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D. JOÃO V - UMA VISITA REAL A CAMPO MAIOR

por Francisco Galego, em 14.04.18

Nas casas de João de Aguiar Mexia(1), no Terreiro das Estalagens(2), se tem acomodado o Sr. Infante D. Francisco, as três vezes que tem vindo a esta Praça. Sendo a primeira em segunda-feira, 18 de Dezembro do ano de 1713, a segunda em 14 de Setembro de 1714 e a terceira em 13 do dito mês de Setembro de 1715.(3)

Nestas casas se fez aposentadoria para S. Majestade, que Deus guarde, no ano de 1716. De que não usou porque, vindo no dia 12 de Novembro a esta Praça, voltou no mesmo dia a Elvas, por causa da chuva que sobreveio (4).

João V, vinha acompanhado de seus irmãos, os Senhores Infantes D. Francisco e D. António, todos em coche e, com eles: o Marquês de Marialva, D. Diogo de Noronha, camarista de Sua Majestade; D. Duarte António da Câmara, depois Conde de Aveiras, camarista do Sr. D. Francisco; e Rodrigo de Melo da Silva, depois Conde de S. Lourenço, camarista do Sr. D. António. Acompanhava Sua Majestade, o Duque de Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira, Mestre de Campo General junto à sua real pessoa e Governador das Armas da Província de Estremadura, o qual vinha a cavalo.

Governava esta Praça o Brigadeiro Estêvão de Moura e Azevedo, o qual teve ordem por carta do Secretário de Estado, Diogo Mendonça de Corte Real, escrita no dia antecedente, para que não fizesse nenhuma demonstração militar, nem política, porque S. Majestade estava incógnito e assim o ordenava (…)

O governador esperou El-Rei à entrada da porta da Praça com os Coronéis D. Felipe Alarcão de Mascarenhas, do Regimento de Infantaria; Martinho Afonso Mexia, do Regimento de Cavalaria; o Tenente Coronel de Cavalaria João da Rocha de Vasconcelos; o Sargento-Maior de Infantaria, Fernão da Mesquita Barba; o Sargento-Maior da Praça, Francisco da Silveira; e muitos outros oficiais.

Sua Majestade não se deteve e se foi apear à Igreja de S. João Baptista, aonde lhe beijaram as mãos os oficiais referidos e os da Câmara e algumas pessoas particulares. Daí passou a ver o Castelo e, na Praça de Armas estava formado o Regimento de Infantaria.

Subiu El-Rei à Torre Grande e dela viu toda a Praça e o terreno em que foram abertos os ataques para o Sítio do ano de 1712. Daí passou à Igreja Matriz onde foi recebido com Pálio e Te-Deum Laudamus e com mais cerimónias do ritual.

Tornou a entrar no coche e, sem mais demora, voltou a Elvas, desaprovando o dia a resolução de dormir uma ou duas noites nesta Praça, para o que tinha chegado a ela João Xavier a preparar as casas sobreditas, nas quais quis seu dono manifestar o ardente desejo de servir a Sua Majestade, mandando prover a sua ucharia (5) de tudo o que pode permitir o pouco tempo de uma noite e uma manhã.

Mandou S. Majestade dar cem moedas para os soldados da guarnição da Praça.

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In, (Estêvão da Gama, Notícias da Antiguidade, Aumento e Estado Presente da Vila de Campo Maior (...), ( p. 52 e 53)

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(1) Refere-se ao que foi depois chamado Palácio de Olivã, onde agora está instalada a Biblioteca Municipal João Dubraz; a Repartição das Finanças Públicas e o Lagar-Museu do Azeite.

(2) Hoje Largo do Barata. Chamava-se "das Estagens", pela mesma razão porque a actual Rua da Poterna, se chamou "Rua da Estalagem Velha". Pois que,  por estarem situadas perto das entradas da vila, ali estavam as casas onde se acomodavam os visitantes.

(3) Estas visitas tinham como finalidade, acompanhar a reconstrução da vila que ficara muito afectada como consequência da destruição provocada pelo Cerco de 1712.

(4) Nesta época não existia ainda a ponte sobre o Caia, tendo este rio que ser passado a vau, coisa que se tornava impraticável na situação de grandes chuvadas.

(5) Ucharia = despensa provida de bens alimentares e outros, destinados à acomodação dos hóspedes que se recebiam em casa.

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publicado às 15:03



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