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POR CÁ, HÁ 77 ANOS...

por Francisco Galego, em 01.05.10

 

Quem leu o "Post" anterior, poderá fazer uma ideia do valor histórico e documental do texto que a seguir se transcreve.

Torna-se necessário chamar a atenção para o seguinte: A Casa do Povo de Campo Maior que aqui se refere, era uma cooperativa dos trabalhodores de Campo Maior, por eles fundada e gerida. Nasceu como sucursal da Casa do Povo de Lisboa, que tinha a sua sede na Rua da Mouraria daquela cidade. A iniciativa de criação destas cooperativas era de um partido então existente que se chamava "Partido Socialista Português", que era mal tolerado pelos salazaristas que não pararam de lhe mover encarniçada perseguição.

Também a cooperativa Casa do Povo de Campo Maior foi alvo de perseguições. Alguns dos seus dirigentes foram presos, tendo parte deles sido levados a tribunal. Foram desencadeadas campanhas caluniosas contra os seus dirigentes nos jornais que apoiavam o governo, acabando  por resultar dessa perseguição que, a cooperativa que fora criada em finais de 1932 e inaugurada em 11 de Janeiro de 1933, se visse compelida ao seu encerramento e dissolução, em 31 de Dezembro desse mesmo ano de 1933. Os salazaristas viriam a fundar um outro organismo com o mesmo nome de Casa do Povo de Campo Maior mas de diferentes objectivos, orientada por outros principios e com finalidades, não cooperativistas mas corporativistas, de acordo com a ideologia do Estado Novo. É nesta conjuntura e neste contexto que convém avaliar o significado do documento que se transcreve:

 

 

A forma como decorreram as Festas do 1º de Maio levadas a efeito por esta comissão.

Eram vinte horas e meia quando a filarmónica local regida pelo hábil regente Senhor José Matias Branco, depois de percorrer algumas ruas desta localidade, se dirigiu à sede desta casa aonde cumprimentou a Comissão Organizadora desta casa, tocando o hino “Primeiro de Maio”, sendo saudada por esta comissão e cerca de mil sócios desta casa, que se achavam presentes, com uma entusiástica salva de palmas. Em seguida iniciou-se a marcha através das ruas desta vila aonde se encontravam cerca de quatro mil pessoas, na sua maior parte trabalhadores rurais, sócios desta casa. Dirigiu-se então aos Paços do Concelho aonde a comissão organizadora foi cumprimentar a autoridade administrativa e Comissão “Pró Campo Maior”. Usou então da palavra o companheiro Sardinha, Presidente da Comissão Organizadora da Casa do Povo, que saudou a autoridade administrativa e Comissão “Pró Campo Maior”. A autoridade administrativa pediu, em nome dos trabalhadores de Campo Maior, o cumprimento integral das leis, do horário de trabalho, do descanso semanal e da protecção às mulheres e menores nos trabalhos agrícolas e que o acompanhassem em dois vivas: um à Comissão “Pró Campo Maior” e outro aos trabalhadores portugueses. Em seguida, usou da palavra o presidente da comissão já referida, Senhor José Augusto Corte Real Mascarenhas que, agradecendo o cumprimento, lamentou que aquela comissão pouco ou nada tivesse feito, mas que era seu desejo fazer muito, mas para isso contava com o concurso de todos os campomaiorenses. Deu por findo o seu discurso, sendo muito ovacionado com uma salva de palmas. Usou então da palavra o administrador do Concelho, Senhor Domingos Calado Branco, que disse congratular-se com a feição que o problema social ia tomando em Campo Maior. Depois de fazer várias considerações sobre o problema social, a Comissão “Pró Campo Maior”, terminou bradando um viva à dita comissão e outro aos trabalhadores de Campo Maior, sendo delirantemente ovacionado. Fez-se então o desfile pelas principais ruas desta vila aonde se incorporavam cerca de mil pessoas, vendo-se nas portas e janelas o elemento feminino que saudava o Primeiro de Maio com luminárias. Ao chegar-se novamente à sede desta casa tocou a filarmónica outra vez o hino “Primeiro de Maio, sendo entusiasticamente aplaudido com uma salva de palmas. Pelas vinte e três horas, realizou-se uma sessão solene. Depois de tocado o hino usou da palavra o companheiro Sardinha que, na qualidade de Presidente da Casa, convidou o companheiro Costal para presidir à “mesa”. Este companheiro, depois de saudar os sócios da Casa do Povo, lamentou que não tivesse competência para tão honroso cargo, mas que aceitava, certo que todos os companheiros o desculpariam se os trabalhos não fossem orientados como era seu desejo. Convidou para o secretariar os companheiros Francisco Leonardo da Casa do Povo de Santa Eulália que veio expressamente a esta localidade assistir à manifestação e Manuel Augusto Rondão. Deu em seguida a palavra ao companheiro Chagas que depois de saudar os companheiros presentes e todos os trabalhadores internacionais, pediu um minuto de silêncio em memória dos mártires de Chicago e dissertou sobre as origens do Primeiro de Maio e o massacre dos operários de Chicago pela polícia daquela cidade. Ao terminar pediu à assistência que o acompanhasse num viva aos trabalhadores internacionais, sendo delirantemente aplaudido pela assistência e sinceramente felicitado pelos companheiros da Comissão Organizadora. Em seguida, o presidente da mesa deu a palavra ao companheiro Sardinha, que dissertou sobre o Primeiro de Maio na Europa e em Portugal, pedindo dois minutos de silêncio, um pela memória do falecido ministro do trabalho socialista Augusto Dias da Silva e outro pela memória do nosso chorado companheiro Manuel Lavadinho Mourato. Terminou saudando a Casa do Povo de Lisboa, os companheiros presentes e aqueles que pelos afazeres da sua vida profissional não podiam estar ali, assim como a filarmónica local e os trabalhadores de Portugal, sendo muito ovacionado. Foi então dada a palavra ao companheiro Pinto que lastimou que os poderes públicos não tenham nunca olhado pela classe dos trabalhadores rurais e terminou pedindo pão para os famintos, trabalho para os que mendigam e liberdade para todos, sendo entusiasticamente aplaudido. Usou da palavra ao presidente da mesa, que agradeceu a boa ordem e compostura de que a assistência deu provas, durante o decorrer da sessão, sendo esta encerrada em seguida. Eram doze horas, tocando o hino a filarmónica local. Resolveu-se também exarar um voto de louvor aos trabalhadores de Campo Maior pela forma como se conduziram no decorrer da manifestação, assim como à filarmónica local e ao seu regente Senhor José Matias Branco.

(CASA DO POVO DE CAMPO MAIOR - Acta da sessão extraordinária – 1º de Maio de 1933)

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A FESTA DO 1º DE MAIO

por Francisco Galego, em 28.04.10

O 1º de Maio é a festa universal do trabalho, determinada no CONGRESSO INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES, em Julho de 1889.

A partir de 1892, a festa operária do 1º de Maio já era celebrada em muitos países de todo o mundo, principalmente dos que estavam mais industrializados.

 

Em Portugal o 1º de Maio começou a celebrar-se logo em 1890. Até à Ditadura Militar e ao Estado Novo que se lhe seguiu, foi anualmente celebrado nas terras onde existiam núcleos de operariado sendo considerado dia de descanso para os operários. Apesar da má vontade e dos obstáculos levantados pelo governo e da perseguição das polícias, as celebrações mantiveram-se ao longo dos anos de ditadura em algumas cidades e vilas onde o núcleo operário tinha presença significativa.

O 1º de Maio de 1931 ficou assinalado por violentas manifestações e confrontos de rua, principalmente em Lisboa. Este ano de 1931 ficou marcado por grandes acontecimentos: Em Espanha, duas semanas antes, fora proclamada a república; estava em curso uma revolta na Madeira que só foi vencida recorrendo a avultados meios navais e policiais - o jornal O Século chegou a noticiar a queda do governo; Em Lisboa a GNR dispersou a manifestação a tiro tendo havido um morto e vários feridos; No Porto houve também grandes manifestações.

A partir de 1935 o Estado Novo procurou integrar as manifestações do 1º de Maio, no quadro do corporativismo, dando-lhe um carácter nacionalista através dos sindicatos nacionais, organizando, através da FNAT, a Festa do Trabalho, o cortejo com carros alegóricos e ranchos folclórico. Essa festa era, em cada ano, em sua terra, mas longe dos grandes centros operários como o Barreiro, Barcelos, Famalicão e Guimarães.

A partir de 1939 e até ao fim da Segunda Grande Guerra, os cortejos deixaram de se realizar. Em sua substituição a FNAT lançou a revista 1º de Maio com doutrina corporativa, nacionalista e organizava, na 1ª semana de Maio, festivais de ginástica e de actividades desportivas.

Depois da Segunda Grande Guerra (1939-1945), o governo passou a uma atitude de mera contenção e controlo ao recurso a meios de repressão cada vez mais duros e violentos tentando evitar a todo custo qualquer tentativa de celebração. Apesar disso, em muitas terras o feriado municipal coincidia com o dia do trabalhador como, por exemplo, no Crato e na Covilhã onde os trabalhadores continuavam a celebrar  o 1º de Maio. Talvez devido a isso, o governo decretou o fim dos feriados municipais. Mas, nos grandes centros, principalmente em Lisboa e no Porto, houve sempre tentativas de manifestações que acabavam em violentos confrontos com as polícias.

1962 foi o ano de maiores manifestações do 1º de Maio durante o Estado Novo e foi o ano em que entraram em cena e em massa os estudantes – houve um morto e vários feridos.

Eem 1963 e 1964 voltou a haver vítimas mortais, feridos e muitas prisões; em 1970 e até ao 25 de Abril, apareceram as acções revolucionárias com bombas contra alvos estratégicos.

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