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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Ao longo dos trinta e seis anos em que assumi perante mim a missão de me tornar um educador, evitei a todo o custo dispersar o meu tempo, esforço e energias em qualquer outra actividade que me desviasse do rumo que tinha traçado para a minha vida. Só o imperioso dever cívico imposto pelas circunstâncias me fez abrir esporádicas excepções.
Recebi com grande entusiasmo a democracia que veio coroar uma expectativa, por vezes desesperada, de longos e sofridos anos. Logo que entendi que o processo estava consolidado voltei-me de novo para a exclusividade da minha missão.
Agora que essa minha missão chegou ao fim, passei a ter mais tempo e maior disponibilidade para observar e pensar os processos sociais que se iam desenvolvendo à minha volta.
O meu sentimento tem-se inclinado cada vez mais para a percepção de que estamos a viver tempos difíceis, tão difíceis e complexos quanto parece certo que não estão a ser usadas as soluções mais adequadas para os resolver.
Mário Soares, num brilhante artigo publicado no Diário de Notícias no passado 23 de Setembro, chama a atenção para este momento crítico que intitula de “Crise Sistémica” e fá-lo com a propriedade e clareza de ideias que lhe conferem a provecta idade, a sapiência que lhe advém da longa e profícua experiência da vida, dos homens e da sociedade.
De um outro quadrante do espectro político, Maria José Nogueira Pinto, no artigo “País Experimental”, D.N. de 25 de Setembro passado, aborda também a questão desta conjuntura de crise que atravessamos: “Experimentámos todos os estilos e graus de demagogia no exercício da política e o esvaziamento da representatividade e da participação; experimentámos uma cultura aparelhística, a subversão do interesse público e a indiferença crescente dos cidadãos…
É este país que vai, em breve, a votos. Já se ouve a voz dos faltosos pagadores de promessas, disfarçados em vendedores de sonhos, a apregoar a mudança.”
Bem… Se tudo isto é pressentido com esta gravidade a nível do país, ressoa com muito maior clamor quando passamos para o nível do poder local, porque aqui os maus agentes políticos ainda são mais impreparados, o que torna muito mais graves as consequências da sua acção, com efeitos directos sobre as populações.
A este nível, a impreparação dos improvisados políticos e as suas fragilidades culturais, geram um modo de fazer política que podemos apropriadamente designar por populismo anti-elitista porque, para melhor chegar ao apoio das camadas menos preparadas da população, se arvoram em paladinos defensores dos pobres e declarados inimigos das elites, enquanto tudo fazem para garantirem para si e para os seus todos os benefícios dessas elites que tanto apregoam repudiar.
Que fazer perante a trágica situação de termos uma população tão impreparada, tão facilmente manipulável por estes inescrupulosos oportunistas?
Persistir na denúncia constante destas situações, lutar pelo aprofundamento de uma cultura democrática e de uma maior participação cívica dos cidadãos, prosseguir no esforço de dar um novo alento à sociedade fazendo emergir novos líderes capazes de elaborar e pôr em execução projectos que garantam novas soluções políticas que melhorem as condições de vida das populações.
Temos de voltar aos valores éticos que tornem de novo a política uma arte e uma ciência ao serviço do Homem e não a habilidade astuta dos que só pensam em beneficiar-se mediante negociatas escusas, tráficos de influências e práticas de corrupção. Os homens de verdade e de boa vontade devem juntar esforços para pôr fim a estas situações abusivas que estão a tornar cada vez mais insuportável esta nossa forma de viver.
Necessitamos de políticas direccionadas para o desenvolvimento económico, para a garantia da segurança e da estabilidade social, através de maiores e melhores oportunidades para as novas gerações, pois nelas assenta a possibilidade de sustentação das gerações mais idosas que deixam de estar em condições de participarem na produção, para que possam viver de reformas que lhes garantam uma aceitável qualidade de vida na sua velhice. Só com políticos sérios, honestos e competentes, homens e mulheres de sólido carácter, poderemos ter soluções adequadas para os problemas que hoje se deparam às comunidades locais.
Precisamos de começar a suspeitar dos que prometem grandes facilidades, vantagens e constantes diversões. Os tempos que aí vêm são tempos difíceis. Prestem atenção aos que avisam dos perigos que teremos de enfrentar. O nosso sistema social está em crise e as crises só podem ser vencidas com o esforço e os sacrifícios de todos. Atenções aos vendedores de promessas que nunca pagam, porque nunca tiveram a intenção de as pagar as promessas que fizeram.
Os malabaristas da política e os cúmplices que os rodeiam e apoiam, cuidam apenas de assegurar os seus próprios interesses, confundindo o serviço público com os seus negócios privados. Descuidam o desenvolvimento das questões essenciais: emprego, salários, saúde, educação. Gastam os orçamentos dos organismos que governam em obras de fachada e em festanças, enquanto enriquecem escandalosamente à custa do povo.
Não que seja vergonha ser detentor de bens e de riqueza. Todos nós conhecemos pessoas que, ainda que bastante ricos, mostram preocupação com os problemas sociais, empenham-se em resolver os problemas dos mais desfavorecidos, contribuem para o bem-estar dos seus concidadãos. Vergonhosa é a maneira como, através do engano e da corrupção, alguns conseguem beneficiar-se escandalosamente. É contra estes que temos de estar atentos para tentarmos travar a sua nefasta acção.
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