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CAMPO MAIOR E A “FÊRA D’ELVAS”

por Francisco Galego, em 23.09.16

O São Mateus de Elvas era, até meados do século passado, uma das maiores festividades que os campomaiorenses celebravam. Poupava-se durante meses para se pode ir até à Fêra d’Élvas por volta de 20 de Setembro.

Só os mais pobres, por falta de recursos, e os que cumpriam resguardo por luto ou por doença, ficavam. As carroças partiam uns dias antes ajoujadas de gente, de galinhas, de capazes de comidas e de doçarias confeccionadas para a ocasião. Quem mais depressa chegasse, melhor lugar podia escolher para acampar nos olivais em volta do parque em que estaria montada a feira.

Havia anos, principalmente os mais favoráveis para a agricultura e em que o clima em Setembro era ainda favorável, que Campo Maior quase se despovoava nos dias do São Mateus. Quem não podia ir de carroça, em caravana, ia a pé. Uma manta chegava para aconchego. Quanto ao resto, desde que houvesse dinheiro para a pinga e para o petisco, já se passava a contento.

Campo Maior, anos há que fica completamente deserta, donde admitir-se que se desloquem, pelo menos 3.000 pessoas.[1]

Em 1921, só de Campo Maior vieram às Festas de São Mateus aproximadamente mil pessoas, que se fizeram conduzir em cerca de 200 carros de canudo (churriões) acampando como costumam fazer, no recinto da Senhora da Nazaré, Junto da Ermida, dando ao local uma nota pitoresca e característica.

É curioso registar que as saias novas aparecem nos arraiais do Senhor da Piedade e são cantadas e bailadas pelas simpáticas e morenas camponesas, cuja alegria é contagiante.[2]Procuravam, os de cada terra, ficarem juntos para melhor conviverem. Aliás, a feira era o pretexto para o que mais importava: o convívio de que se ia desfrutar durante os dias que a feira durava. O São Mateus constituía assim as parcas férias de que os menos ricos e os remediados podiam desfrutar. Armados os acampamentos, gozava-se do descanso, da boa comida, da alegre convivência que a ocasião propiciava. De dia dormia-se muito e até tarde, por força de alguns excessos de bebida e porque as noites se prolongavam até de madrugada.

As noites eram para a maioria destes romeiros o melhor que a festa propiciava. Formavam-se grandes bailes de roda, animados pelo cantar e dançar das “saias”. Havia disputas assanhadas, muitas vezes entre grupos de terras diferentes. Surgiam a “modas novas”. Quadras engenhosamente elaboradas ao longo do ano encontravam ali o terreiro adequado para a sua pública exibição. Arranjavam-se e desfaziam-se namoros. De vez em quando, uma ou outra rixa ensombrava a convivência por razões de exacerbado bairrismo, por melindres, ou por imponderadas ofensas à honra ou à dignidade dos presentes.

 

In, Francisco Pereira Galego – Cantar e Bailar as Saias. Lisboa. 2006  

 

[1] Eurico Gama, op. cit. , pág. 239

[2] Eurico Gama, op. cit. , pág. 380

 

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