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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Carlos Ramiro Coutinho foi conhecido pelos títulos adquiridos de 3º Barão de Barcelinhos e de 1º Visconde de Ouguela. Nasceu em Lisboa a 30 de Junho de 1828. Era filho de Ricardo Sylles Coutinho e de D. Rosa Máxima da Silva Coutinho.
O pai do Visconde de Ouguela era um dos heróis da luta contra o absolutismo de D. Miguel. Integrou a falange que, em 1933, combateu ao lado de D. Pedro até à vitória final dos liberalistas e restauração da monarquia constitucional. Tornou-se depois um importante comerciante da praça de Lisboa, tendo conseguido alguns meios de fortuna que lhe permitiram dar uma cuidada formação a seu filho. Manteve até ao fim dos seus dias a casa comercial, situada em pleno Chiado, que era ponto de encontro e tertúlia dos que perfilhavam os ideais liberalistas.
No colégio que frequentou em Lisboa, foi colega de Camilo Castelo Branco, tendo mantido, até ao fim dos seus dias, uma grande amizade com este grande escritor. Frequentou a Universidade de Coimbra onde fez, com grande brilhantismo, o curso de Direito. Atingiu rapidamente notabilidade como advogado, distinguindo-se na defesa de casos difíceis que foram muito divulgados pelos principais órgãos de imprensa do seu tempo.
Desde muito cedo abraçou os ideais democráticos, aproximando-se dos princípios preconizados pela ideologia socialista. Era, sobretudo, um filantropo e um idealista muito propenso a gestos de grande alcance humanitário. O carácter avançado das suas ideias e as suas actividades políticas provocaram muitos ressentimentos e rancores. Acusavam-no de republicano e de perigoso revolucionário. Na verdade, ao longo de toda a sua vida, manteve-se sempre bastante conservador no que respeitava aos seus hábitos sociais e estilo de vida. Ainda muito novo foi nomeado moço fidalgo com exercício no paço e exerceu um cargo de grande notabilidade como o de Ouvidor do Conselho de Estado. Chegou mesmo a conviver com o rei D. Luís que manifestava por ele elevada consideração.
Em 1859 tornou-se deputado, integrando no Parlamento a facção que apoiou os governos regeneradores de Fontes Pereira de Melo, Casal Ribeiro e Martens Ferrão.
Em 1860 foi nomeado Ajudante e Substituto Honorário do Procurador-geral da Fazenda Nacional. No mesmo ano casou com a viúva do Barão de Barcelinhos, tornando-se responsável pela gestão de uma casa de tão grandes encargos e haveres que teve de se afastar durante algum tempo da actividade política.
Em 1864 pediu a demissão do cargo de Substituto do Procurador da Fazenda e foi agraciado com o título de Barão de Barcelinhos que tinha sido usado pelo anterior marido de sua mulher. Por esta altura, passou a interessar-se vivamente pelo concelho de Campo Maior, principalmente pela aldeia de Ouguela. Seria a preparação para o título que lhe viria a ser atribuído alguns anos depois? O que aconteceu de facto foi que, em muito pouco tempo, se tornou o maior proprietário e contribuinte do concelho de Campo Maior.
Em 1867 assumiu a chefia da comissão que defendeu junto do governo e do rei a defesa da continuação do município, ameaçado de extinção pela reforma administrativa de Martens Ferrão.
Por decreto de 31 de Maio de 1868 recebeu o título de Visconde de Ouguela.
Pelas obras que escreveu, pelos cargos que ocupou, pela sua acção humanitária em defesa dos oprimidos, principalmente dos operários, tornou-se uma das mais notáveis figuras do seu tempo. Foi agraciado com várias distinções pelo governo português e pelos governos de Espanha, da França e da Rússia.
Era possuidor de avultados bens. Possuía propriedades rústicas e urbanas no valor estimado de 342 contos de réis em Lisboa, na Ilha da Madeira e no Concelho de Campo Maior. Só de contribuições prediais pagavam 2.450$000 contos de réis. Além disso, possuía avultados bens móveis em acções, inscrições e valores de carteira e era accionistas do Banco de Portugal.
Em 1872 o Visconde de Ouguela estava envolvido no projecto de criação de um novo banco que se deveria chamar Banco Real e Nacional. Precisamente neste ano de 1872, o Visconde foi atingido por duas tremendas tragédias que o haviam de aniquilar. Uma, a nível familiar, foi a morte de uma enteada a quem o ligava um profundo afecto, atingida por doença irremediável e de prolongada agonia. A morte desta criança, lançou-o numa profunda tristeza. Sete dias depois da morte da criança que tanto adorava, em Agosto de 1872, devido a uma delação caluniosa, foi acusado de ser participante activo numa conspiração para atentar contra vida do rei D. luís, com o objectivo de derrubar o trono e o sistema político. Em consequência dessa acusação, foi preso por algum tempo na cadeia do Aljube. Embora tivesse sido ilibado de todas as acusações, estes factos causaram-lhe uma mágoa tão profunda que se retirou completamente de todas as actividades como homem público e desistiu de todos os seus anteriores projectos.
A gente de Ouguela terá, deste modo, perdido uma grande oportunidade para afastar os fantasmas da inevitável decadência da sua terra.
O visconde de Ouguela que tinha sido uma das mais notáveis figuras do país no terceiro quartel do século XIX, morreu completamente retirado e de certo modo esquecido, em 5 de Janeiro de 1897.
Caminhando para N.E. de Campo Maior uma légua, é o forte ou praça e vila de Ouguela, cujo terreno circunvizinho é descoberto e pouco montuoso.
As águas minerais desta vila, são únicas do seu género em Portugal.
Segundo a tradição, a sua primitiva origem é à distância de uns 300 passos da Atalaia e S. Pedro, de onde corre para o forte contíguo à igreja e por baixo desta e da muralha, sai e continua por um aqueduto, junto à fonte. Nesta corre por duas bicas de ferro, nas quais a soma total de água é de dois anéis no Inverno, sendo metade e às vezes menos, no Verão.
Os canos das bicas estão carcomidos e rotos, pela passagem da água. E esta é fria e cristalina, sem cheiro algum, mas o seu sabor na fonte é áspero e ácido e custa a sofrer. Porém, perde-o passado algum tempo, de pois de estar em vasos de barro, tornando-se então própria para o uso comum. Mas quase ninguém a bebe porque dizem que faz abalar os dentes e separarem-se as gengivas.
Emprega-se para amassar o pão que fica alvo, leve e saboroso. Não coze legumes nem carne que, ainda que fervam muito tempo, ficam duros, negros e incapazes de se comerem.
Recolhida em vasos de vidro, vê-se sobrenadar uma substância oleosa que, demorando-se, engordura o vidro. Porém, em vasos de barro não deixa, no fundo ou nas paredes internas, depósito algum. Mas exteriormente ficam cobertos de uma matéria branca como se tivessem sido caiados.
O aqueduto que conduz esta água para o chafariz e os que são próximos às bicas, têm de têm de romper-se e com muita dificuldade de dois em dois anos ou, quando muito, de três em três anos, por causa das duríssimas crostas lapidosas que neles se formam, misturadas com limos e ervas aderentes a que aqui dão o nome de raposos”.
Perto desta fonte ou chafariz há outra, dentro e uma horta, onde mesma água é aproveitada para irrigação e que faz prosperar notavelmente os seus frutos que são mais saborosos do que os criados nos outros sítios próximos que não são regados com esta água.
(Dr. Francisco Tavares, Instruções e cautelas practicas sobre a natureza, differentes espécies, virtudes em geral e uso legitimo das aguas minerais… Coimbra, Real Imprensa da Universidade, 1810)
O Dr. Fonseca Henriques diz no seu Aquilégio, pág. 191, fundando-se no padre Carvalho, que nas Constituições Synodaes do bispado de Elvas, impressas em 1634, falando-se da vila de Ouguela – se refere que – procurando verificar se as suas águas minerais consentiam em si, vivos, peixes ou insectos, ou vermes aquáticos ou anfíbios. Se viu sempre que, tanto os insectos, sanguessugas e vermes, morrem apenas se ditam na água – e os peixes em seu vigor, morrem em menos de meia hora. Vivem porém nela as rãs, mas pequenas e magras, talvez porque respiram o ar atmosférico.
(Francisco da Fonseca Henriques, Aquilégio medicinal, Lisboa, Instituto Geológico e Mineiro, 1998, edição fac-simile da edição de Lisboa Ocidental, na o Officina da Musica, 1726)
Julga o Dr. Tavares que esta água é gasosa pelo gás carbónico em excesso, com alguma porção diminuta de carbonato e sulfato de calcário. As incrustações duríssimas formadas nos canos provam a presença de carbonatos e sulfatos calcários (selenites) e talvez sílica misturada. É próprio de todas as águas que abundam em gás carbónico não criarem peixes, nem os consentirem vivos, nem os insectos e vermes, mesmo que sejam aquáticos.
A substância oleosa que se vê nos vidros, pode vir de outros depósitos de minerais. Mas também ser resultado da combinação de hidrogénio com o ácido carbónico e o oxigénio, que forma uma matéria oleosa – a nafta.
O gosto acre e ácido prova a existência do gás carbónico e da nafta que são extremamente voláteis, se evaporam fora da nascente, deixando a água potável. A crosta branca que aparece no exterior dos vasos de barro não é mais do que carbonato e sulfato de cal, filtrados pela matéria porosa do vaso.
Estas águas são aplicadas com vantagem nas debilidades de estômago: vómitos pertinazes delas precedidos, hidropisias, e para a expulsão de vermes intestinais, incluindo a ténia e a solitária.
Pinho Leal - Portugal Antigo e Moderno (p. 309 e 310)
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