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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Estes versos, feitos para serem declamados, podem ter um ritmo e uma métrica diferentes e caracterizam-se pelo encadeado dos versos em função do tema escolhido como nuclear de cada poema.
A preocupação central destas com posições poéticas, é essencialmente narrativa. Em muitas delas predomina a ironia. Outras são mais descritivas, tendo frequentemente um intenção moralizante.
Quanto à estrutura formal, nas “décimas” aparece primeiro uma quadra a que se chama mote. Seguem-se depois quatro estrofes de dez versos (daí o nome décimas). Cada uma dessas estrofes ou décimas, acaba com o verso que, pela mesma ordem, aparece na quadra de mote. Assim, o primeiro verso do mote é o último da primeira décima, e o último verso do mote terá de ser o último verso da última décima.
No mote a rima é do tipo a,b,c,b ou a,b,a,b. Nas décimas o esquema de rima é o a,b,b,a,a,c,c,d,d,c.
TUDO À TERRA VAI PARAR
MOTE
Além tendes meus amigos,
Por onde haveis de passar;
Confunde-se o rico e o pobre,
E tudo à terra vai parar.
DÉCIMA I
Vós que passais vede além,
Na sepultura deserta,
De fria terra coberta,
A face da vossa mãe.
Que poder a terra tem,
Sobre os reis, sobre os mendigos;
Olhai os vastos jazigos,
De tanta família honrada,
Feia porta e negra entrada,
Além tendes meus amigos.
DÉCIMA II
Vede além aquela campa,
Cobrindo a corrupta ossada,
Sobre caveira mirrada,
Onde uma cruz se levanta,
No que chamas Terra Santa.
A tão infame lugar,
Onde tudo vai parar:
Esposas, crianças, maridos.
É uma estrada de descuidos,
Por onde haveis de passar.
DÉCIMA III
Encima está o bronze santo,
Que toca a fúnebre entrada,
Chorando com voz magoada;
Aqui se acaba o encanto,
Rei dos choros é o pranto.
Confundem-se rico e pobre,
Junto à prateada salva,
E no jazigo de um nobre,
À sombra da murcha malva,
Confunde-se o rico e o pobre.
DÉCIMA IV
A terra diz: eu criei
Tudo quanto é vegetal,
Pois tenho direito igual,
Do que criei comerei;
(Logo a terra é alto rei);
Em terra te vou formar,
Pois não tenho outro manjar;
Foi Deus que m’autorizou,
Vós sois terra e terra eu sou,
E tudo à terra vai parar.
(Manuel Paio)
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