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Coisas que fui escrevendo II

por Francisco Galego, em 30.07.09

 Vivemos hoje numa sociedade de informação. Tudo que aconteça em qualquer parte que seja do mundo, chega rapidamente ao nosso conhecimento. E o volume desses factos que diariamente até nós chegam é de tal ordem que nos assusta. Sabemos o que se está a passar numa cidade tão longínqua como São Paulo no Brasil. Se a  rádio, a televisão e os jornais nos dão a impressão de uma grande metrópole, com a dimensão de uma das maiores cidades do Brasil e do mundo, estar a ser desestabilizada por bandos organizados de marginais, naturalmente que isto nos assusta e somos naturalmente levados a pensar: O mundo está perdido! No meu tempo não era assim!

Provavelmente era ainda muito pior. Só que os nossos avós viviam num mundo em que a informação era muito escassa. Mal sabiam o que se passava nas vizinhas cidades de Portalegre ou de Elvas, quanto mais do que se passava no Brasil. Eles não ouviam rádio, coisa apenas acessível aos muito endinheirados. A televisão não existia. E, a maior parte deles, não poderiam ler os jornais porque … nem sequer sabiam ler.

Os jovens de hoje já nasceram num mundo diferente. A informação faz parte integrante do seu modo de viver. E se há jovens que se perdem nos descaminhos da vida, isso também acontecia nos tempos antigos, com a agravante de que os nossos  avós não tiveram tantas oportunidades como aquelas que estão a ser dadas aos nossos filhos e netos.

A grande maioria dos que nasceram em Campo Maior no tempo dos nossos avós tiveram apenas como oportunidade de vida, sem alternativa nem escolha, arrastarem-se numa vida de esforçado trabalho nos campos, com muito pouco conforto e com a presença constante de carências que hoje nem conseguimos imaginar.

Por mais que os problemas nos atormentem, mantenhamos a confiança num futuro melhor e na capacidade das novas gerações que irão construir esse futuro.

 

Post scriptum: Foi hoje a enterrar o Dr. Santos, um dos mais notáveis "João Semana" que me foi dado conhecer. Estava disponível 24 horas por dia, fosse para quem fosse, independentemente dos meios de fortuna ou da importância social e política dos que o solicitavam. Aos pobres nada levava. É sabido por muitos que, em muitos casos, até tirava do seu magro pecúlio para ajudar os que muito necessitavam.

Chegou a Campo Maior tinha eu nascido há pouco tempo e, até aos meus 30 anos, ele foi o médico que eu gostava de ouvir em todas as questões de saúde que se me deparavam. O meu filho mais velho ainda foi assistido por ele, nas suas breves permanências em Campo Maior.

Este algarvio de nascimento, tornou-se mais campomaiorense de coração que boa parte dos campomaiorenses. Não sei outra maneira mais directa de o homenagear que dizer dele esta frase simples: "Chegou a Campo Maior há mais de 60 anos, muito pobre, e partiu hoje a enterrar no cemitério da terra da sua adopção, tão pobre como chegou".

Não era apenas disponível, era também de um elevado nível de competência. Aos seus conhecimentos de clínico e à sua larga experiência, associava uma especial intuição para perceber as razões psicológicas que, em muitos casos, estavam por detrás dos males físicos de que os pacientes se queixavam.

Gostava muito de o ouvir dissertar sobre a sua vida de médico, o entranhado amor aos pais e a outra paixão da sua vida que eram os touros e as touradas, único vício que o levava a percorrer quilómetros em procura de uma boa faena.

Que repouse em paz, este grande (de corpo e de alma) homem e médico que, embora da idade de meu pai, eu sempre entendi como um grande amigo, capaz de mostrar ternura ralhando, quando entendia que eu não me portava a preceito, como ele desejava.

 

Requiescat in pace, grande amigo deste povo.

 

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publicado às 20:09


Coisas que fui escrevendo I

por Francisco Galego, em 25.07.09

 

Se defendo a aposta nas novas gerações é porque, além de ter convivido com elas durante quase toda a minha vida, entendo que é nos mais jovens que devemos procurar lançar os alicerces de projectos que gostaríamos que perdurassem no tempo. Afinal são eles que cá estarão no futuro próximo.
Muitos são os que pensam que não vale a pena apostar nos jovens porque estes não se interessam por nada que mereça ser devidamente considerado. Com o devido respeito, permitam-me afirmar que não há nada mais errado do que assim pensar.
Nas novas gerações há certamente atitudes de desvario que merecem ser censuradas. Ninguém de bom e perfeito juízo será capaz de negar tal evidência. Mas, provavelmente foi assim em todos os tempos. Eu que, por lidar desde há muito com o conhecimento do passado fui descobrindo os problemas que existiam noutros tempos, tenho uma opinião bastante diferente. Quanto mais recuamos no tempo, mais nos apercebemos que maiores eram os problemas e menores eram os recursos para os resolver. Os mais velhos tendem a pensar que no seu tempo é que era bom! Será que era mesmo ou será que já se esqueceram de como era na realidade o tempo antigo em que viveram?

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publicado às 20:04


Marcos e tendências da evolução social

por Francisco Galego, em 09.07.09

 

A evolução das sociedades foi fazendo emergir novas formas e novas relações de poder dentre dos grupos e entre os indivíduos. Nas sociedades primitivas o poder era conferido aos mais velhos, sendo em geral aos patriarcas que cabia gerir os bens, impor as regras de comportamento, administrar a justiça e impor a autoridade que assegurava a ordem dentro dos grupos.
As soluções gerontocratas (governação pelos gerontes, ou seja, pelos mais velhos), permaneceram por um tempo muito longo como forma de regulação social. Mesmos nas primeiras civilizações históricas era essa a solução que predominava, quer através do poder unipessoal dos patriarcas, quer por constituição de conselhos de anciãos que em conjunto exerciam o poder.
Com a organização do poder militar em exércitos estruturados, impôs-se um novo tipo de poder baseado nos grandes chefes militares e nas chefias intermédias que os coadjuvavam. A solução gerontocrata foi dando lugar ao poder das oligarquias militares que se constituíram como detentoras do poder militar, económico e político. A tendência foi para que esses grupos dominantes se constituíssem como castas, tornando hereditário o usufruto dos bens e dos cargos que asseguravam o domínio sobre as sociedades. Estas nobrezas militares e terratenentes desenvolveram a solução monárquica que, por um período muito extenso da vida da humanidade, foi a forma dominante de governo. A tendência das monarquias foi para darem um carácter sagrado ao poder que exerciam em absolutismo, centrado na pessoa do rei.
Nos tempos modernos, com a emergência de um novo grupo social, a burguesia, o poder económico dissociou-se cada vez mais do poder político-militar das aristocracias nobiliárquicas. Assim, o poder político nobiliárquico e o poder económico burguês, acabaram por entrar em conflito, de que resultou a destruição das monarquias absolutistas.
As revoluções liberalistas, impondo legalmente uma sociedade assente na igualdade perante a lei e na liberdade de expressão de pensamento, abriram de facto as portas para que os mais fortes assumissem o controlo político, económico e social. Ora, os mais fortes eram os que dispunham de mais recursos. As democracias formais criaram as condições para que o poder dos mais ricos se impusesse. Nasceu uma nova forma de exercício do poder, o das plutocracias (domínio político, económico e social pelos mais ricos). Como a riqueza é sempre de poucos, as diferenças de acesso aos bens geram um cumulativo descontentamento gerador de revoltas. A liberdade de expressão e de participação pôde permitir a gestão desses conflitos através de soluções políticas capazes de realizarem reformas que foram restabelecendo progressivamente o equilíbrio social.
Tudo aponta para que estejamos a assistir à emergência de um novo modelo de organização das sociedades. Pois, se é verdade que o poder assenta ainda nos grandes grupos económicos e que são os grandes detentores da riqueza o grupo que mais influência política consegue exercer, é também verdade que os ricos mais esclarecidos já começaram a entender que só podem conservar e aumentar a sua riqueza recorrendo aos conhecimentos dos que melhor dominam os diversos campos do saber. Nesta perspectiva, é legitimo intuir que a sociedade está lentamente a deslizar dum modelo plutocrático (baseado na riqueza) para um modelo de carácter epistemocrático, ou seja, em que cada vez mais serão os que melhor dominam o saber que terão a competência para exercer o poder.
A sociedade poderá estar a caminhar para uma nova bipolarização que já não será entre ricos e pobres mas entre os que dominam o conhecimento e os que devem garantir a produção dos bens. Contudo, para garantir o equilíbrio social, terá que haver uma democratização cada vez mais alargada no usufruto desses bens. Paralelamente à emergência de um poder de tipo epistemocrático terá de se desenvolver uma sociedade de bem-estar e de lazer em que as massas encontrem compensação para a função produtora que lhes está destinada. Mas, mesmo estes produtores de bens e de serviços, devido aos rápidos avanços tecnológicos, terão de ser sujeitos a consistentes e contínuas formações cívicas, culturais e profissionais que sejam cada vez mais alargadas. Também neste sentido a sociedade tenderá para um alargamento dos conhecimentos, tornando-se paralela e progressivamente mais epistemocrática e mais democrática.
Segundo esta perspectiva, numa sociedade em que o conhecimento se torne a base da evolução, a educação vai constituir-se como factor essencial do desenvolvimento da própria sociedade.

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publicado às 16:37


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