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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
CARTAS CAMPOMAIORENSES – ASSOCIAÇÕES POLÍTICAS E RECREATIVAS – OUTUBRO DE 1883
Este mês foi todo consagrado a trabalhos eleitorais e à fundação de sociedades de recreio, oriundas da política e que dela hão-de viver necessariamente. Foi, pois, mês de actividade partidária, de sensata vigilância, de acordos de várias espécies e de resoluções importantes no que diz respeito à vida local das parcialidades.
Sobre as eleições, produziu o mês o abandono da urna pelos progressistas, anunciado com muita antecedência, mas visivelmente sujeito à ordem incerta dos acontecimentos.
Em verdade, estes progressistas de cá, não pecam por inactivos e indolentes. Quando não se movem, é porque não vêem utilidade no movimento.
Faço-lhes essa justiça e louvo-os por isso. Eu gosto dos partidos de acção enérgica e contínua, capazes de manterem inabalável a esperança, ainda mesmo que sendo enganosa. O que lhes dispenso é a intriga reles e a baixa calúnia que, afinal, nada edifica.
De resto, se os progressistas abandonaram o campo eleitoral é porque sentiram adversa a maioria dos eleitores. Está averiguado que as eleições só se ganham com votos (…).
As sociedades criadas de novo, já funcionam. Uma, fundação dos progressistas, dizem-me que se intitula "artística recreativa". A outra, organizada pelos regeneradores, é ainda anónima, mas já alguém me disse ser possível que venha a chamar-se "Sociedade de 4 de Novembro", por ser a sua inauguração nesse dia, depois de encerrado o acto eleitoral.
Assim, pois, ficam existindo na vila três sociedades recreativas de que o velho “Grémio Campomaiorense” é o tronco comum, pois que os principais sócios da nova, ou pertencem ao Grémio, ou dele saíram há mais ou menos tempo.
Oxalá as novinhas resistam ao cansaço e às vicissitudes, como filosoficamente tem resistido a tudo a sociedade mãe, a qual, se viveu vida fácil e descuidosa na Rua 13 de Dezembro, teve de emigrar dali, como Job, para a Mouraria e, se algum tempo depois pôde ver melhorada a sua fortuna na Rua do Visconde de Seabra (1), esteve seis meses, em homizio forçado, na Rua do Paço e, quando por fim tomou pé na praça de D. Luís I (2), foi com ares de fidalgo comprometido com dívidas que tem de fazer vida burguesa, pacata e sem luxo.
Tomem daí o exemplo e lição as novas sociedades, a nenhuma das quais desejo mal, pois sei que elas corrigem os costumes agrestes e são úteis como lugares de reunião
(1) Actual rua 1º de Maio.
(2) Actual Praça da República.
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