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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
O meu agnosticismo, não me impede de ter uma simpatia inevitável - porque expontânea -, de comunhão de valores e de identificação com os princípios, com as acções e com as tomadas de posição desse Homem, tão exemplar: o Papa Francisco. Mais uma vez teve a minha total adesão a denúncia que fez da hipocrisia de muitas das acções que rodeiam a celebração do Natal.
É que o Natal, além do seu profundo significado religioso, constitui para nós um marco civilizacional. A civilização em que nos integramos designa-se como europeia pelas suas origens e cristã pelo modelo de humanismo que reveste, base essencial da nossa maneira de concebermos a vida em sociedade. O nascimento de Cristo é o ponto de referência a partir do qual fazemos a datação histórica do tempo .
Agora que me vejo confrontado com certas representações natalícias designadas como presépios, sou obrigado a, mais uma vez, estar em total acordo com o papa. Há representações do nascimento de Cristo que ignoram por completo o simbolismo e a grande mensagem de humildade, de chamamento da nossa atenção para os mais carenciados, os mais perseguidos, os mais injustiçados.
Retratando a precaridade e pobreza em que nasceu Cristo, o Natal tenta incitar-nos ao sentimento solidário que nos obrigue a considerar as desigualdades, as injustiças e as violências responsáveis pelo tormento em que, ainda hoje, como nesse tempo, vivem os mais desfavorecidos. Aquela pequena famíla – um casal com o filho em eminência de nascer – eram migrantes procurando refúgio para salvarem as suas vidas, em fuga à louca perseguição de um tirano. A terra onde a sua vida decorre, ficava na já então mártir região do Médio Oriente, onde, nos dias de hoje, o sofrimento está a atingir níveis dificeis de entender e impossíveis de aceitar.
Desamparados, José e Maria, abrigaram-se num modesto estábulo onde nasceu uma criança anunciada como o filho de Deus, incarnando para trazer uma mensagem de salvação aos homens. A escolha das circunstâncias e do cenário é toda intencionalmente simbólica: a perseguição, a fuga em busca de paz e de salvação, a solidão do estábulo, a pobreza dos recursos. (1)
E como celebramos nós este acto sacrificial e salvador?
Com presépios cenarizados como se Jesus tivesse nascido na paz, no conforto, no bem-estar e na abundância?
Que representam esses opulentos cenários que tenha a ver com o nascimento do Messias?
Na verdade, essas representações, negam todo o simbolismo da mensagem implícita nas condições do nascimento de Cristo, porque foram apenas concebidos para exibir o poder, a riqueza, a vaidade e a ambição de quem os concebe, constroi, ou manda construir. Assim, o que devia ser evocação e fonte de inspiração, transforma-se apenas num exibicionismo e numa ostentação.
E este desvario verifica-se na grande maioria dos actos de celebração natalícia.
É por isso que, eu, agnóstico, nestes dramáticos tempos que estamos a viver, acolho como justa a acusão de hipocrisia lançada pelo representante máximo de uma das mais importantes crenças religiosas: o Catolicismo.
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(1) Num cântico dos monges beneditinos, celebra-se esta "puer natus est nobis" (esta criança nascida para nós), ou seja, nascida para salvar os homens das trágicas tendências da sua condição humana.
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