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O PALÁCIO DE OLIVÃ – III

por Francisco Galego, em 16.09.14

- Com a implantação do liberalismo, em 1820 e, sobretudo pelos efeitos que a guerra civil, que lavrou até 1832, teve sobre algumas das mais importantes famílias da tradicional nobreza portuguesa, as quais, por terem seguido o partido absolutista de D. Miguel, foram expropriadas dos seus bens, o palácio parece ter entrado num período de decadência.

Em meados do século XIX o Palácio Olivã (dito Palácio do Visconde, onde hoje se encontra a Biblioteca Municipal) foi adquirido por um tal José Vitorino Machado, natural de Olivença. O qual, através do comércio conseguiu enriquecer, tornando-se grande proprietário e chegando mesmo a ocupar cargos elevados na administração local. Foi este senhor que adquiriu o Palácio dos Menezes (Casa do Barata), no qual viveu como nobre, embora fosse apenas um abastado plebeu. Casou com uma senhora elvense muito mais nova, que foi sua herdeira universal.

Esta senhora, depois da morte do seu primeiro marido, casou em segundas núpcias, com Cristóvão Cardoso de Albuquerque Barata, oriundo de Paredes de Coura, sargento de brigadas que serviu na guarnição de Elvas e depois na de Campo Maior. Este senhor foi, durante muito tempo chefe do Partido Progressista, tendo sido, durante muitos anos, investido no cargo de Administrador do Concelho. Por ter assumido a defesa do concelho de Campo Maior que esteve na iminência de ser extinto em Janeiro de 1868, viu o seu nome ser dado ao largo onde se situa o palácio de sua residência que passou a chamar-se Largo do Barata. Devido à sua acção como político e à benevolência da sua acção para com os mais humildes, veio a ser agraciado com a Comenda da Ordem de Cristo.

Seu filho, Cristóvão Cardoso Cabral Coutinho de Albuquerque Barata que fez carreira, primeiro como advogado, depois na magistratura, atingindo o cargo de Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, foi agraciado com o título de Visconde de Olivã.

A estes dois ilustres campomaiorenses se deve a restauração e conservação do palácio nos finais do século XIX e primeira metade do século XX.

                                              

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publicado às 12:37


O PALÁCIO DE OLIVÃ – II

por Francisco Galego, em 12.09.14

Estêvão da Gama de Moura e Azevedo, governador de Campo Maior entre 1706 e 1741, refere-se ao palácio (dito, Palácio Olivã, ou Palácio do Visconde, ou Casa do Barata, onde hoje se encontra a Biblioteca Municipal) do seguinte modo:

(Estas casas) são de D. João de Aguilar Mexia, no Terreiro das Estalagens, com oito janelas (altas) e outras tantas (janelas) baixas. Tem dentro uma horta com muitas árvores, uma fonte com a mesma água que vem à que tem nas fontes públicas o Povo. Nelas se tem acomodado o Sr. Infante D. Francisco, as três vezes que tem vindo a esta praça. Sendo a primeira em segunda-feira, 18 de Dezembro do ano de 1713, a segunda em 14 de Setembro de 1714, e a terceira em treze do dito mês do ano de 1715. Nestas mesmas casas se fez aposentadoria para S. Majestade, que Deus guarde, o ano de 1716, de que não usou, porque vindo no dia doze de Novembro a esta Praça voltou no mesmo a Elvas, por causa da chuva que sobreveio.

- Por este texto se pode concluir que, no início do século XVIII, o palácio seria, a mais nobre casa de Campo Maior, pois que, estando a vila em reconstrução depois do desastroso cerco de 1712, a vila, que ficara muito arruinada, foi visitada por um irmão de D. João V e foi neste palácio que esteve hospedado. O próprio rei que, por essa mesma altura, visitou a vila para observar o andamento da sua restauração, teve aposentos preparados neste palácio, não chegando a pernoitar neles. Regressou no mesmo dia a Elvas por receio dos efeitos que a chuva pudesse ter sobre os caminhos, dificultando o regresso. Por este tempo ainda não existia ponte sobre o Caia, na estrada para Elvas, tornando-se muito difícil de transpor a vau por se tornar muito caudaloso.

 

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publicado às 12:35


O PALÁCIO DE OLIVÃ – I

por Francisco Galego, em 08.09.14

 

O actual Palácio Olivã (dito Palácio do Visconde, onde hoje se encontra a Biblioteca Municipal) é certamente uma das mais nobres casas e, provavelmente, a mais antiga construção de Campo Maior, por ser uma das que conseguiu sobreviver à grande tragédia de 1732 em que do rebentamento do paiol da pólvora resultou a quase total destruição do casario desta vila raiana.

Na sua Galeria de Figuras, publicada nos anos 50 do século passado, João Pessoa escreve sobre D. Manuel de Menezes, natural de Campo Maior, cronista-mor do reino e com uma carreira começada ao lado do Prior do Crato e que terminou com a prestação de honrosos serviços no Oriente já sob o governo dos Filipes, o seguinte:

Encontrava-se no seu paço de Campo Maior, então cercado de vasta quinta (hoje, Casa do Barata), preocupado com o estudo e afastado das lides oficiais, quando em 1625, o nomearam General da Armada, para comandar a esquadra de vinte e seis navios guarnecidos por 24.000 homens, com a qual foi restaurar a cidade da Baía, usurpada pelos holandeses.

Este texto permite tirar algumas ilações importantes sobre o actua Palácio Olivã:

- Tendo os Menezes ocupado a função de governadores de Campo Maior, daí resulta que a sua residência fosse referida como o paço;

- Assim sendo, o nome da rua onde o palácio se localiza, não adveio de nela se localizar um passo processional, mas de ter sido a rua da residênciado do governador.

 

 

UMA NOTA DE SAUDAÇÃO:

 

 

JÁ SOMOS TÃO POUCOS OS QUE APARECEMOS NA PEQUENA "BLOGOSFERA" DESTE PEQUENO ESPAÇO QUE É CAMPO MAIOR, QUE NÃO POSSO DEIXAR DE SAUDAR O REAPARECIMENTO DO "FONTE DAS NEGRAS" QUE ESTAVA PARADO JÁ HÁ ALGUM TEMPO. SEJA BEM REAPARECIDO.

 

 

 

 

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publicado às 09:41


SOBRE CAMPO MAIOR (Ensaio)

por Francisco Galego, em 20.08.14

 

Fica situada a vila de Campo Maior na fronteira oriental de Portugal, na sua maior largura, a 220 quilómetros do Cabo da Roca. É vila do norte da província do Alentejo, sede de concelho, comarca de Elvas e distrito de Portalegre, donde dista 50 quilómetros. Ergue-se sobre duas colinas que dominam num largo raio os formosos campos da planície alentejana. Quem subir ao seu castelo, nos lindos dias da nossa primavera, desfrutará um soberbo e majestoso panorama: a sua vista pousará logo, junto das muralhas, sobre os campos de trigo e dos prados verdejantes; passará pelos olivais e vinhas e irá perder-se, através de infindáveis montados, nas longas campinas do território espanhol. O clima é benigno apesar das amplitudes nítidas de temperatura que lhe dão um carácter de excessividade. Nos meses de inverno, principalmente em Dezembro, o frio chega a arroxear as unhas das mãos e no verão, “caem os pássaros assados”, como diz o povo em sua linguagem simbólica.

                A constituição geológica do termo da vila, é de antigos terrenos pertencentes à Meseta Ibérica ou Planalto Central Ibérico, em volta do qual se formaram as condensações que vieram constituir a Península.

                O solo é de terrenos calcários, argilosos e arenosos donde provêm o seu uberismo[1] e variedade de produtos, pois que, ali se cultivam todos os da flora mediterrânea.

                As águas não abundam e, exceptuando as quintas e as hortas onde, no verão, a água é captada de nascentes por meio da clássica nora, as terras não podem ser regadas, motivo porque só se cultivam os cereais e outras plantas que apenas necessitam de água durante a época das chuvas.

                Todo o concelho de Campo Maior é essencialmente agrícola e toda a sua riqueza é filha da terra mãe. É abundante em cereais, azeites, vinhos, carnes de porco e excelentes frutas. Nas hortas e quintas cultivam-se os legumes e as hortaliças para abastecimento do mercado local. E, para que nada falte das benesses que a terra dá, na primavera florescem os vales e os outeiros, transformando a região num grandioso jardim. Refere a tradição que, passando antigamente por estes sítios em vistosa cavalgada, D. Afonso V tanto se admirou deles e da sua formosura em hortas e jardins que lhe chamou “campo de flores”.

                As suas indústrias são derivadas da agricultura e só no último decénio se têm desenvolvido com certa rapidez. Os lavradores começaram a fugir à rotina e a adoptar novos métodos com maquinaria moderna – tractores, ceifeiras e debulhadoras – nos serviços agrícolas. Os antigos lagares para fabrico do azeite, insalubres e anti-higiénicos, foram substituídos por outros mecânicos e em conformidade com as exigências da técnica moderna. Uma bela fábrica de moagem de trigo veio tomar o lugar das arcaicas azenhas, tendo também progredido as indústrias de conserva de frutas em compota, fábrica de cal branca e de cal preta e a dos “potes” (talhas de barro) onde se fabrica o vinho. O comércio vive da agricultura e da indústria locais. Exportam-se grandes quantidades de cereais, azeite, vinho, animais vivos – principalmente porcos –, conservas de fruta e talhas de barro. Importam-se, só para os gastos da terra, máquinas e alfaias agrícolas, géneros de mercearia, lanifícios, algodões e ferragens.

                Tem Campo Maior, nas quatro freguesias[2] que constituem o concelho, uma população de 8.000 habitantes aproximadamente. O maior número destes cabe às duas freguesias que formam o centro urbano. As outras duas poderão ter um milhar e meio de pessoas, pouco mais ou menos. Podem considerar-se nesta povoação três classes sociais distintas: a dos lavradores, a dos proprietários e dos trabalhadores rurais ou jornaleiros; e, se quisermos, uma quarta classe social, “a dos artífices” ou operários – ferreiros, carpinteiros, alfaiates, sapateiros, etc. …

                No século passado foi a classe dos proprietários que predominou, quando foram parcelados e divididos pelo povo os grandes baldios e latifúndios que andavam incultos. Esta reforma, porém, como não foi acompanhada das necessárias medidas económicas e financeiras de protecção aos novos proprietários, não produziu plenamente os resultados que se esperavam. E assim é que, muitos dos possuidores dessas parcelas não tendo capital para o seu amanho, tiveram de aliená-las mal as receberam e a outros foram-lhe executadas e vendidas judicialmente para pagamento de contribuições relaxadas. Desta forma, as glebas foram-se acumulando num número cada vez menor de indivíduos, trazendo como resultado a diminuição do número de ricos e o aumento do número de pobres. Consequentemente, a classe dos jornaleiros começou a predominar e hoje a família rural é a mais numerosa.

                Pode, todavia, afirmar-se que alguns benefícios trouxeram a Campo Maior esses parcelamentos, porquanto, é só nas épocas do cultivo e das colheitas dos produtos das terras desses novos proprietários que conseguiram mantê-las – uns porque arranjaram crédito, outros com algum rendimento que já possuíam –, que o trabalho abunda. Como há trabalho, há sorrisos de paz em todos os rostos e pão, azeite e lume nos lares de todos os pobres. É que o trabalho continua sendo o grande regenerador dos homens! E o trabalhador da nossa terra, bom por índole, só tem maus pensamentos e maquina na vindicta quando o deixam ocioso e vê seus filhos famintos sem que lhes possa dar pão.

 

Texto publicado por João Ruivo no jornal de Estremoz, Brados do Alentejo, nº 118, 30/3/1933.

[1] Palavra, ao que parece, inventada por João Ruivo, para significar que se trata de uma terra de grande fertilidade, ou seja, ubérrima.

[2] João Ruivo refere quatro freguesias. Ouguela, só em 1941 foi anexada à freguesia de S. João Baptista.

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publicado às 15:48


PRIMEIRO DE MAIO EM CAMPO MAIOR HÁ 80 ANOS

por Francisco Galego, em 01.05.13

A forma como decorreram as Festas do 1º de Maio levadas a efeito por esta comissão.

Eram vinte horas e meia quando a filarmónica local regida pelo hábil regente Senhor José Matias Branco, depois de percorrer algumas ruas desta localidade, se dirigiu à sede desta casa aonde cumprimentou a Comissão Organizadora desta casa, tocando o hino “Primeiro de Maio”, sendo saudada por esta comissão e cerca de mil sócios desta casa, que se achavam presentes, com uma entusiástica salva de palmas. Em seguida iniciou-se a marcha através das ruas desta vila aonde se encontravam cerca de quatro mil pessoas, na sua maior parte trabalhadores rurais, sócios desta casa. Dirigiu-se então aos Paços do Concelho aonde a comissão organizadora foi cumprimentar a autoridade administrativa e Comissão “Pró Campo Maior”. Usou então da palavra o companheiro Sardinha, Presidente da Comissão Organizadora da Casa do Povo, que saudou a autoridade administrativa e Comissão “Pró Campo Maior”. A autoridade administrativa pediu, em nome dos trabalhadores de Campo Maior, o cumprimento integral das leis, do horário de trabalho, do descanso semanal e da protecção às mulheres e menores nos trabalhos agrícolas e que o acompanhassem em dois vivas: um à Comissão “Pró Campo Maior” e outro aos trabalhadores portugueses. Em seguida, usou da palavra o presidente da comissão já referida, Senhor José Augusto Corte Real Mascarenhas que, agradecendo o cumprimento, lamentou que aquela comissão pouco ou nada tivesse feito, mas que era seu desejo fazer muito, mas para isso contava com o concurso de todos os campomaiorenses. Deu por findo o seu discurso, sendo muito ovacionado com uma salva de palmas. Usou então da palavra o administrador do Concelho, Senhor Domingos Calado Branco, que disse congratular-se com a feição que o problema social ia tomando em Campo Maior. Depois de fazer várias considerações sobre o problema social, a Comissão “Pró Campo Maior”, terminou bradando um viva à dita comissão e outro aos trabalhadores de Campo Maior, sendo delirantemente ovacionado. Fez-se então o desfile pelas principais ruas desta vila aonde se incorporavam cerca de mil pessoas, vendo-se nas portas e janelas o elemento feminino que saudava o Primeiro de Maio com luminárias. Ao chegar-se novamente à sede desta casa tocou a filarmónica outra vez o hino “Primeiro de Maio, sendo entusiasticamente aplaudido com uma salva de palmas. Pelas vinte e três horas, realizou-se uma sessão solene. Depois de tocado o hino usou da palavra o companheiro Sardinha que, na qualidade de Presidente da Casa, convidou o companheiro Costal para presidir à “mesa”. Este companheiro, depois de saudar os sócios da Casa do Povo, lamentou que não tivesse competência para tão honroso cargo, mas que aceitava, certo que todos os companheiros o desculpariam se os trabalhos não fossem orientados como era seu desejo. Convidou para o secretariar os companheiros Francisco Leonardo da Casa do Povo de Santa Eulália que veio expressamente a esta localidade assistir à manifestação e Manuel Augusto Rondão. Deu em seguida a palavra ao companheiro Chagas que depois de saudar os companheiros presentes e todos os trabalhadores internacionais, pediu um minuto de silêncio em memória dos mártires de Chicago e dissertou sobre as origens do Primeiro de Maio e o massacre dos operários de Chicago pela polícia daquela cidade. Ao terminar pediu à assistência que o acompanhasse num viva aos trabalhadores internacionais, sendo delirantemente aplaudido pela assistência e sinceramente felicitado pelos companheiros da Comissão Organizadora. Em seguida, o presidente da mesa deu a palavra ao companheiro Sardinha, que dissertou sobre o Primeiro de Maio na Europa e em Portugal, pedindo dois minutos de silêncio, um pela memória do falecido ministro do trabalho socialista Augusto Dias da Silva e outro pela memória do nosso chorado companheiro Manuel Lavadinho Mourato. Terminou saudando a Casa do Povo de Lisboa, os companheiros presentes e aqueles que pelos afazeres da sua vida profissional não podiam estar ali, assim como a filarmónica local e os trabalhadores de Portugal, sendo muito ovacionado. Foi então dada a palavra ao companheiro Pinto que lastimou que os poderes públicos não tenham nunca olhado pela classe dos trabalhadores rurais e terminou pedindo pão para os famintos, trabalho para os que mendigam e liberdade para todos, sendo entusiasticamente aplaudido. Usou da palavra ao presidente da mesa, que agradeceu a boa ordem e compostura de que a assistência deu provas, durante o decorrer da sessão, sendo esta encerrada em seguida. Eram doze horas, tocando o hino a filarmónica local. Resolveu-se também exarar um voto de louvor aos trabalhadores de Campo Maior pela forma como se conduziram no decorrer da manifestação, assim como à filarmónica local e ao seu regente Senhor José Matias Branco.

(CASA DO POVO DE CAMPO MAIOR - Acta da sessão extraordinária – 1º de Maio de 1933)

Torna-se necessário chamar a atenção para o seguinte: A Casa do Povo de Campo Maior que aqui se refere, era uma cooperativa dos trabalhadores de Campo Maior, por eles fundada e gerida. Nasceu como sucursal da Casa do Povo de Lisboa, que tinha a sua sede na Rua da Mouraria daquela cidade. A iniciativa de criação destas cooperativas era de um partido então existente que se chamava "Partido Socialista Português", que era mal tolerado pelos salazaristas que não pararam de lhe mover encarniçada perseguição.

Também a cooperativa Casa do Povo de Campo Maior foi alvo de perseguições. Alguns dos seus dirigentes foram presos, tendo parte deles sido levados a tribunal. Foram desencadeadas campanhas caluniosas contra os seus dirigentes nos jornais que apoiavam o governo, acabando  por resultar dessa perseguição que a cooperativa que fora criada em finais de 1932 e inaugurada em 11 de Janeiro, se visse compelida ao seu encerramento e dissolução, em 31 de Dezembro desse mesmo ano de 1933. Os salazaristas viriam a fundar um outro organismo com o mesmo nome de Casa do Povo de Campo Maior mas de diferentes objectivos, orientada por outros princípios e com finalidades, não cooperativistas mas corporativistas, de acordo com a ideologia do Estado Novo.

 

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publicado às 18:58

 

Em 1847, desiludido com o rumo tomado pelos acontecimentos políticos, João Dubraz abandonou todas as actividades de militância em que se embrenhara desde a sua juventude até aos quase trinta anos de idade.
Iniciou então a sua preparação intelectual como autodidacta e, pouco depois, começaram a aparecer colaborações suas nos jornais. Primeiramente, algumas comunicações de correspondente, não assinadas, no jornal A Revolução de Setembro que se publicou em Lisboa desde 1840 a 1901. Na mesma época escreveu também alguns artigos no Pharol (Periódico literário, comercial artístico e d’anúncios) jornal que se publicou em Lisboa no ano de 1848.
Terá sido neste tempo, em que se empregou no comércio do pai, em Campo Maior, que terá escrito o seu primeiro livro, publicado anonimamente, em Lisboa, em 1852 pelo editor A. M. Pereira: ACHMET: Contos de fadas, fundado em lendas pátrias.
            Trata-se de um romance em prosa, muito inspirado na obra, D. Branca considerada uma das primeiras expressões do romantismoem Almeida Garrett,escritor que João Dubraz muito admirava e com o qual muito se identificava devido às convicções politicas que ambos perfilhavam.
            O herói deste romance é Achmet, jovem mouro, guerreiro valente, amante apaixonado, sofrendo amores incompreendidos e cuja breve existência decorreu nos campos cerca dos rios Xévora e Caia, ou seja, nas terras onde foi fundada a vila de Campo Maior.
            O romancefoi apresentado pelo editor como se o texto lhe tivesse chegado às mãos sem nele constar o nome do autor. Por isso, era publicado anonimamente. O editor começa por fazer a apresentação da obra nos seguintes termos:
            (…) O autor do livro … viveu obscuro e morreu ignorado – vida e fim comuns a todos os engenhos desvalidos nesta época corruptamente alquímica que parvos e velhacos intitularam de civilizada. Sem ser um génio, o autor do Achmet era, contudo, mancebo de razão clara, juízo recto e leal coração, que algumas decepções haviam quiçá lançado no cepticismo.
            Ambicioso e altivo ele desejou mostrar-se em uma área maior: filósofo e indolente nunca o pretendeu. A existência obscura e fastidiosamente prosaica que consumiu os seus dias não chegou todavia a asfixiar-lhe as nobres aspirações. (…)
A boa recepção que o romance recolheu junto da crítica terá motivado a decisão que João Dubraz tomou de se deslocar de Campo Maior para Lisboa, no ano de 1858. Terá aproveitado esta estadia para aperfeiçoar a sua educação intelectual.
De facto, embora os seus escritos manifestassem uma considerável bagagem cultural adquirida pelo seu esforço de autodidacta, devido às suas actividades políticas, ficara com uma educação formal incompleta: apenas a instrução primária e alguns princípios de latim.
Manteve-se na capital por algum tempo e, quando se sentiu suficientemente preparado, apresentou a sua candidatura aos exames nas cadeiras de francês e latim, nas quais obteve, sem grande dificuldade, habilitação para poder leccionar como professor na sua terra, dando aulas a alunos que se apresentavam a exame no liceu de Portalegre.
Mais tarde, esforçado e aplicado ao estudo como era, dedicou-se ao estudo do Direito e apresentou-se a exame para advogado provisionário, no tribunal da comarca de Elvas.
Algum tempo depois, em 1868, tinha pronta para publicação, aquela que é a sua obra mais importante:
 Recordações dos Últimos Quarenta Annos - Esboços humorísticos, descrições, narrativas históricas e memórias contemporâneas – 1ª edição.
            Porque esta edição se esgotou muito rapidamente, no ano seguinte saiu a 2ª edição, revista, correcta e aumentada. Trata-se de uma obra fundamental para o estudo da história de Campo Maior no século XIX, porque, como o próprio João Dubraz escreveu, sem bons testemunhos “nunca haverá quem faça História” e porque a História “deve ocupar-se tanto dos grandes centros a que chamamos estados, como das pequenas circunscrições”.
            No mesmo ano de 1869 publicou também:
            O Aventureiro Francês, novela histórica localizada na época de D. João III, história das constâncias e inconstâncias de um caso amoroso;
            A República e a Ibéria, espécie de panfleto de 15 páginas, em que o autor toma posição sobre o tema que muito preocupava os espíritos pensantes daquele tempo: devido à profunda crise política em que mergulhara a Espanha, chegou a ser proposta como melhor solução que o rei português, D. Luís (1861-1889), assumisse a coroa de Espanha, consumando-se assim a união dinástica de Espanha e Portugal, em alternativa à hipótese de os espanhóis adoptarem uma solução republicana para o seu país.
            Leituras Populares, por J. Dubraz – Cinco Finados Ilustres (Autópsias e Comemorações), escrito panfletário, importantíssimo para entender as ideias dos homens do século XIX, onde o autor toma posição, enquanto “republicano, laico e socialista”, sobre os cinco seguintes temas políticos: A Monarquia e A República; O Socialismo e a República; A República e a Igreja; Portugal com a República; A República Federal.
            Todas estas obras foram publicadas em Lisboa, pela Imprensa de Joaquim Germano de Sousa Neves, nos anos de 1868 e 1869.
            João Dubraz viria ainda a publicar duas obras de que existem referências bibliográficas, mas que não foi ainda possível encontrar, nas bibliotecas consultadas.
            São textos de carácter didáctico, relacionados com a sua actividade como professor:
            Orthographia Popular e Subsídios para o curso de Português,impressos na tipografia do jornal A Democracia, em Elvas, no ano de 1871, em oitavos de 24 e 40 páginas, respectivamente.
            Ao longo da sua vida, até quase à sua morte, manteve uma constante e prolixa colaboração em muitos jornais do seu tempo e da sua região: A Voz do Alemtejo(Elvas, 1859 a 1866); O Transtagano(Elvas, 1860 a 1863); A Democracia Pacífica (Elvas, 1866 a 1869); A Democracia (Elvas, 1869 a 1877); O Elvense(Elvas, 1880 a 1904); A Sentinela de Fronteira (Elvas, 1881 a 1891); O Alto Alentejo(1881 a 1882); Gil Fernandes (Elvas, 1885 a 1893); Comércio d’Elvas(1885 a 1887); A Ordem(Elvas, 1889 a 1890).
            Para o fim da sua vida, João Dubraz teve que deixar a sua terra, para ir leccionar como professor do ensino secundário, lá muito longe, no distante Minho, em Amarante. A “boa vontade” dos seus “queridos inimigos” políticos, homens muito influentes e muito importantes, tão importantes que hoje ninguém lembra o nome de qualquer deles, condenou-o a este exílio forçado. João Dubraz era homem de antes quebrar que torcer. Por isso, achou uma maneira elegante, mas irrevogável, de resistir: nas primeiras férias que aqui veio gozar, resolveu morrer e assim garantir que não mais o iriam forçar a sair do seu torrão natal.
            O Jornal Diário D’Elvas, no nº 672 de quarta-feira, 25 de Setembro de 1895, em destaque, na coluna central da sua 1ª página, noticiava:
João Dubraz: Fomos ontem, já depois de haver entrado na máquina o nosso diário, surpreendidos com a dolorosa notícia do falecimento do sr. João Dubraz, o primeiro jornalista da nossa província, o pai desvelado e extremoso, o modelo dos chefes de família.
O sr. Dubraz faleceu ontem, após prolongado e doloroso sofrimento, na vila de Campo Maior, sua terra natal, onde estava passando férias.
Escreveu em todos os jornais de Elvas que se publicaram durante a sua vida, à excepção do nosso, que nasceu quando ele havia já, pelos seus padecimentos e por haver sido colocado em Amarante, lugar que foi exercer contrariado, deixado de escrever…Foi um escritor enérgico, defendendo e propagando brilhantemente os princípios constitutivos da bandeira do seu partido; era um democrata convicto.
            João Dubraz morreu, portanto, com 77 anos de idade, em 24 de Setembro de 1895 e foi sepultado na sua pequena pátria: Campo Maior.
 
 
 
 
 

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publicado às 19:19


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