O CEMITÉRIO DE S. PEDRO – Um projecto não concretizado
Até ao século XIX, os enterramentos eram feitos no interior das igrejas, nos adros, nos terrenos envolventes, nas cercas dos conventos, ou seja, em Campo Santo.
Num documento que relata a explosão do paiol da pólvora em 1732, que quase destruiu a vila de Campo Maior, indicam-se claramente quais eram os locais de enterramento, nessa época:
- Na Igreja Matriz enterram-se 76 pessoas de comunhão e 28 crianças pequenas;
- No Convento de S. Francisco, 17 crianças pequenas;
- No Hospital de S. João de Deus, 6 soldados e uma criança pequena;
- Na Misericórdia, enterrou-se apenas o seu provedor Francisco Pires Cotão que foi a pessoa principal diante do Regimento de Cavalaria e um sargento de Infantaria.
No século XIX começaram a surgir medidas a condenar esse costume, considerado contrário à saúde pública. Em Portugal, foi com o governo de Costa Cabral, mais tarde foi agraciado com o título de Marquês de Tomar, que foi aprovada uma lei de Novembro de 1845, a qual, além de várias disposições de carácter tributário, determinava que os enterramentos passassem a ser feitos em cemitérios, fora das povoações, como medida de protecção da saúde pública.
A reacção das populações, principalmente no Norte do país, conduziu a revoltas que culminaram num período de grande agitação. Em 1846, a chamada revolução da Maria da Fonte que fez cair o governo de Costa Cabral, serviu de prólogo à Patuleia que lançou o país na guerra civil em 1847.
Mas, em Campo Maior, a questão dos enterramentos nas igrejas já se tinha colocado muito antes. Numa acta da Câmara de 23 de Agosto de 1834, é referido um “Acórdão em Câmara Municipal” em que se estabelecia: “Entendendo esta Câmara às diferentes representações que tem feito o Médico deste Concelho, e a que têm continuado nesta vila diferentes moléstias epidémicas, as quais (têm) tanto mais graduação quanto menos polícia há, e que o enterramento dos corpos humanos nas Igrejas, é de muito prejuízo à saúde pública em todo o tempo, e muito especialmente em tempo de epidemias, determina esta Câmara que, de hoje em diante, não se enterre corpo algum humano nas Igrejas, e sim no cemitério que será interinamente a cerca do Extinto Convento de Santo António desta vila; cujo acórdão obriga a todas as pessoas que hajam de morrer sem atender a hierarquias – porque a lei é igual para todos (Carta Constitucional) –, nem tão pouco a moléstia.”
O projectado Cemitério de S. Pedro:
Uma acta da Câmara de 31 de Agosto de 1836 refere a arrematação da obra do cemitério e a construção do mesmo junto à ermida de S. Pedro
Na acta da sessão da Câmara de 28 de Outubro de 1836, ficou registado que:
“Respondeu-se à Circular Nº 13 que trata sobre os cemitérios, expondo-se que, por falta de meios, se não tem concluído a construção do Cemitério Público; porém que já se acha principiado, com uma grande parte da parede feita. E todos os materiais juntos, e espera-se ficar pronto de tudo até ao dia 30 de Novembro próximo; e que, neste concelho, não há mais povoações em que hajam de se fazer mais cemitérios públicos.”
Contudo, houve muitos protestos da população contra a localização do cemitério, por medo de que este fosse inquinar as boas águas da fonte e chafariz de S. Pedro, e a obra esteve embargada. O problema do cemitério foi sofrendo adiamento e só estaria completamente resolvido em 1859 com a escolha de novo local, junto à Horta do Paraíso. As actas da câmara vão dando conta desse adiamento pois o terreno que já tinha sido murado para o cemitério passou a ser arrematado em hasta pública para ser cultivado.
Na acta de 17 de Setembro de 1851 consta o seguinte: “Acto de arrematação do terreno do cemitério de S. Pedro feita a José Augusto de Miranda Cayolla por tempo de um ano pela quantia de14$400 réis.
Na acta da sessão da Câmara de 24 de Setembro de 1853:
“Não se arrematou Vale Morto, nem o Cemitério de São Pedro, por não haver lanço que conviesse a esta Câmara; por isso, ficou adiada para a sessão do 1º dia do futuro mês de Outubro. Para ir novamente à praça para o fim de se obter maior lanço.”
O Cemitério do paraíso:
O último enterramento feito no cemitério da cerca de São Francisco, foi o de Aurora Pereira em 14 de Dezembro de 1859 e o primeiro no Cemitério do Paraíso foi o de Maria do Carmo em 17 de Dezembro de 1859, segundo os assentos de óbitos da Freguesia de S. João Baptista.
Mas, uma lembrança coeva particular refere que:
“(…) no dia 15 de Dezembro de 1859, deu começo o Cemitério do Paraíso, extramuros desta vila de Campo Maior, sendo a primeira pessoa sepultada nele o filho do Morgado José Augusto Cayolla (mas ocultamente).