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Coisas que fui escrevendo VIII

por Francisco Galego, em 30.08.09

 

Felizmente vai crescendo o número dos que entendem que na nossa democracia há um excesso de representatividade e um enorme défice de participação. É sobretudo a nível do poder local que começam a surgir projectos políticos que pretendem governar congregando vontades e capacidades através da intervenção dos cidadãos.
Provavelmente as pessoas não estarão fartas da política, mas apenas de uma certa forma de exercício do poder político. Se não, vejamos: o que torna tão desesperantemente censurável a acção de certos políticos? Não é agirem sem terem como base da sua acção um sólido e consistente plano de ideias? Não é a sua obstinação em ignorarem deliberadamente os que se preocupam em reflectir sobre as condições de vida das populações e as suas necessidades? Há algo de mais reprovável e de maior pobreza política que exercer o poder apenas para satisfazer impulsos, interesses e apetências pessoais ou de grupos de influência?
Os homens com responsabilidades de governação, são tanto mais fiáveis quanto maior é a sua disposição para atenderem à opinião daqueles que se propõem governar. Até porque governar deve ser sempre uma forma de servir e nunca uma forma de servir-se.
Provavelmente, na conjuntura actual, a grande questão política não será tanto a da escolha entre esta ou aquela pessoa ou facção, mas a de avaliar os projectos que são apresentados pelos que se propõem ser escolhidos por nós para governarem através do processo democrático das eleições.
 

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publicado às 18:19


Coisas que fui escrevendo VII

por Francisco Galego, em 25.08.09

 

Portugal é ainda um país profundamente marcado por uma dura ditadura que sufocou durante quase meio século as tentativas de real desenvolvimento. Os pouco mais de trinta anos de situação democrática não bastam para apagar por completo os estigmas de tão dominadora e duradoira situação de opressão.
Por outro lado, o mundo em geral passa por uma fase de contínua e alucinante série de transformações. Todas as épocas de transformações profundas são naturalmente épocas de crise: há um mundo que vai desaparecendo para dar lugar a uma nova etapa da civilização. Como conviver com estes tempos de tanta incerteza e de tanta instabilidade?
A tendência mais natural é para desistir, deixar de se interessar, deixar correr. Mas nenhum mal se cura depressa e bem deixando apenas o correr tempo. Compreende-se que o espectáculo dado pelos certos representantes políticos, seja de facto muito desanimador. Mas desistir de participar não será a melhor forma de contribuir para que se mantenham as situações que provocam o nosso desagrado?
Claro que dói verificar que muitos dos que desenvolvem e exercem o poder político, a todos os níveis da governação, parecem muito mais empenhados em abocanhar o máximo de poder, ignorando o interesse público, a vontade e bem-estar daqueles que os elegeram como representantes para que governassem segundo o melhor bem comum possível. É verdade que, causa desencanto constatar-se que, em vez de se unirem na busca do bem público, se consomem em questiúnculas e lutas de facções. Por vezes, essas lutas desenvolvem-se dentro de um mesmo partido, havendo também os que, cegos, surdos e mudos ao crescente e perigoso desinteresse das populações pela causa da democracia, pensam que assim conseguem instalar mais facilmente a arbitrariedade do seu poder pessoal. Ora, para bemdecidir, é preciso decidir com a participação e segundo o interesse das populações.

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publicado às 18:15


Coisas que fui escrevendo VI

por Francisco Galego, em 20.08.09

 

Os partidos políticos são indispensáveis a um normal funcionamento do sistema democrático. Mas a democracia não deve limitar-se à acção política desenvolvida pelas organizações partidárias por mais que elas se identifiquem com a vontade dos que, através do voto, delegam nos partidos o seu poder de decisão.
Os partidos legalmente constituídos reúnem, em si, um máximo de representatividade mas, na maioria dos casos, desenvolvem a sua acção política recorrendo a um mínimo de participação cívica. Todas as acções são tomadas e desenvolvidas através de complexos aparelhos organizativos, sem praticamente recorrerem à consulta da vontade popular.
Uma democracia em que a vontade popular apenas se expressa através do voto para escolher os seus representantes, os quais vão exercer o poder através da estrutura do Estado, é uma democracia muito limitada.
Ao contrário do que muitos pensam, a democracia não pode ser entendida apenas como um regime político. A democracia é, acima de tudo, um grau de civilização que os povos e as sociedades humanas só podem alcançar quando atingem um determinado estádio de evolução. O poder concentrado em absoluto nas mãos de um chefe ou de uma elite minoritária, só subsiste em povos de fraco nível de desenvolvimento ou fortemente deprimidos por profundas crises sociais. Daí que, todos os ditadores tanto invistam na manutenção do subdesenvolvimento dos povos que pretendem dominar. Daí resulta também que o grau de democracia de que um país, um estado, ou um povo pode desfrutar, num dado momento, depende da capacidade que esse povo tem para a participação na tomada de decisões que dizem respeito a todas as comunidades que integram esse povo, estado ou nação.

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publicado às 18:13


Coisas que fui escrevendo V

por Francisco Galego, em 15.08.09

 

Permitam que coloque a seguinte questão:

Imaginemos um patrício nosso que, pelos acasos e necessidades da sua vida, foi obrigado a viver noutra terra e noutra comunidade nos arredores de Lisboa ou noutro país distantede de Portugal. Esse nosso patrício para aí levou a sua família, tendo-se os filhos e os netos enraizado na terra de acolhimento perdendo os laços que os ligavam a Campo Maior. Agora que a velhice se aproxima, gostará, por ventura, de regressar à sua terra natal. Mas, gostaria também que os seus filhos e netos o viessem visitar com alguma regularidade. Pois bem! Que poderá Campo Maior oferecer de diferente e aliciante que atraia as novas gerações para fazerem uma visita mais regular e mais prolongada?

Se tivéssemos o mar e as atraentes praias das terras do litoral, bastaria fazer muito pouco para os convencer a virem e a por aqui ficarem em tempo de férias. Mas, o que é que nós, aqui neste interior seco e árido, lhes poderemos oferecer?

Não temos praias é certo. Mas possuímos um riquíssimo património histórico e cultural que bastaria ser bem mostrado e explicado para atrair a atenção e o interesse de quem nos visitar.

Em Campo Maior há (ainda) vestígios de uma história militar que provam quanto esta terra foi importante para a defesa e manutenção desta identidade nacional que continuamos a venerar sob o nome de Portugal. Temos é de nos preparar para saber mostrar e explicar esses vestígios de um passado a todos os títulos significativo e motivo de orgulho justificado. Teremos, portanto, que ter uma política de conservação e dinamização desse património.

Mas o património cultural de Campo Maior não consiste apenas nos muros que restam do passado. Campo Maior não é apenas mais uma  uma terra. É, principalmente, uma terra habitada por um povo que tem uma história e uma cultura muito próprias e com aspectos bem importantes.

As Festas do Povo são a prova maior do poder de atracção que têm as manifestações duma legítima cultura local. Mas as festas não são a única realização própria da cultura campomaiorense. O “cantar e bailar as saias” constituiu, uma extraordinária manifestação da cultura campomaiorense. Infelizmente, a falta de cuidado que se está a verificar com a sua conservação e divulgação, faz com que esteja tão ameaçada de desaparecer da nossa memória colectiva como estão as muralhas das nossas fortificações que vão caindo sem que se recorra aos meios necessários para as salvar.

Sendo Campo Maior a única terra onde ainda há o hábito de cantar e bailar as saias, havendo tantos milhares de campomaiorenses a viver longe de Campo Maior, porque não se organiza um verdadeiro Festival de saias? Não um espectáculo de palco como se tem feito, mas uma autêntica animação das ruas e das praças como devem ser “as saias”. Um evento carregado de originalidade e interesse que sirva de pretexto para que os nossos emigrantes se sintam motivados e compensados ao visitarem a sua terra. Tenho a certeza de que muitos deles teriam tanto orgulho em mostrar esta manifestação cultural aos seus descendentes e aos visitantes como têm de ver e mostrar as Festas do Povo de Campo Maior. Só que o Festival das “saias” teria a vantagem de poder ser anual. E, acreditem: podia ser feito com muito menos despesa e muito maior retorno do que se obtém com o que se vem fazendo nos últimos anos.

Já agora permitam que coloque ainda uma outra questão: havendo já em Campo Maior serviços destinados ao apoio ao turismo, porque não desenvolvê-los de modo a dotá-los da capacidade de planificarem, programarem, promoverem e acompanharem visitas guiadas aos locais com interesse para a compreensão do passado de Campo Maior?

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publicado às 16:29


Coisas que fui escrevendo IV

por Francisco Galego, em 10.08.09

 

Noutros tempos, a maioria dos campomaiorenses nasciam viviam e morriam em Campo Maior. Muitos nem de cá chegavam a sair ao longo de toda a sua vida. Era difícil viajar, tão difícil que só uma minoria de privilegiados o poderia fazer.
Por outro lado, Campo Maior constituía uma comunidade essencialmente rural: uma população na sua maioria muito pobre, vivendo, na quase totalidade, do trabalho nos campos e dos rendimentos que a terra propiciava; uma comunidade rural que tinha hábitos e comportamentos muito ligados ao seu estilo de vida. Era próprio das comunidades rurais a pouca tendência para as inovações. As mudanças aconteciam a um ritmo tão lento que os hábitos passavam de geração para geração.
A partir de meados do século passado, com o fim da Segunda Grande Guerra, as coisas começaram a mudar a um ritmo tão alucinante que quase não temos tempo para assimilar as mudanças  o que se vão verificando ao longo das nossas vidas.
Com estas mudanças, todas as tradições e actos culturais que definiam e caracterizavam as povoações tendem a ser esquecidas à medida que se instala uma uniformizada e massificada forma de comportamento que apaga todas as diferenças e descaracteriza completamente os grupos humanos. Isso até se verifica nessas esquisitas manifestações que têm por hábito classificar como festivais de folclore.
Devemos deixar que esta forte tendência arrase e lance no esquecimento todos os vestígios da cultura dos nossos antepassados? Nada podemos e nada devemos fazer para preservar um património cultural para que os nossos descendentes que vivem lá por fora possam dele tomar conhecimento?

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publicado às 16:06


Coisas que fui escrevendo III

por Francisco Galego, em 05.08.09

 

Com a aproximação do Verão, estâo de novo a regressar, de visita à sua terra, muitos dos campomaiorenses que fazem a sua vida em terras mais ou menos distantes. Trá-los a saudade e a necessidade de reverem os seus e os locais onde cresceram e viveram parte da sua existência.
Noutras terras, a recepção aos emigrantes é programada e organizada com a preocupação de lhes propiciar o melhor acolhimento e estadia possível. Aqui, em Campo Maior, não se tem verificado tal preocupação. Sendo a nossa terra pobre de eventos de carácter tradicional, torna-se fácil perceber que não seja muito aliciante, para os que cá vêm, fazer por aqui grandes estadias. A não ser nos anos em que se realizam as Festas do Povo.
Claro que um evento da dimensão que estas festas atingiram não pode ser realizado com grande frequência. Mas temos de compreender que com um clima tão pouco convidativo como o das grandes calmarias de Julho e Agosto e com uma total ausência de momentos de animação, se torne muito improvável que os visitantes se disponham a permanecer nesta terra por muito tempo.
Noutros tempos, Campo Maior, como quase todas as outras terras, tinha um calendário organizado de momentos festivos: a Páscoa, a romaria à Senhora de Bótoa em Badajoz, o São João, a Feira de Santa Maria em Agosto, a romaria do Senhor Jesus da Piedade pelo São Mateus em Elvas. À excepção da Páscoa que se renovou com a grande romaria da Senhora da Enxara, todas as outras festividades têm definhado, tendo-se tornado algumas delas  quase insignificantes, enquanto outras  outras praticamente desapareceram.
Claro que isto tem uma explicação: É que, não sendo estas mudanças culpa de ninguém, tiveram como causa as profundas alterações que se deram nas condições básicas da vida.

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publicado às 12:45


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