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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Estes versos, feitos para serem declamados, podem ter um ritmo e uma métrica diferentes e caracterizam-se pelo encadeado dos versos em função do tema escolhido como nuclear de cada poema.
A preocupação central destas com posições poéticas, é essencialmente narrativa. Em muitas delas predomina a ironia. Outras são mais descritivas, tendo frequentemente um intenção moralizante.
Quanto à estrutura formal, nas “décimas” aparece primeiro uma quadra a que se chama mote. Seguem-se depois quatro estrofes de dez versos (daí o nome décimas). Cada uma dessas estrofes ou décimas, acaba com o verso que, pela mesma ordem, aparece na quadra de mote. Assim, o primeiro verso do mote é o último da primeira décima, e o último verso do mote terá de ser o último verso da última décima.
No mote a rima é do tipo a,b,c,b ou a,b,a,b. Nas décimas o esquema de rima é o a,b,b,a,a,c,c,d,d,c.
O POBRE E O RICO
MOTE
Sendo tu rico e eu artista,
Sem mim não podes passar;
Enquanto eu tiver vigor,
P’ra ti hei-de trabalhar.
DÉCIMA I
Quando no mundo me viste,
À miséria reduzido,
Com ela tenho aprendido,
Este pouco que hoje sei.
Sempre p´ra ti trabalhei,
Ainda não tive outra vista,
Logo, se és capitalista,
É com a força do meu braço,
E tudo o que precisas eu faço,
Sendo tu rico e eu artista.
DÉCIMA II
Quando no mundo me viste,
Logo de mim precisaste;
Fiz-te o berço onde t’embalaste
E a cama onde dormiste.
Fiz-te o fato que vestiste,
As botas para calçares;
Para te ensinar a andar,
Fiz-te um carrinho com rodas,
Tenho-te feito tantas modas,
Sem mim não podes passar.
DÉCIMA III
Faço-te prédios para habitares,
Amasso o pão p’ra comeres;
Faço livros p’ra aprenderes
E leis p’ra me castigares.
Faço barcos p’ra embarcares,
Sou navegante e pescador,
Sou hortelão e lavrador,
Fabrico o vinho que bebes,
E tudo quanto me deves,
Eu quanto eu tiver vigor.
DÉCIMA IV
Já não te faço mais nada!
Vou-te fazer um caixão,
P’ra te levarem à mão,
Á derradeira morada.
Vou-te fazer uma enxada,
P’ra teu corpo sepultar.
P’ra teus ossos encerrar,
Vou-te fazer um jazigo,
E já sem ter contas contigo,
P´ra ti hei-de trabalhar.
(Manuel Paio)
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