Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



CAMPO MAIOR E AS SUAS FONTES

por Francisco Galego, em 24.04.16

 

No Alentejo, devido às características do seu clima, o abastecimento de àgua, é factor determinante para o estabelecimento e crescimento das povoações.

Campo Maior, praça de guerra até meados do século XIX, foi com Ouguela, Elvas, Juromenha e Olivença, uma das principais defesas do corredor do Xévora-Caia, por onde se fizeram as maiores tentativas de invasão do nosso território a partir do país vizinho, desde meados do século XVII até meados do séc. XIX.

A sua função militar determinou fortemente o crescimento do casco urbano da vila. Confinada no cerco das muralhas, viu, durante séculos, limitado o seu crescimento e, mesmo, definido o tipo de utilização dos seus campos, uma vez que, por razões de estratégia militar, as terras que rodeavam a povoação não deviam ser arborizadas. Predominava, por isso, o campo aberto, servindo de plantio de hortas  e de searas para abastecimento das pessoas  e de pastos para os rebanhos de animais.

Em épocas de relações pacíficas com a Espanha, como no período que vai desde o século XIV, ao século XVII, abrandadas as preocupações defensivas, a vila tinha podido crescer para além das muralhas medievais.

Esse crescimento foi então determinado por um outro factor: a existência de fontes que garantissem o abastecimento de água à população.

Durante o período atrás referido, a vila cresceu ao encontro das grandes nascentes de água. Assim, desenvolveu-se uma área de crescimento em direcção à Fonte S. Pedro, a nordeste do núcleo medieval, outra em direcção à Fonte Nova, a noroeste, uma terceira em direcção à área da Fonte das Negras, a leste.

As fontes são, portanto, um dos factores do crescimento do núcleo urbano. Nesses pontos se localizam as mais antigas e persistentes nascentes de água do concelho.

Algumas dessas fontes eram servidas por duas grandes linhas de abastecimento, testemunhadas pelas "arcas de àgua" que ainda existem, no caminho para Degolados e no sector onde agora foi construido o Centro Escolar de Campo Maior e que antes eram designado  como o Alto do Carrascal.

Na agora construida rotunda entre o Centro Cultural e o Centro Escolar, existia uma "arca d'àgua" que numa placa de mármore, aposta numa das suas faces, tinha a inscrição de que foi possível transcrever:

POR OCASIÃO DA ESTERILIDADE DE 1895 

A CAMARA MUNICIPAL FEZ ESTA OBRA

PARA AUGMENTAR O VOLUME D'ÁGUA

POTAVEL (...)

 

Noutra "arca d´água" que fica no caminho para Degolados, está uma inscrição de que foi possível transcrever:

    EM 1827 REGENDO EM NOME DEL´REI O SR. D. PEDRO IV,

A SERENÍSSIMA INFANTA D.ISABEL MARIA,

MANDOU A CAMARA DE CAMPO MAIOR FAZER ESTA OBRA

SENDO PRESIDENTE ... JOSÉ ALEXANDRO DE MENDES

E VEREADORES FRANCISCO MANUEL PIRES COTÃO,

FERNANDO DE SOUSA MIGUEINS,

SEBASTIÃO DO REGO GALVÃO

PROCURADOR DOMINGO LOPES SERRA

ESCRIVÃO ANTÓNIO DENTES DE MATOS

 

A Fonte de S. Pedro, provavelmente a mais antiga, é alimentada por um outro manancial. Este local foi habitado desde os mais remotos tempos. Têm aparecido, com abundância, vestígios de ocupação romana, no espaço que a rodeia. Perto da fonte, localiza-se o mais antigo dos locais de culto de Campo Maior: a Ermida de S. Pedro. Este templo assenta sobre vestígios de um templo romano e constituiria um ponto de apoio aos viajantes. sendo designado como Ad Septem Aras, era o ponto de encontro das estradas que se dirigiam para Emerita Augusta (Mérida), grande urbe romana. A estrada que daqui partia para Mérida, passaria pela ponte romana de que há vestígios, junto da Ermida da Enxara.

Também a desaparecida Fonte do Concelho, bem como a Fonte das Negras que a substituiu, teriam  origem noutro manancial. (Será que o antigo nome Rua de Nantio (derivado de "menantio") terá a ver com uma nascente de água?)

Estas fontes ficaram exteriores à vila quando, , por razões de estratégia militar, a vila teve de ser defendida após a Restauração de 1640. Na eminência de ataques pelo exército espanhol, a vila foi dotada de novas muralhas e de um conjunto de baluartes (entre eles o que se chamava "Baluarte da Fonte do Concelho", frente ás tardicionalmente chamadas Rua da Fonte Cima e Rua da Fonte de Baixo)).

Devido  á construção da fortaleza, deu-se uma contracção do casco urbano que provocou o desaparecimento de bairros que se tinham estendido nas três direcções atrás referidas. Desapareceu também o antigo Convento de São Francisco, localizado no actual Campo da Feira.

Mas, as fontes persistiram até à actualidade. Essas fontes exteriores estão localizadas nos pontos principais de acesso à vila e vão desempenhar uma tríplice função que definiu a sua estrutura muito particular pois são, simultaneamente, fontes de abastecimento de água potável; são bebedouros para os animais e tanques para a lavagem das roupas.

Por outro lado, prevenindo a possibilidade de cercos demorados, a vila teve de se dotar de outras fontes, internas às muralhas, que assegurassem o abastecimento normal de água. Por isso, essas fontes internas eram mais simples porque desempenhavam apenas essa função. Na actualidade, estas fontes têm um mero carácter decorativo, pois o sistema de abastecimento de água ao domicílio tornou-as desnecessárias.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 08:25


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2009
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2008
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2007
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D