Em 1847, desiludido com o rumo tomado pelos acontecimentos políticos, João Dubraz abandonou todas as actividades de militância em que se embrenhara desde a sua juventude até aos quase trinta anos de idade.
Iniciou então a sua preparação intelectual como autodidacta e, pouco depois, começaram a aparecer colaborações suas nos jornais. Primeiramente, algumas comunicações de correspondente, não assinadas, no jornal A Revolução de Setembro que se publicou em Lisboa desde 1840 a 1901. Na mesma época escreveu também alguns artigos no Pharol (Periódico literário, comercial artístico e d’anúncios) jornal que se publicou em Lisboa no ano de 1848.
Terá sido neste tempo, em que se empregou no comércio do pai, em Campo Maior, que terá escrito o seu primeiro livro, publicado anonimamente, em Lisboa, em 1852 pelo editor A. M. Pereira: ACHMET: Contos de fadas, fundado em lendas pátrias.
Trata-se de um romance em prosa, muito inspirado na obra, D. Branca considerada uma das primeiras expressões do romantismoem Almeida Garrett,escritor que João Dubraz muito admirava e com o qual muito se identificava devido às convicções politicas que ambos perfilhavam.
O herói deste romance é Achmet, jovem mouro, guerreiro valente, amante apaixonado, sofrendo amores incompreendidos e cuja breve existência decorreu nos campos cerca dos rios Xévora e Caia, ou seja, nas terras onde foi fundada a vila de Campo Maior.
O romancefoi apresentado pelo editor como se o texto lhe tivesse chegado às mãos sem nele constar o nome do autor. Por isso, era publicado anonimamente. O editor começa por fazer a apresentação da obra nos seguintes termos:
(…) O autor do livro … viveu obscuro e morreu ignorado – vida e fim comuns a todos os engenhos desvalidos nesta época corruptamente alquímica que parvos e velhacos intitularam de civilizada. Sem ser um génio, o autor do Achmet era, contudo, mancebo de razão clara, juízo recto e leal coração, que algumas decepções haviam quiçá lançado no cepticismo.
Ambicioso e altivo ele desejou mostrar-se em uma área maior: filósofo e indolente nunca o pretendeu. A existência obscura e fastidiosamente prosaica que consumiu os seus dias não chegou todavia a asfixiar-lhe as nobres aspirações. (…)
A boa recepção que o romance recolheu junto da crítica terá motivado a decisão que João Dubraz tomou de se deslocar de Campo Maior para Lisboa, no ano de 1858. Terá aproveitado esta estadia para aperfeiçoar a sua educação intelectual.
De facto, embora os seus escritos manifestassem uma considerável bagagem cultural adquirida pelo seu esforço de autodidacta, devido às suas actividades políticas, ficara com uma educação formal incompleta: apenas a instrução primária e alguns princípios de latim.
Manteve-se na capital por algum tempo e, quando se sentiu suficientemente preparado, apresentou a sua candidatura aos exames nas cadeiras de francês e latim, nas quais obteve, sem grande dificuldade, habilitação para poder leccionar como professor na sua terra, dando aulas a alunos que se apresentavam a exame no liceu de Portalegre.
Mais tarde, esforçado e aplicado ao estudo como era, dedicou-se ao estudo do Direito e apresentou-se a exame para advogado provisionário, no tribunal da comarca de Elvas.
Algum tempo depois, em 1868, tinha pronta para publicação, aquela que é a sua obra mais importante:
Recordações dos Últimos Quarenta Annos - Esboços humorísticos, descrições, narrativas históricas e memórias contemporâneas – 1ª edição.
Porque esta edição se esgotou muito rapidamente, no ano seguinte saiu a 2ª edição, revista, correcta e aumentada. Trata-se de uma obra fundamental para o estudo da história de Campo Maior no século XIX, porque, como o próprio João Dubraz escreveu, sem bons testemunhos “nunca haverá quem faça História” e porque a História “deve ocupar-se tanto dos grandes centros a que chamamos estados, como das pequenas circunscrições”.
No mesmo ano de 1869 publicou também:
O Aventureiro Francês, novela histórica localizada na época de D. João III, história das constâncias e inconstâncias de um caso amoroso;
A República e a Ibéria, espécie de panfleto de 15 páginas, em que o autor toma posição sobre o tema que muito preocupava os espíritos pensantes daquele tempo: devido à profunda crise política em que mergulhara a Espanha, chegou a ser proposta como melhor solução que o rei português, D. Luís (1861-1889), assumisse a coroa de Espanha, consumando-se assim a união dinástica de Espanha e Portugal, em alternativa à hipótese de os espanhóis adoptarem uma solução republicana para o seu país.
Leituras Populares, por J. Dubraz – Cinco Finados Ilustres (Autópsias e Comemorações), escrito panfletário, importantíssimo para entender as ideias dos homens do século XIX, onde o autor toma posição, enquanto “republicano, laico e socialista”, sobre os cinco seguintes temas políticos: A Monarquia e A República; O Socialismo e a República; A República e a Igreja; Portugal com a República; A República Federal.
Todas estas obras foram publicadas em Lisboa, pela Imprensa de Joaquim Germano de Sousa Neves, nos anos de 1868 e 1869.
João Dubraz viria ainda a publicar duas obras de que existem referências bibliográficas, mas que não foi ainda possível encontrar, nas bibliotecas consultadas.
São textos de carácter didáctico, relacionados com a sua actividade como professor:
Orthographia Popular e Subsídios para o curso de Português,impressos na tipografia do jornal A Democracia, em Elvas, no ano de 1871, em oitavos de 24 e 40 páginas, respectivamente.
Ao longo da sua vida, até quase à sua morte, manteve uma constante e prolixa colaboração em muitos jornais do seu tempo e da sua região: A Voz do Alemtejo(Elvas, 1859 a 1866); O Transtagano(Elvas, 1860 a 1863); A Democracia Pacífica (Elvas, 1866 a 1869); A Democracia (Elvas, 1869 a 1877); O Elvense(Elvas, 1880 a 1904); A Sentinela de Fronteira (Elvas, 1881 a 1891); O Alto Alentejo(1881 a 1882); Gil Fernandes (Elvas, 1885 a 1893); Comércio d’Elvas(1885 a 1887); A Ordem(Elvas, 1889 a 1890).
Para o fim da sua vida, João Dubraz teve que deixar a sua terra, para ir leccionar como professor do ensino secundário, lá muito longe, no distante Minho, em Amarante. A “boa vontade” dos seus “queridos inimigos” políticos, homens muito influentes e muito importantes, tão importantes que hoje ninguém lembra o nome de qualquer deles, condenou-o a este exílio forçado. João Dubraz era homem de antes quebrar que torcer. Por isso, achou uma maneira elegante, mas irrevogável, de resistir: nas primeiras férias que aqui veio gozar, resolveu morrer e assim garantir que não mais o iriam forçar a sair do seu torrão natal.
O Jornal Diário D’Elvas, no nº 672 de quarta-feira, 25 de Setembro de 1895, em destaque, na coluna central da sua 1ª página, noticiava:
João Dubraz: Fomos ontem, já depois de haver entrado na máquina o nosso diário, surpreendidos com a dolorosa notícia do falecimento do sr. João Dubraz, o primeiro jornalista da nossa província, o pai desvelado e extremoso, o modelo dos chefes de família.
O sr. Dubraz faleceu ontem, após prolongado e doloroso sofrimento, na vila de Campo Maior, sua terra natal, onde estava passando férias.
Escreveu em todos os jornais de Elvas que se publicaram durante a sua vida, à excepção do nosso, que nasceu quando ele havia já, pelos seus padecimentos e por haver sido colocado em Amarante, lugar que foi exercer contrariado, deixado de escrever…Foi um escritor enérgico, defendendo e propagando brilhantemente os princípios constitutivos da bandeira do seu partido; era um democrata convicto.
João Dubraz morreu, portanto, com 77 anos de idade, em 24 de Setembro de 1895 e foi sepultado na sua pequena pátria: Campo Maior.