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VITÓRIAS À PIRRO

por Francisco Galego, em 20.01.10

Pirro, foi um rei do Épiro, país que se situava a norte da Grécia, junto ao mar Adriático. Viveu entre 318 e 272 a.C. Nasceu, no ambiente conturbado que se vivia naquela região depois da morte de Alexandre Magno e da desagregação do imenso império que ele tinha conquistado na parte oriental do Mediterrâneo.

Pirro subiu ao trono com apenas 12 anos. Foi destronado e conseguiu depois reconquistar o poder. Aos 20 anos era já uma figura lendária, tantas eram as situações porque passara e tantos eram os conflitos em que tinha participado.

Tendo recebido uma excelente preparação militar, dera provas de grande bravura e de capacidade como estratego nos muitos combates que travara. Táctico de génio, era, contudo, medíocre como político. Faltou-lhe o sentido do concreto e não teve capacidade para avaliar a força real de que dispunha. Por isso, sonhou chegar muito além do que realmente podia almejar.

Tomava como modelo Alexandre Magno que unificara o Oriente até ao Indo e aos confins do Egipto. Concebeu para si o projecto de se tornar o grande unificador do Ocidente.

Em cumprimento dos seus planos megalómanos, depois de vários êxitos militares na sua região, acudiu ao pedido de auxílio das cidades gregas do sul da Itália, que lhe pediam ajuda contra os romanos que estavam em plena fase de expansão.

Atravessou o Adriático com os seus exércitos de 25 mil homens e 20 elefantes. Travou duas importantes batalhas contra os romanos: a de Heracleia, em 280 a. C., e a de Ausculum (Ascoli), em 279. C.

A decisão destes recontros pareceu ter sido favorável ao exército de Pirro. Mas, tinha sofrido baixas tão grandes que, estando tão longe da sua terra, dificilmente poderia receber reforços. Conta-se que, num momento de lucidez em que estava a ser cumprimentado pela vitória, Pirro terá comentado: “Pois! … Mais uma vitória como estas e estarei completamente vencido”.

Verdade seja que, a partir daí, Pirro não mais conheceu a vitória. Depois de uma tremenda derrota, em 275 a.C., na Batalha Meleventum, Pirro ficou reduzido a 1/3 do seu exército. Teve de retirar para o Épiro onde morreu em 272 a.C. (Os romanos mudaram o nome desta batalha para Beneventum, tal como os portugueses, muitos séculos depois, mudaram o nome de Cabo das Tormentas para Cabo da Boa Esperança). Esta situação histórica pareceu sempre tão paradigmática que até hoje se diz que houve uma “vitória à Pirro”, sempre que as consequências que dessa vitória resultam são tão nefastas que mais valia que ela não tivesse acontecido.

 

A que propósito vem esta história?

A propósito da minha profunda convicção de que o conhecimento da História pode ser muito útil para melhor fundamentarmos as decisões que temos de tomar ao longo da nossa vida. Neste sentido, podemos usar a História como uma autêntica mestra de vida.

Mas vem, sobretudo, a propósito da tendência, que os homens, tanto individualmente como associados em grupos ou em instituições, têm para se envolverem em situações e projectos sem avaliarem bem as consequências que daí podem advir.

Chega às vezes a ser dolorosa a constatação de como, com tanto esforço, tanto empenho e tanta determinação, se está de facto a caminhar no sentido que menos conviria ter seguido. Mais doloroso ainda é assistir à celebração de vitórias que se pode desde logo perceber que trazem mais incómodos que vantagens. Ou que as vitórias são apenas aparentes porque, na realidade, os vencedores ficam tão fragilizados que mais valia não se terem desgastado em tão inúteis combates.

De que serve envolvermo-nos em lutas que, se tivéssemos avaliado, com justo critério as circunstâncias, a capacidade e as probabilidades de êxito, teríamos compreendido que não preparavam realmente o êxito que pretendíamos alcançar?

Que sentido faz lutar por causas que, bem analisadas, não trazem efectivamente vantagens reais?

Estamos a viver tempos de pouca ponderação, de muito barulho e muita agitação, sem que se façam prévias e fundamentadas análises das situações.

Porque a verdade é, evidentemente, esta: quem parte para a luta sem uma análise clara das consequências ou age com inconsciência, ou está a ser instrumentalizado por quem quer atingir objectivos que podem realmente não coincidir com os nossos. Uma coisa é certa: muitas vezes só se alcançam “vitórias à Pirro” e estas são, às vezes, de efeitos mais desastrosos que algumas derrotas. Pelo menos, as derrotas, se bem analisadas, sempre servem de lição para não voltarmos a repetir os erros que cometemos.

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publicado às 10:51


CAI NEVE EM CAMPO MAIOR

por Francisco Galego, em 10.01.10

São 14:35:

Há bem, mais de uma hora que cai neve. Não pouca e em pequenos farrapos esparsos. Mas neve em abundância que se vai acumulando em camada espessa, cobrindo tudo de um manto branco.

Nunca tinha visto a vila assim. Tenho uma vaga ideia de, sendo muito pequeno, ter brincado com neve. Meu pai fez para mim um boneco. Mas é uma lembrança tão afastada que não a consigo definir com clareza.

Ver, clara e conscientemente visto, é a primeira vez que estou a ver neve a cair sobre Campo Maior. O meu terraço está coberto desta brancura fria que sinto e observo aqui pela primeira vez.

Saí para a rua. Fui até ao Jardim. O espectáculo foi inesperado. Outros pais e outros filhos faziam como eu, de maneira difusa, acho que fiz com o meu pai. Atiravam pequenas bolas de neve uns aos outros; um dos grupos tentava construir um boneco.

Continua a nevar enquanto escrevo. O fenómeno persiste e parece não estar para parar tão depressa. Os vizinhos espreitam tão admirados e deliciados como eu.

Ainda que o não queira, vem-me constantemente à memória aquela balada terna que hoje considero excessiva de tanta pieguice, mas que me deliciava quando a aprendi de cór na minha instrução primária:

 

Batem leve, levemente,

Como quem chama por mim ...

....

Afinal a neve não bate assim, como dizia o poeta. A neve produz este espantoso espectáculo que é vê-la cair.

 

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publicado às 14:37


O VIRAR DA PÁGINA?

por Francisco Galego, em 07.01.10

 

Findo o período das Festas, a vida retoma a sua normalidade. Será que retoma mesmo? Mas o que é para nós hoje, em Portugal, a normalidade? A continuação do que vinha sendo ao longo de 2009? Ou o regresso ao tempo anterior, um tempo em que a crise ainda não tinha desabado sobre as nossas cabeças?

Convinha muito, mas mesmo muito, que o discurso do presidente Cavaco Silva fosse o início de uma nova atitude dos que desempenham funções políticas. Porque, se atendermos aos comportamentos que tiveram ao longo do ano que terminou, nada de bom nos espera no ano que agora começa.

Se reparamos bem nos últimos acontecimentos e situações da nossa vida política mais recente, acabamos por pensar que (consequência da crise?) todos terão perdido o sentido da realidade e começaram, cada um por seu lado, a desempenhar papéis que não eram os que lhes competia desempenhar. Se não vejamos:

O Presidente da República que devia desempenhar a função de equilibrador, equidistante de todas as forças partidárias, pareceu não ter percebido que, efectivamente, já não era líder de um partido, nem um político no activo na função de primeiro-ministro. Vimo-lo interferir no jogo partidário, conspirando ou fazendo outros conspirar em seu nome ou mando do seu interesse e vontade. Vimo-lo a criticar uns, apoiando implicitamente outros. Vimo-lo calar-se quando devia intervir e esclarecer, falar e opinar quando devia guardar uma atitude discreta.

O primeiro-ministro que, embora tenha ganho as eleições, perdeu a maioria absoluta de apoiantes no parlamento, continuou a agir como se nada tivesse mudado. Assim, a convicção com que antes defendia e tentava justificar os seus pontos de vista e decisões, deu origem a uma obstinada, por vezes arrogante tentativa de impor a sua vontade, quando devia, prudentemente, ter tentado negociar para obter apoios e gerar consensos através de pacientes negociações.

Os partidos da oposição, em geral, passaram a comportar-se como se juntos constituíssem uma maioria efectiva, parecendo perder completamente a noção de que tal não passava de uma aparência conjuntural sem qualquer viabilidade de persistência e que se desmoronaria ao mínimo incidente porque, de facto, é pouco que os une e muito o que os coloca em constante conflito de interesses.

Como aceitar tal destempero e tanta irresponsabilidade, num momento em que o país vive uma fase tão crítica da sua história recente? Porque o que realmente acontece é que, na verdade, estamos a meio de uma grave crise. O desemprego não pára de crescer. A dívida externa atinge valores cada vez mais preocupantes, O défice disparou para níveis dificilmente comportáveis.

O Presidente disse: “Podemos estar a caminhar para uma situação explosiva.” E nós acreditamos, porque é mesmo à beira do abismo que todos nós pensamos que o país se encontra no momento actual.

O navio em que todos vamos embarcados, está no meio de uma desatada tempestade e parece que, em vez de nos unirmos para tentarmos manter o rumo e evitar que o barco adorne de vez e se afunde, entretemo-nos a lutar freneticamente como se não passássemos de uma “nave de loucos”.

Por todas estas razões, o Presidente da República, na sua mensagem de Ano Novo, não se limitou a cumprir a tradição de expressar os habituais votos de saúde, bem-estar e prosperidade para todos os portugueses. Optou por lançar o grito de alerta que esta situação grave, quase desesperada, parece exigir. Ainda bem que o fez. Com ela assumiu aquilo que deve ser a sua função de zelador e garante do equilíbrio institucional, colocando-se numa perspectiva acima dos partidos. Traçou um quadro realista da situação em que vivemos, diagnosticou problemas, alertou para a necessidade de encontrar soluções para podermos ultrapassar o momento crítico que vivemos. Apelou ao bom senso, à boa vontade e ao empenho de todos. Incitou ao entendimento e à negociação, em busca de formas consensuais para enfrentar a crise esquecendo razões, ressentimentos e tensões.

Para garantirmos um futuro para todos nós, precisamos de encontrar objectivos comuns, trabalharmos em conjunto, em favor do país a que todos pertencemos. Se este apelo for entendido e aceite, poderemos ter, de novo, a expectativa de um BOM ANO para todos.

 
 

 

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publicado às 09:00


No dia primeiro do ano

por Francisco Galego, em 01.01.10

O dia primeiro? Primeiro de quê?

Para muitos será o dia mais "chato" do ano. Tudo fechado. Nada para fazer.

Há região mega-urbana de Lisboa o hábito de fazer a chamada "volta dos tristes". De facto, querem maior tristeza do que se meter uma família, melancolicamente no seu pequeno e muito usado carro e andar às voltas, sem itinerário e sem destino pelos arredores da grande cidade?

Vai-se a Sintra, come-se uma queijada. Em Colares escorropicha-se um copito. Depois, até à Praia Grandes espreitar o mar. Volta-se pela marginal e acaba-se em Lisboa, a subir a Avenida da Liberdade, depois a da República, direito ao Campo Grande, de regresso a casa no triste bairro onde se reside.

A vida que, já de si é desinteressante, torna-se angustiosamente fastidiosa nestes dias em que, segundo a tradição, nos devemos divertir.

Há, de facto, formas muito desinteressantes de viver!

Ainda bem que a consciência da realidade varia com a capacidade que temos para a compreender. Dizia Schopenhauer, com a simplicidade do seu genial pensamento:

As pessoas comuns pensam apenas como passar o tempo. Uma pessoa inteligente tenta usar o tempo.

Quem tiver a capacidade de entender que analise criticamente o que nela se pretende dizer. Talvez assim decida fazer algo de útil neste dia primeiro.

 

 

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publicado às 12:22


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