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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Era uns anos mais velho do que eu. Mas eramos parentes próximos. A mãe dele e a minha avó, eram irmãs, o que fazia que fossemos primos em segundo grau.
Houve sempre entre nós bastante afecto. Admirava nele a paixão que, desde muito novo, tinha pelas coisas do campo. O meu pai tentou ligá-lo à actividade comercial. Suportou-a por algum tempo, mas nunca se conformou: o campo era o seu destino.
As dificuldades que eram muitas e grandes, levaram-no como a muitos outros da sua geração, a ter que mudar de vida. Depois do serviço militar, candidatou-se à GNR. Na altura eu era estudante em Lisboa e tivemos de novo ocasião de conviver durante o tempo em que ele fez a sua formação como guarda.
Depois cada um seguiu o rumo que o destino ia tecendo. Soube que embarcou para Angola, onde se manteve muitos anos. Regressado e reformado voltou à sua antiga paixão, o campo, fixando residência em Portalegre, onde mantinha a actividade de criar algum gado. Só muito esporadicamente nos víamos, mas a amizade, ainda que distante, manteve-se.
Regressado ontem de Lisboa onde passei alguns dias, um amigo deu-me a notícia que me colheu de surpresa: o José Francisco Toureiro Rúbio morrera no passado dia 24. Eu soubera que tinha adoecido de novo com alguma gravidade. Mas as últimas notícias que soubera davam-no em recuperação e mais animado.
Neste momento, presto-lhe a única homenagem que me parece adequada à estima que tinha por este meu primo. Como uma das coisas que lhe davam prazer era recitar décimas, transcrevo aqui uma dessas composições poéticas que ele muito gostava de dizer e em que ele, de certo modo, traçava o seu auto-retrato.
SENHORES QUE ESTÃO PRESENTES
MOTE
Senhores que estão presentes
Minhas senhoras também
Obrigado a toda a gente
E acho que assim está bem
I
Obrigado meus amigos
Se acaso me permitem o termo
Eu não sou nenhum enfermo
Nem s´tou no rol dos esquecidos
Sou mais um dos incluídos
Neste grupo de boa gente
E por aqui estar presente
Eu sinto um certo prazer
Por isso lhes quero agradecer
Senhores que estão presentes
II
Tenho andado por muito lado
Sempre fui bem-sucedido
E eu penso cá p’ra comigo
Sou um homem privilegiado
Mas tenho de ter muito cuidado
Não vá dizer mal de alguém
Porque isso não parece bem
E para que não seja censurado
Por isso o meu muito obrigado
Minhas senhoras também
III
Junto da nossa juventude
Sou um homem muito feliz
Há um ditado que diz
Goza a vida com saúde
Pois eu tenho essa virtude
Passo a vida alegremente
A reinar com toda a gente
Eu levo o tempo a brincar
Por hoje aqui me encontrar
Obrigado a toda a gente
IV
Vou estando velho e cansado
Já não estou para me ralar
Agora só penso em passar
O meu tempo em qualquer lado
A falar do meu passado
E que eu me encontro bem
Sem dizer mal de ninguém
Vou bebendo o meu copinho
Acompanhado ou sozinho
E acho que assim está bem
(José Francisco Rúbio)
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