a sua humanidade. Para eles, a não existência de Deus não abre portas à iniquidade, à falta de responsabilidade e à ausência de objectivos. Pelo contrário: Mesmo que Deus não exista, aí está o Homem, como ser maior de toda a existência. Por isso, ele tem de encontrar, em si mesmo, a razão de ser do seu comportamento.
Se o crente acredita que Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança e se sente responsável perante Deus, a quem prestará contas pelos seus actos, o não-crente tem de criar um ideal de Homem, feito à imagem e semelhança de Deus. Entendendo Deus como um ideal de perfeição que, cada um de nós, deve aspirar atingir.
Para o não-crente, o Homem é ainda mais responsável, porque é senhor do seu próprio destino.
Até à década de vinte, só Lisboa, a partir de 1910, Portalegre, a partir de 1911, o Porto, a partir de 1912 e a Madeira, a partir de 1916, tinham constituído associações de futebol que permitiam organizar campeonatos locais.
Só na época de 1921/22 se organizou o 1º Campeonato de Portugal que consistiu num desafio entre o campeão de Lisboa e o campeão do Norte. Este Campeonato de Portugal disputou-se entre as épocas de 1921/22 e 1937/38. Começando por se disputar entre o campeão de Lisboa e o campeão do Norte, veio depois a revestir um figurino semelhante ao da Taça de Portugal, pois consistia em sucessivas eliminatórias em duas mãos com recurso a finalíssimas em caso de empate. Aliás, deixou de se disputar na época de 1937/38 para que, na época seguinte, se começasse a disputar a Taça de Portugal.
Os primeiros autênticos campeonatos a nível nacional, começaram em 1934/35, com a organização das I e II Ligas Nacionais que viriam a dar origem à 1ª e 2ª Divisões. O Campeonato da 3ª Divisão só se começou a disputar na época de 1947/48. Ou seja, praticamente só na segunda metade do século XX é que podemos considerar completamente organizados todos os campeonatos nacionais no nosso país.
Antes disso, por razões diversas, não existiram condições propícias ao desenvolvimento geral do país e o incremento da prática desportiva só podia fazer-se em moldes modestos e a nível local.
Os campos, mesmo em Lisboa, nem sempre possuíam as medidas regulamentares e não tinham como utilização específica a prática do futebol. Eram terrenos mais ou menos planos, campos de feira, praças públicas, onde se podiam espetar dois paus no chão, a sete pés de distância entre si e ligados em cima por uma corda, que faziam de baliza. As redes só apareceram mais tarde, como as marcações do campo, como os árbitros e como as regras que só foram fixadas e assimiladas com o decorrer do tempo. Os primeiros campos de futebol eram apenas isso: campos onde se podiam dar uns chutos na bola.
A própria bola nem sempre era fácil de adquirir porque era cara, rara e difícil de fabricar. A bola deixada pelos marinheiros ingleses na Madeira em finais do século XIX, quando se lhe estragou o cautechu, introduziam-lhe dentro uma bexiga de porco para que pudesse continuar a ser utilizada. Daí que a necessidade levasse ao engenho de se fabricarem bolas de trapo com meias velhas, cheias de tudo o que pudesse servir de lastro para encher um objecto que, se não servia para jogos a sério, servia pelo menos para praticar.
O jogo do coice
A maior parte dos clubes de futebol que ainda hoje existem em Portugal, foram criados antes dos anos 30 do século XX. Eram em número tão elevado que não havia cidade ou vila que não tivesse mais do que um clube mais ou menos organizado. Mesmo em certas aldeias, os clubes se constituíram. Seria talvez mais apropriado designá-los por grupos do que por clubes, atendendo à fragilidade orgânica e ao carácter efémero da maior parte deles. Tratava-se de grupos de rapazes – estudantes, amigos, colegas de trabalho ou de empresas, sócios de sociedades recreativas – que se juntavam para constituir equipas para a prática do futebol. Muitos desapareceram sem deixar rasto. Os que conseguiram sobreviver, cresceram, integraram-se em campeonatos. Primeiramente, disputados a nível local entre os clubes da mesma povoação ou entre clubes de povoações mais próximas. Nos primeiros tempos, primeira década do século XX e parte dos anos 20, não havia campeonatos organizados a nível nacional. Os jogos eram combinados entre as equipas. Designavam-se como desafios porque o que de facto acontecia era que uma equipa desafiava outra para disputar um jogo de futebol.
Como chegou a Portugal?
Em Lisboa, foi um estudante em Inglaterra que trouxe consigo a primeira bola de futebol. Na Madeira, como no Algarve, são marinheiros ingleses que mostraram aos locais o novo jogo da bola. No Porto, foram os ingleses aí estabelecidos em volta dos negócios do vinho.
Em Portalegre, segunda cidade a ter constituído uma federação de futebol, terão sido os ingleses ligados ao negócio da cortiça a introduzir o novo desporto nos hábitos da cidade. Segundo um artigo de A Voz de Portalegre, George Robinson em 1847 adquiriu uma pequena fábrica de cortiça que tinha sido fundada dez anos antes por outro inglês, Tomaz Reynolds. Seu filho George Wheelhouse Robinson, nasceu em Portalegre em 1857 e aí morreu em 1932. Foi educado na Inglaterra nas escolas de Doncaster e Leedon. Mas passava as férias em Portalegre e aí regressou terminados os estudos. É difícil não estabelecer a relação entre a sua presença na cidade e a práctica do futebol que começou em tempos tão remotos. Com poucas diferenças, estes factos verificam-se nas últimas décadas do século XIX.
Contudo, em Portugal, por esse tempo, as coisas não corriam de feição para os ingleses. Os nossos mais antigos aliados tinham, através de sucessivas atitudes de arrogante e assumida sobranceria, afrontado os sentimentos nacionais do povo português. Primeiro, fora o aproveitamento da ausência do rei no Brasil e a nossa necessidade que nos viessem socorrer contra as Invasões Francesas. Vieram e ficaram. Ficaram e dominaram como se de uma colónia sua se tratasse. Foram compelidos a retirarem-se pela Revolução Liberal de 1820. Com o tempo, o povo português foi esquecendo esse antigo ressentimento. A necessidade e o interesse voltaram a aproximar-nos dos ingleses. Mas, já para o fim do século XIX, novas mágoas vão ditar novos ressentimentos: A Inglaterra, com as outras grandes potências europeias, lançou olhares de cobiça e de venalidade para uma África prenhe de recursos naturais, matérias-primas para as suas indústrias. Reunidos na Conferência de Berlim, negaram os direitos históricos de Portugal sobre o continente africano. Pretenderam dividir entre si a África, ditando o direito da capacidade de ocupação efectiva.
Portugal, atrasado e pobre, procurou salvar o que fosse possível. Mandou à pressa exploradores como Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens fazer o reconhecimento das terras do interior. Foram traçados os primeiros mapas. Portugal procurou definir os seus direitos, assinalando num mapa, a cor-de-rosa, os territórios que reivindicava como de sua pertença. Nesse mapa, o que hoje é Angola ficaria ligado, em continuidade territorial, ao que hoje é Moçambique. Ora, tal pretensão ofendeu as ambições inglesas que queriam assegurar a ligação das suas colónias do norte com as do sul do continente africano.
A reacção foi brutal porque, além de rasgar a mais antiga aliança entre dois países europeus, ameaçou com o imediato recurso à força das armas contra Portugal se este não se submetesse às exigências da Inglaterra.
Que poderia fazer o rei e o governo de um país tão atrasado, tão pobre e tão dependente como Portugal?
Os governantes cederam à lei do mais forte. Mas o povo português não podia aceitar nem perdoar. Um ódio nacional forte e intenso polarizou-se em tudo o que fosse inglês ou que de Inglaterra viesse. Ora, tudo isto acontece na altura em que o futebol acabava de chegar ao nosso território e nele começava a dar os primeiros pontapés. Até tinham começado a organizar-se os primeiros clubes e a disputar-se os primeiros matches.
O entusiasmo inicial esfriou. O futebol chegou a ser
depreciativamente tratado por jogo do coice. Apesar disso, ainda que de forma reservada, quase às escondidas, continuou a ser praticado, principalmente pelos ingleses que aqui continuavam a residir.
Quando melhores dias trouxeram ao povo razões para esquecer antigas mágoas, o futebol pôde voltar a emergir. E, com que força. Em menos de duas décadas expande-se por todo o país. As duas primeiras décadas do século XX foram os anos de proliferação da prática do futebol no nosso país. Surgiram os primeiros clubes. Alguns nunca iriam passar de pequenos clubes de bairro. Outros, tornaram-se os grandes clubes de hoje.
O testemunho que a seguir se transcreve, revela com toda a clareza e sem equívocos quanto eram ainda imprecisas as regras do futebol que se praticava na maior parte das terras de Portugal, nas primeiras duas décadas do século XX:
Os jogadores jogavam quando lhes apetecia, sendo por vezes difícil, ou mesmo impossível, constituir equipa para jogar.
Num jogo em Elvas, em 7 de Dezembro de 1930, entre os seniores do Sporting Club Elvense e os do Sport Lisboa e Elvas que eram na época os dois maiores clubes da cidade, apesar de o Sport Lisboa ter avisado por carta que não podia comparecer, a outra equipa entrou em campo, alinhou, o árbitro deu início à partida, marcaram dois golos na baliza deserta para confirmarem que ganhavam o jogo e o árbitro deu por findo o desafio.
A Voz Portalegrense de 12 de Fevereiro de 1933, a propósito de um jogo entre o Sport Club Estrela de Portalegre e o Lusitano Ginásio Club de Évora escrevia que, quanto às condições de substituição, ficou combinado o seguinte: substituir apenas os jogadores que se magoassem, não voltando depois ao terreno.
Ora, o Lusitano não cumpriu o combinado e substituiu durante o encontro alguns jogadores sem estarem magoados, por estarem a jogar mal e alguns dos jogadores substituídos voltavam depois ao campo, saindo os que os tinham substituído, ou os que melhor lhes conviesse.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.